Por acreditarem que a única forma de evoluir como sociedade é garantindo espaços justos e seguros para todas as pessoas, a agência de relações públicas ProfilePR e o Instituto Identidades do Brasil juntaram-se à ThoughtWorks e à Think Olga para promover um workshop voltado a jornalistas, com o objetivo de discutir boas práticas ao se tratar questões de gênero, raça e PcDs na imprensa. Este é o material compilado após o workshop.
Faz-se urgente uma ação coletiva para darmos os passos necessários que construam uma realidade de igualdade de oportunidades.
Junte-se a esse movimento!
2. ÍNDICE:
Jornalismo humanizado
Manual prático
• mulheres e o mercado de trabalho
• pessoas com deficiência
• pessoas negras
• pessoas trans
• linguagem neutra de gênero
Informações úteis
• para parafrasear
• ferramentas
• contatos
4. JORNALISMO HUMANIZADO
Melhores práticas
Precisamos contextualizar e checar dados e histórias que nos são contadas.
Não podemos nos isentar da responsabilidade daquilo que propagamos,
mesmo que seja na voz das pessoas entrevistadas. Então, se em uma
entrevista, surge um discurso de ódio, essa fala precisa ser questionada. Não
podemos publicar sem antes passar por esses questionamentos.
JORNALISTA É PORTA-VOZ,
MAS TAMBÉM É QUEM CRIA E PERPETUA A MENSAGEM.
5. JORNALISMO HUMANIZADO
Melhores práticas
Exemplo: o senso comum diz para não andarmos
sozinhas na rua à noite. E se uma mulher for
estuprada enquanto fazia isso, a culpa é dela?
Exemplo: "acho que gordurinhas são
imperfeições". São mesmo? Para quem?
O que é perfeito? Quem é perfeito?
DESAFIE O SENSO COMUM
QUESTIONE SUAS VERDADES
6. TENHA O OLHO ABERTO PARA OS
TEMAS DO DIA A DIA E COMO ELES
PODEM DESAFIAR O STATUS QUO.
JORNALISMO HUMANIZADO
Melhores práticas
Achar que as pautas transformadoras são
somente aquelas sobre escândalos e
grandes histórias é um grande equívoco.
Exemplo: geralmente pautas de Dia das
Mães são parecidas. Por que não olhar para
o outro lado e desafiar as verdades em
relação às mães? A Universidade de Harvard,
por exemplo, publicou dados falando que
mães recebem salários até 7% menores que
mulheres sem filhos para exercer o mesmo
cargo. A BBC mostrou que 60 mil mulheres
perdem empregos todo anos após terem
bebês.
7. JORNALISMO HUMANIZADO
Melhores práticas
Exemplo: #100vezesCláudia. A mulher arrastada pela Polícia Militar tinha nome – Cláudia Silva Ferreira. Cláudia
também tinha família. E sonhos, coragem, dores e medos como qualquer ser humano. As denúncias da barbárie
ocorrida são importantes e elas não devem cessar. Mas fugir do sensacionalismo e humanizar esse momento
também é. Por isso, nos propusemos a retratar Cláudia com mais carinho do que o visto nos grandes veículos.
Em casos de violência, muitas vezes o entendimento é de que a vítima pertence a algum grupo minorizado, o que a
descaracteriza como indivíduo. Quando uma pessoa for retratada, existem algumas formas de humanizar esta notícia:
não publicar fotos que expõem a vítima, não culpabilizar de forma alguma a vítima e dar nome à pessoa em questão.
NÃO PUBLICAR FOTOS QUE EXPONHAM A VÍTIMA
NÃO CULPABILIZAR A VÍTIMA DE NENHUMA FORMA
DAR NOME À PESSOA EM QUESTÃO
8. Não publicar capas e matérias com os mesmo grupos
homogêneos de sempre. É preciso ter diversidade nas
fontes. Inclusive, quando uma pauta for enviada para
jornalistas, é possível colocar essa diversidade como uma
necessidade.
Caso as pessoas retratadas não possam ser outras, é uma
responsabilidade de quem escreve contextualizar o cenário
e apontar que existe um problema nessa construção.
Exemplo: quando falamos das 10 pessoas mais ricas do
país, provavelmente elas farão parte de um grupo
homogêneo e não há como mudar este fato. Neste caso, o
que devemos fazer é um apontamento dessa
homogeneidade e uma análise do motivo.
JORNALISMO HUMANIZADO
Melhores práticas
PROCURE FONTES
“FORA DA BOLHA”
10. MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO
Melhores práticas
Precisamos parar de assumir que apenas mulheres
de direita ou esquerda sofrem opressão ou aderem
à luta pelos direitos das mulheres.
LUTAR PELA EQUIDADE E SEGURANÇA DAS
MULHERES NÃO É UMA PAUTA PARTIDÁRIA.
Promover a ideia de que apenas
“certas mulheres” são dignas de
segurança e respeito é machismo.
11. NÃO PODEMOS DESCREVER
MULHERES SOB UM
MODELO ESTEREOTIPADO DE SUCESSO.
MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO
Melhores práticas
Que mulheres precisaram adquirir características
estereotipadas em diversos momentos de suas
carreiras para poderem ser consideradas parte do
grupo e ascender profissionalmente nós sabemos,
mas não devemos glamourizar esse perfil, como se
fosse o novo ideal, porque esse processo não foi
escolha em muitos casos, mas sim imposição.
Precisamos de espaços para permitir às mulheres que
liderem da sua própria maneira.
Essa capa da Época
é de 2007, de dez
anos atrás, e o
estereótipo
construído
socialmente como
masculino ainda
aparece em
descrições de
executivas e
mulheres em
cargos de
liderança.
12. USE AFIRMAÇÕES PARA DESCREVER
MATÉRIAS COM PAUTAS SOBRE
MULHERES OU PARA MULHERES.
A escolha pela pergunta
e não pela afirmação
deixa a dúvida no ar,
mesmo colocando uma
mulher em um cargo de
liderança e falando sobre
dados relacionados ao
tema na matéria.
Por mais que a revista tenha
aberto o espaço para discussão,
ela questiona a causa duas vezes
na capa, primeiro com o
argumento de necessidade, e
depois com a pergunta “a meta é
nobre (...), mas será que esse é o
melhor caminho para atingi-la?”.
MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO
Melhores práticas
“Mulheres. Elas vão fazer a
nova revolução do trabalho?"
“As mulheres
precisam de cotas?"
Quando o assunto é específico sobre
gênero é importante trazer outros
olhares. Porém, ao manter o tom de
dúvida, cria-se uma atmosfera de
influência sobre quem lê. Muito diferente
da abordagem das capas sobre novos
capitalistas e a geração start up, que
possuem afirmações claras e positivas,
as capas sobre essas pautas femininas
carregam questionamentos e dúvidas
que quase direcionam quem lê para a
resposta negativa desejada.
13. NÃO ROMANTIZE OU SENSUALIZE
DESCRIÇÕES DE MULHERES PARA
FALAR DO TRABALHO DELAS.
MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO
Melhores práticas
Ao entrevistar ou traçar o perfil de
mulheres de negócio, características
físicas (“belos olhos”, “dona de um
sorriso encantador”, “a pequena”) e
psicológicas (“a doce”, “de
temperamento forte”, “como uma
tigresa”) ou de estilo (“vestindo um
terninho branco”) costumam
aparecer, ainda que por vezes
sejam absolutamente
desnecessárias e jamais seriam
utilizadas para homens de negócio.
Nesse caso, o ideal é manter a
descrição com a mesma distância e
respeito que se manteria em relação
a um homem no mesmo cargo.
15. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Melhores práticas
O QUE É CAPACITISMO?
É o conceito que pensa nas pessoas com deficiência como não iguais,
menos humanas, menos aptas ou não capazes para gerir as próprias
vidas, sem autonomia, dependentes, desamparadas, assexuadas,
condenadas a uma vida eternamente economicamente dependentes,
não aceitáveis em suas imagens sociais.
16. Pessoa com deficiência
Mulher com deficiência
Homem com deficiência
Universitária com deficiência
Mulher cega
Homem surdo
Criança surdocega
Adolescente com deficiência múltipla
Jovem com deficiência intelectual
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Melhores práticas
Deficiente
Necessidade especial
Especialismo
Pessoas especiais
Aleijado
Deformado
Coxo
Expressões que marcam o corpo da pessoa
como menor, menos capaz ou menos humano
TERMINOLOGIAS
CORRETAS
TERMINOLOGIAS
INCORRETAS
17. Não use frases constrangedoras como “está
presa à cadeira de rodas”, “superando os
defeitos” ou “mutilado ou membro mutilado”,
“superando a incapacidade”.
Não trate deficiência como doença, como
vontade divina ou como se o problema
estivesse na pessoa. Isso é capacitismo!
Também não aborde uma pessoa com
deficiência esperando obrigatoriamente
uma grande história de superação,
assistencialismo em excesso e especialismo.
Ela é uma pessoa e deve ser tratada como tal.
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Melhores práticas
NÃO PROPAGUE
MENSAGENS
CAPACITISTAS,
PRECONCEITUOSAS E
OPRESSORAS
19. PESSOAS NEGRAS
Melhores práticas
Convide pessoas negras para pautas além de questões étnico-
raciais, como empreendedorismo, tecnologia, publicidade, família.
Não chame modelos negras para “fotos exóticas”.
Preste atenção durante a escolha das fontes e ao mito de que só
algumas pessoas negras podem ser bem sucedidas. Falamos de
inclusão, mas sempre voltamos para as mesmas pessoas negras.
Não use pessoas como “tokens” (que é quando escolhemos poucas
pessoas dos grupos minorizados para forjar diversidade).
PROBLEMATIZE O RACISMO E PAUTAS CORRELATAS NO BRASIL COMO ALGO GRAVE
E IMPORTANTE PARA ALÉM DE NOVEMBRO (MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA).
20. PESSOAS NEGRAS
Melhores práticas
Use o termo raça para negro e
preto e pardo para cores de pele.
Use o termo grupos minorizados,
pois no Brasil pessoas negras são a
maioria oprimida e não a minoria.
O que é?
Raça: discurso e experiência social usada para
diferenciação baseado em cor da pele e traços físicos.
Cor: faz parte da raça. Por exemplo, preto e pardo
fazem parte da mesma raça negra.
Etnia: pessoas com a mesma cultura ou que moram
geograficamente no mesmo território.
Colorismo: “pigmentocracia”, que é a valorização de
cores de pele mais claras em detrimento de cores
mais escuras quando falamos de pessoas negras.
USE TERMOS E
DESIGNAÇÕES ADEQUADAS
22. Chame as pessoas certas para cada tipo de matéria. (Ex.:
sobre cura gay, chamar uma pessoa gay.)
Não mencione que a pessoa é transexual sem que haja
necessidade na matéria.
Chame pessoas trans para além de pautas
sobre patologia, crime.
Use o nome social.
Não generalize tudo como gay (parada gay, balada gay…)
pois pessoas com outras orientações sexuais - como
lésbicas e bissexuais - e com outras identidades de
gênero têm demandas diferentes.
Não use o nome civil.
Nunca aponte pessoas trans como exóticas.
Mencione que a pessoa é trans apenas quando for um caso
de reivindicação política e social desse grupo.
PESSOAS TRANS
Melhores práticas
Não fale de travestis/mulheres trans como sinônimos
de prostituta.
Quando for creditar alguma pessoa trans, fale qual é a
ocupação dela, já que ser uma pessoa trans não é profissão.
ACERTE NO CONTEÚDO DA SUA MATÉRIA
23. Cirurgia genital ou transgenitalização
Opção sexualOrientação sexual
Identidade de gênero Era homem e virou mulher
Descriminalizar a prostituiçãoRegularizar a prostituição
A mulher transsexual
Mudança de sexo
PESSOAS TRANS
Melhores práticas
A travesti O travesti
A trans
ACERTE NO USO DAS PALAVRAS
25. LINGUAGEM NEUTRA DE GÊNERO
Sobre reconhecimento e identificação
Nossos clientes Clientes da empresa
Mantenha-se atualizado
Ficou interessado
Os deputados
Os diretores
Funcionários
Desenvolvedores
Os participantes
Os líderes da empresa
Continue se atualizando
Tem interesse? / Interessou-se?
O Congresso / A Câmara
A diretoria
Pessoas que trabalham na empresa
Pessoas desenvolvedoras / que desenvolvem
As pessoas que participaram
As lideranças da empresa
27. "Não adianta colocar as
pessoas com deficiência na
faculdade quando elas não
têm nem o fundamental."
Adriana Dias, do Comitê Deficiência e
Acessibilidade (ABA) e ONG ESSAS MULHERES.
"99% das mulheres
com deficiência
intelectual sofrem
algum tipo de abuso."
"Não temos necessidades especiais, o
que a gente precisa são alguns
dispositivos para cumprir as mesmas
necessidades que todo mundo."
"Precisamos ir atrás
de fontes fora da bolha. Às
vezes a gente acaba caindo
sempre nas mesmas pessoas,
nas mesmas indicações.
Apuração dá muito trabalho,
mas é nossa responsabilidade."
"A gente precisa assumir e
contemplar a pluralidade da nossa
sociedade. A gente precisa de
empatia e de contextualização real.
A obrigação de quem é jornalista é
desafiar o senso comum e
questionar as próprias verdades."
"Para mudar o status
quo (que não é
diverso nem
inclusivo), precisamos
mudar também as
lentes com as quais
olhamos o mundo a
nossa volta e o que
nos foi dado como
símbolos de sucesso"
Natalia Menhem, diretora de
Marketing da
ThoughtWorks
Brasil
Juliana de Faria, fundadora
da ONG Think Olga
Débora Torri Albarello, gerente
de projetos da ONG Think Olga
PARA PARAFRASEAR "Jornalista acha que para
transformar o mundo ele
precisa estar em Brasília,
fazendo grandes
investigações. A gente
esquece que pra mudar a
humanidade a gente precisa
ter o olho aberto pra coisas
do dia a dia. O jornalismo
legitima e constrói
discursos."
"Nossos prêmios
não são um sinal
de que podemos
parar, mas um
reconhecimento de
que estamos no
caminho certo e
precisamos seguir
trabalhando para
melhorar."
28. PARA PARAFRASEAR
"Me liguem em novembro, mas também me
liguem nos outros meses pra falar
sobre tantos outros temas
que não apenas a
questão racial."
Luana Génot,
fundadora do Instituto
Identidades do Brasil (ID_BR)
"54% da população brasileira é negra, mas apenas
5% exercem cargos executivos nas empresas. A
população negra tem hoje IDH que brancos
tinham em 2000. É perigoso como a gente não
problematiza o racismo no Brasil."
"O primeiro passo pra
mudança é a reflexão."
Taise Assis, diretora de Justiça
Social e Econômica na
ThoughtWorks Brasil
"A mídia e a
imprensa têm um
papel fundamental
na propagação de
narrativas. Por isso, jornalistas
e assessores de comunicação
são fundamentais para
essa mudança."
Juliana Maian, gerente de Relações Públicas da ProfilePR
"O discurso
preconceituoso só
passa batido pra quem
não é alvo do preconceito."
"A linguagem binária
reforça estereótipos e
não inclui pessoas que
não se identificam
com os gêneros
feminino e masculino."
Paula Ribas, editora de conteúdo
na ThoughtWorks Brasil
"Usamos por
padrão palavras
no masculino e
esperamos que
as mulheres se
sintam
incluídas."
"Eu não virei nada, quem
vira algo é lagarta que vira
borboleta. Assim como não
existe mudança de sexo.
Quem muda de sexo são
algumas espécies de
répteis e anfíbios."
Daniela Andrade, analista de
sistemas na ThoughtWorks Brasil e
membro do Grupo dos Advogados
pela Diversidade Sexual e de
Gênero (GADVS)
"Eu moro no país que mata
mais transexuais e travestis
no mundo. Eu moro num país
onde 90% das minhas iguais
estão se prostituindo. A
sociedade brasileira trata
travestis e transexuais como
aberrações. A gente é
assassinada mas a culpa
continua sendo nossa."
29. ENTREVISTE UMA MULHER
Iniciativa da ONG Think Olga
http://thinkolga.com/2014/08/20/entreviste-uma-mulher/
ENTREVISTE UM NEGRO
Iniciativa da jornalista Helaine Martins
http://bit.ly/EntrevisteUmNegro
MINIMANUAL DO JORNALISMO HUMANIZADO
Iniciativa da ONG Think Olga
http://thinkolga.com/minimanual-do-jornalismo-humanizado/
FERRAMENTAS
TRANSERVIÇOS
Iniciativa da desenvolvedora Daniela Andrade, criada e produzida em parceria com a ThoughtWorks
http://www.transervicos.com.br/
TODAS AS MULHERES NA TECNOLOGIA
Iniciativa da ThoughtWorks
www.thoughtworks.com/todas-as-mulheres-na-tecnologia
30. Natalia Menhem, diretora de Marketing da
ThoughtWorks Brasil:
nmenhem@thoughtworks.com
Taise Assis, diretora de Justiça Social e
Econômica da ThoughtWorks Brasil:
tassis@thoughtworks.com
Daniela Andrade, analista de sistemas na
ThoughtWorks Brasil e membro do Grupo dos
Advogados pela Diversidade Sexual e de
Gênero (GADVS):
dandrade@thoughtworks.com
Paula Ribas, editora de conteúdo na
ThoughtWorks Brasil:
pribas@thoughtworks.com
CONTATOS
Juliana de Faria, fundadora da ONG Think Olga:
juliana@thinkolga.com
Débora Torri Albarello, gerente de projetos da
ONG Think Olga:
debora@thinkolga.com
Luana Génot, fundadora do Instituto
Identidades do Brasil (ID_BR):
luana@simaigualdaderacial.com.br
Adriana Dias, do Comitê Deficiência e
Acessibilidade (ABA) e ONG ESSAS MULHERES:
dias.adriana@gmail.com
Juliana Maian, gerente de Relações Públicas da
ProfilePR:
juliana.maian@profilepr.com.br