O documento descreve os principais aspectos dos alcalóides, incluindo sua classificação, estruturas, propriedades, biossíntese, extração e purificação. Os alcalóides são classificados de acordo com sua origem biossintética, principalmente derivados de aminoácidos como ornitina, lisina, fenilalanina, tirosina e triptofano. Exemplos de alcalóides importantes são descritos, como a pilocarpina derivada da histidina, nicotina derivada do ácido nicotínico e a morfina derivada
1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CCE-DEPARTAMENTO DE QUÍMICA
QUÍMICA DE PRODUTOS NATURAIS
ALCALÓIDES
RALPH GOMES
2. Alcalóides
Alcalóides generalidades
Alcalóides derivados do ácido nicotínico
Alcalóides terpênicos
Alcalóides derivados da histidina: imidazólicos
Alcalóides derivados da fenilalanina e tirosina I: aporfínicos, protoberberínicos
3. Introdução
Farmacognosia e os Produtos Naturais...
Estudo das propriedades físicas, químicas, bioquímicas e biológicas de
produtos naturais buscando a identificação de novas substâncias ativas
com potencial terapêutico (Sociedade Americana de Farmacognosia,
2005).
Produtos Naturais → Atividade Biológica → Diversidade Química
Plantas
Animais
Microorganismos
5. Metabólitos Secundários
Não são simples resíduos do metabolismo primário
Agentes de defesa: combate a organismos patogênicos, insetos e
herbívoros
Agentes de competição: modificação do comportamento germinativo e
do crescimento de espécies vegetais estranhas
Atratores de animais polinizadores e dispersores de sementes:
manutenção da espécie
6. Metabólitos Secundários
400.000 espécies de plantas superiores no mundo
10% foram caracterizadas até o momento
100.000 compostos descobertos
12.000 alcalóides conhecidos
produção restrita a algumas famílias
atividades antimicrobiana,disuasória alimentar
rotas biossintéticas complexas, multi-passos
8. Alcalóides – Conceito
Substâncias orgânicas de origem natural
Possuem nitrogênio formando um heterociclo
Natureza básica
Derivados de aminoácidos
Distribuição restrita
Apresentam atividade farmacológica
O termo não define um grupo homogêneo químico, bioquímico ou fisiológico
Grande número de substâncias descritas
Diversidade estrutural
Várias origens (plantas, bactérias, fungos, animais)
9.
10. Alcalóides – Distribuição
Animais: peixes e anfíbios
Bactérias: Pseudomonas aeruginosa (fiocanina)
Fungos: Psilocibe sp. (psilocibina)
Pteridófitas: Equisetales e Licopodiales
Gimnospermas: Taxales e Gnetales
Angiospermas – diocotiledôneas principalmente
Distribuição seletiva leva a considerações
quimiotaxonômicas importantes
Muitas vezes é possível estabelecer um
paralelismo entre evolução bioquímica e evolução
botânica: todos alcalóides de uma planta
apresentam origem biossintética comum
11. Alcalóides – Localização
A mobilização de alcalóides pelos tecidos vegetais varia conforme o
período germinativo e variações ambientais
Pouco comum em células jovens
Presentes em diversas partes do vegetal
Geralmente temos 1 majoritário mais centenas de minoritários:
atividade farmacológica pode estar relacionada a qualquer um deles
Cinchona sp.
Catharanthus roseus
Vincristina e vimblastina
(ppm)
Quinina 15% (p/p)
12. Alcalóides – Biossíntese
Síntese a partir de aminoácidos
Alcalóides terpênicos, esteroidais e purínicos possuem diversos precursores
L-Ornitina
HO
Pirrolizidínicos
retronecina
H2 N
H2 N
CO2H
N
H
Pirrolidínicos
O
N
higrina
H 3C
N
H
Tropânicos
hiosciamina
OH
H
OH
H
O
O
14. Alcalóides – Biossíntese
L-Fenilalanina / L-Tirosina
MeO
CO2H
NH2
R
Isoquinolínicos
N
MeO
papaverina
OMe
OMe
L-Histidina
CO2H
N
NH2
N
H
Imidazólicos
pilocarpina
H3C
N
N
O
15. Alcalóides – Biossíntese
Ácido Antranílico
H
Quinolínicos
quinina
CO2H
HO
H
H
O
NH2
N
N
N
Quinazolínicos
N
Ácido Nicotínico
CO2H
N
Piridínicos
nicotina
H
N
N
CH3
17. Alcalóides
Propriedades físico-químicas
Grande parte dos alcalóides oxigenados são sólidos cristalinos incolores
Não-oxigenados em geral são líquidos e voláteis (coniína, nicotina)
Muitos são oticamente ativos
Na forma de base livre: instáveis e solúveis em solventes orgânicos, pouco solúvel em
água
Na forma de sal: solúveis em água, pouco solúveis em solventes orgânicos
Peso molecular entre 100 e 900
18. Alcalóides – Extração
forma de sal → solúveis em água
forma de base livre → solúveis
em solventes orgânicos
Solubilidade em diferentes solventes,
dependendo do pH do meio
Eliminação de interferentes lipofílicos
como ceras e gorduras
hexano
éter de petróleo
19. Alcalóides – Extração
Extrato
+
solução aquosa ácida diluída
¨
N
HCl ou H2SO4 (2 – 5%)
+
+
H+ Cl-
H
Cl-
N
SOLÚVEL EM
ÁGUA
Partição com solvente lipofílico
Fase Aquosa
alcaloídica
Fase Orgânica
descartada
20. Alcalóides – Extração
Extrato Aquoso Ácido
+
solução aquosa alcalina diluída
+
H
N
+
¨
Na :OH
¨
NH4OH ou NaOH (10 - 25%)
¨
N
SOLÚVEL EM SOLVENTE
ORGÂNICO
Partição com CHCl3, CH2Cl2 ou éter etílico
Fase Aquosa
Fase Orgânica
alcaloídica
Extrato de
alcalóides
totais
21. Alcalóides – Detecção
reagentes de precipitação
combinação com metais pesados
diferentes colorações de ppt
Mayer (tetraiodomercurato de potássio)
Dragendorff (tetraiodobismutato de potássio)
Bertrand (ácido silícico-túngstico)
Bouchardat (solução de iodo e iodeto de potássio)
Hager (solução de ácido pícrico)
22. Alcalóides – Purificação
O resultado da extração ácido-base é uma mistura complexa
de substâncias alcalinas que devem ser purificadas para
obtenção de um alcalóide isolado
MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS
CCD, CC, CLV, CLAE, CG
MÉTODOS ESPECTROSCÓPICOS
UV, IV, MS,RMN-1H, 13C, COSY, DEPT
Elucidação estrutural
24. Alcalóides – Classificação
origem biossintética
origem do átomo de N
Alcalóides terpênicos (e esteroidais)
Derivados da histidina: IMIDAZÓIS
Derivados do ácido nicotínico: PIRIDINAS
Derivados da fenilalanina e tirosina: ISOQUINOLÍNICOS
Derivados da ornitina e lisina: PIRROLIDINA, PIPERIDINA,
INDOLIZIANINA, QUINOLIZIDINA, TROPÂNICOS
Derivados do triptofano: INDÓLICOS, QUINOLÍNICOS
25. Alcalóides Terpênicos
Não derivam biossinteticamente de aminoácidos. A partir do
ácido mevalônico as unidades isoprênicas formadas recebem
tardiamente um N
PSEUDOALCALÓIDES
Artefatos: iridóides + amônia
• Monoterpênicos
• Sesquiterpênicos
• Diterpênicos
• Triterpênicos
26. Alcalóides Imidazólicos
Distribuição restrita: Rutaceae, Cactaceae, Fabaceae
Biossinteticamente derivados da histidina
Pilocarpus jaborandi
(Rutaceae)
P. microphyllus: jaborandi-do-Maranhão
P. jaborandi: jaborandi-do-Pernambuco
P. pennatifolius: jaborandi-do-Paraguai
P. trachypholus: jaborandi-do-Ceará
P. racemosus: jaborandi-de-Guadalupe
Árvore, arbusto: origem Amazônia
Pilocarpina: única substância com interesse terapêutico
Seu emprego para combater a xerofilia,
comum causa do mau-hálito, é ainda
incipiente, porém muito promissor
27. Alcalóides Imidazólicos
Jaborandi: nativo do Nordeste do Brasil, muito utilizado pelos índios
Alcalóides: pilocarpina, isopilocarpina e pilosina
Pilocarpina (C3 alfa) é uma base frágil que se isomeriza a isopilocarpina (C3
beta), em meio ácido ou básico perdendo a atividade farmacológica
Meio aquoso: ácido pilocárpico e isopilocarpina
28. Alcalóides Imidazólicos
Propriedades da pilocarpina:
Parassimpatomimético: efeitos muscarínicos
Hipersecreção salivar, gástrica, sudorípara; bradicardia
broncoconstrição
Miótica: contrai os músculos ciliares e facilita a drenagem
nos casos de glaucoma crônico e retem a íris no caso de
glaucoma agudo
Em doses elevadas tem efeitos nicotínicos
29. Alcalóides Derivados do Ácido Nicotínico
Ácido aspártico + Gliceraldeído
Ácido nicotínico
CO2H
tabaco
indústria fumageira
originalmente era utilizada para fins
medicinais contra exaqueca
indústria farmacêutica: patches cutâneos
Nicotiana tabacum (Solanaceae) 5 %
Produzido nas raízes e transportado às folhas
N
Nicotiana tabacum
30. Alcalóides Derivados do Ácido Nicotínico
Nicotina
Alcalóide majoritário, acompanhado por anabasina,
antabina, nornicotina: extraídos das folhas
Age no SNC: ativa os centros respiratórios e a êmese,
pode causar tremores e convulsão
Age no músculo liso intestinal
Aumenta a pressão arterial
Ação inseticida
H
N
N
CH3
31. Alcalóides Derivados da Fenilalanina e Tirosina
COOH
COOH
NH2
fenilalanina
NH2
OH
tirosina
Grande maioria dos derivados apresentam núcleo
tetraisoquinolínico
32. Alcalóides Derivados da Fenilalanina e Tirosina
1. Arilalquilaminas: efedrina (pseudoalcalóide para emagrecer! Atenção
mulheres!)
2. Tetraisoquinolínicos simples: mescalina (protoalcalóide) Alucinações!
3. Benzilisoquinolínicos:
3.1 Aporfinóides: boldina (antioxidante, problemas no fígado)
3.2 Protoberberínicos: hidrastina
3.3 Simples: papaverina (vasodilatador, usado contra impotência)
3.4 Bisbenzil tetraisoquinolinicos: curare (índios usaram muito!)
3.5 Morfinanos: morfina, codeína
4. Fenetilisoquinolínico: colchicina
5. Isoquinolínico monoterpênicos: emetina
33. Alcalóides Derivados da Fenilalanina e Tirosina
1. Arilalquilaminas:
Principal alcalóide: efedrina (Ephedra
Ephedraceae;
Rendimento 0,5 a 2% a partir dos ramos
Usado há mais de 5000 anos na China;
Propriedades redutoras do apetite;
Uso proibido nos EUA (FDA)
sp.),
(+) - pseudoefedrina
Ephedra sp.
E. equisetina
E. sinica
E. intermedia
E. gerardiana
34. Alcalóides Derivados da Fenilalanina e Tirosina
Propriedades
Estimulante adrenérgico, estrutura semelhante à adrenalina
Liberação de catecolaminas endógenas: fibras simpáticas pós-ganglionares
Estimula o músculo cardíaco
Acelera movimentos respiratórios (aumenta intensidade)
Broncodilatador
Estimula a atenção e capacidade de concentração
Diminui sensação de cansaço e necessidade de sono
Pode produzir angústia, tremores e insônia
Muito utilizada em xaropes expectorantes e descongestionantes nasais
(rinites)
35. Alcalóides Derivados da Fenilalanina e Tirosina
2. Tetraisoquinolínicos
simples:
Destaca-se Echinocactus sp. (cactáceas)
Rendimento alcaloídico pode chegar a 6%: mescalina,
anhalamina, anhalonidina
Efeitos alucinógenos e hipotensores
Utilizada em rituais religiosos
mescalina
Lophophora williamnsii (peiote)
Cactaceae
36. Alcalóides Derivados da Fenilalanina e Tirosina
3. Benzilisoquinolínicos:
A) Aporfínicos
Cerca de 500 representantes
Dois alcalóides principais: apomorfina e boldina
HO
morfina
O
HO
H
HO
N
CH3
N CH3
H
apomorfina
HO
É um agonista dopaminérgico: contra mal de Parkinson
Propriedades eméticas (intoxicação): injetável ou sub-lingual
Pode provocar: manifestações psicóticas, confusão mental, náuseas, vômitos
37. Alcalóides Derivados da Fenilalanina e Tirosina
HO
N CH3
H3CO
[1]
H3CO
OH
Fonte: folhas de Peumus boldus Moll.;
Boldo é estimulante digestivo, empregado em
insuficiências hepáticas e em transtornos digestivos:
alcalóides, flavonóides, óleo essencial;
Boldina: comprovada ação antioxidante;
Em associação com outros extratos (bardana, sene) é
utilizada contra dispepsias hepato-biliares
38. Alcalóides Derivados da Fenilalanina e Tirosina
3. Benzilisoquinolínicos:
B) Protoberberínicos
São alcalóides tetracíclicos amplamente distribuídos
Reduzidos relatos de uso popular
Principal representante da classe: hidrastina
O
O
N
CH3
O
O
OCH3
OCH3
Odor desagradável e sabor amargo
Farmacógeno: raízes e rizomas secos
Hydrastis canadensis L.
Ranunculaceae (golden seal)
39. Alcalóides Derivados da Fenilalanina e Tirosina
USO (índios Cherokee): vasoconstritor, oxitotóxico, hipertensor,
convulsivante (em altas doses)
Associação com castanha da Índia e hamamelis para afecções venosas
Tintura (0,4 %) é vendida como antiviral e febrífugo
Bacteriostática e bactericida (dependendo da dose)
Antiprotozoário: Leishmania, Plasmodium sp.
40. MAS!
É bom lembrar o seguinte: as três substâncias mais
venenosas que existem são naturais. Uma, até a vovózinha
bem intencionada pode te oferecer, quando serve um chá de
cicuta que preparou carinhosamente (efeito da curare).
A segunda é encontrada num peixe, o baiacu, aquele que incha
quando se toca nele. Na Bahia e no norte do país, já foram registrados
vários casos de intoxicação grave porque as pessoas comeram esse
peixe sem retirar as glândulas que contêm o veneno.
O terceiro vem de uma planta e é usado para fabricar um raticida
potentíssimo.
41. CONCLUSÃO
Para ser mais preciso, das dez substâncias mais tóxicas que se conhece
oito são naturais. Diante de certas circunstâncias e exagerando um
pouco, talvez valha mais a pena comer um hambúrguer do que aceitar
um remédio ou um sanduíche natural.
42. BIBLIOGRAFIA
SIMÕES, C. M. O.; SCHENKEL, E. P.; GOSMANN, G.; et al,
Farmacognosia: da Planta ao medicamento
Sociedade Brasileira de Farmacognosia-http://www.sbfgnosia.org.br/
http://pt.wikilingue.com/es/Venenos_vegetales
A. M. Lobo & A. M. Lourenço (Ed.), “Biossíntese de Produtos Naturais",
IST Press, Lisboa, 2007