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A Filosofia na escola: uma visão e uma proposta


       Filosofia na escola é tema recorrente na educação. Sabe-se da importância
do pensamento filosófico e o quanto a disciplina colabora na elucidação do saber.
Contudo, é notório o quanto se negligencia a qualidade desse conhecimento. Nesse
sentido, o presente texto tem por objetivo expor a visão de Yves de La Taille sobre
filosofia na construção da moral e da ética e uma proposta metodológica por parte do
norte-americano Matthew Lipman do uso da disciplina na sala de aula através do
diálogo investigativo.


A visão de Yves de La Taille
       Yves de La Taille, francês radicado no Brasil, professor do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo, especialista em Psicologia Moral, em seu
livro Formação Ética: do tédio ao respeito de si, reflete sobre os desdobramentos da
palavra ética no cotidiano levando em consideração os frágeis sentidos da vida que
a sociedade vive na atualidade. Em contraposição, propõe uma educação que
possibilite a construção de uma “cultura do sentido” através das reflexões sobre
moral e ética.
       Sua principal contribuição revela-se na discussão da moral e da ética. A
identificação do SER e, a partir dessa constituição de caráter individual, a
conscientização deste SER a partir de questionamentos pertinentes sobre a
felicidade e como alcançá-la permeiam a definição dos termos moral e ética na sua
obra. O autor coloca a moral atrelada à ação dos indivíduos uma vez que esta se
realiza no cumprimento dos deveres em respeito à dignidade humana. Tal embate
entre a vontade e as regras determina a conduta dos indivíduos que, de fato, é
imprescindível nas relações humanas. No tocante à ética, expressa a reflexão sobre
a felicidade, ou seja, de que maneira alcançá-la de forma a tornar a “vida boa” e
significativa.
       Decorre de suas incursões na temática a preocupação com o locus do
desenvolvimento do juízo moral: a escola. Esta não deve, somente, viabilizar os
conteúdos formais. Neste ínterim, deve valorizar os conteúdos da moral de modo a
desenvolver o que para o autor se denomina sensibilidade moral. Ora, mas de que
maneira? No dia-a-dia, na identificação – no corpo político-pedagógico do projeto
educacional – dos valores e princípios norteadores do funcionamento da instituição.
Um ponto importante destacado pelo autor é a sua proposta de aulas de
Filosofia. Constata inicialmente que poucas escolas têm esta disciplina no currículo
escolar1 e que já foi considerada uma disciplina nobre que, aos poucos, foi
abandonada pelos elaboradores dos currículos. É considerada perda de tempo por
um mundo que demanda velocidade e praticidade, afinal, a modernidade presentifica
os indivíduos. Ora, para que pensar se as coisas já estão dadas? Invariavelmente, o
mundo assiste a um mal estar ético e moral por conta da superficialidade das
relações. O desenvolvimento do juízo moral está comprometido. Justamente neste
ponto que La Taylle revela sua preocupação com a educação moral dos indivíduos
na escola tomando o cuidado de propor aulas de Filosofia na escola sem reduzi-las à
tarefa da Educação Moral. Tanto que adverte e propõe:
                   “não estou propondo que as aulas de Filosofia equivalham a aulas de educação
                   moral (...). Estou apenas propondo duas coisas. A primeira: que aulas de Filosofia
                   estejam presentes no currículo (a partir do Ensino Médio). A segunda: que, entre
                   outros temas, os professores dêem destaque para a ética e a moral, tanto e tão
                   bem trabalhadas ao longo dos séculos. Assim, ao apresentarem a seus alunos
                   essa ampla área do conhecimento, os professores certamente ajudarão na
                   formação do juízo moral desses jovens” (LA TAYLE, 2009: 244).
       Faz-se perceber, a partir da citação, a preocupação do autor, que não basta
trabalhar conteúdos de disciplinas corriqueiras. Por outro lado, a apresentação do
pensamento humano sobre o assunto através dos séculos pode ajudar os indivíduos
a pensar sobre a felicidade e sua busca.
       Portanto, a escola - enquanto instituição apta a educar para a cidadania
responsável – deve ser o local da promoção de uma educação, não somente para a
lógica formal das Ciências Exatas, das constatações da Natureza ou das verificações
históricas e espaciais. Deve contemplar, também, o pensamento e a reflexão sobre o
SER, a felicidade, a conduta virtuosa, das obrigatoriedades inerentes à cidadania,
enfim, da construção do juízo e sensibilidade moral.
       Apesar da coerência e pertinência demonstrada por Yves de La Tayle,
gostaríamos de apresentar uma proposta concreta de Filosofia na escola idealizada
por Matthew Lipman. O contraponto se dará, em primeiro lugar, pela metodologia
proposta e abrangência, ora denominada Filosofia para Crianças e pelo formato
didático-pedagógico calcado na dialogia.

1
  Apesar que, atualmente, muitas escolas utilizem programas de Filosofia, como a proposta de
Lipman e sua Filosofia para crianças e da obrigatoriedade do ensino de Filosofia no Ensino Médio por
força da lei Federal nº 11.684/08, sancionada pelo vice-presidente da República, José Alencar.
A proposta de Matthew Lipman.
      Um pensador norte-americano imaginou um dia que crianças e jovens
deveriam aproveitar parte do tempo escolar cultivando a arte de pensar. Propôs,
então, um trabalho com Filosofia entendendo que esta seria a ferramenta ideal para
suprir essa lacuna educacional tão importante. Justifica apoiando-se num modelo de
educação para o futuro onde a práxis é destaque. Defende, para tanto, a idéia
heurística (investigação, pesquisa) porque acredita que a pura e simples discussão
com palavras não leva à raiz das coisas. Estamos esboçando, aqui, o início das
idéias de um autor. Mas quem é Matthew Lipman?
      Matthew Lipman, criador do Programa de Filosofia para Crianças, nasceu nos
Estados Unidos. Educador e Filósofo, na década de 60 lançou as bases teóricas do
seu programa preocupado com o baixo rendimento intelectual dos seus alunos.
Juntamente com Ann Margareth Sharp, pedagoga, fundou o Institute for the
Advancement of Philosophy for Children (IAPC) vinculado à Universidade de
Monclair, New Jersey (1974). Demonstrando ser uma prática promissora,
disseminou-se pelo mundo chegando, inclusive, ao Brasil trazida, em1984, Catherine
Young Silva. Em A Filosofia vai à escola (Lipman, 1990: 61) ele diz:
                          O fazer Filosofia exige conversação, diálogo e comunidade, que não são
                 compatíveis com o que se requer na sala de aula tradicional. A Filosofia impõe
                 que a classe se converta numa comunidade de investigação, onde estudantes e
                 professores possam conversar como pessoas e como membros de uma mesma
                 comunidade; onde possam ler juntos, apossar-se das idéias conjuntamente,
                 construir sobre as idéias dos outros; onde possam pensar independentemente,
                 procurar razões para seus pontos de vista, explorar suas pressuposições; que
                 possam trazer para suas vidas uma nova percepção do que é descobrir, inventar,
                 interpretar e criticar.
      Filosofia e Pensamento andam juntos. Afinal de contas, pensamento é
articulação das idéias para produção do conhecimento e Filosofia, cultivo da
sabedoria, ou a arte do bem pensar. O pensamento busca os signos e o
conhecimento a verdade. Segundo Arendt o pensamento pode e deve ser
empregado na busca do conhecimento (ARENDT, 2000: 48).
      Marilena Chauí, no seu livro Convite à Filosofia, relata que o pensamento é
uma atividade pela qual a consciência ou a inteligência coloca algo diante de si para
atentamente considerar, avaliar, pesar, equilibrar, reunir, compreender, escolher e ler
por dentro (Chauí, 1994: 153). John Dewey, um dos grandes referenciais da
educação e um dos pais da Filosofia pragmática americana, propõe o pensamento
reflexivo como ideal porque, necessariamente, ele nos remete ao esforço intencional
para a descoberta de relações entre as coisas. Logo, se dá na relação do indivíduo
com o meio. Lipman, aproveitando a teoria desenvolvida por Dewey, percebeu que
poderia transportar várias idéias para seu programa de Filosofia para crianças. Dois
aspectos, nesse ínterim, chamou a atenção:
               Ampliação do leque de pensamentos para além do reflexivo (que
também é constitutivo de um bem pensar): crítico, radical, abrangente, autônomo,
criativo e rigoroso;
               A investigação filosófica proporcionaria uma reflexão crítica sobre o
próprio pensar (metacognição) e sobre como pensar melhor.
       Portanto, acreditava que, educando crianças e jovens a partir da indumentária
filosófica, em especial Teoria do Conhecimento e Lógica, seria possível desenvolver
uma forma de pensamento mais crítico, criativo e cuidadoso. Desses conceitos é que
nasce o Programa de Filosofia para Crianças segundo a proposta de Educação para
o Pensar. Mas a que “pensar” estamos nos referindo? É um pensar qualquer?
Lipman responde a partir de algumas características inerentes ao pensamento que
deve ser trabalhado na escola: o pensar crítico, criativo e cuidadoso.
       O pensar crítico, criativo e cuidadoso implica num pensar mais complexo.
Quando uma pessoa reúne essas características ela pensa melhor. Isso significa
pensar governado por critérios de forma crítica, razoável, sensível ao contexto e
disposta à autocorreção. Em Educação para o Pensar, Lorieri arremata a idéia das
características de um bom pensar afirmando que a
                          Educação para o pensar é uma proposta que tem como fio condutor o
                  trabalho investigativo (em suma, dialógico) com temáticas próprias da Filosofia e
                  também uma maneira própria de trabalhar essas temáticas, que é o método
                  reflexivo, crítico, criativo e cuidadoso (Lorieri, 2002: 14).
       Vejamos, sinteticamente, as características de cada um desses tipos:
               Pensamento crítico: é aquele cujo objetivo é produzir boas razões
para a produção de bons juízos e está disposto a ser autocorretivo. Razoabilidade,
sensibilidade ao contexto e criteriosidade são suas principais características;
               Pensamento criativo: é aquele que procura, a partir das idéias,
estabelecer novas relações. Necessariamente é inventivo, aberto às novas
possibilidades e não fica em si mesmo;
               Pensamento cuidadoso: por prezar a Ética, preocupa-se com as
conseqüências, com os outros e com as coisas.
Completando o quadro até aqui exposto, destacamos o pensamento rigoroso,
radical e abrangente como integrantes do pensar complexo.
        Enfim, reflexão e autonomia de pensamento perfazem a tônica da proposta de
Lipman. Só que, para a consecução de tais, habilidades básicas devem ser
desenvolvidas para o desenvolvimento da competência do pensar competente.


        Conclusões:
        É importante ressaltar que Yves de La Taille esboça uma idéia do papel que a
escola deve exercer na sociedade, uma vez que esta sofre com o que ele denomina
“cultura da vaidade” que menospreza os valores básicos de convivência social
potencializando o cosmos da competição, desrespeito e frivolidade. Sua idéia de
trabalhar a Filosofia na escola de modo a contemplar os pensamentos que já foram
produzidos pela humanidade e cultivar a intelectualidade encontra eco na atual
conjuntura nacional. Entretanto, sua restrição à implementação da disciplina apenas
no Ensino Médio – porque julga os indivíduos nesta faixa etária maduros para a
compreensão da complexidade dos pensamentos dos mais diversos filósofos –
restringe um público que, também, pode ter aulas de Filosofia: o Ensino
Fundamental. Para embasar esse argumento é que apresentamos os estudos e
trabalhos desenvolvidos por Lipman (citação) e sua proposta de Filosofia baseada no
diálogo investigativo. A máxima kantiana de que não se ensina Filosofia e sim a
filosofar atesta a proposta lipmaniana colocando os alunos como atores principais do
filosofar. Neste sentido, Filosofia na escola constitui, mais do que maturidade
intelectual: implica em ação dialógica na busca de aprofundamento de conceitos.
Com efeito, acreditamos que, mediante a proposta de Lipman, a construção do saber
filosófico e do juízo moral através da dialogia pode auxiliar na construção da
autonomia moral.


Bibliografia:
ARENDT, Hannah. A vida do Espírito: o pensar, o querer, o julgar. Rio de Janeiro:
Ed. Relume-Dumará, 2000.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
DEWEY, John. Democracia e Educação. 3. ed. São Paulo: Nacional, 1959.
LA TAILLE, Yves. Formação Ética: Do tédio ao respeito de si. Porto Alegre: Artmed,
2009.
LIPMAN, Matthew. O pensar na Educação. Petrópolis: Vozes,1995.
______________. A Filosofia vai à escola. São Paulo: Summus,1990.
LORIERI, M. A. Educação para o pensar. São Paulo. Thomsom, 2002.

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A Filosofia na escola segundo Lipman

  • 1. A Filosofia na escola: uma visão e uma proposta Filosofia na escola é tema recorrente na educação. Sabe-se da importância do pensamento filosófico e o quanto a disciplina colabora na elucidação do saber. Contudo, é notório o quanto se negligencia a qualidade desse conhecimento. Nesse sentido, o presente texto tem por objetivo expor a visão de Yves de La Taille sobre filosofia na construção da moral e da ética e uma proposta metodológica por parte do norte-americano Matthew Lipman do uso da disciplina na sala de aula através do diálogo investigativo. A visão de Yves de La Taille Yves de La Taille, francês radicado no Brasil, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, especialista em Psicologia Moral, em seu livro Formação Ética: do tédio ao respeito de si, reflete sobre os desdobramentos da palavra ética no cotidiano levando em consideração os frágeis sentidos da vida que a sociedade vive na atualidade. Em contraposição, propõe uma educação que possibilite a construção de uma “cultura do sentido” através das reflexões sobre moral e ética. Sua principal contribuição revela-se na discussão da moral e da ética. A identificação do SER e, a partir dessa constituição de caráter individual, a conscientização deste SER a partir de questionamentos pertinentes sobre a felicidade e como alcançá-la permeiam a definição dos termos moral e ética na sua obra. O autor coloca a moral atrelada à ação dos indivíduos uma vez que esta se realiza no cumprimento dos deveres em respeito à dignidade humana. Tal embate entre a vontade e as regras determina a conduta dos indivíduos que, de fato, é imprescindível nas relações humanas. No tocante à ética, expressa a reflexão sobre a felicidade, ou seja, de que maneira alcançá-la de forma a tornar a “vida boa” e significativa. Decorre de suas incursões na temática a preocupação com o locus do desenvolvimento do juízo moral: a escola. Esta não deve, somente, viabilizar os conteúdos formais. Neste ínterim, deve valorizar os conteúdos da moral de modo a desenvolver o que para o autor se denomina sensibilidade moral. Ora, mas de que maneira? No dia-a-dia, na identificação – no corpo político-pedagógico do projeto educacional – dos valores e princípios norteadores do funcionamento da instituição.
  • 2. Um ponto importante destacado pelo autor é a sua proposta de aulas de Filosofia. Constata inicialmente que poucas escolas têm esta disciplina no currículo escolar1 e que já foi considerada uma disciplina nobre que, aos poucos, foi abandonada pelos elaboradores dos currículos. É considerada perda de tempo por um mundo que demanda velocidade e praticidade, afinal, a modernidade presentifica os indivíduos. Ora, para que pensar se as coisas já estão dadas? Invariavelmente, o mundo assiste a um mal estar ético e moral por conta da superficialidade das relações. O desenvolvimento do juízo moral está comprometido. Justamente neste ponto que La Taylle revela sua preocupação com a educação moral dos indivíduos na escola tomando o cuidado de propor aulas de Filosofia na escola sem reduzi-las à tarefa da Educação Moral. Tanto que adverte e propõe: “não estou propondo que as aulas de Filosofia equivalham a aulas de educação moral (...). Estou apenas propondo duas coisas. A primeira: que aulas de Filosofia estejam presentes no currículo (a partir do Ensino Médio). A segunda: que, entre outros temas, os professores dêem destaque para a ética e a moral, tanto e tão bem trabalhadas ao longo dos séculos. Assim, ao apresentarem a seus alunos essa ampla área do conhecimento, os professores certamente ajudarão na formação do juízo moral desses jovens” (LA TAYLE, 2009: 244). Faz-se perceber, a partir da citação, a preocupação do autor, que não basta trabalhar conteúdos de disciplinas corriqueiras. Por outro lado, a apresentação do pensamento humano sobre o assunto através dos séculos pode ajudar os indivíduos a pensar sobre a felicidade e sua busca. Portanto, a escola - enquanto instituição apta a educar para a cidadania responsável – deve ser o local da promoção de uma educação, não somente para a lógica formal das Ciências Exatas, das constatações da Natureza ou das verificações históricas e espaciais. Deve contemplar, também, o pensamento e a reflexão sobre o SER, a felicidade, a conduta virtuosa, das obrigatoriedades inerentes à cidadania, enfim, da construção do juízo e sensibilidade moral. Apesar da coerência e pertinência demonstrada por Yves de La Tayle, gostaríamos de apresentar uma proposta concreta de Filosofia na escola idealizada por Matthew Lipman. O contraponto se dará, em primeiro lugar, pela metodologia proposta e abrangência, ora denominada Filosofia para Crianças e pelo formato didático-pedagógico calcado na dialogia. 1 Apesar que, atualmente, muitas escolas utilizem programas de Filosofia, como a proposta de Lipman e sua Filosofia para crianças e da obrigatoriedade do ensino de Filosofia no Ensino Médio por força da lei Federal nº 11.684/08, sancionada pelo vice-presidente da República, José Alencar.
  • 3. A proposta de Matthew Lipman. Um pensador norte-americano imaginou um dia que crianças e jovens deveriam aproveitar parte do tempo escolar cultivando a arte de pensar. Propôs, então, um trabalho com Filosofia entendendo que esta seria a ferramenta ideal para suprir essa lacuna educacional tão importante. Justifica apoiando-se num modelo de educação para o futuro onde a práxis é destaque. Defende, para tanto, a idéia heurística (investigação, pesquisa) porque acredita que a pura e simples discussão com palavras não leva à raiz das coisas. Estamos esboçando, aqui, o início das idéias de um autor. Mas quem é Matthew Lipman? Matthew Lipman, criador do Programa de Filosofia para Crianças, nasceu nos Estados Unidos. Educador e Filósofo, na década de 60 lançou as bases teóricas do seu programa preocupado com o baixo rendimento intelectual dos seus alunos. Juntamente com Ann Margareth Sharp, pedagoga, fundou o Institute for the Advancement of Philosophy for Children (IAPC) vinculado à Universidade de Monclair, New Jersey (1974). Demonstrando ser uma prática promissora, disseminou-se pelo mundo chegando, inclusive, ao Brasil trazida, em1984, Catherine Young Silva. Em A Filosofia vai à escola (Lipman, 1990: 61) ele diz: O fazer Filosofia exige conversação, diálogo e comunidade, que não são compatíveis com o que se requer na sala de aula tradicional. A Filosofia impõe que a classe se converta numa comunidade de investigação, onde estudantes e professores possam conversar como pessoas e como membros de uma mesma comunidade; onde possam ler juntos, apossar-se das idéias conjuntamente, construir sobre as idéias dos outros; onde possam pensar independentemente, procurar razões para seus pontos de vista, explorar suas pressuposições; que possam trazer para suas vidas uma nova percepção do que é descobrir, inventar, interpretar e criticar. Filosofia e Pensamento andam juntos. Afinal de contas, pensamento é articulação das idéias para produção do conhecimento e Filosofia, cultivo da sabedoria, ou a arte do bem pensar. O pensamento busca os signos e o conhecimento a verdade. Segundo Arendt o pensamento pode e deve ser empregado na busca do conhecimento (ARENDT, 2000: 48). Marilena Chauí, no seu livro Convite à Filosofia, relata que o pensamento é uma atividade pela qual a consciência ou a inteligência coloca algo diante de si para atentamente considerar, avaliar, pesar, equilibrar, reunir, compreender, escolher e ler por dentro (Chauí, 1994: 153). John Dewey, um dos grandes referenciais da educação e um dos pais da Filosofia pragmática americana, propõe o pensamento
  • 4. reflexivo como ideal porque, necessariamente, ele nos remete ao esforço intencional para a descoberta de relações entre as coisas. Logo, se dá na relação do indivíduo com o meio. Lipman, aproveitando a teoria desenvolvida por Dewey, percebeu que poderia transportar várias idéias para seu programa de Filosofia para crianças. Dois aspectos, nesse ínterim, chamou a atenção:  Ampliação do leque de pensamentos para além do reflexivo (que também é constitutivo de um bem pensar): crítico, radical, abrangente, autônomo, criativo e rigoroso;  A investigação filosófica proporcionaria uma reflexão crítica sobre o próprio pensar (metacognição) e sobre como pensar melhor. Portanto, acreditava que, educando crianças e jovens a partir da indumentária filosófica, em especial Teoria do Conhecimento e Lógica, seria possível desenvolver uma forma de pensamento mais crítico, criativo e cuidadoso. Desses conceitos é que nasce o Programa de Filosofia para Crianças segundo a proposta de Educação para o Pensar. Mas a que “pensar” estamos nos referindo? É um pensar qualquer? Lipman responde a partir de algumas características inerentes ao pensamento que deve ser trabalhado na escola: o pensar crítico, criativo e cuidadoso. O pensar crítico, criativo e cuidadoso implica num pensar mais complexo. Quando uma pessoa reúne essas características ela pensa melhor. Isso significa pensar governado por critérios de forma crítica, razoável, sensível ao contexto e disposta à autocorreção. Em Educação para o Pensar, Lorieri arremata a idéia das características de um bom pensar afirmando que a Educação para o pensar é uma proposta que tem como fio condutor o trabalho investigativo (em suma, dialógico) com temáticas próprias da Filosofia e também uma maneira própria de trabalhar essas temáticas, que é o método reflexivo, crítico, criativo e cuidadoso (Lorieri, 2002: 14). Vejamos, sinteticamente, as características de cada um desses tipos:  Pensamento crítico: é aquele cujo objetivo é produzir boas razões para a produção de bons juízos e está disposto a ser autocorretivo. Razoabilidade, sensibilidade ao contexto e criteriosidade são suas principais características;  Pensamento criativo: é aquele que procura, a partir das idéias, estabelecer novas relações. Necessariamente é inventivo, aberto às novas possibilidades e não fica em si mesmo;  Pensamento cuidadoso: por prezar a Ética, preocupa-se com as conseqüências, com os outros e com as coisas.
  • 5. Completando o quadro até aqui exposto, destacamos o pensamento rigoroso, radical e abrangente como integrantes do pensar complexo. Enfim, reflexão e autonomia de pensamento perfazem a tônica da proposta de Lipman. Só que, para a consecução de tais, habilidades básicas devem ser desenvolvidas para o desenvolvimento da competência do pensar competente. Conclusões: É importante ressaltar que Yves de La Taille esboça uma idéia do papel que a escola deve exercer na sociedade, uma vez que esta sofre com o que ele denomina “cultura da vaidade” que menospreza os valores básicos de convivência social potencializando o cosmos da competição, desrespeito e frivolidade. Sua idéia de trabalhar a Filosofia na escola de modo a contemplar os pensamentos que já foram produzidos pela humanidade e cultivar a intelectualidade encontra eco na atual conjuntura nacional. Entretanto, sua restrição à implementação da disciplina apenas no Ensino Médio – porque julga os indivíduos nesta faixa etária maduros para a compreensão da complexidade dos pensamentos dos mais diversos filósofos – restringe um público que, também, pode ter aulas de Filosofia: o Ensino Fundamental. Para embasar esse argumento é que apresentamos os estudos e trabalhos desenvolvidos por Lipman (citação) e sua proposta de Filosofia baseada no diálogo investigativo. A máxima kantiana de que não se ensina Filosofia e sim a filosofar atesta a proposta lipmaniana colocando os alunos como atores principais do filosofar. Neste sentido, Filosofia na escola constitui, mais do que maturidade intelectual: implica em ação dialógica na busca de aprofundamento de conceitos. Com efeito, acreditamos que, mediante a proposta de Lipman, a construção do saber filosófico e do juízo moral através da dialogia pode auxiliar na construção da autonomia moral. Bibliografia: ARENDT, Hannah. A vida do Espírito: o pensar, o querer, o julgar. Rio de Janeiro: Ed. Relume-Dumará, 2000. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994. DEWEY, John. Democracia e Educação. 3. ed. São Paulo: Nacional, 1959. LA TAILLE, Yves. Formação Ética: Do tédio ao respeito de si. Porto Alegre: Artmed, 2009.
  • 6. LIPMAN, Matthew. O pensar na Educação. Petrópolis: Vozes,1995. ______________. A Filosofia vai à escola. São Paulo: Summus,1990. LORIERI, M. A. Educação para o pensar. São Paulo. Thomsom, 2002.