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  HERMES NO CIBERESPAÇO
  Arte, técnica, sociedade e política




 Uma interpretação da comunicação
      e cultura na era digital




          Cláudio C. Paiva




UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA



                 2012
2




   HERMES NO CIBERESPAÇO

  Arte, técnica, sociedade e política




 Uma interpretação da Comunicação
      e Cultura na Era Digital




UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA



                 2012
3



Prefácio ............................................................................................................................ 6
Apresentação................................................................................................................... 7
1.     Introdução - O espírito de Hermes e a complexidade da comunicação.............. 9
     A sabedoria de Hermes e o poder da comunicação em rede ...................................... 11
     Origem, significação e atualidade do mito de Hermes. .............................................. 12
     A imaginação mitopoética, a história e as nervuras do re@l ..................................... 17
     O conflito das interpretações no ciberespaço ............................................................. 19
     O sono da razão sensível desperta os monstros .......................................................... 20
     Hermenêutica e Theatrum Philosoficum .................................................................... 22
2.     Do cavalo de Tróia ao Wikileaks: os estilhaços do poder no ciberespaço ........ 25
     Inteligência conectada e empoderamento coletivo ..................................................... 26
     A comunicação digital, a força do coletivo e a tecnologia colaborativa .................... 28
     Estratégias político-informacionais: da tecnocracia à digitofagia .............................. 30
     Informação, Mobilidade e Potência nas Redes Sociais .............................................. 32
     Fenomenologia da cultura digital ............................................................................... 34
     Interfaces emergentes, estratégias de comunicação em rede ...................................... 38
3.     Hermes, Afrodite e a cultura de convergência.................................................... 40
     A cultura de convergência não é um mar de águas tranqüilas.................................... 43
     Conexões sociotecnológicas e iconicidades contemporâneas .................................... 46
     Aportes teóricos e etnografias do ciberespaço ........................................................... 48
     A expansão do saber e as mídias colaborativas .......................................................... 50
     Complexidades da Informação, Linguagem e Comunicação ..................................... 51
     Não existe ação afirmativa sem tensões e conflitos ................................................... 53
4.     Walter Benjamin e a Imaginação Cibernética.................................................... 55
     O singular de Benjamin: a percepção de uma cultura no plural ................................. 58
     As imagens digitais têm aura? .................................................................................... 60
     Emanações barrocas na era do virtual ........................................................................ 61
     Figuras da sorte , figuras do azar: os clichês na Internet ............................................ 64
     Alegoria do ciberespaço e sabedoria da comunicação ............................................... 66
     Redes de sonhar, redes da imaginação criadora ......................................................... 67
     Variações da cultura pop e contracultura no ciberespaço........................................... 70
     Fim de partida............................................................................................................. 73
5.     YouTube: artes, invenções e paródias da vida cotidiana .................................. 75
     Estrutura e funcionamento do YouTube..................................................................... 77
     O YouTube: a escola, o mercado, o domicílio eletrônico .......................................... 79
     Competência técnica, educação estética e memória afetiva ....................................... 82
     A paródia e o riso na praça pública informatizada ..................................................... 84
     Das narrativas da televisão às narrativas telemáticas ................................................. 87
     Uma visão mitopoética da TV do futuro .................................................................... 89
4


6.     A blogosfera, o webjornalismo e as mediações colaborativas ........................... 91
     O estado da arte na pesquisa sobre os blogs ............................................................... 94
     O retorno da escrit@ na era digital............................................................................. 97
     Pureza e perigo dos diários e da blogosfera ............................................................... 99
     Categorizações no mercado do entretenimento ........................................................ 101
     O jornal e as mediações digitais: o blog, o podcast, o Twitter ................................. 103
     Os blogs como extensões da casa, da escola e da empresa ...................................... 105
7.     O Blog do Tas e a crise do Senado Federal na gestão Sarney ......................... 106
     Indignação e perplexidade na comunicação em rede ............................................... 108
     O espaço público digital e as intervenções infanto-juvenis...................................... 111
     O blog e as experiências midiáticas compartilhadas ................................................ 112
     Os blogs e as nuances da Comunicação Política ...................................................... 115
     Ética, Direito e diplomacia no trato das competências comunicativas..................... 116
8. A Crítica da Mídia no site Observatório da Imprensa ....................................... 118
     A estrutura organizacional e o espírito comunitário do webjornalismo ................... 120
     Monitoramento das notícias na cultura digitalizada ................................................. 122
     A economia e política das troc@s digitais ............................................................... 124
     O empoderamento dos usuários, e-leitores, cidadãos ............................................... 126
     Hipermídia e Comunicação: inteligência, tecnologia e sensibilidade ...................... 128
     A Ética e o ethos midiatizado ................................................................................... 130
     Emanações do belo na cultura digital ....................................................................... 132
     A inteligência crítica para além da vida digital ........................................................ 133
9.     BOCC - Um paradigma luso-brasileiro de Comunicação colaborativa ......... 135
     A imagem do monge eletrônico e o espírito da Biblioteca Virtual .......................... 137
     A economia organizacional de um Portal Científico ................................................ 140
     Origem e Atualidade da Biblioteca Digital Portuguesa............................................ 142
     Importância da BOCC na pesquisa avançada em Comunicação .............................. 143
     Estratégias de comunicação: competência editorial e colaboração permanente ...... 144
     A nova ambiência pedagógica e a linguagem informacional ................................... 145
     Gramáticas e sintaxes da comunicação luso-brasileira............................................. 146
10. A contempl@ção do mundo: Google Earth, a Terra-Pátria digitalizada....... 150
     Uma exploração crítica da Google-Mundo .............................................................. 155
     Estrutura e funcionamento do Google Earth ............................................................ 156
     O olho grande digital e a politização do cotidiano ................................................... 158
     Para entender os altos e baixos da “hipermodernidade”........................................... 159
     Transcendências efêmeras nas interfaces digitais .................................................... 160
     Geopolítica da Comunicação e sensorialidade do ciberespaço ................................ 164
11. O cinema, a realidade virtual e o chip do futuro .............................................. 166
     Máquinas de visão e iluminações do pensamento .................................................... 168
5


   Uma nova ambiência comunicacional ...................................................................... 169
   Sexo, afeto e arte tecnológica ................................................................................... 172
   Ética e estética do cinema na era do virtual ............................................................. 174
   Para entender as tramas do mundo virtual ................................................................ 176
   Avatares, fakes, nossos semelhantes pós-humanos .................................................. 178
12. “Quem matou Odete Roitman?” - Vale Tudo nas Redes Sociais? .................. 180
   Consumo, transmídia, comunicação colaborativa .................................................... 183
   Blogs, interações e subversões na telenovela Vale Tudo.......................................... 186
   YouTube: convergência minimalista e tecnologia da interatividade........................ 187
   O FaceBook, a potência da infocomunicação e os estilhaços da política................. 190
   O Twitter: a ficção, a mediação e o ethos midiatico ................................................ 190
   Orkut: mídia colaborativa, afeto e inteligência conectada ....................................... 192
13. A bomba informática do WikiLeaks e o jornalismo no século 21 ................... 194
   A repercussão do Wikileaks no espaço público midiático ....................................... 196
   WikiLeaks como vetor de empoderamento coletivo ................................................ 199
   Convergências tecnológicas e divergências políticas ............................................... 200
   WikiLeaks & broadcasting: conect@ndo com o inimigo......................................... 202
   Os devaneios da tecnocultura e as razões da comunicação ...................................... 204
   O estado da arte do jornalismo no século 21 ............................................................ 206
14. Considerações finais ............................................................................................ 208
15. Referências ........................................................................................................... 213
6


Prefácio



       O autor deste livro é um intelectual. Um verdadeiro intelectual. Não são muitos
em atividade. Tem a libido do saber. Pensa com o corpo inteiro. Sente aquilo que
investiga. Consegue mesclar o erudito e o popular com uma desenvoltura invejável.
Domina o universo do cinema como poucos. Vai de um ponto a outro do imaginário
contemporâneo com leveza e conhecimento.
       Esta sua incursão no mundo virtual não poderia ser diferente. Traz a marca de
quem reflete sem preconceitos e sem amarras. Examina, avalia, interpreta e
compreende. Acessa um número incrível de fontes e nunca se limita a navegações de
cabotagem. Aposta na renovação.
       É um pesquisador que não quer apenas repetir as rotas tradicionais. Tem a
ousadia dos aventureiros. Está longe de se deixar dominar pela camisa-de-força dos
discursos acadêmicos positivistas. Produzir conhecimento para ele é gerar novidade,
abrir novos caminhos, sair dos trilhos e indicar novas pistas. Parece fácil. Não é.
       Poucos têm essa predisposição para o confronto. Poucos sentem o aroma da
inovação. Pesquisar é muito mais do que levantar dados. Exige uma curiosidade
profunda e uma determinação especial. A determinação para abalar fundamentos,
descobrir, “desencobrir”, fazer emergir o novo, revelar, desvelar e até mesmo
“desconstruir”.
       Todas essas qualidades caracterizam o perfil desse pesquisador. Conheço-o
desde o tempo em que fazíamos doutorado em Paris e ele via todos os filmes em cartaz
na cidade. Eu o admirava silenciosamente. Gostava de ver a sua autonomia, a sua
liberdade de pensamento, a sua errância pela cidade-luz.
       Aprendi a conhecer um intelectual, homem livre, com suas idéias e paixões. Não
preciso dizer mais. Este livro mostra o quanto todas essas minhas observações são
limitadas para descrever ou qualificar o que o autor representa como pensador do
contemporâneo. Sem perda de tempo, comecem a ler. É tudo.


       JUREMIR MACHADO DA SILVA
       Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS.
       Porto Alegre, 2011.
7




Apresentação




       Este livro é uma viagem pelas encruzilhadas e labirintos da atual cibercultura. O
leitor será levado pelas mãos de Hermes, divindade complexa, associada à
comunicação. Rebelde, é o mensageiro dos Deuses, o angelos, o Deus Mercúrio dos
romanos, ao mesmo tempo formal e agregador. Assim é o trabalho: formal, agregador,
mensageiro e rebelde. Com maestria, o autor nos leva para conhecer os meandros da
cibercultura com um olhar aguçado, atento ao atual, sem abdicar de uma atenção à
história e à tradição das mídias.
       O autor discute as funções massivas da indústria cultural e as atuais funções pós-
massivas em jogo com as mídias eletrônicas, explicando tanto as convergências
tecnológica e cultural, como a emergência das novas redes e mídias sociais, a ampliação
da inteligência coletiva e crescimento do ativismo na rede. Nada mais oportuno, em
uma época de ocupações potencializadas por redes sociais e de revelações
constrangedoras de segredos de Estados e de empresas (como os hackers do grupo
Anonymous ou o site Wikileaks).
       Investiga a cultura no plural, uma cultura pop, audiovisual, onde o jornalismo, a
indústria cultural e a sociabilidade são tensionadas, crescem e se complexificam em
meio ao desenvolvimento de blogs, microblogs, sites de redes sociais e de
compartilhamento de música, fotos ou vídeos. O livro é de amplo alcance, assim como
são os impactos da atual cultura digital.
       O leitor é imerso em um mosaico, ao mesmo tempo imagem fragmentada e
método mcluhaniano, que permite apreender a comunicação, a indústria cultural, o
jornalismo e as diversas facetas da cultura contemporânea através de múltiplos olhares.
O livro é escrito em uma linguagem inteligente, descontraída, sem deixar de ser séria e
profunda, passando em revista o que há de mais importante na bibliografia nacional e
internacional sobre o tema.
       O ciberespaço e a cibercultura, como diz o autor na conclusão, não são uma
“segunda vida”, um mundo virtual, a parte, mas uma experiência vicária, quotidiana e
real, que mudou, muda e continuará mudando as formas do entretenimento, da
8


informação jornalística, do comércio e das relações de trabalho, das artes e das relações
interpessoais. O livro é assim de interesse para estudantes, pesquisadores ou para
pessoas interessadas em compreender a revolução da comunicação e das mídias digitais
no mundo atual.
       A figura ambígua de Hermes é o fio condutor do livro, mostrando as potências
do imaginário, as aberturas do sentido e as complexas relações entre o sensível e o
racional em jogo nesse ainda iniciante século XXI. Como diz o autor, contrariando
Benjamin, o ciberespaço tem sim, uma aura, “e é neste fenômeno aurático que devemos
procurar o significado mitológico, semiológico ou semiótico cultural do ciberespaço
para os contemporâneos”. Cabe ao leitor aceitar o passeio e se deixar levar pela potência
comunicativa e agregadora de Hermes.


André Lemos é Professor da Faculdade de Comunicação da UFBA e pesquisador do
CNPq. http://andrelemos.info
9




        1. Introdução - O espírito de Hermes e a complexidade da comunicação



       Há algo de novo no ar! O fenômeno da internet, hipermídias e redes sociais
configuraram uma nova realidade sociocultural, em que os cidadãos interconectados
interagem de maneira colaborativa, formando laços afetivos, comerciais e políticos. Os
grandes clássicos do cinema, as obras de arte, a música universal, as relíquias literárias,
as novidades no mundo da ciência e da tecnologia, tudo isso está disponível em rede.
Porém, a modernização tecnológica não trouxe benefícios para todos; do lado de fora da
sociedade digital estão os desplugados, os “sem banda larga”, os outsiders do século 21.
       Logo, constatamos que a grande batalha do nosso tempo se coloca em favor da
democratização da informação, facilidade de acesso, conexão veloz e banda larga para
todos. Por essa e outras razões defendemos um princípio ético-político e estratégico-
comunicacional que reconhece a inclusão digital como um caminho para a cidadania.
       Basta observarmos os acontecimentos recentes como Primavera Árabe, Occupy
Wall Street, Campanha Ficha Limpa, Movimento de Combate à Corrupção, etc., para
percebermos como as estratégias de comunicação são tramadas, simultaneamente, de
maneira presencial e em rede. Após um século de debate sobre o status dos cidadãos na
sociedade de massa, hoje, as atenções e a discussão pública se voltam para os meios
pós-massivos e as estratégias de empoderamento gerado pelas redes colaborativas.
       Pulsa na paisagem cotidiana uma inteligência coletiva conectada que perpassa o
vasto conjunto das atividades econômicas, socioculturais, ético-políticas, abrangendo
experiências tão diversas como o correio eletrônico, o webjornalismo, o sistema
bancário informatizado, o comercio on line, a medicina computadorizada, o voto digital,
o GPS, as enciclopédias, dicionários e bibliotecas virtuais, teleconferências e programas
de ensino mediados pela tecnologia.
       Em pouco mais de uma década a nossa relação com o mundo social e natural
mudou radicalmente, de maneira que as experiências sociotécnicas fazem parte das
nossas mediações fundamentais com a chamada “realidade objetiva”.
       Do presencial ao virtual (e vice-versa) estamos tecnologicamente e
sensorialmente interligados através de ambientes gerados por meios digitais como o
chat, o blog, o MSN, o Facebook, o Twitter e o YouTube, que teletransportam os
corações e mentes para uma outra dimensão da experiência individual e coletiva.
10


       Em casa, na rua, na esfera pública e privada, nas atividades das empresas,
instituições e organizações, novos atores, códigos, valores e procedimentos ganham
vigência: um novo ethos se instala enredado nos fluxos da informatização social.
       A partir da segunda metade do século 20, a comunicação digital passou a influir
- efetivamente - nos modos de pensar, falar e agir dos atores sociais.
       Contudo, é preciso separar o joio e o trigo. Há um complexo midiático massivo
(seja analógico ou digital) controlado pelo sistema global de produção capitalista,
meramente comercial e voltado - principalmente - para o lucro. E existe, por outro lado,
um complexo pós-massivo que, parte do coletivo, dos “sistemas sociais de resposta”
(BRAGA, 2006), favorecendo estratégias de distribuição e socialização da informação.
       Sem descartar a importância do mercado na economia de trocas materiais e
simbólicas, a comunicação compartilhada é mais democrática e concilia a diversidade
de interesses e expectativas sociais, sendo eticamente mais inclusiva.
       O acesso aos jornais e mídias do mundo inteiro, informações ao vivo, em tempo
real, a conexão simultânea entre os vários setores de produção, distribuição e consumo,
tudo isso atesta um surpreendente estado de convergência de formas, conteúdos e
linguagens, sinalizando conquistas e elevação da qualidade de vida social e política.
       Neste novo nicho comunicacional, os espectadores se tornam e-leitores, editores,
cibercidadãos. Ou seja, ocorre uma transformação profunda no contexto da experiência
midiática. Antes dos meios digitais havia um ambiente sócio-político e comunicacional
orientado pelas regras da separação: de um lado, os autores, a produção massiva, a
indústria cultural, e do outro, os espectadores, a recepção passiva, o consumo de massa.
       Hoje, o agenciamento coletivo dos usuários expressa uma conjunção mais
equilibrada face aos paradoxos comunicacionais: as redes favorecem processos de
veiculação, cognição e colaboração, assegurando a inserção dos indivíduos na economia
de trocas informacionais, num âmbito comunicativo mais democrático e participativo.
       Todavia, a experiência da comunicação - que evolui em sintonia com o processo
civilizatório - não se realiza num mar de águas tranqüilas; pelo contrário, opera num
contexto minado pelas tensões e conflitos, tendo que enfrentar desafios.
       Como adverte Benjamin, no ensaio “Sobre o conceito de história”, inspirado em
Freud, “nunca houve um monumento da cultura que não fosse um monumento de
barbárie” (BENJAMIN, 1985, p.225). Ou como afirma McLuhan, no livro Os meios são
as massagens, citando Whitehead, “os maiores avanços na civilização são processos que
quase arruínam as sociedades em que ocorrem” (MCLUHAN, 1969, p. 7).
11


       Vários pesquisadores têm contribuído para se elucidar algumas verdades e mitos
sobre o fenômeno tecnológico. Nesse filão, Lemos ajuda a distinguirmos a cibercultura
e a tecnocultura. Para ele, “na modernidade, cria-se uma tecnocultura como um
fenômeno técnico expandindo-se para todos os domínios da vida social, cuja
preocupação principal é ‘procurar em todas as coisas o método absolutamente mais
eficiente’ ”(LEMOS, 2004, p. 50). E, em defesa do uso social e criativo das tecnologias
de comunicação, conclui: “A cibercultura é um exemplo forte dessa vida social que se
quer presente e que tenta romper e desorganizar o deserto racional, objetivo e frio da
tecnologia moderna”. (LEMOS, 2004, p. 262).
       As novas mídias geradas pela telemática criaram algo afirmativo na civilização
técnica, favorecendo a dimensão sociocultural quando esta parecia engolida pelo
“buraco negro” industrial-tecnológico. Todavia, mídia é poder e os grandes predadores
políticos e econômicos não medem esforços para utilizá-la em benefício próprio.
       Então, é preciso encontrar um dispositivo teórico-conceitual para enfrentar o
paradoxo da comunicação, que se quer aberta, transparente, democrática, mas é
atravessada por forças econômicas, políticas, institucionais que a impelem numa direção
contrária. Assim, recorremos à imagem arquetípica de Hermes, o patrono da
comunicação, o grande mediador entre as forças opostas, que se inscreve aqui como
uma alavanca metodológica para nortear uma interpretação da cultura na era digital.



A sabedoria de Hermes e o poder da comunicação em rede


                            Há milênios, muito antes de esse corpo de conhecimento que
                    hoje chamamos de ciência existir, a relação dos seres humanos com o
                    mundo era bem diferente. A natureza era respeitada e idolatrada, sendo a
                    única responsável pela sobrevivência de nossa espécie, que vivia
                    basicamente da caça e de uma agricultura rudimentar. Na esperança de
                    que as catástrofes naturais como os vulcões, tempestades e furacões não
                    destruíssem as suas casas e plantações, ou matassem os animais e os
                    peixes, várias culturas atribuíram aspectos divinos à natureza. (...) Os
                    mitos são histórias que procuram viabilizar ou reafirmar sistemas de
                    valores, que não só dão sentido à nossa existência como também servem
                    de instrumento no estudo de uma determinada cultura. (Muitos) exemplos
                    mostram que o poder do mito não está em ele ser falso ou verdadeiro,
                    mas em ser efetivo. (...) na cosmogonia moderna, encontramos alguns
                    traços dessas idéias antigas, memórias distantes talvez, que de alguma
                    forma permaneceram vivas nos confins de nosso inconsciente,
                    demonstrando uma profunda universalidade da criatividade humana”.
12


                                                                    GLEISER, 1998, p.20.


        Explorando os domínios da filosofia, antropologia, sociologia, psicanálise,
história e crítica literária, encontramos o espírito de Hermes, como o intérprete-
mediador diante das grandes causas da humanidade. Homero, Petrônio, Dante,
Shakespeare, Proust, Dostoievsky, entre outros arcanos do pensamento ocidental,
modelaram a imagem de Hermes como fonte de leitura do grande livro do mundo. E,
sendo o gestor perspicaz no enfrentamento dos contrários, o mediador pode ajudar a
decifrarmos os paradoxos e complexidades da cultura na era da comunicação digital.
        Hermes é Mercúrio (na acepção latina), e é igualmente Hermes Trismegistos
(em hibridação com o deus Thot egípcio); sendo esse último mais próximo da
imaginação mítico-racionalista, do pensamento holístico 1. E Mercúrio está mais ligado
ao cogito matemático, ao saber pragmático, à dedução e contabilidade do mundo.
        Hermes tem a incumbência de contemplar a vasta prosa universal e desvelar as
camadas de sentido que formam a complexidade do discurso como doxa (opinião
vivenciada no senso comum), como techné (expressão da arte e dos saberes práticos), e
como epistème (saber especulativo, ciência, filosofia).



Origem, significação e atualidade do mito de Hermes.


                            Hermes era, na mitologia grega, um dos deuses olímpicos, filho de
                    Zeus e de Maia, e possuidor de vários atributos. Divindade muito antiga, era
                    cultuado na pré-história grega possivelmente como um deus da fertilidade,
                    dos rebanhos, da magia, da adivinhação, das estradas e viagens, entre outros
                    atributos. Ao longo dos séculos seu mito foi extensamente ampliado,
                    tornando-se o mensageiro dos deuses e patrono da ginástica, dos ladrões, dos
                    diplomatas, dos comerciantes, da astronomia, da eloqüência e de algumas
                    formas de iniciação, além de ser o guia das almas dos mortos para o reino de
                    Hades. Com o domínio da Grécia por Roma, Hermes foi assimilado ao deus
                    Mercúrio, e através da influência egípcia, sofreu um sincretismo também
                    com Toth, criando-se o personagem de Hermes Trismegisto. Foi um dos
                    deuses mais populares da Antiguidade clássica, teve muitos amores e gerou
                    prole numerosa. Com o advento do Cristianismo, chegou a ser comparado a
                    Cristo em sua função de intérprete da vontade do Logos. As figuras de
                    Hermes e de seu principal distintivo, o caduceu, ainda hoje são conhecidas e
        1
           No Egito, o deus da comunicação é Thot, representado metade homem, metade com as feições
ora de um íbis, ora de um babuíno; deus da escrita, da ciência e senhor de todo o conhecimento. A ele é
atribuída a invenção de todas as palavras que existem, sendo também guardião da magia; inventou a
matemática, a geometria, o uso dos medicamentos; a arte de trabalhar os metais, a invenção da música. A
ele é atribuída a invenção da lira de três cordas. Calculador do tempo, dos anos e regente das divisões
temporais. Cf. Castro e Silva. In: Dicionário da Comunicação, 2009.
13


                     usadas por seu valor simbólico, e vários autores o consideram a imagem
                     tutelar da cultura ocidental contemporânea.
                                                                       Wikipédia, 01.04.2011.


        Seguimos uma cartografia minuciosa, na obra de Junito de Souza Brandão
(1994), narrando o percurso de Hermes, que nasceu precoce, e ainda pequeno foi
colocado no oco de um salgueiro (símbolo da fertilidade e da imortalidade 2 ).
        A origem do seu nome está ligada à “herma”, que significa um platô feito de
cipós, grande pilar fálico emanando o sentido de consistência, altivez e perpetuidade.
Hermes tem o poder de ligar, desligar, formar laços afetivos, comerciais e políticos.
        Dentre as suas características particulares, é impulsivo, rebelde, outsider, possui
matizes contraculturais: roubou o rebanho de Apolo e após devolvê-lo ganhou um
caduceu de ouro que lhe concedeu a curiosidade, a adivinhação e o pendor para a
engenharia. Essa alegoria lembra o métier dos engenheiros de comunicação, arquitetos e
criadores do soft, técnicos, inventores, atuando em meio às brechas, abrindo caminho no
emaranhado das redes de informação. Hermes antecipa a ação dos cyberpunks, hackers,
phreakers que modificam o comando dos computadores e telefones 3.
        Astucioso, do casco de uma tartaruga, Hermes fez uma lira e inventou a flauta de
Pã. É uma divindade complexa. É agrário (também protege os pastores) e simboliza o
dom da astúcia, do ardil, de uma sabedoria sagrada. E na versão latina, Mercúrio, é o
deus dos comerciantes (dos mercadores, dos negociantes e dos “ladrões”).
        Mercúrio tem sido, ao longo da história, semanticamente associado às atividades
ligadas ao comércio: merces é mercado, mercadoria; liga-se - portanto - a um nível de
procedimento cerebral, contábil, pragmático. Mercúrio tem o discernimento para os

        2
           Convém remontar ao sentido antropológico do “oco”, “concha”, “cavidade”, “nicho”, signo de
afetividade, acolhimento, que reúne as diferenças e diversidades, em oposição ao sentido da “espada” que
separa, divide e exclui. Há um vigoroso simbolismo que se renova e atualiza o imaginário
contemporâneo, como demonstram distintamente as obras de Eliade (1998); Jung (1990), Durand (1988);
Maffesoli (1999), Rocha Pitta (2005), Machado da Silva (2006), Contrera (2010). Cada um desses autores
– ao seu modo - favorece interpretações lúcidas dos atuais processos sociotécnico-comunicacionais,
abrindo caminho para uma antropológica da comunicação e das culturas midiáticas.
         3
           O conceito de ciberespaço nasce na obra Neuromancer (GIBSON, 1984) e se epifaniza no
imaginário do cinema, desde filmes como Hackers, piratas de computador (1995) até Matrix (1999) e
Avatar (2009). Para entender o ciberpunk, consultar Lemos (2004), Amaral (2006) e o manual Etika
Hacker no site Hacker Teen (com Sérgio Amadeu Oliveira) que instiga os jovens a pensar sobre um
melhor uso da tecnologia em favor da sociedade. Cf. http://www.hackerteen.com/link/etica-hacker.html
         3
           A acepção de Hermes como outsider é uma parte essencial na sua ontologia, e se atualiza hoje
na experiência da “pirataria digital”, no embate entre os hackers e as grandes corporações. Hermes -
como intérprete e mediador - pode nortear um percurso para se entender o netativismo e a cibermilitância.
         Nessa direção, cumpre destacar o norteamento ético das estratégias acionadas pelo sociólogo
Sergio Amadeu Silveira, reputado pela militância em favor da utilização do software livre. Cf. Blog do
Sérgio Amadeu. http://samadeu.blogspot.com/2008/04/things-hackers-detest-and-avoid.html.
14


negócios, favorecendo uma vigorosa imaginação criativa no mundo da propaganda e do
marketing, e a sua marca no imaginário do consumo tem grande receptividade 4.
        A propósito, a “galáxia de McLuhan” é inteiramente atravessada pelo
hermetismo: McLuhan é hermético na ambigüidade, no paradoxo, no oxímoro, na
provocação sistemática e na arte de aproximar os contraditórios. A sua visão da cultura
eletrônica possui analogia com a alquimia cognitiva de Trismegistus, tem algo de
premonitório: nos anos 60, McLuhan previu as redes sociais, as cross mídia, o
fenômeno das convergências socio-tecnológicas do século 21.
        A exploração de McLuhan dos meios de comunicação e os célebres aforismos,
como “o meio é a mensagem” e “os meios são as massagens”, remetem às conjunções
entre o cérebro e a mente, o sensorial e o tecnológico, as redes neurais e os estímulos
eletrônicos, a percepção cognitiva e a tactilidade das mídias. A sua escrita em mosaico,
malgrado a assistematicidade, representa uma vigorosa hermenêutica. Buscou, junto
com o seu filho, Eric McLuhan, decifrar “as leis da mídia”, querendo entender os
padrões de extensão dos humanos e as suas conexões tecnólogicas.
        Sob o signo de Trismegistus, McLuhan, involuntariamente, decifrou as
mitologias do homem industrial: além do carro como metáfora da “noiva mecânica”, a
eletricidade irradiada no ambiente significa massagem, tactilidade, mensagem pura:


                                A roda é um prolongamento do pé; o livro é um prolongamento
                        do olho; a roupa é um prolongamento da pele; os circuitos elétricos, um
                        prolongamento do sistema nervoso central. (...) Os meios ao alterarem o
                        meio ambiente, fazem germinar em nós percepções sensoriais de agudeza
                        única. O prolongamento de qualquer de nossos sentidos altera nossa
                        maneira de pensar e de agir – o modo de perceber o mundo. Quando essas
                        relações se alteram, os homens mudam.
                                                                 MCLUHAN, 1969, p.59-79.

        Certamente, a transmigração simbólica mais importante de Hermes, do
paganismo ao catolicismo, está encarnada na imagem do anjo. A figura mais bem
acabada do Hermes como intérprete-explorador está no filme Asas do Desejo (Win
Wenders, 1987), em que os anjos se tele-transportam para Berlim, captando, nas
bibliotecas, vias públicas, automóveis e metrôs, as vozes e os sons das mentes humanas.
        4
           A emanação de Hermes está bem presente no cotidiano, nas expressões populares, lembrado
como o mensageiro dos deuses. Sob o signo do planeta Mercúrio, tem marca indelével no zodíaco.
Transita com desenvoltura no mundo secular: nos almanaques, revistas e jornais de larga circulação. Está
nas agências de correio, na marinha e na aeronáutica. O seu caduceu consta em brasões de várias cidades
e jurisdições. Empresas, periódicos, produtos e pessoas adotaram seu nome. Internacionalmente é muito
prestigiada a griffe Hermès, de artigos de luxo, trazendo um nome de família. (Wikipedia, 01.04.2011).
15


       O espírito de Hermes como anjo é uma figura complexa, cuja força simbólica
reside justamente no seu mistério, sexualidade polimorfa, silêncio e invisibilidade. E
isso, ao mesmo tempo, fascina e perturba a imaginação dos humanos.
       Numa cultura narcisista que idolatra a publicização e visibilidade total, o anjo,
invisível, detém uma alteridade radical. Como oráculo, intérprete, hermeneuta, traz a
promessa de revelação do oculto; não é à toa que o culto dos anjos seja tão bem
sucedido nos mercados globais de “auto-ajuda”.
       A imagerie dos anjos persiste indelével no mundo secular; está nas capelas, nas
esculturas, nos grandes afrescos e resplandecem no cinema, em Cidade dos Anjos (Brad
Silberling, 1998) e na série apocalíptica Anjos na América (Mike Nichols, 2003), sem
esquecer o anjo erotizado em Barbarella (Roger Vadim, 1968) e O anjo exterminador
(Buñuel, 1962). É importante guardar a sua ontologia complexa que talvez possa ajudar
a compreendermos o espírito do tempo, a extensão das subjetividades e o regime das
sociabilidades, na era dos clones, ciborgues e avatares, os chamados “pós-humanos”.
       O espírito hermenêutico nos leva a conhecer o poder da linguagem formal,
contábil, legislativa, e simultaneamente, reconhecer a potência da linguagem cotidiana,
informal, performativa, assimilando a parte lúdico-criadora da experiência comunicante.
       Sob o signo de Hermes podemos entender as noções que derivam do seu culto,
como “hermeneia”, “hermético”, “hermetismo”, “hermenêutica”. A comunicação
hermética transcende a lógica da facilidade e instiga a perspicácia humana para lidar
com a coincidência dos opostos, concedendo a sabedoria para lidarmos com as
complexidades, os temas difíceis, situações extremas (como tão bem conhecem os
juízes, legisladores e advogados).
       O código binário da linguagem informacional é hermético para os leigos;
entretanto, a aquisição das instruções básicas e a sua aplicabilidade podem transformar
os cidadãos em eficazes gestores dos processos sociotécnico-comunicacionais.
       Hermes, no sincretismo místico religioso brasileiro, à luz da antropologia
(BIÃO, 2009), se traduz na figura emblemática de Exu, do candomblé que - no Brasil
arcaico - durante a hegemonia cultural branca, precisou se comportar secretamente para
sobreviver. É uma entidade mediadora entre o mundo dos vivos e dos mortos, protetor
da sexualidade masculina. Reúne a dimensão lógico-gerencial, material, quantitativa, e a
dimensão involuntária, lúdica e exploratória da comunicação.
16


                     De um modo geral, as encruzilhadas (daí, do mundo) são loci da
                     comunicação, das línguas, das feiras temporárias e permanentes, dos
                     mercados, das cidades, dos teatros edificados e das profissões das artes do
                     espetáculo. Aí se encontra a Esfinge (e suas charadas mortais), Tirésias (o
                     que vê mais quer os demais, sem nada ver, tão importante para theorein e
                     para theatrum), Hermes (o que nos legou o poder da interpretação dos
                     textos sagrados e o grande problema da traduzir e trair; na expressão
                     italiana: traduttore traditore).  BIÃO (2009).


       O simbolismo de Hermes-Mercúrio está associado às aptidões para o cálculo, a
matemática, a estatística, as ciências duras, pelo seu altíssimo poder de concentração e
discernimento, mas também às virtudes criativas, procriadoras e transformadoras. E, a
estrutura simbólica de Hermes-Trismegisto está ligada às faculdades espirituais, às
essências humanas (às ciências do espírito, a filosofia, a antropologia, a psicologia, a
sociologia, a semiologia), reafirmando a sua simbologia complexa.
       Um detalhe importante na sua indumentária é o capacete que ganhou de Hades;
concedendo-lhe a astúcia, inteligência, o poder da gnose, do saber e da magia. Logo, é
um experto no campo da imaginação criativa (artes da publicidade, design, arquitetura,
propaganda, gestão organizacional e administrativa). Hermes é o protetor das ciências
da contabilidade. Mas, o caduceu lhe envolve principalmente numa circunstância de
significação esotérica, transmitindo-lhe o dom de decifrar o silêncio e a invisibilidade,
permitindo-lhe trabalhar com as experiências de leitura, interpretação e decodificação.


                            É pelo fazer, visando à utilidade da ação, que se aprende a
                     conviver com a liberdade. É pela ação construtiva que o cidadão, o
                     empresário, o político, o comunicador, todos nós, descobrimos a essência,
                     o daimon, no dizer dos gregos. Na “Tábua das esmeraldas”, atribuída ao
                     deus Hermes, pode-se ler: “Descobre o gênio imortal que te habita
                     (Daimon), aquela energia apaixonada que te torna em algo e te
                     impulsiona em direção à tua missão aqui na terra”.

                                                               VIANA, 2006, pag. 15.


       Na história do culto de Hermes podemos detectar um simbolismo ligado ao devir
dos acontecimentos, o que nos remete à atividade da reportagem, a transformação dos
fatos em notícias, matérias jornalísticas. Cumpre relembrar, o hermetismo envolve o
“segredo”, a parte oculta, a linguagem subliminar da comunicação, os não-ditos, os
interditos, os silêncios, a matéria ainda em estado de elaboração.
       Para os antigos, Hermes é um especialista também na fabricação dos antídotos,
poções, remédios; é pródigo nas mediações. E hoje, se atualiza na figura profissional do
17


técnico, informacionista, encarnando uma espécie de “curandeiro high tech” que
conserva o “disco duro”, salvando a memória virtual, o nosso cérebro eletrônico.
        Em suma, Hermes é o ágil detentor de um saber que lhe permite atuar como
leitor, mediador, decodificador; é tanto um oráculo, decifrador, quanto repórter,
intérprete, mensageiro: não é à toa que é o “patrono dos jornalistas” (VIANA, 2006).


                                 Todo aquele que recebe deste deus o conhecimento das fórmulas
                        mágicas, torna-se invulnerável a toda e qualquer obscuridade. Pode dar à
                        luz, e pode também lançar na escuridão. O olhar de Hermes, iluminado,
                        resiste às atrações das trevas. Assimilado ao deus egípcio Thot, torna-se o
                        mestre da escrita, da palavra e da inteligência. Hermes Trismegisto se
                        desloca do hermetismo à alquimia. É resultado do sincretismo entre o
                        Mercúrio latino e o deus ctônico Thot; é o criador do mundo através do
                        logos e da palavra.

                                                   BRANDÃO, Mitologia Grega, 2003.


        Na obra As Metamorfoses, de Ovídio, Hermes-Mercúrio é sábio, inteligente,
judicioso, encarna o próprio logos. É aquele que transmite toda a ciência secreta, e faz a
revelação. Seu filho, com Afrodite - o hermafrodita - é o decifrador da “pedra filosofal”
no clássico de Petrônio (Satyricom). Hermes tem a estatura de Virgílio guiando Dante
em A divina Comédia, entre os mortos, nos círculos do inferno.



A imaginação mitopoética, a história e as nervuras do re@l



        Fazendo uma leitura mais atenta do estudo antropológico de André Lemos,
Cibercultura, vida social e tecnologia (2004), encontramos uma etnologia das formas
de vida mental, incluindo o mito e o logos, a técnica e a magia, desde um estágio pré-
moderno da civilização 5. O trabalho demonstra como a techné e a epistème estavam
interligadas na sabedoria antiga, e como isso repercute na era da cibercultura.
        É neste sentido que podemos compreender a popularidade e idolatria em torno
dos chats, redes sociais, blogs, games, ambientes míticos e interativos, dispositivos
sensoriais e colaborativos que reúnem a dimensão diurna e noturna do imaginário,
coligando linguagens e experiências advindas de interesses e motivações diferentes. Ou

        5
          “O imaginário grego sobre as técnicas será influenciado pelas narrativas míticas. Os mitos de
origem do homem são também os mitos de origem da técnica (Prometeu, Décalo, Ícaro, Hefaístos,
Atenas, Pandora) que nos colocam diante da questão do homem como ser da técnica”. (LEMOS, 2004).
18


seja, os e-leitores, usuários, internautas se regozijam manuseando o computador, de
maneira diletante, descobrindo mundos virtuais, fascinados como se estivesse imersos
numa experiência mágica, mas ao mesmo tempo, há muitos que trabalham atentos,
perseverantes, dedicados e retiram dali os meios práticos de sua sobrevivência material.
        Por esse ângulo podemos entender a força simbólica da internet na sociedade
midiatizada: como “toda mídia” oferece lazer, diversão e entretenimento (o e-comerce é
a sua expressão mais evidente), e como uma new media cria oportunidades de trabalho e
educação (como e-learning, as teleconferências, as publicações virtuais).
        Seguimos aqui a via de uma perspectiva interdisciplinar que reúne as
contribuições da antropologia simbólica, dos estudos culturais em comunicação, das
pesquisas avançadas em cibercultura. Trata-se de um esforço de leitura e interpretação
guiado pela empiricidade dos dados capturados na internet durante mais de dez anos.
Mapeamos as experiências do YouTube, blogs, bibliotecas virtuais, jornalismo digital,
sistemas de monitoramento e geolocalização, cinema e realidade virtual, processos de
transmidiatização e netativismo, objetivando contribuir para uma interpretação da
complexidade cultural na era da comunicação digital.
        Resgatamos a iconicidade de Hermes (Mercúrio/Trismegistus), uma vigorosa
chave interpretativa dos “mistérios do mundo” na mitologia antiga, que nos serve como
ferramenta metodológica para entendermos as mídias e mediações atuais.
        O signo de Hermes se faz presente nas narrativas mitopoéticas de Homero,
Hesíodo, Ésquilo, Sóflocles, Euripides, Píndaro e Aristófanes, servindo de farol aos
homens e mulheres de todas as épocas. Inscreve-se na filosofia antiga (na dialética
            6
platônica       e na metafísica aristotélica 7) como uma figura de linguagem poderosa,
atuando colaborativamente na articulação dos sistemas de pensamento racionais da
antiguidade – no domínio do Direito, da Medicina e da Engenharia, e hoje suas
emanações atualizam a trama das vivências e linguagens eletrônicas compartilhadas.
        Com o advento monoteísta do cristianismo, evidentemente, foram confiscados os
seus atributos pagãos; todavia, persistiram na extraordinária iconografia das obras de



        6
           Hermes pode ter derivado de hermeneus, que significa intérprete. Platão, dando voz a Sócrates,
tentou estabelecer uma origem do nome, dizendo que Hermes estava ligado ao discurso, à interpretação e
à transmissão de mensagens, atividades ligadas ao poder da fala (eirein), e segundo supunha no curso do
tempo eirein havia sido embelezada e transformada em Hermes. In: Wikipédia, 2001.
         7
           Aristóteles sistematizou o conceito da hermenêutica, a ciência da interpretação, da tradução e
da exegese, a partir dos atributos de Hermes. Ibidem. A aplicabilidade da hermenêutica filosófica de
Aristóteles permanece com vigor no jargão dos profissionais do Direito e da Jurisprudência.
19


artes, explodindo nos quadros de Botticelli, Rubens, Turner, Celine, De Vries, e na
imaginação poética de escritores como Dante, Goethe, Oscar Wilde e Fernando Pessoa.



O conflito das interpretações no ciberespaço



        No contexto da civilização cristã tardia, é interessante notar o surpreendente
sincretismo ocorrido entre os mitos antigos e os santos forjados pelo catolicismo, cuja
atual força simbólica é extraordinária junto às comunidades de crentes. Talvez a sua
expressão mais forte, nos tempos do turismo global, seja a permanência do culto e
peregrinação no caminho de Santiago de Compostela, que arrebanha milhões de fiéis de
todas as partes do mundo, revelando um hermetismo e nomadismo surpreendentes.
        O imaginário popular é fértil e os ícones derivados da figura de Hermes e suas
hibridações fervilham no sincretismo cultural contemporâneo, como indicam o culto dos
santos ligados – simbolicamente – à comunicação, à conexão e à velocidade: Nossa
Senhora dos Navegantes (e da Boa Viagem), São Cristovão (padroeiro dos motoristas),
São Rafael (padroeiro dos motociclistas), São Francisco Sales (padroeiro dos
jornalistas), Santo Antonio (protetor dos feirantes e dos namorados), incluindo a incrível
figura de Santo Isidoro de Sevilha (padroeiro dos internautas), são exemplares8.
        Os cortejos em torno da iconicidade formada por essas figuras híbridas, em sua
aparente banalidade, atestam a potência do imaginário simbólico que se estrutura a
partir de distintas e diversificadas influências multiculturais. Em nossa época imagético-
publicitária, a iconologia de Hermes-Mercúrio se projeta numa cartografia híbrida e
multifacetada: na hermenêutica jurídica, comercial, médica, psicanalítica, nos rituais do
candomblé, na astrologia, nos esportes, no circuito da moda e no show business.
        Importa aqui perceber a arte da comunicação como uma hermenêutica que
atualiza um olhar sobre as novas experiências cotidianas, desde os games interativos,



        8
            Comemora-se em 4 de abril o dia do padroeiro dos usuários da Internet, Santo Isidoro de
Sevilha. Em março de 2000, o Serviço de Observação da Internet, sob a inspiração do Conselho Pontifício
para a Comunicação Social, do Vaticano, resolveu apoiar o nome do santo para ser o patrono da Internet.
Santo Isidoro de Sevilha foi indicado por ter escrito uma enciclopédia em 20 volumes, as “Etimologias”,
que tratam de tudo que se conhecia em sua época (século VI), desde gramática até pássaros, de animais e
medicina, de construção de estradas a moda e mobília, bem como meditações teológicas sobre a
Divindade. Ele descobriu também um sistema de pensamento, chamado de “flashes”, e ainda tido como
coisa muito moderna. Seria o Google daquela época. Cf. BlogdoQueMel. Consultoria Doméstica.
http://blog.consultoriadomestica.com.br/2011/04/04/santo-isidoro-de-sevilha-padroeiro-dos-internautas/
20


como O Inferno de Dante 9, passando pela videologia de Harry Potter e os ambientes
imersivos como o Second Life 10, até o caleidoscópio de imagens do site pornotube.com.
        As novas artes tecnológicas e as mídias colaborativas solicitam novos olhares
que podem ser instigados pela sabedoria antiga; este é o sentido do convite a Hermes
para uma interpretação das formas culturais contemporâneas.
        Miramos os dispositivos de arte-net minimalista dos PPS, o vasto repertório de
textos postados no site de compartilhamento Slideshare. Contemplamos as epifanias
ciber-astrológicas das páginas eletrônicas (como o site Porto do Céu), os bizarros posts
“comemorativos” pela morte de Bin Laden, no YouTube, os comentários indignados dos
ciberativistas no Orkut 11 e os “segredos de polichinelo” revelados no wikileaks.
        O amplo repertório destas iconicidades expressa o estilo das “idolatrias pós-
modernas”, conforme se mostra no “inventário” de Maffesoli (1997) mapeando os
“mitos, tribalizações e nomadismos contemporâneos”; De Kerckhove (2009)
investigando “os efeitos da nova realidade eletrônica”; Di Felice (2009) apreendendo o
sentido da nova “ecologia comunicacional e as formas comunicativas do habitar”.
        Descortina-se assim uma experiência de contemplação e desvelação do sentido,
uma atitude filosófica presente nas formulações de Benjamin, Simmel, Flusser e Latour,
que, movidos por uma “lógica da razão sensível”, empenharam-se na exploração da
arte, técnica, comunicação e poder, e hoje têm irrigando o pensamento das novas
gerações no campo da pesquisa em Ciências Humanas, Sociais e na Comunicação.
        Essa constelação de pensadores possui analogia com a imaginação
“antroposófica” (e interpretativa) de Hermes Trismegistus, o alquimista que parece ter
previsto a nossa era de hibridações e convergências desconcertantes.




O sono da razão sensível desperta os monstros



        9
            Dante's Inferno é um jogo eletrônico de ação-aventura em terceira pessoa publicado pela
Electronic Arts e desenvolvido pela Visceral Games (antiga EA Redwood Shores) e Artificial Mind and
Movement (versão PSP). No jogo, lançado em fevereiro de 2010, o jogador controla a personagem Dante
numa viagem pelo inferno. A história do jogo foi escrita por Will Rokos e baseia-se na primeira parte
Inferno da obra Divina Comédia, de Dante Alighieri. (Wikipedia, 2011).
         10
            O Second Life é o mundo virtual gráfico tridimensional desenvolvido pela empresa Linden
Labs e inaugurado em 2003. Cf. VALENTE & MATTAR. Second Life e Web 2.0 na Educação: o
potencial revolucionário das novas tecnologias. Novatec, 2007
         11
            Cf. “Eu odeio quem odeia... considerações sobre o comportamento dos usuários brasileiros na
‘tomada’ do Orkut”. In: FRAGOSO, XXXII Compós, 2006. www.compos.org.br/seer/index.php/e-
compos/article/viewFile/89/89      Acesso: 05.05.2011
21


        O controle sobre o livre arbítrio e a liberdade de expressão é perceptível nas
conjecturas e refutações de Santo Agostinho, na teologia de Tomás de Aquino e no pós-
medievalismo de Spinoza, em que se denunciam a manipulação e o controle sobre a
informação, a comunicação e o conhecimento. Esse fenômeno se projeta no romance O
Nome da Rosa (Umberto Eco, 1980), uma contemplação do mundo dos mosteiros,
quando os livros, o sexo e o riso (des)velavam segredos trancados a sete chaves.
        A experiência de “conflito das interpretações” foi vivenciada Teilhard de
Chardin (1881-1955), padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que
realizou, em sua obra herética, uma ousada visão integradora da ciência e a teologia 12.
        A filosofia hermenêutica nos favorece uma leitura do código impresso e também
audiovisual. Assim, os filmes Janela da Alma (João Jardim & Walter Carvalho, 2002) e
Ensaio sobre a Cegueira (Fernando Meirelles, 2008) são interpretações do mundo e
exercícios hermenêuticos, sob a dupla forma da textualidade e da audivisibilidade.
        Aliás, a linguagem hipertextual da web, de maneira inédita propicia
interpretações, leituras imersivas, transversais, e dependendo do modo de usar, pode
tornar mais claras as nossas idéias acerca da complexidade do mundo em que vivemos.
        A inteligência coletiva conectada, graças à grande hermenêutica digital gerada
pela web, como uma máquina sociotécnica provedora de leituras do mundo, tem o poder
de transformar o discurso em ação. Todavia, essa tarefa não é fácil, pois a comunicação
em rede é atravessada permanentemente por poderes em conflito. O Estado, o capital e
os ativistas em rede disputam o ciberespaço com interesses e objetivos distintos. E o
êxito no exercício das empreitadas em rede vai depender do modo como puderem gerar
estratégias coletivas de informação, comunicação e interpretação do mundo.
        A inteligência sociotécnica conectada pelos sistemas hipermídia realiza o sonho
hermenêutico de desvelamento do mundo através da visão, audição e tactibilidade. Eis
uma experiência cultural que modifica os padrões de linguagem, encorajando os atores
sociais a usarem os equipamentos tecnológicos para acederem ao status de cidadãos.




        12
           Teilhard de Chardin é o fundador do conceito de “noosfera” (esfera do pensamento ou espírito
humano), que influenciou Bachelard, McLuhan e Maffesoli. Cf. Wikipedia, 01.06.2011. Chardin é autor
de obras como O meio divino (1927) e O fenômeno humano (1940), em que indica as potências do meio,
o sentido do contato, da tactilidade, da sensorialidade irradiadas nas dimensões do espaço e tempo, na
noosfera que nos abriga como uma comunidade simbólica, invisível, virtual. O tema foi tratado por
diversos pensadores no evento O Século McLuhan. ATOPOS, S. Paulo, 02 a 03.05.2011.
http://www.atopos.usp.br/mcluhan/. Papers das conferências disponíveis em: http://vimeo.com/23890132
         Acesso em: 02.06.2011.
22


Hermenêutica e Theatrum Philosoficum



       A recorrência às obras Hermenêutica (PALMER, 1986), Questões fundamentais
da hermenêutica (CORETH, 1973) e Interpretação e Ideologias (RICOEUR, 1988) é
relevante para o refinamento da percepção acerca dos diferentes modos de construção
dos discursos. É uma estratégia filosófica essencial para a evolução do pensamento que
se desloca do preconceito ao pré-entendimento, abrindo clarividências diante do novo.
       Seguimos as pistas lançadas pela hermenêutica visando a uma estratégia de
mediação entre gramáticas discursivas emergentes. E cabe ao cidadão virtual exercer o
livre arbítrio, fazer a sua própria interpretação e escolher o seu modo de agir em rede.
       Este é um processo que certamente poderia ser retomado a partir da crítica de
Heidegger à técnica ou da filologia iconoclasta de Nietzsche, exorcizando a hegemonia
dos valores morais, filosóficos, estéticos através de aforismos desconcertantes.
       Todavia, optamos pela contemplação de um roteiro das interpretações, partindo
de um momento histórico em que o mundo começou a ser pensado à maneira moderna.
       E esse momento pode ser datado a partir de Kant (1724-1804), antes de tudo, um
grande intérprete, exegeta da razão, que buscou conciliar o racionalismo dedutivo, de
Descartes e Leibniz, com o empirismo inglês (Hume-Locke-Berkeley). Kant nasceu em
Königsberg, e num certo sentido antecipou McLuhan, e sem nunca ter saído da sua
“aldeia” – reza a lenda – almejou decifrar o mundo forjando filosoficamente uma
“globalização” avant la lettre, através das extensões de uma razão pura e transcendental.
       O filósofo das Luzes empreendeu um rigoroso projeto de interpretação do real
(portanto uma hermenêutica); entretanto, empenhado em uma explicação do mundo
através de um “imperativo categórico”, deixou de fora a perspectiva da razão sensível
no ato de contemplação do mundo. (Este projeto será levado a cabo por outros estetas e
pensadores, como os neoidealistas e românticos como Schiller e Fichte).
       Capturamos em Kant a noção de “imperativo categórico”, para repensar o
conceito de “imperativo da visibilidade”, empregado por Paula Sibilia (2008) na
investigação da sociabilidade virtual, quando as experiências da visibilidade, conexão e
mobilidade aparecem como pré-requisitos para a entrada do ser na ordem da cultura.
       Na filosofia hermenêutica, cintila a obra do teólogo Schleiermacher (1768-
1834), fazendo a crítica dos milagres e das escrituras que, em última instância, nos leva
a entender para além da magia do ciberespaço um sistema de padronização da
23


linguagem como estratégia de estabelecimento dos efeitos de verdade. (Logo, antecipa
Baudrillard e a sua crítica dos simulacros e simulações).
       Dilthey (1833-1911), o psicólogo-pedagogo alemão, dedicado ao estudo das
“ciências do espírito” e das “ciências da natureza”, abre caminho para as futuras
reflexões, no sec.21, sobre o espírito do tempo, a inteligência cognitiva e a ecologia da
comunicação (desenvolvida por Bateson e outros visionários da Escola de Chicago).
       Husserl (1859-1938), filósofo-matemático, ousou prever uma fenomenologia do
Ser diante do número, antecipando a idéia da automação, conexão e comunicação
numérica da “modernidade tardia”. (Um processo especulativo que vai ganhar novas
proporções na pragmática da comunicação, com Austin, Searle e Peirce, no século 20).
       Caminhando sozinho na rota das idéias do seu tempo, Heidegger (1889-1976),
investigador da metafísica e da teologia, antecipou uma filosofia crítica da técnica, e
desta maneira vai dominar o pensamento norteador da tradição crítica da tecnocultura.
       Gadamer (1900-2002), filósofo hermeneuta, autor da obra Verdade e Método,
empenhou-se em decifrar o “caráter verdadeiro das coisas”, e findou como um estudioso
do belo, nos estimulando a explorar os “enigmas, segredos e mistérios” da realidade
sensível estetizada pelas tecnologias audiovisuais colaborativas.
       Paul Ricoeur (1913-2005), o filósofo do sentido, dedicou-se às “interpretações e
ideologias”, enfrentando “conflito das interpretações”, e hoje o seu legado filosófico nos
encoraja a compreender os paradoxos e complexidades do ciberespaço.
       Deste modo, valorizamos as leituras híbridas como estratégias sensíveis e atentas
na apreensão da complexidade do real midiatizado. Apreendemos as iluminações
filosóficas clássicas e os insights recentes de pensadores do contemporâneo, como o
geógrafo Milton Santos, cujos esforços em compreender o significado da história,
técnica, geopolítica e vida social, na era da globalização, deixaram marcas indeléveis na
no contexto da inteligência brasileira:


                             A questão que se colocam os filósofos é a de distinguir entre uma
                     natureza mágica e uma natureza racional. Em termos quantitativos ou
                     operacionais, a tarefa é certamente possível. Mas é talvez inútil buscar o
                     momento de uma transição. No fundo, o advento da Ciência Natural ou o
                     triunfo da ciência das máquinas não suprimem, na visão da Natureza pelo
                     homem, a mistura entre crenças, mitigadas ou cegas, e esquemas lógicos
                     de interpretação. A relação entre teologia e ciência, marcante na Idade
                     Média, ganha novos contornos. “A magia, o poder da fabulação”, como
                     diz Bergson, “é uma necessidade psicológica, tal como a razão...”. Os
                     sistemas lógicos evoluem e mudam, os sistemas de crenças religiosas são
24


                         recriados paralelamente à evolução da materialidade e das relações
                         humanas e é sob essas leis que a Natureza vai se transformando.

                                                     MILTON SANTOS, 1997, p. 16.


        Recorremos à (moderna) tradição filosófica, para encorajar o espírito das novas
gerações a decifrar a potencialidade do ser na era das tecnologias colaborativas. É essa
hermenêutica que nos importa: de olho nas redes, convergências, hibridações.
        Partimos de uma perspectiva interdisciplinar que aceita o diálogo com a filosofia
clássica e moderna, a filosofia espontânea dos cientistas, o empirismo dos especialistas,
a sabedoria da praça pública informatizada, em que a doxa (o saber comum), a episteme
(o saber filosófico-científico), a techné (artes e práticas do saber-fazer) se equivalem na
arborescência do conhecimento. 13




        13
            Há um detalhe em nosso trajeto que não pode ser esquecido: o exercício de investigação
científica não pode prescindir do trabalho empírico. Este trabalho é fruto da observação sistemática,
análise e interpretação, da contextualização social e histórica. O livro resultou de um esforço coletivo, um
trabalho de investigação realizado em conjunto com jovens pesquisadores engajados nos temas da
cibercultura (PIBIC/CNPq/PPGC/UFPB): Cf. RIOS, P; OLIVEIRA, A. Home Pages. O acesso às auto-
estradas da cibercultura (1997/1998); __ A Internet e a busca da comunicação horizontal (1998);
RODRIGUES, J. Estudo dos chats (2002); ARAÚJO, A.H.C. As organizações no Ciberespaço (2003);
LIESEN, M. Comunicação, Sensibilidade e Mediação Tecnológica (2007); SERRANO, P.H.S.M.
Cognição e Interacionalidade através do YouTube (2007); MARTINS, A.V. Blogs, Blogueiros,
Blogosfera (2008); FELIX, L. Socialidades Efêmeras no Ciberespaço (2008); LIMA, N.R.A.S.
Webjornalismo (2009); FALCÃO, L. O Second Life e a Teoria da Calda Longa (2009); MEDEIROS
NETO, R.B. Twitter, a credibilidade da mensagem sintetizada (2010); MAGALHÃES, M. Orkut e
Comunidades Virtuais (2009/2011); MEDEIROS, E. Blogs, Jornalismo e Redes Sociais (2009/11).
25


        2. Do cavalo de Tróia ao Wikileaks: os estilhaços do poder no ciberespaço

        A mutação tecnológica do século 20, desencadeada pelos audiovisuais
eletrônicos, redirecionou o sentido da vida mental na metrópole. Logo, as gerações
pensantes do novo milênio têm diante de si o desafio de compreender, decodificar e
interagir nos espaços reconfigurados pelas tecnologias da informação e da comunicação.
        As mídias constituem um forte instrumento de poder na era tecnológica. De um
lado, o Estado e as grandes corporações, do outro, os cidadãos, as inteligências coletivas
conectadas, disputam o controle do poder mediado pelas tecnologias midiáticas.
        A interface “poder e comunicação” atravessa a história da vida pública e
privada, desde as eras mais remotas. Foi assim ontem, no tempo dos deuses, heróis e
guerreiros, como narra Homero na Ilíada e na Odisséia, e é assim também hoje, no
tempo dos hackers e do Wikileaks14, das navegações, do ciberpoder e da pirataria
virtual, em que descobrimos novas formas éticas, sociais e políticas do compartilhar.
        A expressão “navegar no ciberespaço” tem analogia com a história do
conhecimento, em que incidem erros, acertos, naufrágios e conquistas. Como na
odisséia de Ulysses, o trajeto do saber é atravessado por crises, rupturas, derivas,
sobrevivências, novos achados e permanentes modificações no mapa da viagem.
        O ciberespaço concretiza a imagem conceitual de “noosfera”, que animou a
imaginação criativa e vigilante de pensadores como Chardin, Bachelard e McLuhan. É a
zona sensível do acontecimento, em que se movem as inteligências coletivas mediadas
pela tecnologia. Um campo gravitacional atravessado por forças sociais, econômicas e
políticas que lhe condicionam. Mas, principalmente, o ciberespaço, em sua complexa
amplitude e ubiquidade, é um motor que libera a energia tecno-social dos usuários, cuja
irradiação afeta a percepção neuro-sensorial, estética e cognitiva, encorajando
empoderamentos coletivos que desafiam os sistemas dominantes.




        14
            WikiLeaks é uma organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que
publica, em seu site, posts de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas
de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis. (...) O site, administrado por The Sunshine Press, foi
lançado em dez./2006 e, em meados de nov./2007, já continha 1,2 milhão de documentos. Seu principal
editor e porta-voz é o australiano Julian Assange, jornalista e ciberativista. (...) Ao longo de 2010,
WikiLeaks publicou grandes massas de documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos, com
forte repercussão mundial. Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/WikiLeaks Acesso: 13.05.2011
26


Inteligência conectada e empoderamento coletivo



        Há diferentes maneiras dos cidadãos utilizarem os computadores, a internet, os
equipamentos hipermídia em suas rotinas diárias. Para a maioria a rede funciona como
um canal de diversão e entretenimento; para outros, além de se constituir como um meio
de informação permanente, a rede funciona como uma alavanca operacional no campo
da pesquisa científica e cria oportunidades de trabalho numa época de desemprego.
        Os defensores do ciberespaço apontam dentre os seus aspectos positivos a
dinâmica dos processos de numeralização, disponibilização e compartilhamento da
informação em tempo real, mas sobretudo o seu alto poder de interacionalidade. Há os
usuários que apreciam as redes como vias de acesso a outras espiritualidades,
sensorialidades e corporeidades. (Os sites Porto do Céu, Second Life e PornoTube
distintamente servem como exemplos). Todavia, há os desconfiados que vêem a internet
e o ciberespaço como um produto do turbocapitalismo, uma garra da tecnoburocracia
gerada em alta velocidade, apagando os valores humanos e distanciando os corpos
físicos do espaço público; uma experiência com vetores regressivos. 15
        Em nossa interpretação da cultura biotecnológica e sócio-colaborativa,
exploramos objetos, fenômenos e processos que representam nacos no tecido da
cibercultura, a qual tem sido popularmente bem assimilada a partir do desempenho das
redes sociais. Buscando nos orientar no pensamento, guarnecermo-nos de um
instrumental conceitual, moldando um corpus teórico para decifrar esta experiência
recente na história da cultura que nos envolve, nos fascina e nos escapa.
        Examinamos algumas realizações da comunicação em rede, com o apoio dos
estudos de especialistas, cujos trabalhos, de cunho exploratório, analítico, crítico,
compreensivo, têm sido bons condutores para o debate.
        “Enredar é tecer a arte de organizar encontros”: este o mote epistemológico da
coletânea Tramas da Rede (PARENTE, 2004), um arsenal teórico que reúne estudiosos
de vulto como Bruno Latour fazendo uma exploração racional e sensível dos
“laboratórios, bibliotecas e coleções”; Marc Guillaume estudando a “comunicação
comutativa”; Hardt & Negri inspecionando a “biopolítica”; Pierre Lévy estudando o

        15
           André Lemos faz uma distinção fundamental: para ele, a “tecnocultura”, fundada no sec.XIX,
consiste na aplicação da máquina e o industrialismo nos domínios do pensamento, da comunicação e da
vida social, forjando as condições materiais de existência. (LEMOS, 2004, p. 59-61). A cibercultura
surge na metade dos anos 70, com a influência da microinformática no domínio sociocultural. Ou seja, as
transformações técnicas, sociais e ideológicas propiciadas pelo microcomputador. (ibidem, p. 101).
27


ciberespaço e a “economia da atenção”; Henrique Antoun analisando a “democracia,
multidão e guerra no ciberespaço”; Ascott vislumbrando o “homo telematicus, no
jardim da vida artificial”, e Maciel “contemplando os espaços híbridos”.
        Um rearranjo das propostas interdisciplinares contidas nos fragmentos teórico-
conceituais e empíricos, que abundam em cada um desses textos, nos leva a articular
uma reflexão sobre algumas preocupações específicas no campo da cibercultura.

                       A noção de rede vem despertando tal interesse nos trabalhos teóricos e
                       práticos de campos tão diversos como a ciência, a tecnologia e a arte, que
                       temos a impressão de estar diante de um novo paradigma, ligado, sem
                       dúvida, a um pensamento das relações em oposição a um pensamento das
                       essências. (PARENTE, 2004, p. 64).
                                                                            16
        Refazendo um estudo da obra Sociedade em Rede (1999)                     , percebemos que,
numa perspectiva crítica, Castells se empenha em decifrar o alcance e os limites das
redes sociais, como o produto mais acabado na nova fase do capitalismo global. Em sua
perspectiva, a hiperconcentração de renda, os fundamentalismos (religioso e
mercadológico), a globalização do crime, o apartheid tecnológico e a exclusão digital
compõem a face regressiva da nova conjuntura mundial na era das redes de informação.
        Todavia, a sua perspicácia reside em mostrar como, no contexto da globalização,
se inscrevem novas redes de solidariedade, agenciamentos sociopolíticos afirmativos.
Essa problemática será atualizada nas obras posteriores, A Galáxia Internet, reflexões
sobre a internet, os negócios e a sociedade (2003) e Communication Power (2010),
vislumbrando os modos de empoderamento coletivo por meio das tecnologias digitais.
        Há autores que vêem nas (novas) redes de informação a projeção das atuais
contradições socioeconômicas, políticas e culturais, as zonas de tensão e perplexidade
da vida social, conforme se inscreve no livro Diferentes, desiguais, desconectados:

                       As diferenças na modernidade existem às vezes como desenvolvimentos
                       culturais distintos, outras vezes como resultado da desigualdade das
                       classes, entre as nações, entre os grupos sociais, e mais recentemente em
                       relação com as possibilidades de conexão e desconexão das
                       comunicações, ou das redes de informação, entretenimento e participação
                       social. A mobilidade identitária tem muito a ver com essas diferenças,
                       desigualdades, conexões e desconexões, com uma combinação dessas
                       modalidades. (CANCLINI, 2005).




        16
           Primeiro volume da trilogia de CASTELLS, A era da informação: Economia, Sociedade e
Cultura (1999); seguem-se, o vol.2, O Poder da Identidade (1999), e o vol.3, Fim de Milênio. (1999).
28


       Com     efeito,     as     redes   telemáticas,   tecnoafetivamente,     esteticamente,
sensorialmente, geram processos sociais de identificação, convergência e participação.
Os atores sociais conectados interagem e colaboram na nova ambiência tecno-
comunicacional, acionando estratégias de ação afirmativa. Exemplos vivos desses
processos são os ambientalistas que se tornam cibermilitantes, organizando suas
estratégias biopolíticas no interior do ciberespaço, abrindo caminho para os chamados
cibercidadãos, ou “cidadãos culturais”, como podemos ler no trabalho Leitores,
espectadores e internautas (2008):

                       (Um exame) das fusões entre empresas dedicadas à produção de livros,
                       mensagens audiovisuais e eletrônicas, em particular os hábitos culturais.
                       Breves artigos, ordenados como num dicionário, interagem à maneira de
                       um hipertexto para redefinir, não apenas o que é ser leitor, espectador e
                       internauta, (mas) o modo pelo qual agora somos cidadãos culturais, e nos
                       relacionamos com o patrimônio, os museus e as marcas e para onde vai a
                       pirataria, o zapping e os usos do corpo. (CANCLINI, 2008).

       A correspondência on line, o webjornalismo, o cinema 3D, a tevê interativa, o
namoro virtual, o marketing digital, e-comerce, as teleconferências, o ensino mediado
pela tecnologia, a digitalização, disponibilização e compartilhamento das informações
planetárias,   entre     outras     experiências   tecno-informacionais,      criaram    novas
espacialidades e temporalidades redefinindo o estatuto do ser na cultura, do “estar-
junto”, novas formas comunicativas e de interpretação do mundo.
       Mas esses processos não se efetivam harmonicamente, envolvem relações de
poder, acirradas disputas e rivalidades. A experiência do ciberativismo sinaliza algo de
novo no contexto da tecnologia e vida social, pois adverte como é possível nos
instalarmos no interior dos “sistemas fechados” e contribuir para uma estratégia de
comunicação compartilhada e colaborativa. E nesse sentido, os hackers podem ser
vistos positivamente como “ativistas midiáticos” (TRIGUEIRO, 2011), que utilizam
uma tática socio-comunicacional democrática, contribuindo para a inclusão digital.


A comunicação digital, a força do coletivo e a tecnologia colaborativa


       Hoje, na chamada “Idade Mídia”, emergem novas configurações sócio-político-
comunicativas que nos interpelam sobre o significado do espaço público e dos modos de
participação social no contexto das decisões públicas. À medida que a consciência
coletiva planetária vai se irrigando pelos feixes sócio-informacionais, eclodem novas
29


exigências, competências e empoderamentos sociais. Também por isso, no Campo da
Comunicação, na era das redes sociais, diversos esforços têm sido despendidos na
elaboração de um conhecimento sistemático da interface Poder e Comunicação Digital.
        Ganham expressão de destaque nesta seara os congressos da Associação
Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política – COMPOLITICA, atuante
desde 2006, dos quais sublinhamos aqui a relevância da pesquisa em Política e
Cibercultura17.
        Na época dos mercados globais faz-se necessário perceber os níveis de expansão
e concentração, conexão e mobilidade, em que se misturam os padrões sócio-culturais
tradicionais e os arrojados padrões tecnológicos. E convém reconhecer, essas
conjunções, nem sempre são bem balanceadas, e se projetam num contexto histórico e
sociopolítico envolvendo poderes locais e globais, que podem afetar – positivamente ou
negativamente – as experiências dos indivíduos e grupos sociais.
        Daí a importância de um debate vigoroso, num espaço público como a internet
que agrega os discursos dos acadêmicos, políticos, jornalistas, profissionais e
especialistas em mídia, e sobretudo dos cidadãos interconectados em rede.
        Nessa direção, considerando a escassez de estudos na área, é pertinente listar
aqui alguns dos papers dos congressos anuais da COMPOLÍTICA, resultantes das
pesquisas avançadas dos profissionais de primeira linha. Sua relevância reside na
atualização dos temas que têm lugar na esfera pública (presencial e midiatizada) e ali
sendo problematizados, com rigor e sistematização, lançam luzes sobre um conjunto
importante de fenômenos e acontecimentos de ordem política que ganham novos
contornos na era da informação. 18

        17
            A COMPOLÍTICA foi fundada em 2006, mantendo assiduidade, nos anos de 2007, 2009,
2011, atualmente sob a presidência de Afonso Albuquerque (UFF), Vera Chaia (vice-presidente) e Maria
Helena Weber (Secretaria Executiva).
         18
            Destacaríamos neste fórum a inscrição do Grupo de Trabalho – Internet e Política, sob as
coordenações de Wilson Gomes (2011/2007), Alessandra Aldé (2009), Othon Jambeiro (2006).
Consultar, dentre outros textos da COMPOLÍTICA – Salvador / UFBA 2006: “Urbes contemporâneas e
Políticas de informação e comunicações” (JAMBEIRO); “Blogs de Política: caminhos para reflexão”
(PENTEADO; SANTOS; ARAÚJO); Entre o silêncio e a visibilidade: o Orkut como espaço de luta por
reconhecimento do movimento social dos surdos (GARCEZ, R. L. O.); Ágoras digitais: a emergência dos
blogs no ciberespaço (ALONGE, W); Internet e associativismo no debate público acerca do
desmatamento (GUICHENEY, H.). COMPOLÍTICA – Belo Horizonte / UFMG 2007: Governo e
Democracia Digital (MARQUES, F. P. J.A); O movimento Cansei na blogosfera (PENTEADO, C. L. C;
SANTOS, M. P.B; ARAÚJO, R. P. A); Democracia Digital: Que Democracia? (GOMES, W); Blogs e
jornalismo (MARTINS, A. F.); Participação democrática e Internet: breve análise dos websites dos
Governos Federais dos quatro maiores países sul-americanos (BRAGATTO, R. C.). COMPOLÍTICA –
São Paulo / PUC-SP 2009: Twitosfera: a expansão da ágora digital e seus efeitos no universo político
(RAMALDES, D); Humor e Política na dinâmica das NTICs (MARTINHO, S.G.). COMPOLÍTICA –
Rio de Janeiro / UERJ 2011: O Twitter na campanha eleitoral 2010 (GOMES, W); O debate sobre o
30


        A enumeração de alguns títulos dos trabalhos disponibilizados pode indicar o
quanto o Grupo de Trabalho “Internet e Política” contribui para o debate sócio-político
e para a decifração da complexidade sócio-política e comunicacional contemporânea:
        “Os blogs, o jornalismo e a Política”, “Orkut e os surdos”, “as ágoras digitais”,
“Internet e Desmatamento”, “Governo e Democracia Digital”, “O movimento Cansei na
blogosfera”, “Acesso à informação na América Latina”, “Websites dos Governos
Federais na América do Sul”, “O Twitter na campanha eleitoral”, “Humor e Política”,
                                                       19
“O debate sobre o Marco Civil na Internet”                  , “O blog e a ciberpolítica”, “Internet e
Ministério da Cultura”, “Democracia e Monitoramento”, “O fenômeno wikileaks”,
“Movimentos sociais na era digital” são alguns dos grandes temas analisados e podem
ser compartilhados na internet, o que revigora o trabalho de interpretação da cultura
política mediada pelas tecnologias colaborativas.



Estratégias político-informacionais: da tecnocracia à digitofagia



        Hoje, no campo da comunicação a batalha se dá em defesa dos creative
commons20, na luta em defesa do copyleft21, software livre22, redes gratuitas, banda larga
para todos. Defende-se aqui os modos de acesso à informação substantiva concernente
às atividades vitais, como educação, saúde, trabalho, transporte, segurança, mas também

Marco Civil da Internet (SEGURADO, R); A ciberpolítica no caminho da rede (LÉVY, D; SILVA, J.F.);
Internet, cidadania e esfera pública: um estudo comparativo dos Ministérios da Cultura do Brasil,
Argentina e França (SANTOS, M.B; ARAÚJO, R; PENTEADO, C.); Democracia Monitorada: Internet e
poder cidadão (FEENSTRA, R; COUTO, D. R.T.); O fenômeno Wikileaks e as redes de poder
(SILVEIRA, S.A.); Internet e mobilização política – os movimentos sociais na era digital (PEREIRA,
M.A.). Os papers estão disponíveis no site: http://www.compolitica.org/home/ Acesso: 12.04.2011
          19
             O Marco Civil da Internet é um projeto de Lei que visa estabelecer direitos e deveres na
utilização da Internet no Brasil; tem um significado similar à Constituição da Internet.
          20
             Creative Commons é uma organização não governamental sem fins lucrativos localizada em
São Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos, voltada a expandir a quantidade de obras criativas
disponíveis, através de suas licenças que permitem a cópia e compartilhamento com menos restrições que
o tradicional todos direitos reservados. Para esse fim, a organização criou diversas licenças, conhecidas
como licenças Creative Commons. A organização foi fundada em 2001 por Larry Lessig, Hal Abelson, e
Eric Eldred[1] com apoio do Centro de Domínio Público. (Wikipedia, 15.05.2011).
          21
             Copyleft é uma forma de usar a legislação de proteção dos direitos autorais com o objetivo de
retirar barreiras à utilização, difusão e modificação de uma obra criativa devido à aplicação clássica das
normas de propriedade intelectual, exigindo que as mesmas liberdades sejam preservadas em versões
modificadas. O copyleft diferere assim do domínio público, que não apresenta tais exigências. "Copyleft"
é um trocadilho com o termo “copyright” que, traduzido literalmente, significa “direitos de cópia”.
(Wikipedia, 15.05.2011).
          22
             Software livre, segundo a definição criada pela Free Software Foundation, é qualquer
programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado e redistribuído sem restrições. O conceito
de livre se opõe ao conceito de software restritivo (software proprietário), mas não ao software que é
vendido almejando lucro (software comercial). (Wikipedia, 15.05.2011).
31


o acesso às diversas modalidades socioculturais e políticas que podem ajudar a
equilibrar o desnivelamento dos fluxos sócio-tecno-informacionais.
       A especificidade do hibridismo cultural contemporâneo modela características
particulares no estilo de vida cotidiana, influenciando os modos de pensar, falar e agir,
modos de usar, “modos de fazer” (e de interagir) diante das tecnologias, como mostram,
em registros diferentes, Certeau, em A invenção do Cotidiano (1980), Maffesoli, em
Tempo das Tribos (1987) e Nomadisme: vagabondagens initiatiques (1997) e Latour,
em Jamais fomos modernos (1994). Essas leituras, ao largo de suas abstrações
filosóficas, históricas, antropológicas, apresentam os atores em rede, que se organizam
tactilmente, por vezes atuando com êxito face aos processos industriais e tecnológicos,
por vezes em desvantagem numa interface desequilibrada.
       Diversas são as estruturas de exercício do poder tecnocrático dominante, assim
como são surpreendentemente múltiplas as estratégias de empoderamento sócio-
tecnológico, como demonstra o trabalho Net_Cultura 1.0: Digitofagia (ROSAS;
VASCONCELOS, 2006), empenhado em refletir e repertoriar as estratégias sociais
geradoras de empoderamento coletivo no Brasil e no mundo.


                    A concepção da digitofagia (surgiu do) pensar uma prática antropofágica
                    que reatualizasse esse ideário no contexto da cultura digital,
                    reabastecendo seu viés libertário. Para tanto, abraçar práticas espontâneas
                    na cultura contemporânea brasileira, como a pirataria, os camelôs e a
                    gambiarra, seria, quem sabe, uma forma de trazer a mídia tática para um
                    campo mais familiar e cotidiano aos praticantes, teóricos e ativistas
                    brasileiros, e também publicamente expor o sentido da colaboração nas
                    trocas de informações, fazeres e recursos materiais, a parafernália
                    tecnológica compartilhada para ações coletivas.

                                     ROSAS; VASCONCELOS, 2006, p. 11.


       A interface comunicação, sociedade e tecnologia - no contexto brasileiro e
latino-americano - tem sido explorada por Martin-Barbéro, desde a obra Dos Meios às
mediações (1997), incluindo os estudos sobre a “alteridade tecnológica” (1985), a
conexão entre a oralidade e a tecnologia, até a sua defesa do uso da “inteligência
coletiva conectada” e do “empoderamento social” no enfrentamento dos problemas
econômicos, políticos e culturais (Cf. BARBÉRO, CISECO, 2010).
       A experiência cultural na era da informação tem gerado investigações,
consistentes desde os anos 80, resultando num acervo privilegiado para a reflexão das
32


novas gerações23. E hoje, a imaginação vigilante dos pesquisadores contemporâneos, em
escala global, tem buscado acompanhar esse movimento, atualizando-se com base nas
obras, entre outros, de Morin, McLuhan, Benjamin, Flusser, Simmel, Latour:


                        Para Latour, entre objetos, idéias ou pessoas, não existe qualquer espécie
                        de diferença ontológica. Todos são “atores” (ou actantes), dotados de
                        força própria e de capacidade de produzir efeitos no mundo. Por isso,
                        nenhuma teoria ou idéia que busque reduzir a heterogeneidade do real a
                        algum princípio unificador é efetivamente satisfatória. Nem o deus da
                        religião, nem o inconsciente da psicanálise, nem o “poder” de Foucault
                        conseguem traduzir adequadamente essa perspectiva. Todos os seres,
                        animados ou inanimados, orgânicos ou inorgânicos, materiais ou
                        imateriais, conscientes ou inconscientes localizam-se no mesmo patamar
                        ontológico (“on the same footing”, como não se cansa de repetir
                        Harman). Como bem explica nosso comentarista, “o mundo é uma série
                        de negociações entre uma multiforme armada de forças, os humanos entre
                        elas, e tal mundo não pode ser dividido nitidamente entre dois pólos
                        preexistentes chamados ‘natureza’ e ‘cultura’ ”.

                                                                      FELINTO, 17.05.2010 24.




Informação, Mobilidade e Potência nas Redes Sociais



        Na era da visibilidade, convergência e mobilidade, é importante sublinharmos a
emergência de vigorosas ações afirmativas em curso, na organicidade da vida vivida,
formas autênticas de politização do cotidiano, aproximando as fronteiras entre a
modernidade tecnológica e a vontade de modernização social e política.




        23
            Convém assinalar um dos primeiros estudos em Comunicação & Tecnologia, coordenados por
Marcondes Filho e o Grupo NTC/USP, a partir da obra seminal Pensar-Pulsar: cultura comunicacional,
tecnologia e velocidade (1996), a revista Atrator Estranho (NTC, 1997) e Superciber: a civilização
místico-tecnológica do século 21 (NTC, 1997), entre outros. E caberia destacar, igualmente, o esforço
interdisciplinar dos pesquisadores da UFRJ, Carneiro Leão, Márcio Tavares D’Amaral, Muniz Sodré;
Francisco Doria, num trabalho pioneiro que antecipa o estudo das “redes sociais”: A Máquina e seu
Avesso (1987). E enfim, indicaríamos a coletânea organizada por Anamaria Fadul, Novas tecnologias de
comunicação: impactos políticos, culturais e sócio-econômicos. (1986), atestando a preocupação com as
“redes de informação”, ainda na época da Nova República.
         Hoje, no debate sobre as redes sociais, distingue-se a obra crítica de Trivinho, A dromocracia
cibercultural. Lógica da vida humana na civilização mediática avançada (2007), assim como os demais
trabalhos do grupo do ABCiber (Associação Brasileira de Cibercultura), que reúne os principais
pesquisadores na área, no Brasil. Logo, temos a formação de um vigoroso pensamento comunicacional,
com fôlego interdisciplinar, que tem redimensionado o enfoque teórico e empírico, institucional e
epistemológico no campo das Ciências da Comunicação Digital.
         24
            Cf. Carpintaria das Coisas. Um blog sobre tecnologia, filosofia e as materialidades dos meios.
(Erick FELINTO). http://poshumano.wordpress.com/2010/05/17/bruno-latour/              Acesso: 15.05.2011
33


        Nessa direção, são exemplares os Pontões de Cultura, “entidades reconhecidas e
apoiadas financeira e institucionalmente pelo Ministério da Cultura, que desenvolvem
ações de impacto sócio-cultural em suas comunidades”; e a criação do Pontão Digital,
que possui as mesmas funções dos Pontões de Cultura, porém, com a peculiaridade de
utilizar predominantemente os meios digitais na promoção de suas atividades25.
        E, analogamente, destacam-se as experiências dos Telecentros, uma estratégia de
democratização e inclusão digital, “um espaço público onde pessoas podem utilizar
microcomputadores, a Internet e outras tecnologias digitais que permitem coletar
informações, criar, aprender e comunicar-se com outras pessoas, enquanto desenvolvem
habilidades digitais essenciais”. (Cf. Wikipedia, 13.05.2011).
        Para uma práxis teórica dessas experiências, consultar o básico Cibercultura:
tecnologia e vida social na cultura contemporânea (LEMOS, 1996), assim como outros
trabalhos do autor, desde os registros internacionais no seu blog “Carnet de Notes”, até
a coletânea Comunicação e Mobilidade, Aspectos socioculturais das tecnologias móveis
de comunicação no Brasil, em parceria com Josgrilberg (2009) e a obra recente, com
Lévy, O futuro da internet; em direção a uma ciberdemocracia planetária (2010) 26. Ou
seja, Lemos apresenta um sólido alicerce teórico-conceitual para compreendermos os
processos sócio-técnicos, culturais e comunicacionais, reunindo pesquisa empírica,
reflexão e síntese das tendências atuais, no Brasil e no mundo.
        Diante do complexo da sociedade em rede, a percepção tout court racionalista,
cartesiana e lógico-dedutiva é confrontada com outra geografia de pensamento, que
inclui, por um lado, as investigações de Edgar Morin, focalizando as interconexões e
complexidades socioculturais e políticas globais, o que abrange os insumos
tecnológicos, e por outro lado, o trajeto antropológico composto por uma legião de
pensadores e estudiosos, como Bachelard, Durand, Maffesoli, Rocha Pitta, Machado da
Silva, Contrera, dentre outros instigando uma decifração da cultura digital, pela leitura
da força simbólica que – antropologicamente – reúne e restrutura os laços sociais.
        A “nova realidade eletrônica” tem sido historicamente vasculhada por distintos
especialistas preocupados com a conexão entre o homem e a tecnologia, desde Alvim
Tofler, A terceira Onda (1980), passando por Fritjof Capra, O ponto de Mutação



        25
           Cf. Site institucional do Ministério da Cultura http://www.inclusaodigital.gov.br/noticia/edital-
para-pontoes-de-cultura-e-prorrogado-ate-o-dia-20-de-agosto/           Acesso em: 13.05.2011
        26
           Cf. Vide blog Carnet de Notes. http://andrelemos.info/      Acesso em: 15.05.2011
34


(1983), e o ícone teórico da contracultura norte-americana, Theodor Roszak, O culto da
informação: o folclore dos computadores e a verdadeira arte de pensar (1988).
       Há todo um legado exploratório, analítico e explicativo, que tem fertilizado o
imaginário mitopoético e científico do ciberespaço. Em tempo, nessa perspectiva
conviria apontar a obra A pele da cultura (De KERCKHOVE, 2009), uma exploração
da nova teia eletrônica que atualiza o debate numa ótica pós-mcluhaniana.
       Sob prismas diferenciados, organiza-se um repertório importante de enquetes,
diagnósticos e investigações sobre o fenômeno de intersecção da tecnologia &
comunicação e suas repercussões no contexto da civilização. Esses estudos constituem
passagens obrigatórias para uma compreensão histórica e social, e contribuem para uma
mediação afirmativa face à inserção das “máquinas inteligentes” na vida cotidiana.



Fenomenologia da cultura digital



       Particularmente, miramos a comunicação digital numa perspectiva que assimila
as contribuições de uma “antropologia interpretativa” (GEERTZ, 1989), o que significa
contemplar a interface das culturas humanas com as tecnologias; isto é, interpretar a
lógica interna dessa cultura tecnológica, observando as articulações do fenômeno
técnico com o mundo da natureza, sociedade e cultura.
       Por esse prisma, é instigante examinar como funcionam as suas relações com as
formas ético-políticas, místico-religiosas, materiais e simbólicas, e como isto repercute
nos estilos de apropriação das linguagens e empoderamentos sócio- tecnológicos.
       Nessa direção, são esclarecedoras as idéias de Gleiser, em A dança do Universo
(1997), uma exploração das ligações entre as ciências duras e as ciências do espírito que
nos lança para outra margem do pensamento, o que nos concede distanciamento e nos
permite compreender melhor as experiências da comunicação na era digital.
       Igualmente instigantes são as investigações de Zielinsky, filósofo-cientista,
mago da comunicação que, como um autêntico hermeneuta, realiza uma “arqueologia
da mídia, em busca do tempo remoto das técnicas do ver e do ouvir” (2006).

                    (Zielinsky) propõe, para a geração que começa a trabalhar com a
                    imaginação nos mundos da mídia, ser de vital importância saber que uma
                    abordagem mágica, em relação à tecnologia continua a ser possível,
                    assim como assegurar que o investimento nessa abordagem é
                    significativo. “Esses equipamentos não estão à espera para ser
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Hermes no ciberespaço - 03.11.2011 - 14h38

  • 1. 1 HERMES NO CIBERESPAÇO Arte, técnica, sociedade e política Uma interpretação da comunicação e cultura na era digital Cláudio C. Paiva UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA 2012
  • 2. 2 HERMES NO CIBERESPAÇO Arte, técnica, sociedade e política Uma interpretação da Comunicação e Cultura na Era Digital UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA 2012
  • 3. 3 Prefácio ............................................................................................................................ 6 Apresentação................................................................................................................... 7 1. Introdução - O espírito de Hermes e a complexidade da comunicação.............. 9 A sabedoria de Hermes e o poder da comunicação em rede ...................................... 11 Origem, significação e atualidade do mito de Hermes. .............................................. 12 A imaginação mitopoética, a história e as nervuras do re@l ..................................... 17 O conflito das interpretações no ciberespaço ............................................................. 19 O sono da razão sensível desperta os monstros .......................................................... 20 Hermenêutica e Theatrum Philosoficum .................................................................... 22 2. Do cavalo de Tróia ao Wikileaks: os estilhaços do poder no ciberespaço ........ 25 Inteligência conectada e empoderamento coletivo ..................................................... 26 A comunicação digital, a força do coletivo e a tecnologia colaborativa .................... 28 Estratégias político-informacionais: da tecnocracia à digitofagia .............................. 30 Informação, Mobilidade e Potência nas Redes Sociais .............................................. 32 Fenomenologia da cultura digital ............................................................................... 34 Interfaces emergentes, estratégias de comunicação em rede ...................................... 38 3. Hermes, Afrodite e a cultura de convergência.................................................... 40 A cultura de convergência não é um mar de águas tranqüilas.................................... 43 Conexões sociotecnológicas e iconicidades contemporâneas .................................... 46 Aportes teóricos e etnografias do ciberespaço ........................................................... 48 A expansão do saber e as mídias colaborativas .......................................................... 50 Complexidades da Informação, Linguagem e Comunicação ..................................... 51 Não existe ação afirmativa sem tensões e conflitos ................................................... 53 4. Walter Benjamin e a Imaginação Cibernética.................................................... 55 O singular de Benjamin: a percepção de uma cultura no plural ................................. 58 As imagens digitais têm aura? .................................................................................... 60 Emanações barrocas na era do virtual ........................................................................ 61 Figuras da sorte , figuras do azar: os clichês na Internet ............................................ 64 Alegoria do ciberespaço e sabedoria da comunicação ............................................... 66 Redes de sonhar, redes da imaginação criadora ......................................................... 67 Variações da cultura pop e contracultura no ciberespaço........................................... 70 Fim de partida............................................................................................................. 73 5. YouTube: artes, invenções e paródias da vida cotidiana .................................. 75 Estrutura e funcionamento do YouTube..................................................................... 77 O YouTube: a escola, o mercado, o domicílio eletrônico .......................................... 79 Competência técnica, educação estética e memória afetiva ....................................... 82 A paródia e o riso na praça pública informatizada ..................................................... 84 Das narrativas da televisão às narrativas telemáticas ................................................. 87 Uma visão mitopoética da TV do futuro .................................................................... 89
  • 4. 4 6. A blogosfera, o webjornalismo e as mediações colaborativas ........................... 91 O estado da arte na pesquisa sobre os blogs ............................................................... 94 O retorno da escrit@ na era digital............................................................................. 97 Pureza e perigo dos diários e da blogosfera ............................................................... 99 Categorizações no mercado do entretenimento ........................................................ 101 O jornal e as mediações digitais: o blog, o podcast, o Twitter ................................. 103 Os blogs como extensões da casa, da escola e da empresa ...................................... 105 7. O Blog do Tas e a crise do Senado Federal na gestão Sarney ......................... 106 Indignação e perplexidade na comunicação em rede ............................................... 108 O espaço público digital e as intervenções infanto-juvenis...................................... 111 O blog e as experiências midiáticas compartilhadas ................................................ 112 Os blogs e as nuances da Comunicação Política ...................................................... 115 Ética, Direito e diplomacia no trato das competências comunicativas..................... 116 8. A Crítica da Mídia no site Observatório da Imprensa ....................................... 118 A estrutura organizacional e o espírito comunitário do webjornalismo ................... 120 Monitoramento das notícias na cultura digitalizada ................................................. 122 A economia e política das troc@s digitais ............................................................... 124 O empoderamento dos usuários, e-leitores, cidadãos ............................................... 126 Hipermídia e Comunicação: inteligência, tecnologia e sensibilidade ...................... 128 A Ética e o ethos midiatizado ................................................................................... 130 Emanações do belo na cultura digital ....................................................................... 132 A inteligência crítica para além da vida digital ........................................................ 133 9. BOCC - Um paradigma luso-brasileiro de Comunicação colaborativa ......... 135 A imagem do monge eletrônico e o espírito da Biblioteca Virtual .......................... 137 A economia organizacional de um Portal Científico ................................................ 140 Origem e Atualidade da Biblioteca Digital Portuguesa............................................ 142 Importância da BOCC na pesquisa avançada em Comunicação .............................. 143 Estratégias de comunicação: competência editorial e colaboração permanente ...... 144 A nova ambiência pedagógica e a linguagem informacional ................................... 145 Gramáticas e sintaxes da comunicação luso-brasileira............................................. 146 10. A contempl@ção do mundo: Google Earth, a Terra-Pátria digitalizada....... 150 Uma exploração crítica da Google-Mundo .............................................................. 155 Estrutura e funcionamento do Google Earth ............................................................ 156 O olho grande digital e a politização do cotidiano ................................................... 158 Para entender os altos e baixos da “hipermodernidade”........................................... 159 Transcendências efêmeras nas interfaces digitais .................................................... 160 Geopolítica da Comunicação e sensorialidade do ciberespaço ................................ 164 11. O cinema, a realidade virtual e o chip do futuro .............................................. 166 Máquinas de visão e iluminações do pensamento .................................................... 168
  • 5. 5 Uma nova ambiência comunicacional ...................................................................... 169 Sexo, afeto e arte tecnológica ................................................................................... 172 Ética e estética do cinema na era do virtual ............................................................. 174 Para entender as tramas do mundo virtual ................................................................ 176 Avatares, fakes, nossos semelhantes pós-humanos .................................................. 178 12. “Quem matou Odete Roitman?” - Vale Tudo nas Redes Sociais? .................. 180 Consumo, transmídia, comunicação colaborativa .................................................... 183 Blogs, interações e subversões na telenovela Vale Tudo.......................................... 186 YouTube: convergência minimalista e tecnologia da interatividade........................ 187 O FaceBook, a potência da infocomunicação e os estilhaços da política................. 190 O Twitter: a ficção, a mediação e o ethos midiatico ................................................ 190 Orkut: mídia colaborativa, afeto e inteligência conectada ....................................... 192 13. A bomba informática do WikiLeaks e o jornalismo no século 21 ................... 194 A repercussão do Wikileaks no espaço público midiático ....................................... 196 WikiLeaks como vetor de empoderamento coletivo ................................................ 199 Convergências tecnológicas e divergências políticas ............................................... 200 WikiLeaks & broadcasting: conect@ndo com o inimigo......................................... 202 Os devaneios da tecnocultura e as razões da comunicação ...................................... 204 O estado da arte do jornalismo no século 21 ............................................................ 206 14. Considerações finais ............................................................................................ 208 15. Referências ........................................................................................................... 213
  • 6. 6 Prefácio O autor deste livro é um intelectual. Um verdadeiro intelectual. Não são muitos em atividade. Tem a libido do saber. Pensa com o corpo inteiro. Sente aquilo que investiga. Consegue mesclar o erudito e o popular com uma desenvoltura invejável. Domina o universo do cinema como poucos. Vai de um ponto a outro do imaginário contemporâneo com leveza e conhecimento. Esta sua incursão no mundo virtual não poderia ser diferente. Traz a marca de quem reflete sem preconceitos e sem amarras. Examina, avalia, interpreta e compreende. Acessa um número incrível de fontes e nunca se limita a navegações de cabotagem. Aposta na renovação. É um pesquisador que não quer apenas repetir as rotas tradicionais. Tem a ousadia dos aventureiros. Está longe de se deixar dominar pela camisa-de-força dos discursos acadêmicos positivistas. Produzir conhecimento para ele é gerar novidade, abrir novos caminhos, sair dos trilhos e indicar novas pistas. Parece fácil. Não é. Poucos têm essa predisposição para o confronto. Poucos sentem o aroma da inovação. Pesquisar é muito mais do que levantar dados. Exige uma curiosidade profunda e uma determinação especial. A determinação para abalar fundamentos, descobrir, “desencobrir”, fazer emergir o novo, revelar, desvelar e até mesmo “desconstruir”. Todas essas qualidades caracterizam o perfil desse pesquisador. Conheço-o desde o tempo em que fazíamos doutorado em Paris e ele via todos os filmes em cartaz na cidade. Eu o admirava silenciosamente. Gostava de ver a sua autonomia, a sua liberdade de pensamento, a sua errância pela cidade-luz. Aprendi a conhecer um intelectual, homem livre, com suas idéias e paixões. Não preciso dizer mais. Este livro mostra o quanto todas essas minhas observações são limitadas para descrever ou qualificar o que o autor representa como pensador do contemporâneo. Sem perda de tempo, comecem a ler. É tudo. JUREMIR MACHADO DA SILVA Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS. Porto Alegre, 2011.
  • 7. 7 Apresentação Este livro é uma viagem pelas encruzilhadas e labirintos da atual cibercultura. O leitor será levado pelas mãos de Hermes, divindade complexa, associada à comunicação. Rebelde, é o mensageiro dos Deuses, o angelos, o Deus Mercúrio dos romanos, ao mesmo tempo formal e agregador. Assim é o trabalho: formal, agregador, mensageiro e rebelde. Com maestria, o autor nos leva para conhecer os meandros da cibercultura com um olhar aguçado, atento ao atual, sem abdicar de uma atenção à história e à tradição das mídias. O autor discute as funções massivas da indústria cultural e as atuais funções pós- massivas em jogo com as mídias eletrônicas, explicando tanto as convergências tecnológica e cultural, como a emergência das novas redes e mídias sociais, a ampliação da inteligência coletiva e crescimento do ativismo na rede. Nada mais oportuno, em uma época de ocupações potencializadas por redes sociais e de revelações constrangedoras de segredos de Estados e de empresas (como os hackers do grupo Anonymous ou o site Wikileaks). Investiga a cultura no plural, uma cultura pop, audiovisual, onde o jornalismo, a indústria cultural e a sociabilidade são tensionadas, crescem e se complexificam em meio ao desenvolvimento de blogs, microblogs, sites de redes sociais e de compartilhamento de música, fotos ou vídeos. O livro é de amplo alcance, assim como são os impactos da atual cultura digital. O leitor é imerso em um mosaico, ao mesmo tempo imagem fragmentada e método mcluhaniano, que permite apreender a comunicação, a indústria cultural, o jornalismo e as diversas facetas da cultura contemporânea através de múltiplos olhares. O livro é escrito em uma linguagem inteligente, descontraída, sem deixar de ser séria e profunda, passando em revista o que há de mais importante na bibliografia nacional e internacional sobre o tema. O ciberespaço e a cibercultura, como diz o autor na conclusão, não são uma “segunda vida”, um mundo virtual, a parte, mas uma experiência vicária, quotidiana e real, que mudou, muda e continuará mudando as formas do entretenimento, da
  • 8. 8 informação jornalística, do comércio e das relações de trabalho, das artes e das relações interpessoais. O livro é assim de interesse para estudantes, pesquisadores ou para pessoas interessadas em compreender a revolução da comunicação e das mídias digitais no mundo atual. A figura ambígua de Hermes é o fio condutor do livro, mostrando as potências do imaginário, as aberturas do sentido e as complexas relações entre o sensível e o racional em jogo nesse ainda iniciante século XXI. Como diz o autor, contrariando Benjamin, o ciberespaço tem sim, uma aura, “e é neste fenômeno aurático que devemos procurar o significado mitológico, semiológico ou semiótico cultural do ciberespaço para os contemporâneos”. Cabe ao leitor aceitar o passeio e se deixar levar pela potência comunicativa e agregadora de Hermes. André Lemos é Professor da Faculdade de Comunicação da UFBA e pesquisador do CNPq. http://andrelemos.info
  • 9. 9 1. Introdução - O espírito de Hermes e a complexidade da comunicação Há algo de novo no ar! O fenômeno da internet, hipermídias e redes sociais configuraram uma nova realidade sociocultural, em que os cidadãos interconectados interagem de maneira colaborativa, formando laços afetivos, comerciais e políticos. Os grandes clássicos do cinema, as obras de arte, a música universal, as relíquias literárias, as novidades no mundo da ciência e da tecnologia, tudo isso está disponível em rede. Porém, a modernização tecnológica não trouxe benefícios para todos; do lado de fora da sociedade digital estão os desplugados, os “sem banda larga”, os outsiders do século 21. Logo, constatamos que a grande batalha do nosso tempo se coloca em favor da democratização da informação, facilidade de acesso, conexão veloz e banda larga para todos. Por essa e outras razões defendemos um princípio ético-político e estratégico- comunicacional que reconhece a inclusão digital como um caminho para a cidadania. Basta observarmos os acontecimentos recentes como Primavera Árabe, Occupy Wall Street, Campanha Ficha Limpa, Movimento de Combate à Corrupção, etc., para percebermos como as estratégias de comunicação são tramadas, simultaneamente, de maneira presencial e em rede. Após um século de debate sobre o status dos cidadãos na sociedade de massa, hoje, as atenções e a discussão pública se voltam para os meios pós-massivos e as estratégias de empoderamento gerado pelas redes colaborativas. Pulsa na paisagem cotidiana uma inteligência coletiva conectada que perpassa o vasto conjunto das atividades econômicas, socioculturais, ético-políticas, abrangendo experiências tão diversas como o correio eletrônico, o webjornalismo, o sistema bancário informatizado, o comercio on line, a medicina computadorizada, o voto digital, o GPS, as enciclopédias, dicionários e bibliotecas virtuais, teleconferências e programas de ensino mediados pela tecnologia. Em pouco mais de uma década a nossa relação com o mundo social e natural mudou radicalmente, de maneira que as experiências sociotécnicas fazem parte das nossas mediações fundamentais com a chamada “realidade objetiva”. Do presencial ao virtual (e vice-versa) estamos tecnologicamente e sensorialmente interligados através de ambientes gerados por meios digitais como o chat, o blog, o MSN, o Facebook, o Twitter e o YouTube, que teletransportam os corações e mentes para uma outra dimensão da experiência individual e coletiva.
  • 10. 10 Em casa, na rua, na esfera pública e privada, nas atividades das empresas, instituições e organizações, novos atores, códigos, valores e procedimentos ganham vigência: um novo ethos se instala enredado nos fluxos da informatização social. A partir da segunda metade do século 20, a comunicação digital passou a influir - efetivamente - nos modos de pensar, falar e agir dos atores sociais. Contudo, é preciso separar o joio e o trigo. Há um complexo midiático massivo (seja analógico ou digital) controlado pelo sistema global de produção capitalista, meramente comercial e voltado - principalmente - para o lucro. E existe, por outro lado, um complexo pós-massivo que, parte do coletivo, dos “sistemas sociais de resposta” (BRAGA, 2006), favorecendo estratégias de distribuição e socialização da informação. Sem descartar a importância do mercado na economia de trocas materiais e simbólicas, a comunicação compartilhada é mais democrática e concilia a diversidade de interesses e expectativas sociais, sendo eticamente mais inclusiva. O acesso aos jornais e mídias do mundo inteiro, informações ao vivo, em tempo real, a conexão simultânea entre os vários setores de produção, distribuição e consumo, tudo isso atesta um surpreendente estado de convergência de formas, conteúdos e linguagens, sinalizando conquistas e elevação da qualidade de vida social e política. Neste novo nicho comunicacional, os espectadores se tornam e-leitores, editores, cibercidadãos. Ou seja, ocorre uma transformação profunda no contexto da experiência midiática. Antes dos meios digitais havia um ambiente sócio-político e comunicacional orientado pelas regras da separação: de um lado, os autores, a produção massiva, a indústria cultural, e do outro, os espectadores, a recepção passiva, o consumo de massa. Hoje, o agenciamento coletivo dos usuários expressa uma conjunção mais equilibrada face aos paradoxos comunicacionais: as redes favorecem processos de veiculação, cognição e colaboração, assegurando a inserção dos indivíduos na economia de trocas informacionais, num âmbito comunicativo mais democrático e participativo. Todavia, a experiência da comunicação - que evolui em sintonia com o processo civilizatório - não se realiza num mar de águas tranqüilas; pelo contrário, opera num contexto minado pelas tensões e conflitos, tendo que enfrentar desafios. Como adverte Benjamin, no ensaio “Sobre o conceito de história”, inspirado em Freud, “nunca houve um monumento da cultura que não fosse um monumento de barbárie” (BENJAMIN, 1985, p.225). Ou como afirma McLuhan, no livro Os meios são as massagens, citando Whitehead, “os maiores avanços na civilização são processos que quase arruínam as sociedades em que ocorrem” (MCLUHAN, 1969, p. 7).
  • 11. 11 Vários pesquisadores têm contribuído para se elucidar algumas verdades e mitos sobre o fenômeno tecnológico. Nesse filão, Lemos ajuda a distinguirmos a cibercultura e a tecnocultura. Para ele, “na modernidade, cria-se uma tecnocultura como um fenômeno técnico expandindo-se para todos os domínios da vida social, cuja preocupação principal é ‘procurar em todas as coisas o método absolutamente mais eficiente’ ”(LEMOS, 2004, p. 50). E, em defesa do uso social e criativo das tecnologias de comunicação, conclui: “A cibercultura é um exemplo forte dessa vida social que se quer presente e que tenta romper e desorganizar o deserto racional, objetivo e frio da tecnologia moderna”. (LEMOS, 2004, p. 262). As novas mídias geradas pela telemática criaram algo afirmativo na civilização técnica, favorecendo a dimensão sociocultural quando esta parecia engolida pelo “buraco negro” industrial-tecnológico. Todavia, mídia é poder e os grandes predadores políticos e econômicos não medem esforços para utilizá-la em benefício próprio. Então, é preciso encontrar um dispositivo teórico-conceitual para enfrentar o paradoxo da comunicação, que se quer aberta, transparente, democrática, mas é atravessada por forças econômicas, políticas, institucionais que a impelem numa direção contrária. Assim, recorremos à imagem arquetípica de Hermes, o patrono da comunicação, o grande mediador entre as forças opostas, que se inscreve aqui como uma alavanca metodológica para nortear uma interpretação da cultura na era digital. A sabedoria de Hermes e o poder da comunicação em rede Há milênios, muito antes de esse corpo de conhecimento que hoje chamamos de ciência existir, a relação dos seres humanos com o mundo era bem diferente. A natureza era respeitada e idolatrada, sendo a única responsável pela sobrevivência de nossa espécie, que vivia basicamente da caça e de uma agricultura rudimentar. Na esperança de que as catástrofes naturais como os vulcões, tempestades e furacões não destruíssem as suas casas e plantações, ou matassem os animais e os peixes, várias culturas atribuíram aspectos divinos à natureza. (...) Os mitos são histórias que procuram viabilizar ou reafirmar sistemas de valores, que não só dão sentido à nossa existência como também servem de instrumento no estudo de uma determinada cultura. (Muitos) exemplos mostram que o poder do mito não está em ele ser falso ou verdadeiro, mas em ser efetivo. (...) na cosmogonia moderna, encontramos alguns traços dessas idéias antigas, memórias distantes talvez, que de alguma forma permaneceram vivas nos confins de nosso inconsciente, demonstrando uma profunda universalidade da criatividade humana”.
  • 12. 12 GLEISER, 1998, p.20. Explorando os domínios da filosofia, antropologia, sociologia, psicanálise, história e crítica literária, encontramos o espírito de Hermes, como o intérprete- mediador diante das grandes causas da humanidade. Homero, Petrônio, Dante, Shakespeare, Proust, Dostoievsky, entre outros arcanos do pensamento ocidental, modelaram a imagem de Hermes como fonte de leitura do grande livro do mundo. E, sendo o gestor perspicaz no enfrentamento dos contrários, o mediador pode ajudar a decifrarmos os paradoxos e complexidades da cultura na era da comunicação digital. Hermes é Mercúrio (na acepção latina), e é igualmente Hermes Trismegistos (em hibridação com o deus Thot egípcio); sendo esse último mais próximo da imaginação mítico-racionalista, do pensamento holístico 1. E Mercúrio está mais ligado ao cogito matemático, ao saber pragmático, à dedução e contabilidade do mundo. Hermes tem a incumbência de contemplar a vasta prosa universal e desvelar as camadas de sentido que formam a complexidade do discurso como doxa (opinião vivenciada no senso comum), como techné (expressão da arte e dos saberes práticos), e como epistème (saber especulativo, ciência, filosofia). Origem, significação e atualidade do mito de Hermes. Hermes era, na mitologia grega, um dos deuses olímpicos, filho de Zeus e de Maia, e possuidor de vários atributos. Divindade muito antiga, era cultuado na pré-história grega possivelmente como um deus da fertilidade, dos rebanhos, da magia, da adivinhação, das estradas e viagens, entre outros atributos. Ao longo dos séculos seu mito foi extensamente ampliado, tornando-se o mensageiro dos deuses e patrono da ginástica, dos ladrões, dos diplomatas, dos comerciantes, da astronomia, da eloqüência e de algumas formas de iniciação, além de ser o guia das almas dos mortos para o reino de Hades. Com o domínio da Grécia por Roma, Hermes foi assimilado ao deus Mercúrio, e através da influência egípcia, sofreu um sincretismo também com Toth, criando-se o personagem de Hermes Trismegisto. Foi um dos deuses mais populares da Antiguidade clássica, teve muitos amores e gerou prole numerosa. Com o advento do Cristianismo, chegou a ser comparado a Cristo em sua função de intérprete da vontade do Logos. As figuras de Hermes e de seu principal distintivo, o caduceu, ainda hoje são conhecidas e 1 No Egito, o deus da comunicação é Thot, representado metade homem, metade com as feições ora de um íbis, ora de um babuíno; deus da escrita, da ciência e senhor de todo o conhecimento. A ele é atribuída a invenção de todas as palavras que existem, sendo também guardião da magia; inventou a matemática, a geometria, o uso dos medicamentos; a arte de trabalhar os metais, a invenção da música. A ele é atribuída a invenção da lira de três cordas. Calculador do tempo, dos anos e regente das divisões temporais. Cf. Castro e Silva. In: Dicionário da Comunicação, 2009.
  • 13. 13 usadas por seu valor simbólico, e vários autores o consideram a imagem tutelar da cultura ocidental contemporânea. Wikipédia, 01.04.2011. Seguimos uma cartografia minuciosa, na obra de Junito de Souza Brandão (1994), narrando o percurso de Hermes, que nasceu precoce, e ainda pequeno foi colocado no oco de um salgueiro (símbolo da fertilidade e da imortalidade 2 ). A origem do seu nome está ligada à “herma”, que significa um platô feito de cipós, grande pilar fálico emanando o sentido de consistência, altivez e perpetuidade. Hermes tem o poder de ligar, desligar, formar laços afetivos, comerciais e políticos. Dentre as suas características particulares, é impulsivo, rebelde, outsider, possui matizes contraculturais: roubou o rebanho de Apolo e após devolvê-lo ganhou um caduceu de ouro que lhe concedeu a curiosidade, a adivinhação e o pendor para a engenharia. Essa alegoria lembra o métier dos engenheiros de comunicação, arquitetos e criadores do soft, técnicos, inventores, atuando em meio às brechas, abrindo caminho no emaranhado das redes de informação. Hermes antecipa a ação dos cyberpunks, hackers, phreakers que modificam o comando dos computadores e telefones 3. Astucioso, do casco de uma tartaruga, Hermes fez uma lira e inventou a flauta de Pã. É uma divindade complexa. É agrário (também protege os pastores) e simboliza o dom da astúcia, do ardil, de uma sabedoria sagrada. E na versão latina, Mercúrio, é o deus dos comerciantes (dos mercadores, dos negociantes e dos “ladrões”). Mercúrio tem sido, ao longo da história, semanticamente associado às atividades ligadas ao comércio: merces é mercado, mercadoria; liga-se - portanto - a um nível de procedimento cerebral, contábil, pragmático. Mercúrio tem o discernimento para os 2 Convém remontar ao sentido antropológico do “oco”, “concha”, “cavidade”, “nicho”, signo de afetividade, acolhimento, que reúne as diferenças e diversidades, em oposição ao sentido da “espada” que separa, divide e exclui. Há um vigoroso simbolismo que se renova e atualiza o imaginário contemporâneo, como demonstram distintamente as obras de Eliade (1998); Jung (1990), Durand (1988); Maffesoli (1999), Rocha Pitta (2005), Machado da Silva (2006), Contrera (2010). Cada um desses autores – ao seu modo - favorece interpretações lúcidas dos atuais processos sociotécnico-comunicacionais, abrindo caminho para uma antropológica da comunicação e das culturas midiáticas. 3 O conceito de ciberespaço nasce na obra Neuromancer (GIBSON, 1984) e se epifaniza no imaginário do cinema, desde filmes como Hackers, piratas de computador (1995) até Matrix (1999) e Avatar (2009). Para entender o ciberpunk, consultar Lemos (2004), Amaral (2006) e o manual Etika Hacker no site Hacker Teen (com Sérgio Amadeu Oliveira) que instiga os jovens a pensar sobre um melhor uso da tecnologia em favor da sociedade. Cf. http://www.hackerteen.com/link/etica-hacker.html 3 A acepção de Hermes como outsider é uma parte essencial na sua ontologia, e se atualiza hoje na experiência da “pirataria digital”, no embate entre os hackers e as grandes corporações. Hermes - como intérprete e mediador - pode nortear um percurso para se entender o netativismo e a cibermilitância. Nessa direção, cumpre destacar o norteamento ético das estratégias acionadas pelo sociólogo Sergio Amadeu Silveira, reputado pela militância em favor da utilização do software livre. Cf. Blog do Sérgio Amadeu. http://samadeu.blogspot.com/2008/04/things-hackers-detest-and-avoid.html.
  • 14. 14 negócios, favorecendo uma vigorosa imaginação criativa no mundo da propaganda e do marketing, e a sua marca no imaginário do consumo tem grande receptividade 4. A propósito, a “galáxia de McLuhan” é inteiramente atravessada pelo hermetismo: McLuhan é hermético na ambigüidade, no paradoxo, no oxímoro, na provocação sistemática e na arte de aproximar os contraditórios. A sua visão da cultura eletrônica possui analogia com a alquimia cognitiva de Trismegistus, tem algo de premonitório: nos anos 60, McLuhan previu as redes sociais, as cross mídia, o fenômeno das convergências socio-tecnológicas do século 21. A exploração de McLuhan dos meios de comunicação e os célebres aforismos, como “o meio é a mensagem” e “os meios são as massagens”, remetem às conjunções entre o cérebro e a mente, o sensorial e o tecnológico, as redes neurais e os estímulos eletrônicos, a percepção cognitiva e a tactilidade das mídias. A sua escrita em mosaico, malgrado a assistematicidade, representa uma vigorosa hermenêutica. Buscou, junto com o seu filho, Eric McLuhan, decifrar “as leis da mídia”, querendo entender os padrões de extensão dos humanos e as suas conexões tecnólogicas. Sob o signo de Trismegistus, McLuhan, involuntariamente, decifrou as mitologias do homem industrial: além do carro como metáfora da “noiva mecânica”, a eletricidade irradiada no ambiente significa massagem, tactilidade, mensagem pura: A roda é um prolongamento do pé; o livro é um prolongamento do olho; a roupa é um prolongamento da pele; os circuitos elétricos, um prolongamento do sistema nervoso central. (...) Os meios ao alterarem o meio ambiente, fazem germinar em nós percepções sensoriais de agudeza única. O prolongamento de qualquer de nossos sentidos altera nossa maneira de pensar e de agir – o modo de perceber o mundo. Quando essas relações se alteram, os homens mudam. MCLUHAN, 1969, p.59-79. Certamente, a transmigração simbólica mais importante de Hermes, do paganismo ao catolicismo, está encarnada na imagem do anjo. A figura mais bem acabada do Hermes como intérprete-explorador está no filme Asas do Desejo (Win Wenders, 1987), em que os anjos se tele-transportam para Berlim, captando, nas bibliotecas, vias públicas, automóveis e metrôs, as vozes e os sons das mentes humanas. 4 A emanação de Hermes está bem presente no cotidiano, nas expressões populares, lembrado como o mensageiro dos deuses. Sob o signo do planeta Mercúrio, tem marca indelével no zodíaco. Transita com desenvoltura no mundo secular: nos almanaques, revistas e jornais de larga circulação. Está nas agências de correio, na marinha e na aeronáutica. O seu caduceu consta em brasões de várias cidades e jurisdições. Empresas, periódicos, produtos e pessoas adotaram seu nome. Internacionalmente é muito prestigiada a griffe Hermès, de artigos de luxo, trazendo um nome de família. (Wikipedia, 01.04.2011).
  • 15. 15 O espírito de Hermes como anjo é uma figura complexa, cuja força simbólica reside justamente no seu mistério, sexualidade polimorfa, silêncio e invisibilidade. E isso, ao mesmo tempo, fascina e perturba a imaginação dos humanos. Numa cultura narcisista que idolatra a publicização e visibilidade total, o anjo, invisível, detém uma alteridade radical. Como oráculo, intérprete, hermeneuta, traz a promessa de revelação do oculto; não é à toa que o culto dos anjos seja tão bem sucedido nos mercados globais de “auto-ajuda”. A imagerie dos anjos persiste indelével no mundo secular; está nas capelas, nas esculturas, nos grandes afrescos e resplandecem no cinema, em Cidade dos Anjos (Brad Silberling, 1998) e na série apocalíptica Anjos na América (Mike Nichols, 2003), sem esquecer o anjo erotizado em Barbarella (Roger Vadim, 1968) e O anjo exterminador (Buñuel, 1962). É importante guardar a sua ontologia complexa que talvez possa ajudar a compreendermos o espírito do tempo, a extensão das subjetividades e o regime das sociabilidades, na era dos clones, ciborgues e avatares, os chamados “pós-humanos”. O espírito hermenêutico nos leva a conhecer o poder da linguagem formal, contábil, legislativa, e simultaneamente, reconhecer a potência da linguagem cotidiana, informal, performativa, assimilando a parte lúdico-criadora da experiência comunicante. Sob o signo de Hermes podemos entender as noções que derivam do seu culto, como “hermeneia”, “hermético”, “hermetismo”, “hermenêutica”. A comunicação hermética transcende a lógica da facilidade e instiga a perspicácia humana para lidar com a coincidência dos opostos, concedendo a sabedoria para lidarmos com as complexidades, os temas difíceis, situações extremas (como tão bem conhecem os juízes, legisladores e advogados). O código binário da linguagem informacional é hermético para os leigos; entretanto, a aquisição das instruções básicas e a sua aplicabilidade podem transformar os cidadãos em eficazes gestores dos processos sociotécnico-comunicacionais. Hermes, no sincretismo místico religioso brasileiro, à luz da antropologia (BIÃO, 2009), se traduz na figura emblemática de Exu, do candomblé que - no Brasil arcaico - durante a hegemonia cultural branca, precisou se comportar secretamente para sobreviver. É uma entidade mediadora entre o mundo dos vivos e dos mortos, protetor da sexualidade masculina. Reúne a dimensão lógico-gerencial, material, quantitativa, e a dimensão involuntária, lúdica e exploratória da comunicação.
  • 16. 16 De um modo geral, as encruzilhadas (daí, do mundo) são loci da comunicação, das línguas, das feiras temporárias e permanentes, dos mercados, das cidades, dos teatros edificados e das profissões das artes do espetáculo. Aí se encontra a Esfinge (e suas charadas mortais), Tirésias (o que vê mais quer os demais, sem nada ver, tão importante para theorein e para theatrum), Hermes (o que nos legou o poder da interpretação dos textos sagrados e o grande problema da traduzir e trair; na expressão italiana: traduttore traditore). BIÃO (2009). O simbolismo de Hermes-Mercúrio está associado às aptidões para o cálculo, a matemática, a estatística, as ciências duras, pelo seu altíssimo poder de concentração e discernimento, mas também às virtudes criativas, procriadoras e transformadoras. E, a estrutura simbólica de Hermes-Trismegisto está ligada às faculdades espirituais, às essências humanas (às ciências do espírito, a filosofia, a antropologia, a psicologia, a sociologia, a semiologia), reafirmando a sua simbologia complexa. Um detalhe importante na sua indumentária é o capacete que ganhou de Hades; concedendo-lhe a astúcia, inteligência, o poder da gnose, do saber e da magia. Logo, é um experto no campo da imaginação criativa (artes da publicidade, design, arquitetura, propaganda, gestão organizacional e administrativa). Hermes é o protetor das ciências da contabilidade. Mas, o caduceu lhe envolve principalmente numa circunstância de significação esotérica, transmitindo-lhe o dom de decifrar o silêncio e a invisibilidade, permitindo-lhe trabalhar com as experiências de leitura, interpretação e decodificação. É pelo fazer, visando à utilidade da ação, que se aprende a conviver com a liberdade. É pela ação construtiva que o cidadão, o empresário, o político, o comunicador, todos nós, descobrimos a essência, o daimon, no dizer dos gregos. Na “Tábua das esmeraldas”, atribuída ao deus Hermes, pode-se ler: “Descobre o gênio imortal que te habita (Daimon), aquela energia apaixonada que te torna em algo e te impulsiona em direção à tua missão aqui na terra”. VIANA, 2006, pag. 15. Na história do culto de Hermes podemos detectar um simbolismo ligado ao devir dos acontecimentos, o que nos remete à atividade da reportagem, a transformação dos fatos em notícias, matérias jornalísticas. Cumpre relembrar, o hermetismo envolve o “segredo”, a parte oculta, a linguagem subliminar da comunicação, os não-ditos, os interditos, os silêncios, a matéria ainda em estado de elaboração. Para os antigos, Hermes é um especialista também na fabricação dos antídotos, poções, remédios; é pródigo nas mediações. E hoje, se atualiza na figura profissional do
  • 17. 17 técnico, informacionista, encarnando uma espécie de “curandeiro high tech” que conserva o “disco duro”, salvando a memória virtual, o nosso cérebro eletrônico. Em suma, Hermes é o ágil detentor de um saber que lhe permite atuar como leitor, mediador, decodificador; é tanto um oráculo, decifrador, quanto repórter, intérprete, mensageiro: não é à toa que é o “patrono dos jornalistas” (VIANA, 2006). Todo aquele que recebe deste deus o conhecimento das fórmulas mágicas, torna-se invulnerável a toda e qualquer obscuridade. Pode dar à luz, e pode também lançar na escuridão. O olhar de Hermes, iluminado, resiste às atrações das trevas. Assimilado ao deus egípcio Thot, torna-se o mestre da escrita, da palavra e da inteligência. Hermes Trismegisto se desloca do hermetismo à alquimia. É resultado do sincretismo entre o Mercúrio latino e o deus ctônico Thot; é o criador do mundo através do logos e da palavra. BRANDÃO, Mitologia Grega, 2003. Na obra As Metamorfoses, de Ovídio, Hermes-Mercúrio é sábio, inteligente, judicioso, encarna o próprio logos. É aquele que transmite toda a ciência secreta, e faz a revelação. Seu filho, com Afrodite - o hermafrodita - é o decifrador da “pedra filosofal” no clássico de Petrônio (Satyricom). Hermes tem a estatura de Virgílio guiando Dante em A divina Comédia, entre os mortos, nos círculos do inferno. A imaginação mitopoética, a história e as nervuras do re@l Fazendo uma leitura mais atenta do estudo antropológico de André Lemos, Cibercultura, vida social e tecnologia (2004), encontramos uma etnologia das formas de vida mental, incluindo o mito e o logos, a técnica e a magia, desde um estágio pré- moderno da civilização 5. O trabalho demonstra como a techné e a epistème estavam interligadas na sabedoria antiga, e como isso repercute na era da cibercultura. É neste sentido que podemos compreender a popularidade e idolatria em torno dos chats, redes sociais, blogs, games, ambientes míticos e interativos, dispositivos sensoriais e colaborativos que reúnem a dimensão diurna e noturna do imaginário, coligando linguagens e experiências advindas de interesses e motivações diferentes. Ou 5 “O imaginário grego sobre as técnicas será influenciado pelas narrativas míticas. Os mitos de origem do homem são também os mitos de origem da técnica (Prometeu, Décalo, Ícaro, Hefaístos, Atenas, Pandora) que nos colocam diante da questão do homem como ser da técnica”. (LEMOS, 2004).
  • 18. 18 seja, os e-leitores, usuários, internautas se regozijam manuseando o computador, de maneira diletante, descobrindo mundos virtuais, fascinados como se estivesse imersos numa experiência mágica, mas ao mesmo tempo, há muitos que trabalham atentos, perseverantes, dedicados e retiram dali os meios práticos de sua sobrevivência material. Por esse ângulo podemos entender a força simbólica da internet na sociedade midiatizada: como “toda mídia” oferece lazer, diversão e entretenimento (o e-comerce é a sua expressão mais evidente), e como uma new media cria oportunidades de trabalho e educação (como e-learning, as teleconferências, as publicações virtuais). Seguimos aqui a via de uma perspectiva interdisciplinar que reúne as contribuições da antropologia simbólica, dos estudos culturais em comunicação, das pesquisas avançadas em cibercultura. Trata-se de um esforço de leitura e interpretação guiado pela empiricidade dos dados capturados na internet durante mais de dez anos. Mapeamos as experiências do YouTube, blogs, bibliotecas virtuais, jornalismo digital, sistemas de monitoramento e geolocalização, cinema e realidade virtual, processos de transmidiatização e netativismo, objetivando contribuir para uma interpretação da complexidade cultural na era da comunicação digital. Resgatamos a iconicidade de Hermes (Mercúrio/Trismegistus), uma vigorosa chave interpretativa dos “mistérios do mundo” na mitologia antiga, que nos serve como ferramenta metodológica para entendermos as mídias e mediações atuais. O signo de Hermes se faz presente nas narrativas mitopoéticas de Homero, Hesíodo, Ésquilo, Sóflocles, Euripides, Píndaro e Aristófanes, servindo de farol aos homens e mulheres de todas as épocas. Inscreve-se na filosofia antiga (na dialética 6 platônica e na metafísica aristotélica 7) como uma figura de linguagem poderosa, atuando colaborativamente na articulação dos sistemas de pensamento racionais da antiguidade – no domínio do Direito, da Medicina e da Engenharia, e hoje suas emanações atualizam a trama das vivências e linguagens eletrônicas compartilhadas. Com o advento monoteísta do cristianismo, evidentemente, foram confiscados os seus atributos pagãos; todavia, persistiram na extraordinária iconografia das obras de 6 Hermes pode ter derivado de hermeneus, que significa intérprete. Platão, dando voz a Sócrates, tentou estabelecer uma origem do nome, dizendo que Hermes estava ligado ao discurso, à interpretação e à transmissão de mensagens, atividades ligadas ao poder da fala (eirein), e segundo supunha no curso do tempo eirein havia sido embelezada e transformada em Hermes. In: Wikipédia, 2001. 7 Aristóteles sistematizou o conceito da hermenêutica, a ciência da interpretação, da tradução e da exegese, a partir dos atributos de Hermes. Ibidem. A aplicabilidade da hermenêutica filosófica de Aristóteles permanece com vigor no jargão dos profissionais do Direito e da Jurisprudência.
  • 19. 19 artes, explodindo nos quadros de Botticelli, Rubens, Turner, Celine, De Vries, e na imaginação poética de escritores como Dante, Goethe, Oscar Wilde e Fernando Pessoa. O conflito das interpretações no ciberespaço No contexto da civilização cristã tardia, é interessante notar o surpreendente sincretismo ocorrido entre os mitos antigos e os santos forjados pelo catolicismo, cuja atual força simbólica é extraordinária junto às comunidades de crentes. Talvez a sua expressão mais forte, nos tempos do turismo global, seja a permanência do culto e peregrinação no caminho de Santiago de Compostela, que arrebanha milhões de fiéis de todas as partes do mundo, revelando um hermetismo e nomadismo surpreendentes. O imaginário popular é fértil e os ícones derivados da figura de Hermes e suas hibridações fervilham no sincretismo cultural contemporâneo, como indicam o culto dos santos ligados – simbolicamente – à comunicação, à conexão e à velocidade: Nossa Senhora dos Navegantes (e da Boa Viagem), São Cristovão (padroeiro dos motoristas), São Rafael (padroeiro dos motociclistas), São Francisco Sales (padroeiro dos jornalistas), Santo Antonio (protetor dos feirantes e dos namorados), incluindo a incrível figura de Santo Isidoro de Sevilha (padroeiro dos internautas), são exemplares8. Os cortejos em torno da iconicidade formada por essas figuras híbridas, em sua aparente banalidade, atestam a potência do imaginário simbólico que se estrutura a partir de distintas e diversificadas influências multiculturais. Em nossa época imagético- publicitária, a iconologia de Hermes-Mercúrio se projeta numa cartografia híbrida e multifacetada: na hermenêutica jurídica, comercial, médica, psicanalítica, nos rituais do candomblé, na astrologia, nos esportes, no circuito da moda e no show business. Importa aqui perceber a arte da comunicação como uma hermenêutica que atualiza um olhar sobre as novas experiências cotidianas, desde os games interativos, 8 Comemora-se em 4 de abril o dia do padroeiro dos usuários da Internet, Santo Isidoro de Sevilha. Em março de 2000, o Serviço de Observação da Internet, sob a inspiração do Conselho Pontifício para a Comunicação Social, do Vaticano, resolveu apoiar o nome do santo para ser o patrono da Internet. Santo Isidoro de Sevilha foi indicado por ter escrito uma enciclopédia em 20 volumes, as “Etimologias”, que tratam de tudo que se conhecia em sua época (século VI), desde gramática até pássaros, de animais e medicina, de construção de estradas a moda e mobília, bem como meditações teológicas sobre a Divindade. Ele descobriu também um sistema de pensamento, chamado de “flashes”, e ainda tido como coisa muito moderna. Seria o Google daquela época. Cf. BlogdoQueMel. Consultoria Doméstica. http://blog.consultoriadomestica.com.br/2011/04/04/santo-isidoro-de-sevilha-padroeiro-dos-internautas/
  • 20. 20 como O Inferno de Dante 9, passando pela videologia de Harry Potter e os ambientes imersivos como o Second Life 10, até o caleidoscópio de imagens do site pornotube.com. As novas artes tecnológicas e as mídias colaborativas solicitam novos olhares que podem ser instigados pela sabedoria antiga; este é o sentido do convite a Hermes para uma interpretação das formas culturais contemporâneas. Miramos os dispositivos de arte-net minimalista dos PPS, o vasto repertório de textos postados no site de compartilhamento Slideshare. Contemplamos as epifanias ciber-astrológicas das páginas eletrônicas (como o site Porto do Céu), os bizarros posts “comemorativos” pela morte de Bin Laden, no YouTube, os comentários indignados dos ciberativistas no Orkut 11 e os “segredos de polichinelo” revelados no wikileaks. O amplo repertório destas iconicidades expressa o estilo das “idolatrias pós- modernas”, conforme se mostra no “inventário” de Maffesoli (1997) mapeando os “mitos, tribalizações e nomadismos contemporâneos”; De Kerckhove (2009) investigando “os efeitos da nova realidade eletrônica”; Di Felice (2009) apreendendo o sentido da nova “ecologia comunicacional e as formas comunicativas do habitar”. Descortina-se assim uma experiência de contemplação e desvelação do sentido, uma atitude filosófica presente nas formulações de Benjamin, Simmel, Flusser e Latour, que, movidos por uma “lógica da razão sensível”, empenharam-se na exploração da arte, técnica, comunicação e poder, e hoje têm irrigando o pensamento das novas gerações no campo da pesquisa em Ciências Humanas, Sociais e na Comunicação. Essa constelação de pensadores possui analogia com a imaginação “antroposófica” (e interpretativa) de Hermes Trismegistus, o alquimista que parece ter previsto a nossa era de hibridações e convergências desconcertantes. O sono da razão sensível desperta os monstros 9 Dante's Inferno é um jogo eletrônico de ação-aventura em terceira pessoa publicado pela Electronic Arts e desenvolvido pela Visceral Games (antiga EA Redwood Shores) e Artificial Mind and Movement (versão PSP). No jogo, lançado em fevereiro de 2010, o jogador controla a personagem Dante numa viagem pelo inferno. A história do jogo foi escrita por Will Rokos e baseia-se na primeira parte Inferno da obra Divina Comédia, de Dante Alighieri. (Wikipedia, 2011). 10 O Second Life é o mundo virtual gráfico tridimensional desenvolvido pela empresa Linden Labs e inaugurado em 2003. Cf. VALENTE & MATTAR. Second Life e Web 2.0 na Educação: o potencial revolucionário das novas tecnologias. Novatec, 2007 11 Cf. “Eu odeio quem odeia... considerações sobre o comportamento dos usuários brasileiros na ‘tomada’ do Orkut”. In: FRAGOSO, XXXII Compós, 2006. www.compos.org.br/seer/index.php/e- compos/article/viewFile/89/89 Acesso: 05.05.2011
  • 21. 21 O controle sobre o livre arbítrio e a liberdade de expressão é perceptível nas conjecturas e refutações de Santo Agostinho, na teologia de Tomás de Aquino e no pós- medievalismo de Spinoza, em que se denunciam a manipulação e o controle sobre a informação, a comunicação e o conhecimento. Esse fenômeno se projeta no romance O Nome da Rosa (Umberto Eco, 1980), uma contemplação do mundo dos mosteiros, quando os livros, o sexo e o riso (des)velavam segredos trancados a sete chaves. A experiência de “conflito das interpretações” foi vivenciada Teilhard de Chardin (1881-1955), padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que realizou, em sua obra herética, uma ousada visão integradora da ciência e a teologia 12. A filosofia hermenêutica nos favorece uma leitura do código impresso e também audiovisual. Assim, os filmes Janela da Alma (João Jardim & Walter Carvalho, 2002) e Ensaio sobre a Cegueira (Fernando Meirelles, 2008) são interpretações do mundo e exercícios hermenêuticos, sob a dupla forma da textualidade e da audivisibilidade. Aliás, a linguagem hipertextual da web, de maneira inédita propicia interpretações, leituras imersivas, transversais, e dependendo do modo de usar, pode tornar mais claras as nossas idéias acerca da complexidade do mundo em que vivemos. A inteligência coletiva conectada, graças à grande hermenêutica digital gerada pela web, como uma máquina sociotécnica provedora de leituras do mundo, tem o poder de transformar o discurso em ação. Todavia, essa tarefa não é fácil, pois a comunicação em rede é atravessada permanentemente por poderes em conflito. O Estado, o capital e os ativistas em rede disputam o ciberespaço com interesses e objetivos distintos. E o êxito no exercício das empreitadas em rede vai depender do modo como puderem gerar estratégias coletivas de informação, comunicação e interpretação do mundo. A inteligência sociotécnica conectada pelos sistemas hipermídia realiza o sonho hermenêutico de desvelamento do mundo através da visão, audição e tactibilidade. Eis uma experiência cultural que modifica os padrões de linguagem, encorajando os atores sociais a usarem os equipamentos tecnológicos para acederem ao status de cidadãos. 12 Teilhard de Chardin é o fundador do conceito de “noosfera” (esfera do pensamento ou espírito humano), que influenciou Bachelard, McLuhan e Maffesoli. Cf. Wikipedia, 01.06.2011. Chardin é autor de obras como O meio divino (1927) e O fenômeno humano (1940), em que indica as potências do meio, o sentido do contato, da tactilidade, da sensorialidade irradiadas nas dimensões do espaço e tempo, na noosfera que nos abriga como uma comunidade simbólica, invisível, virtual. O tema foi tratado por diversos pensadores no evento O Século McLuhan. ATOPOS, S. Paulo, 02 a 03.05.2011. http://www.atopos.usp.br/mcluhan/. Papers das conferências disponíveis em: http://vimeo.com/23890132 Acesso em: 02.06.2011.
  • 22. 22 Hermenêutica e Theatrum Philosoficum A recorrência às obras Hermenêutica (PALMER, 1986), Questões fundamentais da hermenêutica (CORETH, 1973) e Interpretação e Ideologias (RICOEUR, 1988) é relevante para o refinamento da percepção acerca dos diferentes modos de construção dos discursos. É uma estratégia filosófica essencial para a evolução do pensamento que se desloca do preconceito ao pré-entendimento, abrindo clarividências diante do novo. Seguimos as pistas lançadas pela hermenêutica visando a uma estratégia de mediação entre gramáticas discursivas emergentes. E cabe ao cidadão virtual exercer o livre arbítrio, fazer a sua própria interpretação e escolher o seu modo de agir em rede. Este é um processo que certamente poderia ser retomado a partir da crítica de Heidegger à técnica ou da filologia iconoclasta de Nietzsche, exorcizando a hegemonia dos valores morais, filosóficos, estéticos através de aforismos desconcertantes. Todavia, optamos pela contemplação de um roteiro das interpretações, partindo de um momento histórico em que o mundo começou a ser pensado à maneira moderna. E esse momento pode ser datado a partir de Kant (1724-1804), antes de tudo, um grande intérprete, exegeta da razão, que buscou conciliar o racionalismo dedutivo, de Descartes e Leibniz, com o empirismo inglês (Hume-Locke-Berkeley). Kant nasceu em Königsberg, e num certo sentido antecipou McLuhan, e sem nunca ter saído da sua “aldeia” – reza a lenda – almejou decifrar o mundo forjando filosoficamente uma “globalização” avant la lettre, através das extensões de uma razão pura e transcendental. O filósofo das Luzes empreendeu um rigoroso projeto de interpretação do real (portanto uma hermenêutica); entretanto, empenhado em uma explicação do mundo através de um “imperativo categórico”, deixou de fora a perspectiva da razão sensível no ato de contemplação do mundo. (Este projeto será levado a cabo por outros estetas e pensadores, como os neoidealistas e românticos como Schiller e Fichte). Capturamos em Kant a noção de “imperativo categórico”, para repensar o conceito de “imperativo da visibilidade”, empregado por Paula Sibilia (2008) na investigação da sociabilidade virtual, quando as experiências da visibilidade, conexão e mobilidade aparecem como pré-requisitos para a entrada do ser na ordem da cultura. Na filosofia hermenêutica, cintila a obra do teólogo Schleiermacher (1768- 1834), fazendo a crítica dos milagres e das escrituras que, em última instância, nos leva a entender para além da magia do ciberespaço um sistema de padronização da
  • 23. 23 linguagem como estratégia de estabelecimento dos efeitos de verdade. (Logo, antecipa Baudrillard e a sua crítica dos simulacros e simulações). Dilthey (1833-1911), o psicólogo-pedagogo alemão, dedicado ao estudo das “ciências do espírito” e das “ciências da natureza”, abre caminho para as futuras reflexões, no sec.21, sobre o espírito do tempo, a inteligência cognitiva e a ecologia da comunicação (desenvolvida por Bateson e outros visionários da Escola de Chicago). Husserl (1859-1938), filósofo-matemático, ousou prever uma fenomenologia do Ser diante do número, antecipando a idéia da automação, conexão e comunicação numérica da “modernidade tardia”. (Um processo especulativo que vai ganhar novas proporções na pragmática da comunicação, com Austin, Searle e Peirce, no século 20). Caminhando sozinho na rota das idéias do seu tempo, Heidegger (1889-1976), investigador da metafísica e da teologia, antecipou uma filosofia crítica da técnica, e desta maneira vai dominar o pensamento norteador da tradição crítica da tecnocultura. Gadamer (1900-2002), filósofo hermeneuta, autor da obra Verdade e Método, empenhou-se em decifrar o “caráter verdadeiro das coisas”, e findou como um estudioso do belo, nos estimulando a explorar os “enigmas, segredos e mistérios” da realidade sensível estetizada pelas tecnologias audiovisuais colaborativas. Paul Ricoeur (1913-2005), o filósofo do sentido, dedicou-se às “interpretações e ideologias”, enfrentando “conflito das interpretações”, e hoje o seu legado filosófico nos encoraja a compreender os paradoxos e complexidades do ciberespaço. Deste modo, valorizamos as leituras híbridas como estratégias sensíveis e atentas na apreensão da complexidade do real midiatizado. Apreendemos as iluminações filosóficas clássicas e os insights recentes de pensadores do contemporâneo, como o geógrafo Milton Santos, cujos esforços em compreender o significado da história, técnica, geopolítica e vida social, na era da globalização, deixaram marcas indeléveis na no contexto da inteligência brasileira: A questão que se colocam os filósofos é a de distinguir entre uma natureza mágica e uma natureza racional. Em termos quantitativos ou operacionais, a tarefa é certamente possível. Mas é talvez inútil buscar o momento de uma transição. No fundo, o advento da Ciência Natural ou o triunfo da ciência das máquinas não suprimem, na visão da Natureza pelo homem, a mistura entre crenças, mitigadas ou cegas, e esquemas lógicos de interpretação. A relação entre teologia e ciência, marcante na Idade Média, ganha novos contornos. “A magia, o poder da fabulação”, como diz Bergson, “é uma necessidade psicológica, tal como a razão...”. Os sistemas lógicos evoluem e mudam, os sistemas de crenças religiosas são
  • 24. 24 recriados paralelamente à evolução da materialidade e das relações humanas e é sob essas leis que a Natureza vai se transformando. MILTON SANTOS, 1997, p. 16. Recorremos à (moderna) tradição filosófica, para encorajar o espírito das novas gerações a decifrar a potencialidade do ser na era das tecnologias colaborativas. É essa hermenêutica que nos importa: de olho nas redes, convergências, hibridações. Partimos de uma perspectiva interdisciplinar que aceita o diálogo com a filosofia clássica e moderna, a filosofia espontânea dos cientistas, o empirismo dos especialistas, a sabedoria da praça pública informatizada, em que a doxa (o saber comum), a episteme (o saber filosófico-científico), a techné (artes e práticas do saber-fazer) se equivalem na arborescência do conhecimento. 13 13 Há um detalhe em nosso trajeto que não pode ser esquecido: o exercício de investigação científica não pode prescindir do trabalho empírico. Este trabalho é fruto da observação sistemática, análise e interpretação, da contextualização social e histórica. O livro resultou de um esforço coletivo, um trabalho de investigação realizado em conjunto com jovens pesquisadores engajados nos temas da cibercultura (PIBIC/CNPq/PPGC/UFPB): Cf. RIOS, P; OLIVEIRA, A. Home Pages. O acesso às auto- estradas da cibercultura (1997/1998); __ A Internet e a busca da comunicação horizontal (1998); RODRIGUES, J. Estudo dos chats (2002); ARAÚJO, A.H.C. As organizações no Ciberespaço (2003); LIESEN, M. Comunicação, Sensibilidade e Mediação Tecnológica (2007); SERRANO, P.H.S.M. Cognição e Interacionalidade através do YouTube (2007); MARTINS, A.V. Blogs, Blogueiros, Blogosfera (2008); FELIX, L. Socialidades Efêmeras no Ciberespaço (2008); LIMA, N.R.A.S. Webjornalismo (2009); FALCÃO, L. O Second Life e a Teoria da Calda Longa (2009); MEDEIROS NETO, R.B. Twitter, a credibilidade da mensagem sintetizada (2010); MAGALHÃES, M. Orkut e Comunidades Virtuais (2009/2011); MEDEIROS, E. Blogs, Jornalismo e Redes Sociais (2009/11).
  • 25. 25 2. Do cavalo de Tróia ao Wikileaks: os estilhaços do poder no ciberespaço A mutação tecnológica do século 20, desencadeada pelos audiovisuais eletrônicos, redirecionou o sentido da vida mental na metrópole. Logo, as gerações pensantes do novo milênio têm diante de si o desafio de compreender, decodificar e interagir nos espaços reconfigurados pelas tecnologias da informação e da comunicação. As mídias constituem um forte instrumento de poder na era tecnológica. De um lado, o Estado e as grandes corporações, do outro, os cidadãos, as inteligências coletivas conectadas, disputam o controle do poder mediado pelas tecnologias midiáticas. A interface “poder e comunicação” atravessa a história da vida pública e privada, desde as eras mais remotas. Foi assim ontem, no tempo dos deuses, heróis e guerreiros, como narra Homero na Ilíada e na Odisséia, e é assim também hoje, no tempo dos hackers e do Wikileaks14, das navegações, do ciberpoder e da pirataria virtual, em que descobrimos novas formas éticas, sociais e políticas do compartilhar. A expressão “navegar no ciberespaço” tem analogia com a história do conhecimento, em que incidem erros, acertos, naufrágios e conquistas. Como na odisséia de Ulysses, o trajeto do saber é atravessado por crises, rupturas, derivas, sobrevivências, novos achados e permanentes modificações no mapa da viagem. O ciberespaço concretiza a imagem conceitual de “noosfera”, que animou a imaginação criativa e vigilante de pensadores como Chardin, Bachelard e McLuhan. É a zona sensível do acontecimento, em que se movem as inteligências coletivas mediadas pela tecnologia. Um campo gravitacional atravessado por forças sociais, econômicas e políticas que lhe condicionam. Mas, principalmente, o ciberespaço, em sua complexa amplitude e ubiquidade, é um motor que libera a energia tecno-social dos usuários, cuja irradiação afeta a percepção neuro-sensorial, estética e cognitiva, encorajando empoderamentos coletivos que desafiam os sistemas dominantes. 14 WikiLeaks é uma organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em seu site, posts de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis. (...) O site, administrado por The Sunshine Press, foi lançado em dez./2006 e, em meados de nov./2007, já continha 1,2 milhão de documentos. Seu principal editor e porta-voz é o australiano Julian Assange, jornalista e ciberativista. (...) Ao longo de 2010, WikiLeaks publicou grandes massas de documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos, com forte repercussão mundial. Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/WikiLeaks Acesso: 13.05.2011
  • 26. 26 Inteligência conectada e empoderamento coletivo Há diferentes maneiras dos cidadãos utilizarem os computadores, a internet, os equipamentos hipermídia em suas rotinas diárias. Para a maioria a rede funciona como um canal de diversão e entretenimento; para outros, além de se constituir como um meio de informação permanente, a rede funciona como uma alavanca operacional no campo da pesquisa científica e cria oportunidades de trabalho numa época de desemprego. Os defensores do ciberespaço apontam dentre os seus aspectos positivos a dinâmica dos processos de numeralização, disponibilização e compartilhamento da informação em tempo real, mas sobretudo o seu alto poder de interacionalidade. Há os usuários que apreciam as redes como vias de acesso a outras espiritualidades, sensorialidades e corporeidades. (Os sites Porto do Céu, Second Life e PornoTube distintamente servem como exemplos). Todavia, há os desconfiados que vêem a internet e o ciberespaço como um produto do turbocapitalismo, uma garra da tecnoburocracia gerada em alta velocidade, apagando os valores humanos e distanciando os corpos físicos do espaço público; uma experiência com vetores regressivos. 15 Em nossa interpretação da cultura biotecnológica e sócio-colaborativa, exploramos objetos, fenômenos e processos que representam nacos no tecido da cibercultura, a qual tem sido popularmente bem assimilada a partir do desempenho das redes sociais. Buscando nos orientar no pensamento, guarnecermo-nos de um instrumental conceitual, moldando um corpus teórico para decifrar esta experiência recente na história da cultura que nos envolve, nos fascina e nos escapa. Examinamos algumas realizações da comunicação em rede, com o apoio dos estudos de especialistas, cujos trabalhos, de cunho exploratório, analítico, crítico, compreensivo, têm sido bons condutores para o debate. “Enredar é tecer a arte de organizar encontros”: este o mote epistemológico da coletânea Tramas da Rede (PARENTE, 2004), um arsenal teórico que reúne estudiosos de vulto como Bruno Latour fazendo uma exploração racional e sensível dos “laboratórios, bibliotecas e coleções”; Marc Guillaume estudando a “comunicação comutativa”; Hardt & Negri inspecionando a “biopolítica”; Pierre Lévy estudando o 15 André Lemos faz uma distinção fundamental: para ele, a “tecnocultura”, fundada no sec.XIX, consiste na aplicação da máquina e o industrialismo nos domínios do pensamento, da comunicação e da vida social, forjando as condições materiais de existência. (LEMOS, 2004, p. 59-61). A cibercultura surge na metade dos anos 70, com a influência da microinformática no domínio sociocultural. Ou seja, as transformações técnicas, sociais e ideológicas propiciadas pelo microcomputador. (ibidem, p. 101).
  • 27. 27 ciberespaço e a “economia da atenção”; Henrique Antoun analisando a “democracia, multidão e guerra no ciberespaço”; Ascott vislumbrando o “homo telematicus, no jardim da vida artificial”, e Maciel “contemplando os espaços híbridos”. Um rearranjo das propostas interdisciplinares contidas nos fragmentos teórico- conceituais e empíricos, que abundam em cada um desses textos, nos leva a articular uma reflexão sobre algumas preocupações específicas no campo da cibercultura. A noção de rede vem despertando tal interesse nos trabalhos teóricos e práticos de campos tão diversos como a ciência, a tecnologia e a arte, que temos a impressão de estar diante de um novo paradigma, ligado, sem dúvida, a um pensamento das relações em oposição a um pensamento das essências. (PARENTE, 2004, p. 64). 16 Refazendo um estudo da obra Sociedade em Rede (1999) , percebemos que, numa perspectiva crítica, Castells se empenha em decifrar o alcance e os limites das redes sociais, como o produto mais acabado na nova fase do capitalismo global. Em sua perspectiva, a hiperconcentração de renda, os fundamentalismos (religioso e mercadológico), a globalização do crime, o apartheid tecnológico e a exclusão digital compõem a face regressiva da nova conjuntura mundial na era das redes de informação. Todavia, a sua perspicácia reside em mostrar como, no contexto da globalização, se inscrevem novas redes de solidariedade, agenciamentos sociopolíticos afirmativos. Essa problemática será atualizada nas obras posteriores, A Galáxia Internet, reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade (2003) e Communication Power (2010), vislumbrando os modos de empoderamento coletivo por meio das tecnologias digitais. Há autores que vêem nas (novas) redes de informação a projeção das atuais contradições socioeconômicas, políticas e culturais, as zonas de tensão e perplexidade da vida social, conforme se inscreve no livro Diferentes, desiguais, desconectados: As diferenças na modernidade existem às vezes como desenvolvimentos culturais distintos, outras vezes como resultado da desigualdade das classes, entre as nações, entre os grupos sociais, e mais recentemente em relação com as possibilidades de conexão e desconexão das comunicações, ou das redes de informação, entretenimento e participação social. A mobilidade identitária tem muito a ver com essas diferenças, desigualdades, conexões e desconexões, com uma combinação dessas modalidades. (CANCLINI, 2005). 16 Primeiro volume da trilogia de CASTELLS, A era da informação: Economia, Sociedade e Cultura (1999); seguem-se, o vol.2, O Poder da Identidade (1999), e o vol.3, Fim de Milênio. (1999).
  • 28. 28 Com efeito, as redes telemáticas, tecnoafetivamente, esteticamente, sensorialmente, geram processos sociais de identificação, convergência e participação. Os atores sociais conectados interagem e colaboram na nova ambiência tecno- comunicacional, acionando estratégias de ação afirmativa. Exemplos vivos desses processos são os ambientalistas que se tornam cibermilitantes, organizando suas estratégias biopolíticas no interior do ciberespaço, abrindo caminho para os chamados cibercidadãos, ou “cidadãos culturais”, como podemos ler no trabalho Leitores, espectadores e internautas (2008): (Um exame) das fusões entre empresas dedicadas à produção de livros, mensagens audiovisuais e eletrônicas, em particular os hábitos culturais. Breves artigos, ordenados como num dicionário, interagem à maneira de um hipertexto para redefinir, não apenas o que é ser leitor, espectador e internauta, (mas) o modo pelo qual agora somos cidadãos culturais, e nos relacionamos com o patrimônio, os museus e as marcas e para onde vai a pirataria, o zapping e os usos do corpo. (CANCLINI, 2008). A correspondência on line, o webjornalismo, o cinema 3D, a tevê interativa, o namoro virtual, o marketing digital, e-comerce, as teleconferências, o ensino mediado pela tecnologia, a digitalização, disponibilização e compartilhamento das informações planetárias, entre outras experiências tecno-informacionais, criaram novas espacialidades e temporalidades redefinindo o estatuto do ser na cultura, do “estar- junto”, novas formas comunicativas e de interpretação do mundo. Mas esses processos não se efetivam harmonicamente, envolvem relações de poder, acirradas disputas e rivalidades. A experiência do ciberativismo sinaliza algo de novo no contexto da tecnologia e vida social, pois adverte como é possível nos instalarmos no interior dos “sistemas fechados” e contribuir para uma estratégia de comunicação compartilhada e colaborativa. E nesse sentido, os hackers podem ser vistos positivamente como “ativistas midiáticos” (TRIGUEIRO, 2011), que utilizam uma tática socio-comunicacional democrática, contribuindo para a inclusão digital. A comunicação digital, a força do coletivo e a tecnologia colaborativa Hoje, na chamada “Idade Mídia”, emergem novas configurações sócio-político- comunicativas que nos interpelam sobre o significado do espaço público e dos modos de participação social no contexto das decisões públicas. À medida que a consciência coletiva planetária vai se irrigando pelos feixes sócio-informacionais, eclodem novas
  • 29. 29 exigências, competências e empoderamentos sociais. Também por isso, no Campo da Comunicação, na era das redes sociais, diversos esforços têm sido despendidos na elaboração de um conhecimento sistemático da interface Poder e Comunicação Digital. Ganham expressão de destaque nesta seara os congressos da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política – COMPOLITICA, atuante desde 2006, dos quais sublinhamos aqui a relevância da pesquisa em Política e Cibercultura17. Na época dos mercados globais faz-se necessário perceber os níveis de expansão e concentração, conexão e mobilidade, em que se misturam os padrões sócio-culturais tradicionais e os arrojados padrões tecnológicos. E convém reconhecer, essas conjunções, nem sempre são bem balanceadas, e se projetam num contexto histórico e sociopolítico envolvendo poderes locais e globais, que podem afetar – positivamente ou negativamente – as experiências dos indivíduos e grupos sociais. Daí a importância de um debate vigoroso, num espaço público como a internet que agrega os discursos dos acadêmicos, políticos, jornalistas, profissionais e especialistas em mídia, e sobretudo dos cidadãos interconectados em rede. Nessa direção, considerando a escassez de estudos na área, é pertinente listar aqui alguns dos papers dos congressos anuais da COMPOLÍTICA, resultantes das pesquisas avançadas dos profissionais de primeira linha. Sua relevância reside na atualização dos temas que têm lugar na esfera pública (presencial e midiatizada) e ali sendo problematizados, com rigor e sistematização, lançam luzes sobre um conjunto importante de fenômenos e acontecimentos de ordem política que ganham novos contornos na era da informação. 18 17 A COMPOLÍTICA foi fundada em 2006, mantendo assiduidade, nos anos de 2007, 2009, 2011, atualmente sob a presidência de Afonso Albuquerque (UFF), Vera Chaia (vice-presidente) e Maria Helena Weber (Secretaria Executiva). 18 Destacaríamos neste fórum a inscrição do Grupo de Trabalho – Internet e Política, sob as coordenações de Wilson Gomes (2011/2007), Alessandra Aldé (2009), Othon Jambeiro (2006). Consultar, dentre outros textos da COMPOLÍTICA – Salvador / UFBA 2006: “Urbes contemporâneas e Políticas de informação e comunicações” (JAMBEIRO); “Blogs de Política: caminhos para reflexão” (PENTEADO; SANTOS; ARAÚJO); Entre o silêncio e a visibilidade: o Orkut como espaço de luta por reconhecimento do movimento social dos surdos (GARCEZ, R. L. O.); Ágoras digitais: a emergência dos blogs no ciberespaço (ALONGE, W); Internet e associativismo no debate público acerca do desmatamento (GUICHENEY, H.). COMPOLÍTICA – Belo Horizonte / UFMG 2007: Governo e Democracia Digital (MARQUES, F. P. J.A); O movimento Cansei na blogosfera (PENTEADO, C. L. C; SANTOS, M. P.B; ARAÚJO, R. P. A); Democracia Digital: Que Democracia? (GOMES, W); Blogs e jornalismo (MARTINS, A. F.); Participação democrática e Internet: breve análise dos websites dos Governos Federais dos quatro maiores países sul-americanos (BRAGATTO, R. C.). COMPOLÍTICA – São Paulo / PUC-SP 2009: Twitosfera: a expansão da ágora digital e seus efeitos no universo político (RAMALDES, D); Humor e Política na dinâmica das NTICs (MARTINHO, S.G.). COMPOLÍTICA – Rio de Janeiro / UERJ 2011: O Twitter na campanha eleitoral 2010 (GOMES, W); O debate sobre o
  • 30. 30 A enumeração de alguns títulos dos trabalhos disponibilizados pode indicar o quanto o Grupo de Trabalho “Internet e Política” contribui para o debate sócio-político e para a decifração da complexidade sócio-política e comunicacional contemporânea: “Os blogs, o jornalismo e a Política”, “Orkut e os surdos”, “as ágoras digitais”, “Internet e Desmatamento”, “Governo e Democracia Digital”, “O movimento Cansei na blogosfera”, “Acesso à informação na América Latina”, “Websites dos Governos Federais na América do Sul”, “O Twitter na campanha eleitoral”, “Humor e Política”, 19 “O debate sobre o Marco Civil na Internet” , “O blog e a ciberpolítica”, “Internet e Ministério da Cultura”, “Democracia e Monitoramento”, “O fenômeno wikileaks”, “Movimentos sociais na era digital” são alguns dos grandes temas analisados e podem ser compartilhados na internet, o que revigora o trabalho de interpretação da cultura política mediada pelas tecnologias colaborativas. Estratégias político-informacionais: da tecnocracia à digitofagia Hoje, no campo da comunicação a batalha se dá em defesa dos creative commons20, na luta em defesa do copyleft21, software livre22, redes gratuitas, banda larga para todos. Defende-se aqui os modos de acesso à informação substantiva concernente às atividades vitais, como educação, saúde, trabalho, transporte, segurança, mas também Marco Civil da Internet (SEGURADO, R); A ciberpolítica no caminho da rede (LÉVY, D; SILVA, J.F.); Internet, cidadania e esfera pública: um estudo comparativo dos Ministérios da Cultura do Brasil, Argentina e França (SANTOS, M.B; ARAÚJO, R; PENTEADO, C.); Democracia Monitorada: Internet e poder cidadão (FEENSTRA, R; COUTO, D. R.T.); O fenômeno Wikileaks e as redes de poder (SILVEIRA, S.A.); Internet e mobilização política – os movimentos sociais na era digital (PEREIRA, M.A.). Os papers estão disponíveis no site: http://www.compolitica.org/home/ Acesso: 12.04.2011 19 O Marco Civil da Internet é um projeto de Lei que visa estabelecer direitos e deveres na utilização da Internet no Brasil; tem um significado similar à Constituição da Internet. 20 Creative Commons é uma organização não governamental sem fins lucrativos localizada em São Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos, voltada a expandir a quantidade de obras criativas disponíveis, através de suas licenças que permitem a cópia e compartilhamento com menos restrições que o tradicional todos direitos reservados. Para esse fim, a organização criou diversas licenças, conhecidas como licenças Creative Commons. A organização foi fundada em 2001 por Larry Lessig, Hal Abelson, e Eric Eldred[1] com apoio do Centro de Domínio Público. (Wikipedia, 15.05.2011). 21 Copyleft é uma forma de usar a legislação de proteção dos direitos autorais com o objetivo de retirar barreiras à utilização, difusão e modificação de uma obra criativa devido à aplicação clássica das normas de propriedade intelectual, exigindo que as mesmas liberdades sejam preservadas em versões modificadas. O copyleft diferere assim do domínio público, que não apresenta tais exigências. "Copyleft" é um trocadilho com o termo “copyright” que, traduzido literalmente, significa “direitos de cópia”. (Wikipedia, 15.05.2011). 22 Software livre, segundo a definição criada pela Free Software Foundation, é qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado e redistribuído sem restrições. O conceito de livre se opõe ao conceito de software restritivo (software proprietário), mas não ao software que é vendido almejando lucro (software comercial). (Wikipedia, 15.05.2011).
  • 31. 31 o acesso às diversas modalidades socioculturais e políticas que podem ajudar a equilibrar o desnivelamento dos fluxos sócio-tecno-informacionais. A especificidade do hibridismo cultural contemporâneo modela características particulares no estilo de vida cotidiana, influenciando os modos de pensar, falar e agir, modos de usar, “modos de fazer” (e de interagir) diante das tecnologias, como mostram, em registros diferentes, Certeau, em A invenção do Cotidiano (1980), Maffesoli, em Tempo das Tribos (1987) e Nomadisme: vagabondagens initiatiques (1997) e Latour, em Jamais fomos modernos (1994). Essas leituras, ao largo de suas abstrações filosóficas, históricas, antropológicas, apresentam os atores em rede, que se organizam tactilmente, por vezes atuando com êxito face aos processos industriais e tecnológicos, por vezes em desvantagem numa interface desequilibrada. Diversas são as estruturas de exercício do poder tecnocrático dominante, assim como são surpreendentemente múltiplas as estratégias de empoderamento sócio- tecnológico, como demonstra o trabalho Net_Cultura 1.0: Digitofagia (ROSAS; VASCONCELOS, 2006), empenhado em refletir e repertoriar as estratégias sociais geradoras de empoderamento coletivo no Brasil e no mundo. A concepção da digitofagia (surgiu do) pensar uma prática antropofágica que reatualizasse esse ideário no contexto da cultura digital, reabastecendo seu viés libertário. Para tanto, abraçar práticas espontâneas na cultura contemporânea brasileira, como a pirataria, os camelôs e a gambiarra, seria, quem sabe, uma forma de trazer a mídia tática para um campo mais familiar e cotidiano aos praticantes, teóricos e ativistas brasileiros, e também publicamente expor o sentido da colaboração nas trocas de informações, fazeres e recursos materiais, a parafernália tecnológica compartilhada para ações coletivas. ROSAS; VASCONCELOS, 2006, p. 11. A interface comunicação, sociedade e tecnologia - no contexto brasileiro e latino-americano - tem sido explorada por Martin-Barbéro, desde a obra Dos Meios às mediações (1997), incluindo os estudos sobre a “alteridade tecnológica” (1985), a conexão entre a oralidade e a tecnologia, até a sua defesa do uso da “inteligência coletiva conectada” e do “empoderamento social” no enfrentamento dos problemas econômicos, políticos e culturais (Cf. BARBÉRO, CISECO, 2010). A experiência cultural na era da informação tem gerado investigações, consistentes desde os anos 80, resultando num acervo privilegiado para a reflexão das
  • 32. 32 novas gerações23. E hoje, a imaginação vigilante dos pesquisadores contemporâneos, em escala global, tem buscado acompanhar esse movimento, atualizando-se com base nas obras, entre outros, de Morin, McLuhan, Benjamin, Flusser, Simmel, Latour: Para Latour, entre objetos, idéias ou pessoas, não existe qualquer espécie de diferença ontológica. Todos são “atores” (ou actantes), dotados de força própria e de capacidade de produzir efeitos no mundo. Por isso, nenhuma teoria ou idéia que busque reduzir a heterogeneidade do real a algum princípio unificador é efetivamente satisfatória. Nem o deus da religião, nem o inconsciente da psicanálise, nem o “poder” de Foucault conseguem traduzir adequadamente essa perspectiva. Todos os seres, animados ou inanimados, orgânicos ou inorgânicos, materiais ou imateriais, conscientes ou inconscientes localizam-se no mesmo patamar ontológico (“on the same footing”, como não se cansa de repetir Harman). Como bem explica nosso comentarista, “o mundo é uma série de negociações entre uma multiforme armada de forças, os humanos entre elas, e tal mundo não pode ser dividido nitidamente entre dois pólos preexistentes chamados ‘natureza’ e ‘cultura’ ”. FELINTO, 17.05.2010 24. Informação, Mobilidade e Potência nas Redes Sociais Na era da visibilidade, convergência e mobilidade, é importante sublinharmos a emergência de vigorosas ações afirmativas em curso, na organicidade da vida vivida, formas autênticas de politização do cotidiano, aproximando as fronteiras entre a modernidade tecnológica e a vontade de modernização social e política. 23 Convém assinalar um dos primeiros estudos em Comunicação & Tecnologia, coordenados por Marcondes Filho e o Grupo NTC/USP, a partir da obra seminal Pensar-Pulsar: cultura comunicacional, tecnologia e velocidade (1996), a revista Atrator Estranho (NTC, 1997) e Superciber: a civilização místico-tecnológica do século 21 (NTC, 1997), entre outros. E caberia destacar, igualmente, o esforço interdisciplinar dos pesquisadores da UFRJ, Carneiro Leão, Márcio Tavares D’Amaral, Muniz Sodré; Francisco Doria, num trabalho pioneiro que antecipa o estudo das “redes sociais”: A Máquina e seu Avesso (1987). E enfim, indicaríamos a coletânea organizada por Anamaria Fadul, Novas tecnologias de comunicação: impactos políticos, culturais e sócio-econômicos. (1986), atestando a preocupação com as “redes de informação”, ainda na época da Nova República. Hoje, no debate sobre as redes sociais, distingue-se a obra crítica de Trivinho, A dromocracia cibercultural. Lógica da vida humana na civilização mediática avançada (2007), assim como os demais trabalhos do grupo do ABCiber (Associação Brasileira de Cibercultura), que reúne os principais pesquisadores na área, no Brasil. Logo, temos a formação de um vigoroso pensamento comunicacional, com fôlego interdisciplinar, que tem redimensionado o enfoque teórico e empírico, institucional e epistemológico no campo das Ciências da Comunicação Digital. 24 Cf. Carpintaria das Coisas. Um blog sobre tecnologia, filosofia e as materialidades dos meios. (Erick FELINTO). http://poshumano.wordpress.com/2010/05/17/bruno-latour/ Acesso: 15.05.2011
  • 33. 33 Nessa direção, são exemplares os Pontões de Cultura, “entidades reconhecidas e apoiadas financeira e institucionalmente pelo Ministério da Cultura, que desenvolvem ações de impacto sócio-cultural em suas comunidades”; e a criação do Pontão Digital, que possui as mesmas funções dos Pontões de Cultura, porém, com a peculiaridade de utilizar predominantemente os meios digitais na promoção de suas atividades25. E, analogamente, destacam-se as experiências dos Telecentros, uma estratégia de democratização e inclusão digital, “um espaço público onde pessoas podem utilizar microcomputadores, a Internet e outras tecnologias digitais que permitem coletar informações, criar, aprender e comunicar-se com outras pessoas, enquanto desenvolvem habilidades digitais essenciais”. (Cf. Wikipedia, 13.05.2011). Para uma práxis teórica dessas experiências, consultar o básico Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea (LEMOS, 1996), assim como outros trabalhos do autor, desde os registros internacionais no seu blog “Carnet de Notes”, até a coletânea Comunicação e Mobilidade, Aspectos socioculturais das tecnologias móveis de comunicação no Brasil, em parceria com Josgrilberg (2009) e a obra recente, com Lévy, O futuro da internet; em direção a uma ciberdemocracia planetária (2010) 26. Ou seja, Lemos apresenta um sólido alicerce teórico-conceitual para compreendermos os processos sócio-técnicos, culturais e comunicacionais, reunindo pesquisa empírica, reflexão e síntese das tendências atuais, no Brasil e no mundo. Diante do complexo da sociedade em rede, a percepção tout court racionalista, cartesiana e lógico-dedutiva é confrontada com outra geografia de pensamento, que inclui, por um lado, as investigações de Edgar Morin, focalizando as interconexões e complexidades socioculturais e políticas globais, o que abrange os insumos tecnológicos, e por outro lado, o trajeto antropológico composto por uma legião de pensadores e estudiosos, como Bachelard, Durand, Maffesoli, Rocha Pitta, Machado da Silva, Contrera, dentre outros instigando uma decifração da cultura digital, pela leitura da força simbólica que – antropologicamente – reúne e restrutura os laços sociais. A “nova realidade eletrônica” tem sido historicamente vasculhada por distintos especialistas preocupados com a conexão entre o homem e a tecnologia, desde Alvim Tofler, A terceira Onda (1980), passando por Fritjof Capra, O ponto de Mutação 25 Cf. Site institucional do Ministério da Cultura http://www.inclusaodigital.gov.br/noticia/edital- para-pontoes-de-cultura-e-prorrogado-ate-o-dia-20-de-agosto/ Acesso em: 13.05.2011 26 Cf. Vide blog Carnet de Notes. http://andrelemos.info/ Acesso em: 15.05.2011
  • 34. 34 (1983), e o ícone teórico da contracultura norte-americana, Theodor Roszak, O culto da informação: o folclore dos computadores e a verdadeira arte de pensar (1988). Há todo um legado exploratório, analítico e explicativo, que tem fertilizado o imaginário mitopoético e científico do ciberespaço. Em tempo, nessa perspectiva conviria apontar a obra A pele da cultura (De KERCKHOVE, 2009), uma exploração da nova teia eletrônica que atualiza o debate numa ótica pós-mcluhaniana. Sob prismas diferenciados, organiza-se um repertório importante de enquetes, diagnósticos e investigações sobre o fenômeno de intersecção da tecnologia & comunicação e suas repercussões no contexto da civilização. Esses estudos constituem passagens obrigatórias para uma compreensão histórica e social, e contribuem para uma mediação afirmativa face à inserção das “máquinas inteligentes” na vida cotidiana. Fenomenologia da cultura digital Particularmente, miramos a comunicação digital numa perspectiva que assimila as contribuições de uma “antropologia interpretativa” (GEERTZ, 1989), o que significa contemplar a interface das culturas humanas com as tecnologias; isto é, interpretar a lógica interna dessa cultura tecnológica, observando as articulações do fenômeno técnico com o mundo da natureza, sociedade e cultura. Por esse prisma, é instigante examinar como funcionam as suas relações com as formas ético-políticas, místico-religiosas, materiais e simbólicas, e como isto repercute nos estilos de apropriação das linguagens e empoderamentos sócio- tecnológicos. Nessa direção, são esclarecedoras as idéias de Gleiser, em A dança do Universo (1997), uma exploração das ligações entre as ciências duras e as ciências do espírito que nos lança para outra margem do pensamento, o que nos concede distanciamento e nos permite compreender melhor as experiências da comunicação na era digital. Igualmente instigantes são as investigações de Zielinsky, filósofo-cientista, mago da comunicação que, como um autêntico hermeneuta, realiza uma “arqueologia da mídia, em busca do tempo remoto das técnicas do ver e do ouvir” (2006). (Zielinsky) propõe, para a geração que começa a trabalhar com a imaginação nos mundos da mídia, ser de vital importância saber que uma abordagem mágica, em relação à tecnologia continua a ser possível, assim como assegurar que o investimento nessa abordagem é significativo. “Esses equipamentos não estão à espera para ser