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Capítulo 5<br />YouTube: artes, invenções e paródias da vida cotidiana <br />Em princípio, a consagração do dispositivo midiático YouTube junto às novas gerações parece um mero efeito da moda: são milhões de jovens do mundo inteiro conectados em rede e os brasileiros ocupam uma parcela importante deste contingente. Contudo, um olhar mais atento percebe que se trata de uma experiência radical de compartilhamento e interacionalidade. O YouTube realiza o sonho de uma multidão de aficcionados em arte, história, música, literatura, esporte, fotografia, cinema, televisão, turismo, moda, publicidade, desejosos de construir a sua própria programação audiovisual. E desta vez, os atores sociais em rede, podem realizar seus desejos através de procedimentos colaborativos sem precedentes. <br />A experiência cultural na era da informação é de natureza distinta daquela realizada no tempo forte da cultura de massa; mudaram as relações entre o autor, o meio e a obra, o emissor, o meio e o receptor, e mutações importantes ocorreram também nos modos de subjetividade e de sociabilidade. A cultura audiovisual, hegemônica desde a época de ouro do rádio, irradiada com o cinema e a televisão, se transformou bastante graças aos processos de digitalização, conexão, mobilidade e compartilhamento dos conteúdos.<br />O YouTube foi criado em fevereiro de 2005 e (a partir daí) teve um crescimento impressionante. Nada menos que 65 mil pessoas publicam diariamente novos vídeos no site, que recebe imagens sem censura prévia. O jornal Los Angeles Times comparou o fenômeno YouTube ao surgimento da rede CNN, que nos anos 90, revolucionou os modelos de televisão adotados no mundo ao lançar uma programação baseada apenas em notícias e informações. O YouTube abriu as portas do mundo da imagem para milhares de cinegrafistas e fotógrafos amadores que passaram a postar imagens, provocando uma mudança radical nos padrões de vídeo jornalístico na imprensa mundial. (Observatório da Imprensa, 26.02.2007).<br />A ação dos fluxos informacionais conectados aos audiovisuais, além de implicar num simples efeito eletrônico, tecno-cognitivo, abre radiosos feixes de luz para apreendermos aspectos da realidade esquecidos, escondidos do ângulo da visibilidade pública ou difíceis de serem captados pelas nossas retinas orgânicas.<br />Novos desafios se colocam para os historiadores, sociólogos, antropólogos, jornalistas, educadores, informacionistas diante de uma experiência cultural como a nossa, inteiramente atravessada pelos fluxos midiáticos <br />Cumpre entender a dimensão afirmativa da comunicação digital, que dissemina uma “cultura da virtualidade real” (CASTELLS, 1999), e que não cessa de instigar novas redes de solidariedade. Como mostram Lévy (1998), Kerckhove (2008), Di Felice e Pireddu (2010), respectivamente, as teias sócio-informacionais irrigam uma “árvore do conhecimento” (1992) que dissemina uma forma inédita de inteligência coletiva conectada.<br />Os meios digitais provocam estímulos, idéias e interações importantes demais para serem ignorados, pois se infiltram nos espaços e tempos das experiências pessoais e coletivas, gerando graves transformações. Logo, é uma passagem incontornável em nosso percurso e convém tirar partido da nova ambiência cultural. <br />Na educação, nos negócios, na política tais transformações têm sido percebidas em obras recentes como A ecologia pluralista da comunicação (SANTAELLA, 2011), Psiquê e technê. O homem na idade técnica (GALIMBERTI, 2006), e A hora da Geração Digital (TAPSCOTT, 2010), entre outras.<br />Todavia, a cibercultura consiste numa experiência complexa e evidentemente resulta em estudos críticos, como o livro O culto do amador. Blogs, MySpace, YouTube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores (KEEN, 2009), cujo subtítulo polêmico já instiga um debate caloroso. Nessa via, há outros interlocutores, cujas oposições, contribuem para atualizar a nossa interpretação: The Digital Dialetic (LUNEFELD, 1999), Introdução às teorias da cibercultura, e Cibercultura e pós-humanismo (RUDIGER, 2007; 2008).<br />A nossa perspectiva de análise, partindo de um prisma histórico-hermenêutico, busca interpretar os efeitos do YouTube junto às comunidades, e no que concerne à posição da comunidade acadêmica nos parece estimulante adotar um princípio interdisciplinar, “dialógico”, “polifônico”, como sugere o grande intérprete da cultura Mikhail Bakhtin (1981); logo, enfrentamos as posturas divergentes apostando que este é um meio de se conseguir um “conhecimento aproximado” do objeto de estudo.<br />Apoiamo-nos numa base epistemológica, antes de tudo muito atenta a potência estética, sensorial, comunicante da página eletrônica do YouTube e nos empenhamos numa reflexão teórica norteada pelas idéias de alguns pesquisadores que tentam decifrar o sentido da cultura audiovisual e tecnológica emergente.<br />Para compreender o YouTube, buscamos nos guarnecer de um método e este flui – quase – espontaneamente do próprio ato de acessar, interagir, compartilhar os seus conteúdos com as comunidades virtuais que as redes sociais propiciam. Assim, o primeiro passo é a observação sistemática, o trabalho descritivo da estrutura e funcionamento do site, uma netnografia, um mapeamento seletivo dos conteúdos à guisa de análise, crítica e argumentação. Todavia, este processo se realiza simultaneamente à organização das leituras sobre a área de interesse e sobre o objeto específico, o que define – hermenêuticamente – um estágio de pré-entendimento.<br />E, é sempre salutar estabelecer uma contextualização histórica e social, no exercício de contemplação do mundo digital, no caso, as formas culturais na era da comunicação eletrônica colaborativa, mas sem jamais perder de vista a necessidade de atualização na área. Assim, alguns estudos específicos podem ser fundamentais: YouTube e a Revolução Digital (BURGESS & GREEN, 2009), Watching Youtube. Extraordinary videos by ordinary people (STRANGELOVE, 2010), The YouTube Reader (VONDERAU & SNICKARS, 2009), YouTube in Music Education (RUDOLPH & FRANKEL, 2009).<br />O estado da cultura na “era da informação” tem sido analisado diferentemente por vários autores, como André Lemos (2004) examinando as mídias digitais, a partir de uma “antropológica do ciberespaço”; Marcondes Filho (1996) apreciando criticamente a “cultura comunicacional, as tecnologias e a velocidade das mídias”; Primo (2007) explorando a “interação mediada por computador”; Parente (2007) examinando a cultura das redes como uma nova dimensão da comunicação; Arlindo Machado (1998, 2000, 2002) e Santaella (2004) analisando as mídias e as suas interfaces nos campos da arte, linguagem, estética e tecnologia.<br />Estrutura e funcionamento do YouTube<br />O YouTube é produto de uma gigantesca corporação (Google) surgida no âmbito do turbocapitalismo, programado para acelerar a rentabilidade do lazer e entretenimento, mas escapa às limitações de um produto simplesmente mercadológico, devido ao potencial como vetor de obra de arte audiovisual, rizoma colaborativo - emanando sentido em todas as direções - que atua vigorosamente sobre a percepção sensorial, a memória afetiva e a inteligência coletiva. <br />Por meio de uma razão lúdica, os usuários descobrem diversos modos de saber-fazer e de interagir nos espaços públicos digitais. Ferramentas como o YouTube propiciam a formação de redes sociais e geram modos de conhecimento, mesmo quando parecem voltadas apenas para a diversão e o entretenimento. <br />Proativamente, recolhemos alguns dos “mosaicos conceituais” do pesquisador mcluhaniano Kerckhove (2009) para repensar o YouTube, “quando a televisão se casa com o computador na auto-estrada da informação”. Nessa perspectiva o site atua sob o “stress da velocidade, aceleração e crise”, sem deixar de forjar uma “arte salvadora”, quando queremos “ver mais, ouvir mais e sentir mais” (p.131). E gera assim uma usina de idéias que ativa as redes neurais e a inteligência coletiva conectada.<br />Ao abrirmos a página principal do YouTube, numa primeira leitura, percebemos - na sua configuração, desenho e engenharia - um reflexo sócio-técnico dos modos de ser, pensar e agir do ser humano pós-industrial, principalmente das novas gerações. Logo, as matrizes reticulares da internet revelam as matrizes culturais (estéticas, semiológicas, cognitivas) dos atores sociais que formaram uma consciência do mundo através dos audiovisuais e que estão atuando na esfera pública digital.<br />Na composição da página inicial lemos os títulos e subtítulos, hiperlinks (nós, ligações), que designam as entradas, vias de acesso aos “vídeos”, “canais” e “comunidades”, enunciados como referências operacionais. Isto é, tecnicamente funcionam como meios de acesso aos conteúdos. Mas no plano da imaginação vigilante e criadora, como sugerem Bachelard (1996), e Durand (1994), ao clicarmos com o mouse sobre cada link, sobre cada uma dessas frases eletrônicas, entramos em sintonia com as comunidades afetivas dispersas na cartografia da vida cotidiana.<br />A internet consiste numa hipermídia cujo público-alvo é preferencialmente a “geração ponto.com”, do pós-cinema (MACHADO, 2002), pós-televisão, pós-MTV; Trata-se de uma estratégia socio-tecno-informacional específica das “culturas do consumo” (BACCEGA, 2008) “culturas juvenis do século XXI” (BORELLI & FREIRE FILHO, 2008), “culturas de convergência” (JENKINS, 2008), que caracterizam a realidade eletrônica contemporânea.<br />Ao mergulharem nas águas profundas da cibercultura, em sites como YouTube, os jovens têm acesso a uma ambiência tecnológica, em que atuam com vigor, usando uma competência comunicativa em que se aliam inteligência cognitiva, percepção sensorial, agilidade de raciocínio e cooperação tecno-comunicacional.<br />A ambiência midiática, em que fulgura o YouTube, forma-se uma esfera pública midiatizada, típica da “sociedade do pós-espetáculo” (NOVAES, 2005), “em que não há mais distinção entre palco e platéia”, em que os personagens cedem lugar aos avatares, a representação clássica dá lugar à simulação interativa. Novos regimes de cognição, afetividade e socialidade concorrem para a realização dessa experiência inédita na história da civilização, em que se conjugam o imaginário e o simbólico, o concreto e o virtual, a mídia colaborativa e a sensibilidade tecnológica.<br />Em verdade, configura-se na paisagem cotidiana uma formação cultural bastante recente, que contagia os usuários de todas as idades. Esta nova configuração exige a paciência de uma nova epistemologia, e de um “novo espírito científico” (BACHELARD, 1995). Requer novas “imagens conceituais” para decifrarmos a conexão dos suportes audiovisuais, telemáticos, digitais e a convergência de distintas formações culturais, em que a oralidade, a escrita, a impressão, a audiovisualidade e a tecnicidade, interpenetram-se de maneira importante (SANTAELLA, 2003).<br />Convém atentar para a paisagem sociocultural e política que se transformou, fomentando novas “positividades”, outras epistemes (FOUCAULT, 1995), impondo um novo paradigma científico em ruptura com o da modernidade industrial. Hoje, na era do turbocapitalismo, agita-se um “bios midiático” (SODRÉ, 2002), “estranha forma de vida” gerada por processos tecno-comunicacionais, solicitando um enfoque analítico distinto do pensamento linear, analógico, cartesiano. <br />Empiricamente, descrevemos as estruturas e o modo de funcionamento do sistema midiático gerado pelos websites de vídeos, e estrategicamente elegemos o YouTube, como objeto de contemplação; a partir daí formulamos alguns elementos argumentativos para uma análise e apreciação crítica, e para uma aproximação possível desta experiência tão recente na história da cultura e da comunicação, mas que no entanto tem causado reviravoltas no âmbito da escola, do trabalho, dos mercados, da ação política, da vida em comunidade.<br />O YouTube: a escola, o mercado, o domicílio eletrônico<br />As categorias de vídeos disponibilizados no YouTube são fixadas em função das demandas dos clientes da internet, e resultam da atividade exaustiva das pesquisas de marketing digital, opinião e mercadologia. E aqui a palavra mercado, para além do seu sentido meramente mecânico, funcional, e deve ser entendida também no vigor do seu sentido orgânico, social e simbólico. O espírito de Hermes nos revela: o mercado é por excelência o lugar de exercício das trocas simbólicas vitais, do intercâmbio lingüístico-cultural, dos acordos, negociações e permutas coletivas. O e-comerce, o tele-marketing, o pay-per-bit “glocais” hoje evidenciam a sua gritante empiricidade.<br />Não se pode ignorar a potência simbólica que assegura a vigor da “comunicação e as culturas do consumo”: são teias que forjam as identidades, os níveis de sociabilidade e de empoderamento coletivo. Nesse contexto, o YouTube revela os modos do sentir e fazer coletivos, formas de identificação e pertencimento, uma percepção das artes e mídias como vetores estéticos, sensoriais, cognitivos.<br />Nessa direção, conviria consultar os estudos Culturas do consumo (BACCEGA, 2008), A hora da geração digital (TAPSCOTT (2020), Cultura da Interface (JOHNSON, 2001), A cultura digital (2002), A ecologia pluralista das mídias locativas (SANTAELLA, 2011).<br />Os links de acesso aos vídeos estão intitulados sob a forma de curiosas rubricas: “animais”, “ciência e tecnologia”, “educação”, “entretenimento”, “esportes”, “filmes e desenhos”, “humor”, “instruções e estilo”, “música”, “notícias e política”, “pessoas e blogs”, “veículos”, “viagens e eventos”. <br />O menu principal apresenta uma classificação aparentemente aleatória, mas que aponta para a própria natureza e sentido do nicho sócio-técnico-comunicacional que nos rodeia. Ou seja, o site é organizado em meio a uma aparente dispersividade de hipertextos que compõem as páginas eletrônicas.<br />Se o sistema de classificação, indexação e distribuição, por um lado mostra-se volátil, disperso, aleatório, por outro, indica um novo estado da arte tecnológica, encarnado pelo YouTube, que sabiamente se organiza e se comunica por meio de uma intuição enciclopédica, atenta aos jargões, gírias e idioletos que fervilham no cotidiano midiatizado . Mesmo efêmero, provisório, mutante, o repertório das redes expressa grande parte dos discursos, saberes, fazeres e invenções sócio-colaborativas do mundo presencial, que se atualizam permanentemente no mundo digital.<br />Verificamos um agendamento de temas que se organizam como os “mais recentes”, “mais comentados”, “mais conectados”, “mais respondidos”, “mais vistos”, “populares anteriores”, “destaques recentes”, “adotados como favoritos” e “bem avaliados”: o superlativo - genericamente - aponta para designações que parecem aleatórias, nômades, transitórias, mas resultam de um refinado planejamento de marketing pós-industrial, que revela a “tentação do híbrido” cortejando os corações & mentes, no estágio atual da nossa experiência cultural em veloz transformação. <br />A palavra “mais”, característica da nossa cultura do consumo e da competição acirrada, enfatiza a vontade de poder e o imperativo de visibilidade expressos nas escolhas dos usuários. E, apesar do caráter provisório da formatação, a enunciação dos temas demonstra o perfil cognitivo dos e-leitores, consumidores, cibercidadãos, que tentam se organizar – colaborativamente – na nova terra-pátria digitalizada.<br />A categorização dos vídeos nos permite compreender os seus encadeamentos lógico-funcionais, a sua intencionalidade. A configuração tecno-semiótica do site nos leva a interpretar os seus conteúdos como objetos imateriais, eletronizados, com alta potência sócio-comunicativa. E sua estrutura interacional permite aos usuários elaborarem eficientes “dispositivos sociais de resposta” (BRAGA, 2006). <br />Como por um efeito de feed back mediado pela tecnologia, os links sugerem novas idéias, remontagens e operacionalidades que, reenviadas às redes, podem vir a arrefecer esta cultura organizacional e interativa, constantemente revisitada por numerosos experts, estudiosos, clientes, voluntários e ciberativistas.<br />Atentos à configuração visual, gráfica, sensorial e semiótica da página inicial, perpassada por várias entradas, atalhos e mecanismos comutativos, podemos “cooperar”, enviando informes analíticos, apreciações, comentários, críticas, réplicas e observações, pois a rede está aberta às sugestões e intervenções - instigando modalidades inéditas de gestão dos processos interativos.<br />Transitando por meio dos “canais”, encontramos um labirinto com diferentes passagens que nos lançam no fluxo de diferentes redes de sociabilidade, várias comunidades afetivas e de interesse, formadas por “comediantes”, “diretores”, “gurus”, “músicos”, “parceiros”, “patrocinadores”, atores sociais e entidades “sem fins lucrativos”. Convém notar, o agendamento dos canais do YouTube, resultando das escolhas seletivas dos clientes, apesar do seu caráter volátil, efêmero, projeta uma amostra do conjunto de consumidores potenciais que participam do mercado digital.<br />Essa aparente desordem hipermidiática é similar à organização dos códigos que regem a existência tecno-social cotidiana. O pulsar das cibercidades se assemelha ao pulsar das “cidades de verdade”. E relembrando Walter Benjamin, o importante aqui não é a linha de chegada, mas o próprio caminho, a passagem, o itinerário, a contingência de ser e estar, a oportunidade para novas relações. Trata-se de um lócus privilegiado em que encontramos personagens e situações inusitadas, em que realizamos cotidianamente novas relações de sentido, fazemos escolhas, enfrentamos desafios e contemplamos novos horizontes.<br />O link que nos acessa à rubrica “Comunidade” nos revela um novo conceito dessa experiência, que se estrutura (e se realiza) com base em procedimentos tecno-informacionais geradores de formas inéditas de ciber-sociabilidade, em que incidem encaixes pessoais, comunitários e tribalizações imprevistas: a realidade virtual em muitos aspectos é similar ao real histórico do século 21, nas megacidades, em que as identidades se encontram em permanente cambialidade.<br />No YouTube nos identificamos com os fragmentos de uma “história recente real”, que nos seduz e nos inclui no espírito comum, tribalista, a partir das sensações de pertencimento a uma comunidade de cidadãos virtuais. E sendo estas forjadas por imagens, sons e tecno-afetividades, as suas regras de funcionamento cada vez mais têm modelado o sentido das comunidades presenciais, que, a seu turno, já são – ao longo da história - mediadas tecnologicamente. A diferença básica, no cibermundo, é que pela primeira vez na história, os anônimos, dispersos em meio às brumas do real, doravante, afetivamente e tecno-socialmente conectados podem se reencontrar.<br />A categorização em termos de “Grupos”, “Concursos” e “Blogs” expressa o resultado de cuidadosas estratégias de marketing digital; demonstram funcionais recursos mercadológicos, que não deixam de ser atravessados por novas fundações estéticas, sociais e políticas instauradas no próprio campo das hipermídias, como culto ou como sátira, mas sempre como o resultado de um “pensar-pulsar” coletivo. <br />As comunidades do YouTube são irradiadas pelas mediações dos usuários-cidadãos advindos de diferentes nichos socioeconômicos e culturais, que participam ativamente dos “concursos” tramados pelos gestores das redes. E, como uma ferramenta da comunicação interativa, que serve de matriz para o jornalismo on line, o blog instalado na página do YouTube, atua como canal informativo aberto igualmente à participação dos internautas, muitas vezes modificando a forma, a direção e o significado da proposta originalmente inscrita na página eletrônica.<br />3. Competência técnica, educação estética e memória afetiva<br />Os processos hipermidiáticos são eficazes na partilha das informações, na experiência cognitiva e no trabalho educativo. Nessa direção, as contribuições de Braga & Calazans (2001) nos ajudam a distinguir os “sistemas educativos” dos “sistemas midiáticos”, e estes, dos distintos “processos comunicacionais” e “educacionais”. Caberia retomar esta perspectiva contextualizando ambos os sistemas e processos numa ambiência social mediada pela tecnologia.<br />Na sociedade midiatizada, como sugere Morin (1997), a experiência educacional envolve, de maneira complexa, as dimensões biológicas, psicológicas, sociais, ético-políticas e cognitivas do ser humano, e ultrapassa o âmbito dos sistemas educativos tradicionais, circunscritos às práticas pré-formatadas da escolarização. <br />Pode-se aprender usando o YouTube, em sala de aula e em casa, na conexão com os grupos de interesse, na convergência de diferentes comunidades, captando e partilhando imagens, sons e discursos. Os vídeos do YouTube, como exuberantes janelas da vida cotidiana, são bons condutores de informação e reveladores das facetas do mundo social e cósmico que geralmente ocorrem desapercebidamente. <br />Logo, a ambiência virtual gera percepções educativas. Não o faz, é claro, nos moldes tradicionais, mas envolve os processos biopsicológicos, neuro-sensoriais, tácteis, físicos, corporais. O YouTube ativa a cognição por meio de um envolvimento total em que o corpo e a mente são mediados pelas infotecnologias conectadas nos terminais da inteligência coletiva. E cumpre ressaltar, esse fenômeno é ontologicamente anterior à configuração tecnológica atual, pois está ligado à vontade de saber, à curiosidade e ao senso de sobrevivência e expansão das culturas humanas.<br />No que concerne à realidade mediada pela tecnologia, caberia ressaltar aqui a influência do pensador Gilles Deleuze (1925-1995), também atuando vigorosamente no domínio da filosofia das artes e ofícios, das técnicas e da comunicação.<br />Estudando a internet, notamos que em nossa época, a experiência educomunicacional transcende a área de concentração dos sistemas educativos e midiáticos. Da empiricidade das redes tecnológicas de comunicação à reflexão teórico- metodológica, assim como a sua aplicabilidade (dentro e fora de sala de aula), há um vasto caminho tem sido realizado. <br />A propósito, para uma exploração acerca do fenômeno de convergência escola-comunidade-tecnologia, uma parcela importante de professores-pesquisadores tem formado grupos de trabalho na área, e têm incansavelmente despendido esforços para contribuir no sentido de superarmos as contradições que separam a modernidade tecnológica e o projeto de modernização social, alguns trabalhos disponibilizados em rede podem comprová-lo.<br />(OROZCO) discute as novas tecnologias, a comunicação e a educação como um conjunto importante para a formação do cidadão na sociedade democrática. Chama a atenção para a importância da desnaturalização das tecnologias, mostrando como elas aparecem e são orientadas no sentido de políticas voltadas para o mercado e o consumo, menosprezando a lógica dos interesses de cada Estado-nação e das diferentes culturas. Outro aspecto que salienta é o da vinculação das novas tecnologias à educação. Aborda este tema a partir da racionalidade eficientista e da racionalidade da relevância. No primeiro caso, a prática consiste em incorporar as novas tecnologias ao processo educativo já estabelecido, sem preocupação com a efetiva aprendizagem. No segundo caso, trata-se de priorizar o aprendizado, reorientando a lógica das tecnologias para uma apropriação que parte da realidade cultural do educando e tem como finalidade a transformação do sentido da instituição escolar. Ao final, destaca o papel do comunicador na reorientação dos meios de comunicação e no acompanhamento do processo educativo. (OROZCO, 2002)<br />A comunicação que se articula no domínio do YouTube retoma o seu sentido anterior, original, histórico-conceitual, ligado à idéia de comunitas, a medida comum, e assim realiza a idéia da linguagem como formadora de comunidades, forjando aproximação das fronteiras simbólicas e sociais que separam os humanos, como lugar de fundação do ethos e da convivência em comum. <br />Os websites de vídeos consistem num eficiente campo de produção de conteúdos, mas a sua principal virtude está em seu aspecto relacional, ao promover novas relações de sentido que alimentam o conhecimento dos seres humanos. A realização plena desta experiência vai depender evidentemente da forma como utilizaremos tais meios, mas cumpre entender que os websites apresentam antecipadamente as condições instrumentais e semiológicas para assegurar o êxito de um acontecimento tecno-social, político e comunicacional sem precedentes.<br />A internet, como uma nova paidéia midiática, pode ser utilizada enquanto um vetor importante no trabalho de formação e iluminação do espírito; nessa direção cumpriria recorrermos às idéias de Orozco (2007) e suas ponderações acerca da conexão que reúne o campo dos saberes e práticas educativas tradicionais e o campo das tecnologias da comunicação como mola propulsora do saber-fazer e do compreender, liberando vigorosas modalidades de empoderamento pessoal e coletivo.<br />Basta uma varredura nos sistemas de busca para encontrarmos um repertório formidável de vídeos contendo o “melhor” da música clássica, das artes plásticas, e os produtos celebrados da publicidade, jornalismo, moda e entretenimento.<br />Relembrando Paulo Freire (2000) e os seus postulados em favor de uma “pedagogia da autonomia”, e atualizando o seu contributo no contexto da economia e sociedade informacional, entendemos o sentido das palavras, imagens, sons e textos, como elementos geradores de sentido. Assim, apostamos ser preciso negociar com linguagens próprias do universo dos usuários, e-leitores, cibercidadãos imersos na “cultura da virtualidade real”, para estimular e atualizar novos hábitos de leitura. <br />Em verdade, as narrativas telemáticas dos vídeos de filmes disponibilizados em rede geram novos modos de ler as imagens, sons e textos; é neste sentido que Santaella mostra a entrada em cena do “leitor imersivo” (2004b), para interpretar os atuais procedimentos de leitura, percepção e cognição, em que ocorre o envolvimento neuro-sensorial, perceptivo e cognitivo total. E convém notar, falamos em 2011, antes da popularização dos dispositivos locativos audiovisuais conectados à tecnologia 3D.<br />4. A paródia e o riso da praça pública digitalizada<br />O YouTube é um canal de diversão e entretenimento mas consiste em uma experiência que nos leva a aprender coisas, mesmo quando parecemos estar jogando. E importa saber de que aprendizado estamos falando: instrumental, lúdico, comercial, ético-político, técnico, científico, artístico-cultural? Partimos da suspeita que a resposta vai depender do uso que fizermos do YouTube.<br />Aprendemos com o site na medida em que percebemos que naquele ambiente tecnoinformacional se projetam as expressões da cultura e do seu contrário. Ou seja, tudo aquilo que não faz parte da cultura oficial, nem da cultura popular, nem de massa (pois não são exatamente coisas da televisão), nem foram sedimentados no repertório da contracultura, mas consistem numa parte essencial das estruturas do cotidiano presencial e digital. São fatos, ocorrências e temas incorporados pelos milhões de usuários, que tratam de viralizá-los e assim, fabrica-se um acontecimento, que passa a ser incorporado às conversações dentro e fora das redes sociais.<br />Cumpre destacar um trabalho pioneiro no Brasil sobre o YouTube, realizado por Erick Felinto (2006), “Videotrash: O YouTube a Cultura do ‘Spoof’ na Internet”. A partir da sua leitura entendemos que o autor reconhece nos vídeos postados bons difusores de informação, são expressões de uma poética tecnológica, mas funcionam, sobretudo, como paródias, desmontagens e remontagens do sentido de outros produtos midiáticos, como a TV, o cinema e a publicidade.<br />A expansão exponencial da internet como banco de dados tem favorecido a preservação e difusão de informação tradicionalmente considerada como descartável ou de pouco valor cultural. Vídeos pessoais, produções independentes, álbuns de fotografias ou trabalhos colegiais constituem apenas alguns exemplos do tipo de material que começa a multiplicar-se no espaço da rede. “datasmog”, ou “nuvem de dados”, difícil de analisar e inédita na história da humanidade, antes caracterizada essencialmente pela escassez da informação. Dentre essa produção crescente, destaca-se a prática que vem sendo denominada como “spoof”, ou seja, as virtualmente infinitas variações paródicas em torno de produtos midáticos de grande circulação, como comerciais e seriados de televisão (FELINTO, 2006, pág. 1).<br />Há outra perspectiva de análise pertinente a uma mirada no YouTube, quanto ao seu poder de revelar a alteridade da cultura, e que pode ser considerada a partir de uma apropriação da teoria estética e social formulada por Muniz Sodré, que nomeia o kitsch, a “parte maldita”, a estranheza da cultura midiática como uma “comunicação do grotesco” (1983). E num livro mais recente, Sodré (em parceria com Raquel Paiva), lança um olhar sobre a relação entre a comunicação e a cultura, sob o grifo de “O império do grotesco” (2002). Assim, perseguindo os rastros de uma estética do “mau gosto” na literatura, nas artes plásticas, no cinema, na televisão, os autores nos oferecem algumas bases epsitemológicas para repensarmos a complexidade moral das culturas populares e sua transcrição na signagem da cibercultura. <br />Buscando compreender a significação desta experiência tecno-comunicacional forjada pelos sites de vídeos na internet, fizemos um mapeamento seletivo de alguns vídeos à guisa de interpretação, que poderiam caracterizar - em níveis diferenciados - as expressões do lixo midiático, do kitsch, do grotesco no contexto do YouTube, sem esquecer a dimensão irônica, positivamente desconstrutiva e dialógica da comunicação colaborativa, assim como a sua dimensão estética, social e filosófica.<br />a) Um dos episódios mais célebres da internet foi o caso da modelo e apresentadora de tv Daniela Cicarelli, que consiste numa devassa à intimidade da celebridade; uma filmagem da modelo fazendo amor com o seu parceiro numa “praia deserta” da Espanha, o que resultou num vídeo partilhado por milhões de internautas. Este é um fato controverso, sensacionalista, que consiste num elemento forte para entendermos as nuances da relação entre as mídias e a “cultura do espetáculo”.<br />O vídeo apresenta elementos para discutirmos a questão delicada da ética, da censura e do controle social da informação no terreno das “novas mídias”, uma vez que o vídeo foi retirado do YouTube por decisão de um juiz brasileiro, constituindo um dos primeiros casos de censura no campo da comunicação digital. Mas isto não impediu que os internautas voltassem a postar o vídeo-tabu, da “Cicarelli na praia”, e principalmente, instalassem paródias desmontando o sentido do “vídeo original”.<br />b) As visões escatológicas do enforcamento de Saddam Hussein encerram um episódio que condensa um outro lado do “terror midiático”, do grotesco com ênfase no escatológico e revelam elementos para compreendermos as atrações dos espectadores pelas imagens extremas, pela simulação do crime e castigo ou simplesmente pela projeção do mal na segurança das redes e telas. <br />Milhões de usuários acessaram ao vídeo com as imagens radicais do enforcamento, o que significa um novo estilo de espetacularização, a banalização da morte midiatizada, um flagrante do voyeurismo do horror contemporâneo, enfim uma característica tristemente presente na nossa cultura, marcada pelo “imperativo da visibilidade”, em que se consolidam formatos midiáticos como o Big Brother que, por sua vez, resulta das tecnologias do voyeurismo intensificadas com as micro-câmeras instaladas nos computadores domésticos.<br />c) A divulgação no YouTube de um vídeo exibindo socialities do Rio de Janeiro, do alto de suas coberturas, atirando divertidamente ovos nos carros e pedestres, constitui um elemento grotesco que traduz o horror dos nossos abismos sociais, um indício revelador dos traços canhestros da nossa formação sociocultural.<br />A sua positividade reside em conceder transparência e visibilidade à falta de ética e a irresponsabilidade por parte de segmentos da elite econômica. Mas, principalmente instiga a uma reflexão acerca da supressão das fronteiras entre o campo da esfera privada e da vida pública. A videocultura do self , no YouTube, nos alerta para a apologia do valor de exibição, em detrimento dos valores humanos; <br />d) O humor do teatro foi instalado na internet através dos vídeos de um grupo cênico, chamado de Terça Insana, mostrando - por novos canais audiovisuais - as maneiras como a sociedade pode se ver e se autocriticar. Se por um lado, revela os traços de nossos tempos minados pelos “medos líquidos”, na solidão das grandes cidades, por outro lado, revela, de modo politicamente incorreto, as estratégias de desmontagem das pequenas verdades narcísicas cotidianas; além disso, se constitui num surpreendente canal de divulgação das artes minimalistas do teatro alternativo, que ganham outras modulações e extensividades na contracultura das redes, e migram para outros espaço de encenação após a sua popularização na internet. <br />e) Por sua vez, as charges animadas do desenhista Maurício Ricardo, disponibilizadas no YouTube, significam competentes expressões gráficas, animações eletrônicas, articulando o design arrojado e a inteligência mediada pelos recursos das artes ciber-tecnológicas. É vetor de difusão de uma modalidade de expressão estética corrosiva, por meio das sátiras políticas, dos costumes urbanos, tornando-se uma mania nacional, que ganhou repercussão global, principalmente quando postadas no YouTube, desdenhando os poderes coercitivos, as celebridades, as zonas de tensão da cultura. E, convém notar que a potência de um dispositivo minimalista como o YouTube não cessa de contaminar as mídias anteriores (jornal, rádio, televisão), atualizando os seus conteúdos, politizando as suas mensagens e, enfim, conferindo novos à ambiência tecno-comunicacional.<br />f) O caso mais expressivo no tocante à arte minimalista do YouTube talvez seja a extraordinária audiência do vídeo Tapa na Pantera, interpretado pela atriz Maria Alice Vergueiro, que simulando uma peça de teatro do absurdo, descreve as experiências com a maconha. O vídeo é importante porque expressa a originalidade dos jovens cinegrafistas (e videastas) que, de maneira transgressiva, ousaram saber se utilizar dos dispositivos telemáticos. Estes jovens instalaram procedimentos de crítica aos valores cristalizados pelos segmentos sociais mais fechados à discussão dos temas tabus, como o uso dos alucinógenos. Isto é, por intermédio de um expediente midiático corriqueiro, os jovens iniciados na prática audiovisual e informacional, colocaram em discussão alguns problemas de ordem moral, jurídica, social e política. Desnudaram os valores de uma sociedade que parece ter-se realizado em termos de modernização tecnológica, mas que permanece sem competência para discutir questões tocantes aos direitos humanos e às liberdades individuais.<br />A experiência é relevante ao resgatar o talento da atriz Maria Alice Vergueiro, um ícone da dramaturgia nacional e que talvez ficasse desconhecida pelas novas gerações se não fosse a iniciativa dos jovens videastas, conhecedores da importância publicitária de uma hipermídia como o YouTube. E, cumpre ressaltar a maneira como a partir da divulgação do vídeo da atriz-personagem experimentou migrações para outros nichos midiáticos, como a televisão.<br />São produtos, visitados por milhões de internautas, que constituem o outro lado do humor, ligado à paródia, à comicidade, ao riso da praça pública virtualizada. Ácidos e inteligentes, os conteúdos dos vídeos postados no YouTube traduzem a maneira como os artistas, criadores, voluntários e aficcionados se utilizam do meio para expressar ao seu modo uma “ironia da comunicação”, que coloca em xeque os valores políticos, morais e socioculturais, como escreve Jeudy (2001). Estes sites atualizam, uma carnavalização da vida cotidiana nos termos descritos por Roberto da Matta, no livro Carnavais, malandros e heróis (1983); só que no YouTube foram modificados os procedimentos estéticos e ideológicos da antropofagia.<br />5. Das narrativas da televisão às narrativas telemáticas<br />O YouTube é signo de diversão e entretenimento mas o seu poder de resgatar imagens e significações “antigas” implica também numa outra maneira de se conhecer e de se reescrever a história. O cenário vai mudar: Cronos (e a legiferância do relógio) cederá terreno a Hermes (e a estratégia da interpretação dos símbolos e alegorias).<br />A convergência das imagens e sons do presente e passado, por meio das info-tecnologias, reunindo distintas temporalidades, favorece a desconstrução digital da “memória cristalizada” e propicia uma nova e vigorosa contemplação do mundo. <br />Para entender a cultura tecnológica que estrutura a dimensão do imaginário contemporâneo, convém contextualizar historicamente a inserção de uma organização sociocultural e política como a nossa, na chamada “era da informação”: porque os conteúdos audiovisuais da mídia analógica estão migrando para o campo das mídias digitais, e porque as gerações do teatro, da televisão e do cinema estão se encontrando nos espaços abertos pela cibercultura, por exemplo, no YouTube, que armazena, atualiza e coloca a disposição dos assinantes-usuários-cidadãos imagens e sons que alimentam a sua consciência lúdica, política, ético-comunicacional.<br />E nessa direção, é de bom presságio atentar para as sugestões de Barbéro & Réy (2001), que examinando as culturas latinas, apontam para a importância da conexão entre a oralidade presencial e a sociotecnicidade, como caminho explicativo do estágio atual da nossa formação cultural e das interculturalidades tramadas nas sociedades contemporâneas globalizadas. E por essa via se abrem os caminhos para a construção das identidades individuais e coletivas.<br />Assim, vislumbramos uma cultura audiovisual instalada pela mídia eletrônica, particularmente pela televisão, em seus diversos nexos temporais. Desde as sessões matinais e vespertinas, passando pelo longo trabalho da teledramaturgia e pelas repetições da “sessão coruja”, na televisão, que fustigaram o imaginário de quatro gerações, nos anos 60, 70, 80 e 90, encontramos as origens da atual cultura latina midiatizada, hoje animada também pela ficção digitalizada. <br />Hoje, podemos revisitar o passado audiovisual recente através da internet. As imagens e sons da teledramaturgia são disponibilizados nos sites de vídeos, acessíveis em DVDs e outros dispositivos locativos, e assim, nas tramas da cultura digital, atualizam a relação entre as narrativas da história e as narrativas de ficção. <br />Um bom exercício nas salas de aula pode ser experimentado a partir da captura de vídeos no YouTube, condensando imagens, sons e textos da Revolução de 30, Golpe de 1964, retorno dos exilados, abertura política, movimento pelas eleições diretas, morte de Tancredo Neves, impeachment de Collor e eleição do Presidente Lula. Um exercício de comunicação comparada que pode ser exitoso através dos meios tecno-colaborativos e monitoramentos realizados pelos cidadãos conectados.<br />O website YouTube libera as memórias afetivas e sentimentais das gerações dos anos 60, 70, 80 e 90, mas principalmente apresenta uma memória do futuro, que - através da interacionalidade - atualiza as nossas percepções e experiências cognitivas, a partir das imagens sons já inscritos nas ficções do século passado.<br />O armazenamento e partilha dos vídeos instalados na internet leva - de maneira similar - a uma atualização das leituras estéticas e sociais do cinema mundial, assim como instiga novos modos de se ver e rever o cinema mundial, em suas versões nacionais, estrangeiras, globais, locais, dubladas, legendadas e interativas. <br />Doravante, quase todos os filmes do mundo estão ao alcance dos cinéfilos, esetas, jornalistas e pesquisadores; os filmes de Chaplin, Os dez mandamentos, 2001 uma odisséia no espaço, Asas do Desejo, por exemplo, obras clássicas da cinematografia, que têm povoado a imaginação de milhões de pessoas há décadas, encontram-se à disposição para análises, críticas, remontagens e novas degustações. <br />E o melhor de tudo isso é que os fotógrafos, músicos, cinegrafistas e videastas autônomos e independentes, empoderados pelas tecnologias, têm a chance de apresentar o seu trabalho para uma grande audiência sem sair de casa.<br />No Brasil, particularmente, do qual se fala que não se reputa exatamente por uma preocupação com a memória nacional, verificamos que a partir da “invenção” dos websites de vídeos é possível se falar na reconstrução de uma memória do cinema nacional. E o mais importante, a renovação da crítica cinematográfica que pode ser conectada em rede por leitores, cinéfilos, pesquisadores.<br />No YouTube encontramos fragmentos de obras como as chanchadas, os filmes raros como Limite, Bye Bye Brasil, O pagador de promessas, Terra em Transe, Macunaíma, Dona Flor e seus Dois Maridos, assim como as relíquias do cinema novo, do super-oito, das pornochanchadas e do cinema marginal.<br />As obras primas dos documentários nacionais, por meio dos processos digitais, podem ser revistos, criticados, parodiados e reformatados. Igualmente reencontramos trechos de documentários raros e prestigiados como Aruanda, Ilha das Flores, Aqui estamos nós que esperamos por vós, Janelas da Alma: singularidades da cultura audiovisual, que sendo capturados nos sites e armazenados na segurança dos novos meios, tornam-se farto material de estudo e vigoroso instrumento de aprendizagem. <br />Faz-se necessário introduzir nos currículos dos cursos de arte e mídias uma teoria contemporânea dos audiovisuais, com base numa epistemologia complexa, reunindo um feixe teórico abrangendo uma teoria do cinema, do vídeo, do rádio, da televisão. Tais teorias devem estar conectadas aos domínios da antropologia, história, semiótica e sociologia da comunicação. Esta é uma estratégia que pode ajudar na interpretação do sentido dos audiovisuais como elementos propulsores das experiências fundamentais da estética, poética e catarse. <br />Em síntese, os audiovisuais que, são interessantes como objetos empíricos e objetos de contemplação, adquirem outro status fenomenológico quando reterritorializados na ambiência do ciberespaço, principalmente porque podem ser – doravante – conectados com outros “actantes” (atores-redes de informação), podem compartilhar conteúdos com outros internautas e podem atualizar e revitalizar os projetos artísticos culturais presenciais.<br />O processo de interculturalidade, que caracteriza a cultura audiovisual e tecnológica atual, adquire força poética a partir das narrativas conectadas na atual cultura de convergência, em que concorrem a fotografia, a música, a literatura, o rádio, o cinema e a televisão na configuração de um meio novo, a internet. <br />Esta convergência de mídias vem moldando a percepção sensorial, a memória afetiva, a inteligência conectiva, as identidades e sociabilidades contemporâneas, além de abrir oportunos espaços nos mercados emergentes. <br />A compreensão do papel das “velhas mídias” (e os seus processos de transformação pelas “novas mídias”) pode levar os pedagogos, estetas, intelectuais, jornalistas, formadores de opinião - educados pelas matrizes culturais analógicas tradicionais - a adquirirem outra atitude face à efervescência cultural contemporânea, a se empenharem numa comunicação mais interativa com as novas gerações.<br />6. A arte de contar estórias breves na internet<br />Os sites de vídeos nos permitem contemplar fotos, músicas, filmes, animações, artes plásticas - desde as obras primitivistas e religiosas, passando pelo renascimento, barroco, romantismo, realismo, vanguardas históricas até as expressões pós-modernas. <br />Podemos igualmente rever as cenas raras do chamado “cinema de arte”, ilustre desconhecido da “geração Harry Potter” e podemos ainda nos inteirar das novíssimas experiências estéticas, em que se mesclam filmes de animação, games eletrônicos, vídeos musicais, todos conectados em rede e compartilhados nos sites de conversação.<br />Contudo, o fundamental nos sites de vídeos é a instauração de um lócus privilegiado para o exercício da potencialidade criativa dos novos artistas. <br />Como exemplo admirável da ciberarte, encontramos o vídeo intitulado i.mirror, uma epifania dos fenômenos trans-estéticos, em que as narrativas e conversações se realizam nos ambientes virtuais. <br />Por meio de uma inteligência coletiva conectada, nos comunicamos com nossos semelhantes, outros avatares, num contexto semiotizado pelas experiências simuladas. A grande diferença, em relação ao mundo da ficção científica, é que neste novo mundo podemos formatar as nossas identidades, nossas relações afetivas, ético-políticas e modificar – daí por diante – as instâncias do mundo virtual e presencial.<br />A artista chinesa Cao Fei, publicamente conhecida por meio do seu nickname, avatar, apelido virtual China Tracy, produziu os personagens, os cenários, as conversações, uma bela trilha sonora, os instalou no metaverso do website de relacionamento Second Life. E, além disso, armada de uma câmera digital, realizou uma espécie de documentário “machinímico”, resultando num objeto “sublime tecnológico”, que participou da Bienal de Veneza de 2007, uma instalação, na qual os espectadores bem acomodados numa estrutura inflável puderam assistir ao vídeo.<br />Em verdade i.mirroir é constituído por três vídeos formando o que entendemos como a atualização do desejo de realização da obra de arte total, uma poética tecnológica da interacionalidade, que traduz a beleza da arte na hipermodernidade. <br />Eis um leque de imagens insólitas, fantásticas, transcendentais, em que apreciamos o som e o silêncio no ecossistema das redes. <br />As narrativas de animação virtual, com o “i.mirroir” criam uma ciberpaisagem em que interagem, simbioticamente, o concreto e o virtual, os seres humanos e as suas extensões mentais encarnadas nos seus avatares. E estamos a um passo da convivência entre pessoas e avatares, no espaço doméstico infoconectado em 3D.<br />O vídeo i-mirroir atualiza o complexo de Ícaro. Na realidade virtual do Seconde Life, é simulada a experiência de teletransporte dos corpos. No cibermundo isto é possível; uma atualização radical do desejo ancestral do homem voar.<br />Assistindo ao vídeo, observamos a potência semiótica e cognitiva gerada pela convergência de meios. A conexão em rede dos usuários do Second Life, YouTube, FaceBook, Twitter, etc., permitindo capturas acertadas e sacadas inteligentes, como diversão ou como cognição, a videocultura do YouTube não deixa os usuários impunes; introduz o germe da curiosidade, da transcendência ou da perplexidade.<br />O vídeo do YouTube, em questão, o i-mirroir, consiste num caso de digitofagia, pois resulta da assimilação e transformação de uma vídeo-narrativa, gerada no site de relacionamento Second Life.. É um exemplo vigoroso de Art-NET, cujo itinerário se inicia na imaginação criativa de uma especialista em computação gráfica, passam pelas fibras óticas das redes sociais, e chega ao espaço público digital, irrigando as conversações on line com lirismo e poesia.<br />7. Para concluir: Uma visão mitopoética da TV do futuro<br />Observando o YouTube, obtemos as pistas para compreendermos os rumos dessa formação cultural recente em que se reúnem o analógico e o digital, o virtual e o ficcional. Cumpre observar como - neste percurso - se instauram outras modalidades do saber-fazer, novas inteligências, sensorialidades e competências, que nos levam a uma inusitada e gratificante contemplação do mundo virtual.<br />Deparamos com um produto cultural e comunicante radicalmente novo. E ao mesmo tempo, compreendemos o sentido de uma experiência em fase antecipada de transformação e já em vias de desaparecimento, sem deixar de sugerir as pistas para a emergência de novos procedimentos sócio-tecno-comunicacionais, corrigindo, ultrapassando e otimizando o seu desempenho. <br />Convém persistir na apreciação destas novas modulações da arte & mídia, que fascinam pela sua intersecção poético-tecnológica, em que os atores sociais plugados em rede não cessam de interagir. Mas devido ao seu próprio caráter de novidade - assim como o excesso, as repetições e a extrema liberdade de acesso e utilização - estes novos produtos exigem o rigor de um olhar seletivo. Convém separar o joio e o trigo, esvaziando a lixeira e apreciando as pepitas de ouro jogadas no exuberante manancial que jorra das águas da cibercultura.<br />
Hermes   cap. 5 - you tube artes, invenções e paródias da vida cotidiana
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  • 1. Capítulo 5<br />YouTube: artes, invenções e paródias da vida cotidiana <br />Em princípio, a consagração do dispositivo midiático YouTube junto às novas gerações parece um mero efeito da moda: são milhões de jovens do mundo inteiro conectados em rede e os brasileiros ocupam uma parcela importante deste contingente. Contudo, um olhar mais atento percebe que se trata de uma experiência radical de compartilhamento e interacionalidade. O YouTube realiza o sonho de uma multidão de aficcionados em arte, história, música, literatura, esporte, fotografia, cinema, televisão, turismo, moda, publicidade, desejosos de construir a sua própria programação audiovisual. E desta vez, os atores sociais em rede, podem realizar seus desejos através de procedimentos colaborativos sem precedentes. <br />A experiência cultural na era da informação é de natureza distinta daquela realizada no tempo forte da cultura de massa; mudaram as relações entre o autor, o meio e a obra, o emissor, o meio e o receptor, e mutações importantes ocorreram também nos modos de subjetividade e de sociabilidade. A cultura audiovisual, hegemônica desde a época de ouro do rádio, irradiada com o cinema e a televisão, se transformou bastante graças aos processos de digitalização, conexão, mobilidade e compartilhamento dos conteúdos.<br />O YouTube foi criado em fevereiro de 2005 e (a partir daí) teve um crescimento impressionante. Nada menos que 65 mil pessoas publicam diariamente novos vídeos no site, que recebe imagens sem censura prévia. O jornal Los Angeles Times comparou o fenômeno YouTube ao surgimento da rede CNN, que nos anos 90, revolucionou os modelos de televisão adotados no mundo ao lançar uma programação baseada apenas em notícias e informações. O YouTube abriu as portas do mundo da imagem para milhares de cinegrafistas e fotógrafos amadores que passaram a postar imagens, provocando uma mudança radical nos padrões de vídeo jornalístico na imprensa mundial. (Observatório da Imprensa, 26.02.2007).<br />A ação dos fluxos informacionais conectados aos audiovisuais, além de implicar num simples efeito eletrônico, tecno-cognitivo, abre radiosos feixes de luz para apreendermos aspectos da realidade esquecidos, escondidos do ângulo da visibilidade pública ou difíceis de serem captados pelas nossas retinas orgânicas.<br />Novos desafios se colocam para os historiadores, sociólogos, antropólogos, jornalistas, educadores, informacionistas diante de uma experiência cultural como a nossa, inteiramente atravessada pelos fluxos midiáticos <br />Cumpre entender a dimensão afirmativa da comunicação digital, que dissemina uma “cultura da virtualidade real” (CASTELLS, 1999), e que não cessa de instigar novas redes de solidariedade. Como mostram Lévy (1998), Kerckhove (2008), Di Felice e Pireddu (2010), respectivamente, as teias sócio-informacionais irrigam uma “árvore do conhecimento” (1992) que dissemina uma forma inédita de inteligência coletiva conectada.<br />Os meios digitais provocam estímulos, idéias e interações importantes demais para serem ignorados, pois se infiltram nos espaços e tempos das experiências pessoais e coletivas, gerando graves transformações. Logo, é uma passagem incontornável em nosso percurso e convém tirar partido da nova ambiência cultural. <br />Na educação, nos negócios, na política tais transformações têm sido percebidas em obras recentes como A ecologia pluralista da comunicação (SANTAELLA, 2011), Psiquê e technê. O homem na idade técnica (GALIMBERTI, 2006), e A hora da Geração Digital (TAPSCOTT, 2010), entre outras.<br />Todavia, a cibercultura consiste numa experiência complexa e evidentemente resulta em estudos críticos, como o livro O culto do amador. Blogs, MySpace, YouTube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores (KEEN, 2009), cujo subtítulo polêmico já instiga um debate caloroso. Nessa via, há outros interlocutores, cujas oposições, contribuem para atualizar a nossa interpretação: The Digital Dialetic (LUNEFELD, 1999), Introdução às teorias da cibercultura, e Cibercultura e pós-humanismo (RUDIGER, 2007; 2008).<br />A nossa perspectiva de análise, partindo de um prisma histórico-hermenêutico, busca interpretar os efeitos do YouTube junto às comunidades, e no que concerne à posição da comunidade acadêmica nos parece estimulante adotar um princípio interdisciplinar, “dialógico”, “polifônico”, como sugere o grande intérprete da cultura Mikhail Bakhtin (1981); logo, enfrentamos as posturas divergentes apostando que este é um meio de se conseguir um “conhecimento aproximado” do objeto de estudo.<br />Apoiamo-nos numa base epistemológica, antes de tudo muito atenta a potência estética, sensorial, comunicante da página eletrônica do YouTube e nos empenhamos numa reflexão teórica norteada pelas idéias de alguns pesquisadores que tentam decifrar o sentido da cultura audiovisual e tecnológica emergente.<br />Para compreender o YouTube, buscamos nos guarnecer de um método e este flui – quase – espontaneamente do próprio ato de acessar, interagir, compartilhar os seus conteúdos com as comunidades virtuais que as redes sociais propiciam. Assim, o primeiro passo é a observação sistemática, o trabalho descritivo da estrutura e funcionamento do site, uma netnografia, um mapeamento seletivo dos conteúdos à guisa de análise, crítica e argumentação. Todavia, este processo se realiza simultaneamente à organização das leituras sobre a área de interesse e sobre o objeto específico, o que define – hermenêuticamente – um estágio de pré-entendimento.<br />E, é sempre salutar estabelecer uma contextualização histórica e social, no exercício de contemplação do mundo digital, no caso, as formas culturais na era da comunicação eletrônica colaborativa, mas sem jamais perder de vista a necessidade de atualização na área. Assim, alguns estudos específicos podem ser fundamentais: YouTube e a Revolução Digital (BURGESS & GREEN, 2009), Watching Youtube. Extraordinary videos by ordinary people (STRANGELOVE, 2010), The YouTube Reader (VONDERAU & SNICKARS, 2009), YouTube in Music Education (RUDOLPH & FRANKEL, 2009).<br />O estado da cultura na “era da informação” tem sido analisado diferentemente por vários autores, como André Lemos (2004) examinando as mídias digitais, a partir de uma “antropológica do ciberespaço”; Marcondes Filho (1996) apreciando criticamente a “cultura comunicacional, as tecnologias e a velocidade das mídias”; Primo (2007) explorando a “interação mediada por computador”; Parente (2007) examinando a cultura das redes como uma nova dimensão da comunicação; Arlindo Machado (1998, 2000, 2002) e Santaella (2004) analisando as mídias e as suas interfaces nos campos da arte, linguagem, estética e tecnologia.<br />Estrutura e funcionamento do YouTube<br />O YouTube é produto de uma gigantesca corporação (Google) surgida no âmbito do turbocapitalismo, programado para acelerar a rentabilidade do lazer e entretenimento, mas escapa às limitações de um produto simplesmente mercadológico, devido ao potencial como vetor de obra de arte audiovisual, rizoma colaborativo - emanando sentido em todas as direções - que atua vigorosamente sobre a percepção sensorial, a memória afetiva e a inteligência coletiva. <br />Por meio de uma razão lúdica, os usuários descobrem diversos modos de saber-fazer e de interagir nos espaços públicos digitais. Ferramentas como o YouTube propiciam a formação de redes sociais e geram modos de conhecimento, mesmo quando parecem voltadas apenas para a diversão e o entretenimento. <br />Proativamente, recolhemos alguns dos “mosaicos conceituais” do pesquisador mcluhaniano Kerckhove (2009) para repensar o YouTube, “quando a televisão se casa com o computador na auto-estrada da informação”. Nessa perspectiva o site atua sob o “stress da velocidade, aceleração e crise”, sem deixar de forjar uma “arte salvadora”, quando queremos “ver mais, ouvir mais e sentir mais” (p.131). E gera assim uma usina de idéias que ativa as redes neurais e a inteligência coletiva conectada.<br />Ao abrirmos a página principal do YouTube, numa primeira leitura, percebemos - na sua configuração, desenho e engenharia - um reflexo sócio-técnico dos modos de ser, pensar e agir do ser humano pós-industrial, principalmente das novas gerações. Logo, as matrizes reticulares da internet revelam as matrizes culturais (estéticas, semiológicas, cognitivas) dos atores sociais que formaram uma consciência do mundo através dos audiovisuais e que estão atuando na esfera pública digital.<br />Na composição da página inicial lemos os títulos e subtítulos, hiperlinks (nós, ligações), que designam as entradas, vias de acesso aos “vídeos”, “canais” e “comunidades”, enunciados como referências operacionais. Isto é, tecnicamente funcionam como meios de acesso aos conteúdos. Mas no plano da imaginação vigilante e criadora, como sugerem Bachelard (1996), e Durand (1994), ao clicarmos com o mouse sobre cada link, sobre cada uma dessas frases eletrônicas, entramos em sintonia com as comunidades afetivas dispersas na cartografia da vida cotidiana.<br />A internet consiste numa hipermídia cujo público-alvo é preferencialmente a “geração ponto.com”, do pós-cinema (MACHADO, 2002), pós-televisão, pós-MTV; Trata-se de uma estratégia socio-tecno-informacional específica das “culturas do consumo” (BACCEGA, 2008) “culturas juvenis do século XXI” (BORELLI & FREIRE FILHO, 2008), “culturas de convergência” (JENKINS, 2008), que caracterizam a realidade eletrônica contemporânea.<br />Ao mergulharem nas águas profundas da cibercultura, em sites como YouTube, os jovens têm acesso a uma ambiência tecnológica, em que atuam com vigor, usando uma competência comunicativa em que se aliam inteligência cognitiva, percepção sensorial, agilidade de raciocínio e cooperação tecno-comunicacional.<br />A ambiência midiática, em que fulgura o YouTube, forma-se uma esfera pública midiatizada, típica da “sociedade do pós-espetáculo” (NOVAES, 2005), “em que não há mais distinção entre palco e platéia”, em que os personagens cedem lugar aos avatares, a representação clássica dá lugar à simulação interativa. Novos regimes de cognição, afetividade e socialidade concorrem para a realização dessa experiência inédita na história da civilização, em que se conjugam o imaginário e o simbólico, o concreto e o virtual, a mídia colaborativa e a sensibilidade tecnológica.<br />Em verdade, configura-se na paisagem cotidiana uma formação cultural bastante recente, que contagia os usuários de todas as idades. Esta nova configuração exige a paciência de uma nova epistemologia, e de um “novo espírito científico” (BACHELARD, 1995). Requer novas “imagens conceituais” para decifrarmos a conexão dos suportes audiovisuais, telemáticos, digitais e a convergência de distintas formações culturais, em que a oralidade, a escrita, a impressão, a audiovisualidade e a tecnicidade, interpenetram-se de maneira importante (SANTAELLA, 2003).<br />Convém atentar para a paisagem sociocultural e política que se transformou, fomentando novas “positividades”, outras epistemes (FOUCAULT, 1995), impondo um novo paradigma científico em ruptura com o da modernidade industrial. Hoje, na era do turbocapitalismo, agita-se um “bios midiático” (SODRÉ, 2002), “estranha forma de vida” gerada por processos tecno-comunicacionais, solicitando um enfoque analítico distinto do pensamento linear, analógico, cartesiano. <br />Empiricamente, descrevemos as estruturas e o modo de funcionamento do sistema midiático gerado pelos websites de vídeos, e estrategicamente elegemos o YouTube, como objeto de contemplação; a partir daí formulamos alguns elementos argumentativos para uma análise e apreciação crítica, e para uma aproximação possível desta experiência tão recente na história da cultura e da comunicação, mas que no entanto tem causado reviravoltas no âmbito da escola, do trabalho, dos mercados, da ação política, da vida em comunidade.<br />O YouTube: a escola, o mercado, o domicílio eletrônico<br />As categorias de vídeos disponibilizados no YouTube são fixadas em função das demandas dos clientes da internet, e resultam da atividade exaustiva das pesquisas de marketing digital, opinião e mercadologia. E aqui a palavra mercado, para além do seu sentido meramente mecânico, funcional, e deve ser entendida também no vigor do seu sentido orgânico, social e simbólico. O espírito de Hermes nos revela: o mercado é por excelência o lugar de exercício das trocas simbólicas vitais, do intercâmbio lingüístico-cultural, dos acordos, negociações e permutas coletivas. O e-comerce, o tele-marketing, o pay-per-bit “glocais” hoje evidenciam a sua gritante empiricidade.<br />Não se pode ignorar a potência simbólica que assegura a vigor da “comunicação e as culturas do consumo”: são teias que forjam as identidades, os níveis de sociabilidade e de empoderamento coletivo. Nesse contexto, o YouTube revela os modos do sentir e fazer coletivos, formas de identificação e pertencimento, uma percepção das artes e mídias como vetores estéticos, sensoriais, cognitivos.<br />Nessa direção, conviria consultar os estudos Culturas do consumo (BACCEGA, 2008), A hora da geração digital (TAPSCOTT (2020), Cultura da Interface (JOHNSON, 2001), A cultura digital (2002), A ecologia pluralista das mídias locativas (SANTAELLA, 2011).<br />Os links de acesso aos vídeos estão intitulados sob a forma de curiosas rubricas: “animais”, “ciência e tecnologia”, “educação”, “entretenimento”, “esportes”, “filmes e desenhos”, “humor”, “instruções e estilo”, “música”, “notícias e política”, “pessoas e blogs”, “veículos”, “viagens e eventos”. <br />O menu principal apresenta uma classificação aparentemente aleatória, mas que aponta para a própria natureza e sentido do nicho sócio-técnico-comunicacional que nos rodeia. Ou seja, o site é organizado em meio a uma aparente dispersividade de hipertextos que compõem as páginas eletrônicas.<br />Se o sistema de classificação, indexação e distribuição, por um lado mostra-se volátil, disperso, aleatório, por outro, indica um novo estado da arte tecnológica, encarnado pelo YouTube, que sabiamente se organiza e se comunica por meio de uma intuição enciclopédica, atenta aos jargões, gírias e idioletos que fervilham no cotidiano midiatizado . Mesmo efêmero, provisório, mutante, o repertório das redes expressa grande parte dos discursos, saberes, fazeres e invenções sócio-colaborativas do mundo presencial, que se atualizam permanentemente no mundo digital.<br />Verificamos um agendamento de temas que se organizam como os “mais recentes”, “mais comentados”, “mais conectados”, “mais respondidos”, “mais vistos”, “populares anteriores”, “destaques recentes”, “adotados como favoritos” e “bem avaliados”: o superlativo - genericamente - aponta para designações que parecem aleatórias, nômades, transitórias, mas resultam de um refinado planejamento de marketing pós-industrial, que revela a “tentação do híbrido” cortejando os corações & mentes, no estágio atual da nossa experiência cultural em veloz transformação. <br />A palavra “mais”, característica da nossa cultura do consumo e da competição acirrada, enfatiza a vontade de poder e o imperativo de visibilidade expressos nas escolhas dos usuários. E, apesar do caráter provisório da formatação, a enunciação dos temas demonstra o perfil cognitivo dos e-leitores, consumidores, cibercidadãos, que tentam se organizar – colaborativamente – na nova terra-pátria digitalizada.<br />A categorização dos vídeos nos permite compreender os seus encadeamentos lógico-funcionais, a sua intencionalidade. A configuração tecno-semiótica do site nos leva a interpretar os seus conteúdos como objetos imateriais, eletronizados, com alta potência sócio-comunicativa. E sua estrutura interacional permite aos usuários elaborarem eficientes “dispositivos sociais de resposta” (BRAGA, 2006). <br />Como por um efeito de feed back mediado pela tecnologia, os links sugerem novas idéias, remontagens e operacionalidades que, reenviadas às redes, podem vir a arrefecer esta cultura organizacional e interativa, constantemente revisitada por numerosos experts, estudiosos, clientes, voluntários e ciberativistas.<br />Atentos à configuração visual, gráfica, sensorial e semiótica da página inicial, perpassada por várias entradas, atalhos e mecanismos comutativos, podemos “cooperar”, enviando informes analíticos, apreciações, comentários, críticas, réplicas e observações, pois a rede está aberta às sugestões e intervenções - instigando modalidades inéditas de gestão dos processos interativos.<br />Transitando por meio dos “canais”, encontramos um labirinto com diferentes passagens que nos lançam no fluxo de diferentes redes de sociabilidade, várias comunidades afetivas e de interesse, formadas por “comediantes”, “diretores”, “gurus”, “músicos”, “parceiros”, “patrocinadores”, atores sociais e entidades “sem fins lucrativos”. Convém notar, o agendamento dos canais do YouTube, resultando das escolhas seletivas dos clientes, apesar do seu caráter volátil, efêmero, projeta uma amostra do conjunto de consumidores potenciais que participam do mercado digital.<br />Essa aparente desordem hipermidiática é similar à organização dos códigos que regem a existência tecno-social cotidiana. O pulsar das cibercidades se assemelha ao pulsar das “cidades de verdade”. E relembrando Walter Benjamin, o importante aqui não é a linha de chegada, mas o próprio caminho, a passagem, o itinerário, a contingência de ser e estar, a oportunidade para novas relações. Trata-se de um lócus privilegiado em que encontramos personagens e situações inusitadas, em que realizamos cotidianamente novas relações de sentido, fazemos escolhas, enfrentamos desafios e contemplamos novos horizontes.<br />O link que nos acessa à rubrica “Comunidade” nos revela um novo conceito dessa experiência, que se estrutura (e se realiza) com base em procedimentos tecno-informacionais geradores de formas inéditas de ciber-sociabilidade, em que incidem encaixes pessoais, comunitários e tribalizações imprevistas: a realidade virtual em muitos aspectos é similar ao real histórico do século 21, nas megacidades, em que as identidades se encontram em permanente cambialidade.<br />No YouTube nos identificamos com os fragmentos de uma “história recente real”, que nos seduz e nos inclui no espírito comum, tribalista, a partir das sensações de pertencimento a uma comunidade de cidadãos virtuais. E sendo estas forjadas por imagens, sons e tecno-afetividades, as suas regras de funcionamento cada vez mais têm modelado o sentido das comunidades presenciais, que, a seu turno, já são – ao longo da história - mediadas tecnologicamente. A diferença básica, no cibermundo, é que pela primeira vez na história, os anônimos, dispersos em meio às brumas do real, doravante, afetivamente e tecno-socialmente conectados podem se reencontrar.<br />A categorização em termos de “Grupos”, “Concursos” e “Blogs” expressa o resultado de cuidadosas estratégias de marketing digital; demonstram funcionais recursos mercadológicos, que não deixam de ser atravessados por novas fundações estéticas, sociais e políticas instauradas no próprio campo das hipermídias, como culto ou como sátira, mas sempre como o resultado de um “pensar-pulsar” coletivo. <br />As comunidades do YouTube são irradiadas pelas mediações dos usuários-cidadãos advindos de diferentes nichos socioeconômicos e culturais, que participam ativamente dos “concursos” tramados pelos gestores das redes. E, como uma ferramenta da comunicação interativa, que serve de matriz para o jornalismo on line, o blog instalado na página do YouTube, atua como canal informativo aberto igualmente à participação dos internautas, muitas vezes modificando a forma, a direção e o significado da proposta originalmente inscrita na página eletrônica.<br />3. Competência técnica, educação estética e memória afetiva<br />Os processos hipermidiáticos são eficazes na partilha das informações, na experiência cognitiva e no trabalho educativo. Nessa direção, as contribuições de Braga & Calazans (2001) nos ajudam a distinguir os “sistemas educativos” dos “sistemas midiáticos”, e estes, dos distintos “processos comunicacionais” e “educacionais”. Caberia retomar esta perspectiva contextualizando ambos os sistemas e processos numa ambiência social mediada pela tecnologia.<br />Na sociedade midiatizada, como sugere Morin (1997), a experiência educacional envolve, de maneira complexa, as dimensões biológicas, psicológicas, sociais, ético-políticas e cognitivas do ser humano, e ultrapassa o âmbito dos sistemas educativos tradicionais, circunscritos às práticas pré-formatadas da escolarização. <br />Pode-se aprender usando o YouTube, em sala de aula e em casa, na conexão com os grupos de interesse, na convergência de diferentes comunidades, captando e partilhando imagens, sons e discursos. Os vídeos do YouTube, como exuberantes janelas da vida cotidiana, são bons condutores de informação e reveladores das facetas do mundo social e cósmico que geralmente ocorrem desapercebidamente. <br />Logo, a ambiência virtual gera percepções educativas. Não o faz, é claro, nos moldes tradicionais, mas envolve os processos biopsicológicos, neuro-sensoriais, tácteis, físicos, corporais. O YouTube ativa a cognição por meio de um envolvimento total em que o corpo e a mente são mediados pelas infotecnologias conectadas nos terminais da inteligência coletiva. E cumpre ressaltar, esse fenômeno é ontologicamente anterior à configuração tecnológica atual, pois está ligado à vontade de saber, à curiosidade e ao senso de sobrevivência e expansão das culturas humanas.<br />No que concerne à realidade mediada pela tecnologia, caberia ressaltar aqui a influência do pensador Gilles Deleuze (1925-1995), também atuando vigorosamente no domínio da filosofia das artes e ofícios, das técnicas e da comunicação.<br />Estudando a internet, notamos que em nossa época, a experiência educomunicacional transcende a área de concentração dos sistemas educativos e midiáticos. Da empiricidade das redes tecnológicas de comunicação à reflexão teórico- metodológica, assim como a sua aplicabilidade (dentro e fora de sala de aula), há um vasto caminho tem sido realizado. <br />A propósito, para uma exploração acerca do fenômeno de convergência escola-comunidade-tecnologia, uma parcela importante de professores-pesquisadores tem formado grupos de trabalho na área, e têm incansavelmente despendido esforços para contribuir no sentido de superarmos as contradições que separam a modernidade tecnológica e o projeto de modernização social, alguns trabalhos disponibilizados em rede podem comprová-lo.<br />(OROZCO) discute as novas tecnologias, a comunicação e a educação como um conjunto importante para a formação do cidadão na sociedade democrática. Chama a atenção para a importância da desnaturalização das tecnologias, mostrando como elas aparecem e são orientadas no sentido de políticas voltadas para o mercado e o consumo, menosprezando a lógica dos interesses de cada Estado-nação e das diferentes culturas. Outro aspecto que salienta é o da vinculação das novas tecnologias à educação. Aborda este tema a partir da racionalidade eficientista e da racionalidade da relevância. No primeiro caso, a prática consiste em incorporar as novas tecnologias ao processo educativo já estabelecido, sem preocupação com a efetiva aprendizagem. No segundo caso, trata-se de priorizar o aprendizado, reorientando a lógica das tecnologias para uma apropriação que parte da realidade cultural do educando e tem como finalidade a transformação do sentido da instituição escolar. Ao final, destaca o papel do comunicador na reorientação dos meios de comunicação e no acompanhamento do processo educativo. (OROZCO, 2002)<br />A comunicação que se articula no domínio do YouTube retoma o seu sentido anterior, original, histórico-conceitual, ligado à idéia de comunitas, a medida comum, e assim realiza a idéia da linguagem como formadora de comunidades, forjando aproximação das fronteiras simbólicas e sociais que separam os humanos, como lugar de fundação do ethos e da convivência em comum. <br />Os websites de vídeos consistem num eficiente campo de produção de conteúdos, mas a sua principal virtude está em seu aspecto relacional, ao promover novas relações de sentido que alimentam o conhecimento dos seres humanos. A realização plena desta experiência vai depender evidentemente da forma como utilizaremos tais meios, mas cumpre entender que os websites apresentam antecipadamente as condições instrumentais e semiológicas para assegurar o êxito de um acontecimento tecno-social, político e comunicacional sem precedentes.<br />A internet, como uma nova paidéia midiática, pode ser utilizada enquanto um vetor importante no trabalho de formação e iluminação do espírito; nessa direção cumpriria recorrermos às idéias de Orozco (2007) e suas ponderações acerca da conexão que reúne o campo dos saberes e práticas educativas tradicionais e o campo das tecnologias da comunicação como mola propulsora do saber-fazer e do compreender, liberando vigorosas modalidades de empoderamento pessoal e coletivo.<br />Basta uma varredura nos sistemas de busca para encontrarmos um repertório formidável de vídeos contendo o “melhor” da música clássica, das artes plásticas, e os produtos celebrados da publicidade, jornalismo, moda e entretenimento.<br />Relembrando Paulo Freire (2000) e os seus postulados em favor de uma “pedagogia da autonomia”, e atualizando o seu contributo no contexto da economia e sociedade informacional, entendemos o sentido das palavras, imagens, sons e textos, como elementos geradores de sentido. Assim, apostamos ser preciso negociar com linguagens próprias do universo dos usuários, e-leitores, cibercidadãos imersos na “cultura da virtualidade real”, para estimular e atualizar novos hábitos de leitura. <br />Em verdade, as narrativas telemáticas dos vídeos de filmes disponibilizados em rede geram novos modos de ler as imagens, sons e textos; é neste sentido que Santaella mostra a entrada em cena do “leitor imersivo” (2004b), para interpretar os atuais procedimentos de leitura, percepção e cognição, em que ocorre o envolvimento neuro-sensorial, perceptivo e cognitivo total. E convém notar, falamos em 2011, antes da popularização dos dispositivos locativos audiovisuais conectados à tecnologia 3D.<br />4. A paródia e o riso da praça pública digitalizada<br />O YouTube é um canal de diversão e entretenimento mas consiste em uma experiência que nos leva a aprender coisas, mesmo quando parecemos estar jogando. E importa saber de que aprendizado estamos falando: instrumental, lúdico, comercial, ético-político, técnico, científico, artístico-cultural? Partimos da suspeita que a resposta vai depender do uso que fizermos do YouTube.<br />Aprendemos com o site na medida em que percebemos que naquele ambiente tecnoinformacional se projetam as expressões da cultura e do seu contrário. Ou seja, tudo aquilo que não faz parte da cultura oficial, nem da cultura popular, nem de massa (pois não são exatamente coisas da televisão), nem foram sedimentados no repertório da contracultura, mas consistem numa parte essencial das estruturas do cotidiano presencial e digital. São fatos, ocorrências e temas incorporados pelos milhões de usuários, que tratam de viralizá-los e assim, fabrica-se um acontecimento, que passa a ser incorporado às conversações dentro e fora das redes sociais.<br />Cumpre destacar um trabalho pioneiro no Brasil sobre o YouTube, realizado por Erick Felinto (2006), “Videotrash: O YouTube a Cultura do ‘Spoof’ na Internet”. A partir da sua leitura entendemos que o autor reconhece nos vídeos postados bons difusores de informação, são expressões de uma poética tecnológica, mas funcionam, sobretudo, como paródias, desmontagens e remontagens do sentido de outros produtos midiáticos, como a TV, o cinema e a publicidade.<br />A expansão exponencial da internet como banco de dados tem favorecido a preservação e difusão de informação tradicionalmente considerada como descartável ou de pouco valor cultural. Vídeos pessoais, produções independentes, álbuns de fotografias ou trabalhos colegiais constituem apenas alguns exemplos do tipo de material que começa a multiplicar-se no espaço da rede. “datasmog”, ou “nuvem de dados”, difícil de analisar e inédita na história da humanidade, antes caracterizada essencialmente pela escassez da informação. Dentre essa produção crescente, destaca-se a prática que vem sendo denominada como “spoof”, ou seja, as virtualmente infinitas variações paródicas em torno de produtos midáticos de grande circulação, como comerciais e seriados de televisão (FELINTO, 2006, pág. 1).<br />Há outra perspectiva de análise pertinente a uma mirada no YouTube, quanto ao seu poder de revelar a alteridade da cultura, e que pode ser considerada a partir de uma apropriação da teoria estética e social formulada por Muniz Sodré, que nomeia o kitsch, a “parte maldita”, a estranheza da cultura midiática como uma “comunicação do grotesco” (1983). E num livro mais recente, Sodré (em parceria com Raquel Paiva), lança um olhar sobre a relação entre a comunicação e a cultura, sob o grifo de “O império do grotesco” (2002). Assim, perseguindo os rastros de uma estética do “mau gosto” na literatura, nas artes plásticas, no cinema, na televisão, os autores nos oferecem algumas bases epsitemológicas para repensarmos a complexidade moral das culturas populares e sua transcrição na signagem da cibercultura. <br />Buscando compreender a significação desta experiência tecno-comunicacional forjada pelos sites de vídeos na internet, fizemos um mapeamento seletivo de alguns vídeos à guisa de interpretação, que poderiam caracterizar - em níveis diferenciados - as expressões do lixo midiático, do kitsch, do grotesco no contexto do YouTube, sem esquecer a dimensão irônica, positivamente desconstrutiva e dialógica da comunicação colaborativa, assim como a sua dimensão estética, social e filosófica.<br />a) Um dos episódios mais célebres da internet foi o caso da modelo e apresentadora de tv Daniela Cicarelli, que consiste numa devassa à intimidade da celebridade; uma filmagem da modelo fazendo amor com o seu parceiro numa “praia deserta” da Espanha, o que resultou num vídeo partilhado por milhões de internautas. Este é um fato controverso, sensacionalista, que consiste num elemento forte para entendermos as nuances da relação entre as mídias e a “cultura do espetáculo”.<br />O vídeo apresenta elementos para discutirmos a questão delicada da ética, da censura e do controle social da informação no terreno das “novas mídias”, uma vez que o vídeo foi retirado do YouTube por decisão de um juiz brasileiro, constituindo um dos primeiros casos de censura no campo da comunicação digital. Mas isto não impediu que os internautas voltassem a postar o vídeo-tabu, da “Cicarelli na praia”, e principalmente, instalassem paródias desmontando o sentido do “vídeo original”.<br />b) As visões escatológicas do enforcamento de Saddam Hussein encerram um episódio que condensa um outro lado do “terror midiático”, do grotesco com ênfase no escatológico e revelam elementos para compreendermos as atrações dos espectadores pelas imagens extremas, pela simulação do crime e castigo ou simplesmente pela projeção do mal na segurança das redes e telas. <br />Milhões de usuários acessaram ao vídeo com as imagens radicais do enforcamento, o que significa um novo estilo de espetacularização, a banalização da morte midiatizada, um flagrante do voyeurismo do horror contemporâneo, enfim uma característica tristemente presente na nossa cultura, marcada pelo “imperativo da visibilidade”, em que se consolidam formatos midiáticos como o Big Brother que, por sua vez, resulta das tecnologias do voyeurismo intensificadas com as micro-câmeras instaladas nos computadores domésticos.<br />c) A divulgação no YouTube de um vídeo exibindo socialities do Rio de Janeiro, do alto de suas coberturas, atirando divertidamente ovos nos carros e pedestres, constitui um elemento grotesco que traduz o horror dos nossos abismos sociais, um indício revelador dos traços canhestros da nossa formação sociocultural.<br />A sua positividade reside em conceder transparência e visibilidade à falta de ética e a irresponsabilidade por parte de segmentos da elite econômica. Mas, principalmente instiga a uma reflexão acerca da supressão das fronteiras entre o campo da esfera privada e da vida pública. A videocultura do self , no YouTube, nos alerta para a apologia do valor de exibição, em detrimento dos valores humanos; <br />d) O humor do teatro foi instalado na internet através dos vídeos de um grupo cênico, chamado de Terça Insana, mostrando - por novos canais audiovisuais - as maneiras como a sociedade pode se ver e se autocriticar. Se por um lado, revela os traços de nossos tempos minados pelos “medos líquidos”, na solidão das grandes cidades, por outro lado, revela, de modo politicamente incorreto, as estratégias de desmontagem das pequenas verdades narcísicas cotidianas; além disso, se constitui num surpreendente canal de divulgação das artes minimalistas do teatro alternativo, que ganham outras modulações e extensividades na contracultura das redes, e migram para outros espaço de encenação após a sua popularização na internet. <br />e) Por sua vez, as charges animadas do desenhista Maurício Ricardo, disponibilizadas no YouTube, significam competentes expressões gráficas, animações eletrônicas, articulando o design arrojado e a inteligência mediada pelos recursos das artes ciber-tecnológicas. É vetor de difusão de uma modalidade de expressão estética corrosiva, por meio das sátiras políticas, dos costumes urbanos, tornando-se uma mania nacional, que ganhou repercussão global, principalmente quando postadas no YouTube, desdenhando os poderes coercitivos, as celebridades, as zonas de tensão da cultura. E, convém notar que a potência de um dispositivo minimalista como o YouTube não cessa de contaminar as mídias anteriores (jornal, rádio, televisão), atualizando os seus conteúdos, politizando as suas mensagens e, enfim, conferindo novos à ambiência tecno-comunicacional.<br />f) O caso mais expressivo no tocante à arte minimalista do YouTube talvez seja a extraordinária audiência do vídeo Tapa na Pantera, interpretado pela atriz Maria Alice Vergueiro, que simulando uma peça de teatro do absurdo, descreve as experiências com a maconha. O vídeo é importante porque expressa a originalidade dos jovens cinegrafistas (e videastas) que, de maneira transgressiva, ousaram saber se utilizar dos dispositivos telemáticos. Estes jovens instalaram procedimentos de crítica aos valores cristalizados pelos segmentos sociais mais fechados à discussão dos temas tabus, como o uso dos alucinógenos. Isto é, por intermédio de um expediente midiático corriqueiro, os jovens iniciados na prática audiovisual e informacional, colocaram em discussão alguns problemas de ordem moral, jurídica, social e política. Desnudaram os valores de uma sociedade que parece ter-se realizado em termos de modernização tecnológica, mas que permanece sem competência para discutir questões tocantes aos direitos humanos e às liberdades individuais.<br />A experiência é relevante ao resgatar o talento da atriz Maria Alice Vergueiro, um ícone da dramaturgia nacional e que talvez ficasse desconhecida pelas novas gerações se não fosse a iniciativa dos jovens videastas, conhecedores da importância publicitária de uma hipermídia como o YouTube. E, cumpre ressaltar a maneira como a partir da divulgação do vídeo da atriz-personagem experimentou migrações para outros nichos midiáticos, como a televisão.<br />São produtos, visitados por milhões de internautas, que constituem o outro lado do humor, ligado à paródia, à comicidade, ao riso da praça pública virtualizada. Ácidos e inteligentes, os conteúdos dos vídeos postados no YouTube traduzem a maneira como os artistas, criadores, voluntários e aficcionados se utilizam do meio para expressar ao seu modo uma “ironia da comunicação”, que coloca em xeque os valores políticos, morais e socioculturais, como escreve Jeudy (2001). Estes sites atualizam, uma carnavalização da vida cotidiana nos termos descritos por Roberto da Matta, no livro Carnavais, malandros e heróis (1983); só que no YouTube foram modificados os procedimentos estéticos e ideológicos da antropofagia.<br />5. Das narrativas da televisão às narrativas telemáticas<br />O YouTube é signo de diversão e entretenimento mas o seu poder de resgatar imagens e significações “antigas” implica também numa outra maneira de se conhecer e de se reescrever a história. O cenário vai mudar: Cronos (e a legiferância do relógio) cederá terreno a Hermes (e a estratégia da interpretação dos símbolos e alegorias).<br />A convergência das imagens e sons do presente e passado, por meio das info-tecnologias, reunindo distintas temporalidades, favorece a desconstrução digital da “memória cristalizada” e propicia uma nova e vigorosa contemplação do mundo. <br />Para entender a cultura tecnológica que estrutura a dimensão do imaginário contemporâneo, convém contextualizar historicamente a inserção de uma organização sociocultural e política como a nossa, na chamada “era da informação”: porque os conteúdos audiovisuais da mídia analógica estão migrando para o campo das mídias digitais, e porque as gerações do teatro, da televisão e do cinema estão se encontrando nos espaços abertos pela cibercultura, por exemplo, no YouTube, que armazena, atualiza e coloca a disposição dos assinantes-usuários-cidadãos imagens e sons que alimentam a sua consciência lúdica, política, ético-comunicacional.<br />E nessa direção, é de bom presságio atentar para as sugestões de Barbéro & Réy (2001), que examinando as culturas latinas, apontam para a importância da conexão entre a oralidade presencial e a sociotecnicidade, como caminho explicativo do estágio atual da nossa formação cultural e das interculturalidades tramadas nas sociedades contemporâneas globalizadas. E por essa via se abrem os caminhos para a construção das identidades individuais e coletivas.<br />Assim, vislumbramos uma cultura audiovisual instalada pela mídia eletrônica, particularmente pela televisão, em seus diversos nexos temporais. Desde as sessões matinais e vespertinas, passando pelo longo trabalho da teledramaturgia e pelas repetições da “sessão coruja”, na televisão, que fustigaram o imaginário de quatro gerações, nos anos 60, 70, 80 e 90, encontramos as origens da atual cultura latina midiatizada, hoje animada também pela ficção digitalizada. <br />Hoje, podemos revisitar o passado audiovisual recente através da internet. As imagens e sons da teledramaturgia são disponibilizados nos sites de vídeos, acessíveis em DVDs e outros dispositivos locativos, e assim, nas tramas da cultura digital, atualizam a relação entre as narrativas da história e as narrativas de ficção. <br />Um bom exercício nas salas de aula pode ser experimentado a partir da captura de vídeos no YouTube, condensando imagens, sons e textos da Revolução de 30, Golpe de 1964, retorno dos exilados, abertura política, movimento pelas eleições diretas, morte de Tancredo Neves, impeachment de Collor e eleição do Presidente Lula. Um exercício de comunicação comparada que pode ser exitoso através dos meios tecno-colaborativos e monitoramentos realizados pelos cidadãos conectados.<br />O website YouTube libera as memórias afetivas e sentimentais das gerações dos anos 60, 70, 80 e 90, mas principalmente apresenta uma memória do futuro, que - através da interacionalidade - atualiza as nossas percepções e experiências cognitivas, a partir das imagens sons já inscritos nas ficções do século passado.<br />O armazenamento e partilha dos vídeos instalados na internet leva - de maneira similar - a uma atualização das leituras estéticas e sociais do cinema mundial, assim como instiga novos modos de se ver e rever o cinema mundial, em suas versões nacionais, estrangeiras, globais, locais, dubladas, legendadas e interativas. <br />Doravante, quase todos os filmes do mundo estão ao alcance dos cinéfilos, esetas, jornalistas e pesquisadores; os filmes de Chaplin, Os dez mandamentos, 2001 uma odisséia no espaço, Asas do Desejo, por exemplo, obras clássicas da cinematografia, que têm povoado a imaginação de milhões de pessoas há décadas, encontram-se à disposição para análises, críticas, remontagens e novas degustações. <br />E o melhor de tudo isso é que os fotógrafos, músicos, cinegrafistas e videastas autônomos e independentes, empoderados pelas tecnologias, têm a chance de apresentar o seu trabalho para uma grande audiência sem sair de casa.<br />No Brasil, particularmente, do qual se fala que não se reputa exatamente por uma preocupação com a memória nacional, verificamos que a partir da “invenção” dos websites de vídeos é possível se falar na reconstrução de uma memória do cinema nacional. E o mais importante, a renovação da crítica cinematográfica que pode ser conectada em rede por leitores, cinéfilos, pesquisadores.<br />No YouTube encontramos fragmentos de obras como as chanchadas, os filmes raros como Limite, Bye Bye Brasil, O pagador de promessas, Terra em Transe, Macunaíma, Dona Flor e seus Dois Maridos, assim como as relíquias do cinema novo, do super-oito, das pornochanchadas e do cinema marginal.<br />As obras primas dos documentários nacionais, por meio dos processos digitais, podem ser revistos, criticados, parodiados e reformatados. Igualmente reencontramos trechos de documentários raros e prestigiados como Aruanda, Ilha das Flores, Aqui estamos nós que esperamos por vós, Janelas da Alma: singularidades da cultura audiovisual, que sendo capturados nos sites e armazenados na segurança dos novos meios, tornam-se farto material de estudo e vigoroso instrumento de aprendizagem. <br />Faz-se necessário introduzir nos currículos dos cursos de arte e mídias uma teoria contemporânea dos audiovisuais, com base numa epistemologia complexa, reunindo um feixe teórico abrangendo uma teoria do cinema, do vídeo, do rádio, da televisão. Tais teorias devem estar conectadas aos domínios da antropologia, história, semiótica e sociologia da comunicação. Esta é uma estratégia que pode ajudar na interpretação do sentido dos audiovisuais como elementos propulsores das experiências fundamentais da estética, poética e catarse. <br />Em síntese, os audiovisuais que, são interessantes como objetos empíricos e objetos de contemplação, adquirem outro status fenomenológico quando reterritorializados na ambiência do ciberespaço, principalmente porque podem ser – doravante – conectados com outros “actantes” (atores-redes de informação), podem compartilhar conteúdos com outros internautas e podem atualizar e revitalizar os projetos artísticos culturais presenciais.<br />O processo de interculturalidade, que caracteriza a cultura audiovisual e tecnológica atual, adquire força poética a partir das narrativas conectadas na atual cultura de convergência, em que concorrem a fotografia, a música, a literatura, o rádio, o cinema e a televisão na configuração de um meio novo, a internet. <br />Esta convergência de mídias vem moldando a percepção sensorial, a memória afetiva, a inteligência conectiva, as identidades e sociabilidades contemporâneas, além de abrir oportunos espaços nos mercados emergentes. <br />A compreensão do papel das “velhas mídias” (e os seus processos de transformação pelas “novas mídias”) pode levar os pedagogos, estetas, intelectuais, jornalistas, formadores de opinião - educados pelas matrizes culturais analógicas tradicionais - a adquirirem outra atitude face à efervescência cultural contemporânea, a se empenharem numa comunicação mais interativa com as novas gerações.<br />6. A arte de contar estórias breves na internet<br />Os sites de vídeos nos permitem contemplar fotos, músicas, filmes, animações, artes plásticas - desde as obras primitivistas e religiosas, passando pelo renascimento, barroco, romantismo, realismo, vanguardas históricas até as expressões pós-modernas. <br />Podemos igualmente rever as cenas raras do chamado “cinema de arte”, ilustre desconhecido da “geração Harry Potter” e podemos ainda nos inteirar das novíssimas experiências estéticas, em que se mesclam filmes de animação, games eletrônicos, vídeos musicais, todos conectados em rede e compartilhados nos sites de conversação.<br />Contudo, o fundamental nos sites de vídeos é a instauração de um lócus privilegiado para o exercício da potencialidade criativa dos novos artistas. <br />Como exemplo admirável da ciberarte, encontramos o vídeo intitulado i.mirror, uma epifania dos fenômenos trans-estéticos, em que as narrativas e conversações se realizam nos ambientes virtuais. <br />Por meio de uma inteligência coletiva conectada, nos comunicamos com nossos semelhantes, outros avatares, num contexto semiotizado pelas experiências simuladas. A grande diferença, em relação ao mundo da ficção científica, é que neste novo mundo podemos formatar as nossas identidades, nossas relações afetivas, ético-políticas e modificar – daí por diante – as instâncias do mundo virtual e presencial.<br />A artista chinesa Cao Fei, publicamente conhecida por meio do seu nickname, avatar, apelido virtual China Tracy, produziu os personagens, os cenários, as conversações, uma bela trilha sonora, os instalou no metaverso do website de relacionamento Second Life. E, além disso, armada de uma câmera digital, realizou uma espécie de documentário “machinímico”, resultando num objeto “sublime tecnológico”, que participou da Bienal de Veneza de 2007, uma instalação, na qual os espectadores bem acomodados numa estrutura inflável puderam assistir ao vídeo.<br />Em verdade i.mirroir é constituído por três vídeos formando o que entendemos como a atualização do desejo de realização da obra de arte total, uma poética tecnológica da interacionalidade, que traduz a beleza da arte na hipermodernidade. <br />Eis um leque de imagens insólitas, fantásticas, transcendentais, em que apreciamos o som e o silêncio no ecossistema das redes. <br />As narrativas de animação virtual, com o “i.mirroir” criam uma ciberpaisagem em que interagem, simbioticamente, o concreto e o virtual, os seres humanos e as suas extensões mentais encarnadas nos seus avatares. E estamos a um passo da convivência entre pessoas e avatares, no espaço doméstico infoconectado em 3D.<br />O vídeo i-mirroir atualiza o complexo de Ícaro. Na realidade virtual do Seconde Life, é simulada a experiência de teletransporte dos corpos. No cibermundo isto é possível; uma atualização radical do desejo ancestral do homem voar.<br />Assistindo ao vídeo, observamos a potência semiótica e cognitiva gerada pela convergência de meios. A conexão em rede dos usuários do Second Life, YouTube, FaceBook, Twitter, etc., permitindo capturas acertadas e sacadas inteligentes, como diversão ou como cognição, a videocultura do YouTube não deixa os usuários impunes; introduz o germe da curiosidade, da transcendência ou da perplexidade.<br />O vídeo do YouTube, em questão, o i-mirroir, consiste num caso de digitofagia, pois resulta da assimilação e transformação de uma vídeo-narrativa, gerada no site de relacionamento Second Life.. É um exemplo vigoroso de Art-NET, cujo itinerário se inicia na imaginação criativa de uma especialista em computação gráfica, passam pelas fibras óticas das redes sociais, e chega ao espaço público digital, irrigando as conversações on line com lirismo e poesia.<br />7. Para concluir: Uma visão mitopoética da TV do futuro<br />Observando o YouTube, obtemos as pistas para compreendermos os rumos dessa formação cultural recente em que se reúnem o analógico e o digital, o virtual e o ficcional. Cumpre observar como - neste percurso - se instauram outras modalidades do saber-fazer, novas inteligências, sensorialidades e competências, que nos levam a uma inusitada e gratificante contemplação do mundo virtual.<br />Deparamos com um produto cultural e comunicante radicalmente novo. E ao mesmo tempo, compreendemos o sentido de uma experiência em fase antecipada de transformação e já em vias de desaparecimento, sem deixar de sugerir as pistas para a emergência de novos procedimentos sócio-tecno-comunicacionais, corrigindo, ultrapassando e otimizando o seu desempenho. <br />Convém persistir na apreciação destas novas modulações da arte & mídia, que fascinam pela sua intersecção poético-tecnológica, em que os atores sociais plugados em rede não cessam de interagir. Mas devido ao seu próprio caráter de novidade - assim como o excesso, as repetições e a extrema liberdade de acesso e utilização - estes novos produtos exigem o rigor de um olhar seletivo. Convém separar o joio e o trigo, esvaziando a lixeira e apreciando as pepitas de ouro jogadas no exuberante manancial que jorra das águas da cibercultura.<br />