SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 25
Cesário Verde Poema:  “Contrariedades” Português  11ºano Escola secundária/3 de Carregal do Sal
Conteúdos… ,[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades”
Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;  Nem posso tolerar os livros mais bizarros. Incrível! Já fumei três maços de cigarros Consecutivamente . Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos: Tanta depravação nos usos, nos costumes! Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes E os ângulos agudos. Sentei-me à secretária. Ali defronte mora Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes; Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes E engoma para fora. Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas! Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica. Lidando sempre! E deve a conta à botica! Mal ganha para sopas... O obstáculo estimula, torna-os perversos; Agora sinto-me eu cheio de raivas frias, Por causa dum jornal me rejeitar, há dias, Um folhetim de versos. Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta No fundo da gaveta. O que produz o estudo? Mais duma redacção, das que elogiam tudo,  Me tem fechado a porta. A crítica segundo o método de Taine Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa Vale um desdém solene. Com raras excepções, merece-me o epigrama. Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo, Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho Diverte-se na lama. Eu nunca dediquei poemas às fortunas, Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas. Independente! Só por isso os jornalistas  Me negam as colunas. Receiam que o assinante ingénuo os abandone, Se forem publicar tais coisas, tais autores. Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores  Deliram por Zaccone. Um prosador qualquer desfruta fama honrosa, Obtém dinheiro, arranja a sua  coterie; E a mim, não há questão que mais me contrarie  Do que escrever em prosa. A adulação repugna aos sentimentos finos; Eu raramente falo aos nossos literatos, E apuro-me em lançar originais exactos,  Os meus alexandrinos... E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso! Ignora que a asfixia a combustão das brasas, Não foge do estendal que lhe humedece as casas,  E fina-se ao desprezo! Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova. Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente, Oiço-a cantarolar uma canção plangente  Duma opereta nova! Perfeitamente. Vou findar sem azedume. Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas, Conseguirei reler essas antigas rimas,  Impressas em volume? Nas letras eu conheço um campo de manobras; Emprega-se a  réclame,  a intriga, o anúncio, a  blague, E esta poesia pede um editor que pague  Todas as minhas obras... E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha? A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia? Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...  Que mundo! Coitadinha! Contrariedades
Tema / Assunto ,[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades”
Estrutura Externa ,[object Object],Cesário Verde “Contrariedades” Eu/ ho/ je es /tou /cru/el, /fre/né/ti/co, e/xi/gen/te; Nem/ pos/so /to/le/rar/ os/ li/vros/ mais/ bi/zar/ros. In/crí/vel!/ Já /fu/mei/ três/ ma/ços/ de/ ci/gar/ros Com/se/cu/ti/va/men/te. 12 12 6 12
Estrutura Externa ,[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades” Eu hoje estou cruel, frenético, exig ente ; Nem posso tolerar os livros mais biz arros . Incrível! Já fumei três maços de cig arros Consecutivam ente . Emparelhada Interpolada
Estrutura Externa ,[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades”
Estrutura Interna ,[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades” Eu hoje estou cruel, frenético, exigente; Nem posso tolerar os livros mais bizarros. Incrível! Já fumei três maços de cigarros Consecutivamente. Dói-me a cabeça . Abafo uns desesperos mudos: Tanta depravação nos usos, nos costumes! Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes E os ângulos agudos .
Estrutura Interna ,[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades” Sentei-me à secretária. Ali defronte mora Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes ; Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes E engoma para fora. Pobre esqueleto  branco entre as nevadas roupas! Tão lívida!  O doutor deixou-a . Mortifica. Lidando sempre ! E deve conta à botica! Mal ganha para sopas...
Estrutura Interna ,[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades” O obstáculo estimula, torna-nos perversos; Agora sinto-me eu cheio de raivas frias , Por causa dum jornal me rejeitar, há dias, Um folhetim de versos. Que  mau humor ! Rasguei uma epopeia morta No fundo da gaveta. O que produz o estudo? Mais uma redacção, das que elogiam tudo, Me tem fechado a porta. A crítica segundo o método de Taine Ignoram-na.  Juntei numa fogueira imensa Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa Vale um desdém solene. Com raras excepções, merece-me o epigrama. Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo, Um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho Diverte-se na lama. Eu nunca dediquei poemas às fortunas, Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas. Independente!  Só por isso os jornalistas Me negam as colunas. Receiam que o assinante ingénuo os abandone, Se forem publicar tais coisas, tais autores. Arte?  Não lhes convém, visto que os seus leitores Deliram por Zaccone. Um prosador qualquer desfruta fama honrosa, Obtém dinheiro, arranja a sua "coterie"; E a mim, não há questão que mais me contrarie Do que escrever em prosa. A adulação repugna aos sentimento finos; Eu raramente falo aos nossos literatos, E apuro-me em lançar originais e exactos, Os meus alexandrinos...
Estrutura Interna ,[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades” E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso! Ignora que a asfixia a combustão das  brasas , Não foge do estendal que lhe humedece as casas, E fina-se ao desprezo! Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova. Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente, Oiço-a cantarolar uma canção plangente Duma opereta nova!
Estrutura Interna ,[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades” Perfeitamente. Vou findar sem azedume. Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas, Conseguirei reler essas antigas rimas, Impressas em volume? Nas letras eu conheço um campo de manobras; Emprega-se a "réclame", a intriga, o anúncio, a "blague", E esta poesia pede um editor que pague Todas as minhas obras...
Estrutura Interna ,[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades” E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha? A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia? Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia... Que mundo! Coitadinha!
Linguagem e estilo ,[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades”
Linguagem e estilo ,[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades”
Linguagem e estilo ,[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades” Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores Deliram por Zaccone. (estrofe X, versos 3 e 4)   Nas letras eu conheço um campo de manobras; Emprega-se a "réclame", a intriga, o anúncio, a "blague", E esta poesia pede um editor que pague Todas as minhas obras...   (estrofe XVII)
Linguagem e estilo ,[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades” “ Que mundo !  Coitadinha ! ” (estrofe XVII, verso 4)
Linguagem e estilo ,[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],“ E a vizinha? A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?” (estrofe XVII, versos 1 e 2) Cesário Verde “Contrariedades”
Linguagem e estilo ,[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades”
Linguagem e estilo ,[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades”
Linguagem e estilo ,[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades”
Ideologia e Corrente literária ,[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades”
Trabalho realizado por: ,[object Object],[object Object],[object Object],Cesário Verde “Contrariedades”
Cesário Verde “ Contrariedades”
Ferro de engomar antigo voltar

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Fernando Pessoa Nostalgia da Infância
Fernando Pessoa Nostalgia da InfânciaFernando Pessoa Nostalgia da Infância
Fernando Pessoa Nostalgia da InfânciaSamuel Neves
 
Resumos de Português: Cesário verde
Resumos de Português: Cesário verdeResumos de Português: Cesário verde
Resumos de Português: Cesário verdeRaffaella Ergün
 
Cesário Verde - "Ao Gás"
Cesário Verde - "Ao Gás"Cesário Verde - "Ao Gás"
Cesário Verde - "Ao Gás"Iga Almeida
 
Caracteristicas de Cesário Verde
Caracteristicas de Cesário VerdeCaracteristicas de Cesário Verde
Caracteristicas de Cesário VerdeMariaVerde1995
 
Análise ela canta pobre ceifeira alunos
Análise ela canta pobre ceifeira   alunosAnálise ela canta pobre ceifeira   alunos
Análise ela canta pobre ceifeira alunosPaulo Portelada
 
"Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade""Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade"MiguelavRodrigues
 
Cesário Verde-Sistematização
Cesário Verde-SistematizaçãoCesário Verde-Sistematização
Cesário Verde-SistematizaçãoDina Baptista
 
Fernando pessoa ortónimo e heterónimos
Fernando pessoa ortónimo e heterónimos Fernando pessoa ortónimo e heterónimos
Fernando pessoa ortónimo e heterónimos Ricardo Amaral
 
Nós, de Cesário Verde
Nós, de Cesário VerdeNós, de Cesário Verde
Nós, de Cesário VerdeDina Baptista
 
Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lurdes Augusto
 
O heteronimo Alberto Caeiro
O heteronimo Alberto CaeiroO heteronimo Alberto Caeiro
O heteronimo Alberto Caeiroguest155834
 
Ode Triunfal de Álvaro de Campos
Ode Triunfal de Álvaro de CamposOde Triunfal de Álvaro de Campos
Ode Triunfal de Álvaro de Camposguest3fc89a1
 
Álvaro de Campos
Álvaro de CamposÁlvaro de Campos
Álvaro de CamposAna Isabel
 
Alberto caeiro biografia e caracteristicas
Alberto caeiro biografia e caracteristicasAlberto caeiro biografia e caracteristicas
Alberto caeiro biografia e caracteristicasAnabela Fernandes
 

Mais procurados (20)

Fernando Pessoa Nostalgia da Infância
Fernando Pessoa Nostalgia da InfânciaFernando Pessoa Nostalgia da Infância
Fernando Pessoa Nostalgia da Infância
 
Resumos de Português: Cesário verde
Resumos de Português: Cesário verdeResumos de Português: Cesário verde
Resumos de Português: Cesário verde
 
Cesário Verde - "Ao Gás"
Cesário Verde - "Ao Gás"Cesário Verde - "Ao Gás"
Cesário Verde - "Ao Gás"
 
Fernando Pessoa-Ortónimo
Fernando Pessoa-OrtónimoFernando Pessoa-Ortónimo
Fernando Pessoa-Ortónimo
 
Caracteristicas de Cesário Verde
Caracteristicas de Cesário VerdeCaracteristicas de Cesário Verde
Caracteristicas de Cesário Verde
 
Análise ela canta pobre ceifeira alunos
Análise ela canta pobre ceifeira   alunosAnálise ela canta pobre ceifeira   alunos
Análise ela canta pobre ceifeira alunos
 
"Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade""Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade"
 
Cesário Verde-Sistematização
Cesário Verde-SistematizaçãoCesário Verde-Sistematização
Cesário Verde-Sistematização
 
Os Maias - Análise
Os Maias - AnáliseOs Maias - Análise
Os Maias - Análise
 
áLvaro de campos
áLvaro de camposáLvaro de campos
áLvaro de campos
 
Fernando pessoa ortónimo e heterónimos
Fernando pessoa ortónimo e heterónimos Fernando pessoa ortónimo e heterónimos
Fernando pessoa ortónimo e heterónimos
 
Nós, de Cesário Verde
Nós, de Cesário VerdeNós, de Cesário Verde
Nós, de Cesário Verde
 
Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões
 
Sísifo- Miguel Torga
Sísifo- Miguel TorgaSísifo- Miguel Torga
Sísifo- Miguel Torga
 
O heteronimo Alberto Caeiro
O heteronimo Alberto CaeiroO heteronimo Alberto Caeiro
O heteronimo Alberto Caeiro
 
Ode Triunfal de Álvaro de Campos
Ode Triunfal de Álvaro de CamposOde Triunfal de Álvaro de Campos
Ode Triunfal de Álvaro de Campos
 
Os Maias - análise
Os Maias - análiseOs Maias - análise
Os Maias - análise
 
Álvaro de Campos
Álvaro de CamposÁlvaro de Campos
Álvaro de Campos
 
A debil cesario verde
A debil cesario verdeA debil cesario verde
A debil cesario verde
 
Alberto caeiro biografia e caracteristicas
Alberto caeiro biografia e caracteristicasAlberto caeiro biografia e caracteristicas
Alberto caeiro biografia e caracteristicas
 

Semelhante a Cesário Verde - Análise do poema "Contrariedades"

Cesário Verde - "Contrariedades".
Cesário Verde - "Contrariedades". Cesário Verde - "Contrariedades".
Cesário Verde - "Contrariedades". Rita Magalhães
 
Contrariedades analise
Contrariedades analise Contrariedades analise
Contrariedades analise mulunga14
 
"Contrariedades" - Análise do poema
"Contrariedades" - Análise do poema"Contrariedades" - Análise do poema
"Contrariedades" - Análise do poemaJoana Nunes
 
Análise de transpaixão, de waldo motta
Análise de transpaixão, de waldo mottaAnálise de transpaixão, de waldo motta
Análise de transpaixão, de waldo mottama.no.el.ne.ves
 
Avaliaçãoii unidade
Avaliaçãoii unidadeAvaliaçãoii unidade
Avaliaçãoii unidadeManu Dias
 
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesMonteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesTânia Sampaio
 
linguagens para o enem n 3
   linguagens para o  enem n  3   linguagens para o  enem n  3
linguagens para o enem n 3PATRICIA VIANA
 
Alvares de azevedo poemas malditos
Alvares de azevedo   poemas malditosAlvares de azevedo   poemas malditos
Alvares de azevedo poemas malditosTulipa Zoá
 
Noite Fechada, de Cesário Verde
Noite Fechada, de Cesário VerdeNoite Fechada, de Cesário Verde
Noite Fechada, de Cesário VerdeDina Baptista
 
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de AndradeA Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andradevestibular
 
Carlos drumond de andrade
Carlos drumond de andradeCarlos drumond de andrade
Carlos drumond de andradeRita Santana
 
Dom Casmurro - Machado de Assis
Dom Casmurro - Machado de AssisDom Casmurro - Machado de Assis
Dom Casmurro - Machado de Assisvestibular
 
Romantismo poesia - 2ª geração
Romantismo   poesia -  2ª geraçãoRomantismo   poesia -  2ª geração
Romantismo poesia - 2ª geraçãoLuciene Gomes
 
10. O Sonho no Exílio. Ano I, Nº 10 - Volume I - Porto Velho - Julho/2001.
10. O Sonho no Exílio. Ano I, Nº 10 - Volume I - Porto Velho - Julho/2001.10. O Sonho no Exílio. Ano I, Nº 10 - Volume I - Porto Velho - Julho/2001.
10. O Sonho no Exílio. Ano I, Nº 10 - Volume I - Porto Velho - Julho/2001.estevaofernandes
 

Semelhante a Cesário Verde - Análise do poema "Contrariedades" (20)

Cesário Verde - "Contrariedades".
Cesário Verde - "Contrariedades". Cesário Verde - "Contrariedades".
Cesário Verde - "Contrariedades".
 
Contrariedades analise
Contrariedades analise Contrariedades analise
Contrariedades analise
 
"Contrariedades" - Análise do poema
"Contrariedades" - Análise do poema"Contrariedades" - Análise do poema
"Contrariedades" - Análise do poema
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Bocage
BocageBocage
Bocage
 
Análise de transpaixão, de waldo motta
Análise de transpaixão, de waldo mottaAnálise de transpaixão, de waldo motta
Análise de transpaixão, de waldo motta
 
Avaliaçãoii unidade
Avaliaçãoii unidadeAvaliaçãoii unidade
Avaliaçãoii unidade
 
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesMonteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
 
linguagens para o enem n 3
   linguagens para o  enem n  3   linguagens para o  enem n  3
linguagens para o enem n 3
 
Alvares de azevedo poemas malditos
Alvares de azevedo   poemas malditosAlvares de azevedo   poemas malditos
Alvares de azevedo poemas malditos
 
Noite Fechada, de Cesário Verde
Noite Fechada, de Cesário VerdeNoite Fechada, de Cesário Verde
Noite Fechada, de Cesário Verde
 
Prosa gótica
Prosa góticaProsa gótica
Prosa gótica
 
Prosagtica
ProsagticaProsagtica
Prosagtica
 
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de AndradeA Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade
 
Carlos drumond de andrade
Carlos drumond de andradeCarlos drumond de andrade
Carlos drumond de andrade
 
Dom Casmurro - Machado de Assis
Dom Casmurro - Machado de AssisDom Casmurro - Machado de Assis
Dom Casmurro - Machado de Assis
 
Romantismo poesia - 2ª geração
Romantismo   poesia -  2ª geraçãoRomantismo   poesia -  2ª geração
Romantismo poesia - 2ª geração
 
Simulado lit-prise 3 ok
Simulado lit-prise 3 okSimulado lit-prise 3 ok
Simulado lit-prise 3 ok
 
Augusto dos Anjos
Augusto dos AnjosAugusto dos Anjos
Augusto dos Anjos
 
10. O Sonho no Exílio. Ano I, Nº 10 - Volume I - Porto Velho - Julho/2001.
10. O Sonho no Exílio. Ano I, Nº 10 - Volume I - Porto Velho - Julho/2001.10. O Sonho no Exílio. Ano I, Nº 10 - Volume I - Porto Velho - Julho/2001.
10. O Sonho no Exílio. Ano I, Nº 10 - Volume I - Porto Velho - Julho/2001.
 

Cesário Verde - Análise do poema "Contrariedades"

  • 1. Cesário Verde Poema: “Contrariedades” Português 11ºano Escola secundária/3 de Carregal do Sal
  • 2.
  • 3. Eu hoje estou cruel, frenético, exigente; Nem posso tolerar os livros mais bizarros. Incrível! Já fumei três maços de cigarros Consecutivamente . Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos: Tanta depravação nos usos, nos costumes! Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes E os ângulos agudos. Sentei-me à secretária. Ali defronte mora Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes; Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes E engoma para fora. Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas! Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica. Lidando sempre! E deve a conta à botica! Mal ganha para sopas... O obstáculo estimula, torna-os perversos; Agora sinto-me eu cheio de raivas frias, Por causa dum jornal me rejeitar, há dias, Um folhetim de versos. Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta No fundo da gaveta. O que produz o estudo? Mais duma redacção, das que elogiam tudo,  Me tem fechado a porta. A crítica segundo o método de Taine Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa Vale um desdém solene. Com raras excepções, merece-me o epigrama. Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo, Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho Diverte-se na lama. Eu nunca dediquei poemas às fortunas, Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas. Independente! Só por isso os jornalistas  Me negam as colunas. Receiam que o assinante ingénuo os abandone, Se forem publicar tais coisas, tais autores. Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores Deliram por Zaccone. Um prosador qualquer desfruta fama honrosa, Obtém dinheiro, arranja a sua coterie; E a mim, não há questão que mais me contrarie Do que escrever em prosa. A adulação repugna aos sentimentos finos; Eu raramente falo aos nossos literatos, E apuro-me em lançar originais exactos, Os meus alexandrinos... E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso! Ignora que a asfixia a combustão das brasas, Não foge do estendal que lhe humedece as casas, E fina-se ao desprezo! Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova. Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente, Oiço-a cantarolar uma canção plangente Duma opereta nova! Perfeitamente. Vou findar sem azedume. Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas, Conseguirei reler essas antigas rimas, Impressas em volume? Nas letras eu conheço um campo de manobras; Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague, E esta poesia pede um editor que pague Todas as minhas obras... E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha? A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia? Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia... Que mundo! Coitadinha! Contrariedades
  • 4.
  • 5.
  • 6.
  • 7.
  • 8.
  • 9.
  • 10.
  • 11.
  • 12.
  • 13.
  • 14.
  • 15.
  • 16.
  • 17.
  • 18.
  • 19.
  • 20.
  • 21.
  • 22.
  • 23.
  • 24. Cesário Verde “ Contrariedades”
  • 25. Ferro de engomar antigo voltar

Notas do Editor

  1. Em 1877 lhe começou a dar sinais a tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes servem de inspiração a um de seus principais poemas, Nós ( 1884 ). Tenta curar-se da tuberculose , sem sucesso Outra prespectiva nos é mostrada da mulher (desfavorecida) na cidade. A vendedeira em "Num Bairro Moderno", ou a engomadeira em "Contrariedades" mostram as características da mulher do povo na cidade. Sempre feias, pobres e por vezes doentes, ou em esforço físico, as mulheres trabalhadoras são objecto da admiração de Cesário.