Alguns conceitos da filosofia de Friedrich Nietzsche (1844-1900).
Por Bruno Carrasco, psicoterapeuta existencial e professor.
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existencialismo | psicologia | filosofia
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2. Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900)
Nietzsche não é um autor
fácil, boa parte de sua obra
é fragmentária, escrita por
aforismos, metáforas e
ironia, possibilita múltiplas
interpretações.
3. Friedrich Wilhelm Nietzsche foi
filólogo, filósofo, professor e
poeta, nasceu no Reino da Prússia,
na atual Alemanha. Ele criticou a
religião, a moral e a tradição
filosófica do ocidente.
Ele tratou sobre diversos temas,
entre eles a afirmação da vida,
questionando todas doutrinas que
diminuem nossas potências, em
favor da ampliação de nossas
possibilidades de ser.
Friedrich Nietzsche
(1844-1900)
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4. Breve biografia Nietzsche nasceu em 1844, no
vilarejo de Röcken, pertencente ao
reino da Prússia, próximo a Leipzig,
na Alemanha.
Seu pai era culto e delicado, seus
dois avós eram pastores
protestantes. Aos 5 anos seu pai e
seu irmão faleceram, ele passou a
ser educado por sua mãe. Sua
família se mudou para Naumburgo,
com sua mãe, tias e avó.
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5. Breve biografia
Durante a infância ele foi um aluno
dócil e leal, era chamado na escola
de “pequeno pastor”. Aos 14 anos
ganhou uma bolsa de estudos na
escola Pforta em Naumburgo.
A partir de suas leituras, começou
a se afastar do cristianismo, se
interessando pela antiguidade
clássica grega e latina, estudando
grego, a Bíblia, alemão e latim,
neste período seus autores
favoritos eram Platão e Ésquilo.
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6. Breve biografia
Ao terminar o curso em Pforta, foi
estudar Teologia, logo abandonou
e foi estudar Filologia, em Leipzig.
Aos 24 anos ele foi nomeado
professor de filologia da
universidade de Basileia, na Suíça,
onde permaneceu por dez anos.
Filologia é o estudo da linguagem,
da origem das línguas antigas,
incluindo a literatura, a história, a
linguística, as formas literárias e as
instituições do pensamento.
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7. Breve biografia Ele começou a se interessar por
filosofia depois de ler Arthur
Schopenhauer, fez amizade com o
compositor alemão Richard
Wagner e escreveu sua primeira
obra aos 27 anos, 'O Nascimento
da Tragédia no Espírito da Música'.
Aos 44 anos há uma suposição de
que tenha contraído uma paresia
geral atípica por conta de sífilis,
vindo a falecer em 1900.
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8. “Uma das intuições mais caras
que ele aplaude: a intuição de que
não existem substâncias
estanques e inertes, e que tudo é
uma perpétua metamorfose.”
(Jean Granier, em ‘Nietzsche’, 2009)
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10. Filosofia como
criação
Nietzsche propõe uma nova
maneira de filosofar e
compreender o mundo,
reconhecendo a mudança, o devir,
a multiplicidade, o contraste e a
contradição no ser e no mundo.
Ele não tem como intuito instituir
um modo de filosofar, mas instigar
ao leitor a questionar e criar a si
próprio, inclusive seu modo de
filosofar, o “torna-te quem tu és”.
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11. Aforismos Uma das características de
Nietzsche é o uso de aforismos em
quase todas suas obras.
Aforismo é um gênero textual que
condensa com precisão
complexos conceitos filosóficos.
Um aforismo se caracteriza por
sua brevidade e concisão,
contendo máximas que traduzem
amplos conceitos por meio de
pequenas sentenças.
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12. Aforismos Sua escrita sob a forma de
aforismos, caracteriza seu estilo e,
ao mesmo tempo, possibilitar uma
leitura “não sistemática”, que
caminha entre a filosofia e a arte,
ao invés de uma leitura objetiva,
sistemática e científica. Isso reflete
diretamente sua tendência
filosófica, se interessando mais
pelo pluralismo e pela abertura a
interpretações do que pela busca
de uma unidade.
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13. “Um aforismo honestamente
modelado e cunhado não pode
‘decifrar-se’ à primeira leitura. Ao
contrário, começa-se unicamente
agora a interpretar-se para o qual é
necessário uma arte de interpretação.
(...) Na verdade, para elevar assim a
leitura à dignidade de ‘arte’ é mister,
antes de mais nada, possuir uma
faculdade hoje muito esquecida, uma
faculdade que exige qualidades de
vaca, e absolutamente não as de um
homem ‘moderno’: a de ruminar…”
(Nietzsche, em Prefácio da Genealogia da Moral)
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14. As tragédias, na Grécia Antiga,
apresentavam histórias trágicas e
dramáticas, derivadas das paixões
humanas, envolvendo deuses,
semideuses e heróis mitológicos.
Envolviam uma tensão permanente
e um final infeliz e trágico, gerando
nas pessoas as sensações vividas
pelos personagens, envolvendo o
público como uma forma de
purgação dos sentimentos.
O Nascimento da
Tragédia
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15. Nietzsche criticou a tradição da
filosofia ocidental onde, desde
Sócrates, que passou a valorizar a
razão e o ideal da verdade em
oposição ao corpo e a invenção.
Ele estabelece uma distinção entre
o princípio apolíneo, que é o da
razão, da clareza e da ordem; e o
dionisíaco, que corresponde ao da
aventura, da música, da fantasia e
da desordem.
Apolíneo e
Dionisíaco
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16. Para Nietzsche, esses dois
princípios correspondem a
dimensões complementares da
realidade, sendo ambos
igualmente necessários.
Segundo ele, a realidade é
composta pelo conflito, pelas
misturas, complexidades,
contradições e turbulências entre a
ordem e a desordem.
Apolíneo e
Dionisíaco
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17. “Nietzsche argumenta que a tragédia
combina dois tipos de estética que são
usualmente mantidos em separado nas
outras artes: o apolíneo e o dionisíaco.
Apolo é o deus da beleza; Nietzsche o
associava ao sonho, harmonia, forma e
artes plásticas (como a escultura).
Dionísio é o deus do vinho; Nietzsche o
associava à intoxicação, desarmonia,
ausência de forma, sublimidade e
música. Nietzsche considera a
combinação de ambas as estéticas na
tragédia como a forma ideal de arte,
uma forma que mais bem nos permite
lidar com a vida e afirmá-la.”
(Ashley Woodward, em ‘Nietzscheanismo’)
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18. Apolo é o deus da clareza, da
ordem e da harmonia, Dionísio é o
deus da exuberância, da desordem
e da música. Sócrates separou os
dois, tendo optado pelo culto à
razão e à ordem, deixando de lado
a emoção e a desordem.
Segundo Nietzsche essa razão
aniquilou a força criadora da
filosofia nascente, priorizando o
mundo abstrato do pensamento.
Apolíneo e
Dionisíaco
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19. “A tragédia é a síntese dessas
forças antitéticas. Sem
destruição, não há criação;
sem trevas, não há luz; sem
barbárie e crueldade, não há
beleza nem cultura.”
(Giacoia Júnior, em ‘Nietzsche’, 2000)
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20. Nietzsche fez uma análise
genealógica sobre o
desenvolvimento da moral no
ocidente, um estudo sobre a
constituição e transformação dos
valores morais na história,
investigando em quais condições
certos valores emergiram sobre
outros, e em quais circunstâncias
estes valores se transformaram,
foram negados ou, até mesmo,
proibidos.
Genealogia da
moral
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21. Por meio de seus estudos, ele
constata que o ser humano cria os
valores que cultiva, partindo de
certos desejos, necessidades e
circunstâncias momentâneas,
porém depois disso os toma como
"eternos", esquecendo-se de sua
potência criadora e inventiva,
passando a se submeter aos
valores antes estabelecidos,
deixando de questionar e de
desejar transformar.
Genealogia da
moral
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22. “Necessitamos de uma 'crítica'
dos valores morais e antes de
tudo deve discutir-se o 'valor
destes valores', e por isso é toda a
necessidade de conhecer as
condições e o meio ambiente em
que nasceram, em que se
desenvolveram e deformaram.”
(Nietzsche, em 'A Genealogia da Moral')
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23. Ele constatou que o termo "bom",
era usado inicialmente pelos
nobres e aristocratas para se
auto-definirem, em contraposição
ao "mau", relacionado a tudo o que
era plebeu, vulgar e mesquinho.
Aristoi era o termo utilizado pelos
nobres na antiga sociedade grega,
em particular na antiga Atenas, que
significava "melhores", no sentido
de "melhor nascido", enquanto
"moralmente melhor".
Genealogia da
moral
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24. Na Roma Antiga, esse termo se
transforma, o “bom” passa a ser
tido como o guerreiro, e o “mau”
passa a ser visto enquanto o
sedentário trabalhador.
Mais a frente, os judeus trazem
uma nova apreciação moral, onde
o "bom" passa a ser associado aos
humildes e impotentes, enquanto
que o "mau" é associado aos
nobres, poderosos e felizes.
Genealogia da
moral
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25. Percebe-se então, que os nobres
eram tidos como “bons”, e com o
passar do tempo foram vistos
como “maus”. E o que era tido
como “mau”, relacionado ao fraco,
passa a ser visto como “bom”.
Com esta análise, ele constata que
os conceitos de “bom” e “mau”
não são universais, mas criados e
mantidos intencionalmente no
percurso da história, por meio de
diversas lutas de forças contrárias.
Genealogia da
moral
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26. “Eu já disse que o que é tachado
de 'bom' foi antigamente uma
novidade, isto é, julgado imoral.
Já disse que nenhuma forma que
tome o bem e o mal é eterna. Nem
tampouco devem ser eternas. Elas
devem proliferar, crescer e
transformar-se. É um ato de
violência querer estabelecer o
bem e o mal.”
(Nietzsche, em 'A Genealogia da Moral')
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27. Nietzsche constatou uma distinção
entre duas formas morais
presentes na cultura ocidental, a
'moral dos fracos' (do rebanho ou
dos escravos) e a 'moral dos
fortes' (dos senhores, da criação e
da afirmação).
Estas correspondem a duas
maneiras possíveis e mais comuns
de se dispor ao mundo, a si
mesmo, aos objetos e aos outros,
características em nossa cultura.
Moral dos fortes e
moral dos fracos
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28. A moral dos fracos corresponde
aos modos de ser daqueles que se
submetem facilmente a uma regra
estabelecida, que não criam nem
modificam, pois não se sentem
capazes de transformar algo,
portanto apenas aceitam e seguem
ordens. É a moral dos que são
facilmente guiados, que não
questionam as regras e os valores
morais, que seguem estas para
guiar e orientar suas vidas.
Moral dos fracos
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29. A moral dos fortes, corresponde
aos modos de ser daqueles que se
afirmam independente das regras
estabelecidas, daqueles que criam
e estabelecem os valores, que não
dependem de uma orientação
externa, mas se guiam por seus
próprios valores. Trata-se da moral
daquele que diz “sim” à vida, que
não nega o caos, as incertezas e
angústias da existência, mas que
assume a vida apesar delas.
Moral dos fortes
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30. “Moral do senhor: senhores são os
tipos fortes, capazes de afirmar a si
mesmos, lidar com a natureza
trágica da vida e legislar sobre seus
próprios valores morais. Moral do
escravo: escravos são os tipos fracos,
que não conseguem lidar bem com o
sofrimento e que, em compensação,
desenvolvem uma crença em uma
ordem moral do universo.”
(Ashley Woodward, em 'Nietzscheanismo')
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31. Nietzsche questionou também os
fundamentos de toda a filosofia
ocidental desde Platão, entende
que cada coisa tida como
fundamento do conhecimento foi
criada num determinado momento
e com uma finalidade específica.
Segundo ele, o mundo das ideias
de Platão, e o conceito de sujeito
de Descartes, são crenças e
valores humanos, colocados como
metafísicos ou superiores.
Críticas à filosofia
tradicional
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32. Para Nietzsche, o intuito da
filosofia não é alcançar um
conhecimento verdadeiro, mas
interpretar e avaliar os diferentes
sentidos de se compreender algo,
de modo parcial e fragmentário.
A interpretação abre múltiplos
sentidos, e a avaliação possibilita
compreender o valor desses
sentidos, sem deixar a pluralidade
de interpretações.
Conhecimento
como interpretação
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33. “Aprender a ver - habituar os
olhos à calma, à paciência, ao
deixar-que-as-coisas-se-aproxi
mem-de-nós; aprender a adiar o
juízo, a rodear e a abarcar o caso
particular a partir de todos os
lados.”
(Nietzsche, em 'Crepúsculo dos ídolos')
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34. A concepção de verdade, no
sentido filosófico, esteve marcada
pela busca do que é imutável e
universal, desde Pitágoras e
Parmênides, mais fortemente por
Platão, separando-se de nossas
percepções e da experiência de
mundo, que se transforma com o
tempo. A verdade para esses
filósofos deveria estar além de
nossas percepções, deveria estar
nas essências e no imutável.
Concepção de
verdade na filosofia
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35. “Falta de sentido histórico é o
defeito hereditário de todos os
filósofos. Não querem aprender
que o homem veio a ser, que até
mesmo a faculdade do
conhecimento veio a ser. Tudo
veio a ser; não há fatos eternos:
assim como não há verdades
absolutas. - Portanto, o filosofar
histórico é necessário de agora
em diante e, com ele, a virtude da
modéstia.”
(Nietzsche, em 'Humano, demasiado humano')
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36. Nietzsche critica essa vertente
idealista de filosofia, para ele a
verdade não passa de uma
interpretação e atribuição de
sentidos, nunca sendo uma
explicação sobre a realidade, mas
sempre como uma entre diversas
possibilidades de conceber a
realidade, numa pluralidade de
pontos de vista. Concepção essa
que se aproxima da complexidade
da vida e dos seres.
Problema da
verdade
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37. “O que é a verdade, portanto? Um
batalhão móvel de metáforas,
metonímias, antropomorfismos, enfim,
uma soma de relações humanas, que
foram enfatizadas poética e
retoricamente, transpostas, enfeitadas,
e que, após longo uso, parecem a um
povo sólidas, canônicas e obrigatórias:
as verdades são ilusões, das quais se
esqueceu que o são, metáforas que se
tornaram gastas e sem força sensível,
moedas que perderam sua efígie e agora
só entram em consideração como metal,
não mais como moedas.”
(Nietzsche, ‘Sobre verdade e mentira no sentido extramoral’)
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38. O ‘além-do-homem’ é aquele que
aceita viver a vida em seu caos,
numa constante transformação,
criando seus próprios valores e
afirmando a sua potência de vida,
para além dos limites dos valores
dados, é portanto o transgressor
dos valores para criar novos
valores mais saudáveis, onde
questiona os valores postos para ir
ao encontro de outros novos.
Além-do-homem
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39. “Eu vos ensino o além-do-homem. O
homem é algo que deve ser superado.
(...) O homem é uma corda estendida
entre o animal e o além-do-homem
- uma corda sobre o abismo. Um
perigoso passar para o outro lado,
um perigoso caminhar, um perigoso
olhar para trás, um perigoso
estremecer e parar. A grandeza do
homem está em ser ele uma ponte, e
não um fim: o que se pode amar no
homem é que ele é uma passagem e
um crepúsculo.”
(Nietzsche, em 'Assim Falou Zaratustra')
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40. A grande saúde, é para Nietzsche
uma postura mais ativa e
afirmativa perante a vida, que ao
constatar suas dificuldades e
problemas não busca evitá-los ou
agir contra eles, mas que se coloca
diante deles e os enfrenta.
Trata-se de não ficar remoendo as
dores ou evitando as situações
conflituosas, mas se permitir a
experimentar o sofrimento e
transcender essa condição.
A Grande Saúde
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41. Essa é a postura de quem se
coloca em favor de si mesmo e de
sua experiência de vida, de uma
saúde que é conquistada por meio
da dor, do sofrimento e da luta.
Diferencia-se daquela saúde que
crê que devemos evitar conflitos e
sofrimentos, mas uma saúde que
diagnostica o que não está
saudável e legisla sobre sua
existência, de maneira afirmativa e
autônoma.
A Grande Saúde
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42. “(...) para alguém que é
tipicamente saudável uma doença
pode, ao contrário, até ser uma
estimulação energética à vida, a
viver mais. É assim que vejo agora
aquele longo tempo de
enfermidade: é como se eu tivesse
redescoberto a vida de novo,
incluindo-me dentro dela.”
(Nietzsche, em 'Ecce Homo')
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43. A grande saúde, segundo o
filósofo, não é algo que possuímos,
mas o que devemos nos esforçar
para alcançar. Ela não é como um
objeto que se possa ter, mas algo
que deve ser sempre adquirido por
meio do reconhecimento da
doença, trata-se de uma saúde que
nos possibilita o contato com a
experiência da doença, que é
conquistada por meio da
superação de resistências.
A Grande Saúde
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44. “Ele adivinha meios curativos
contra lesões, ele aproveita acasos
desagradáveis em seu próprio
favor; o que não acaba com ele,
fortalece-o. Ele acumula por
instinto tudo aquilo que vê, ouve e
experimenta à sua soma: ele é um
princípio selecionador, ele reprova
muito. Ele está sempre em sua
própria companhia, mesmo que
esteja em contato com livros,
pessoas ou paisagens.”
(Nietzsche, em 'Ecce Homo')
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45. A saúde não é a ausência de
sofrimento ou doença, mas a
abertura para se viver a vida em
suas possíveis expansões,
enquanto que a doença é apenas
um desvio interior à própria vida.
Nietzsche considera a doença
como um ponto de vista sobre a
saúde, e a saúde um ponto de vista
sobre a doença, de modo que a
doença pode ser útil para uma
pessoa e para a saúde.
Saúde e doença
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46. “Não existe uma saúde em si, e
todas as tentativas de definir tal
coisa fracassaram
miseravelmente. Depende do seu
objetivo, do seu horizonte, de
suas forças, de seus impulsos,
seus erros e, sobretudo, dos ideais
e fantasias de sua alma,
determinar o que deve significar
saúde também para seu corpo.”
(Nietzsche, em 'A Gaia Ciência')
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47. Para Nietzsche, a loucura rompe
com os velhos costumes, para uma
subversão dos valores. Onde existe
loucura, há também algo de
genialidade e de sabedoria.
É a loucura que proclama novas
leis e quebra com a moralidade,
criticando a decadência dos
valores. Trata-se, portanto, de uma
condição necessária à saúde.
Loucura e sanidade
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48. “É preciso ter ainda o caos
dentro de si, para poder dar à
luz uma estrela dançante. Eu
vos digo, tendes ainda o caos
dentro de vós.”
(Nietzsche, em 'Assim Falou Zaratustra,')
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49. A vontade de potência trata-se da
afirmação do devir, do vir-a-ser, da
transitoriedade das experiências e
da multiplicidade.
O impulso de afirmação da vida vai
em direção de uma transmutação
dos valores que é criadora, que
conduz a possibilidade de um
maior aproveitamento das
potencialidades de cada um.
Vontade de
potência
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50. “A vontade de potência é o
desejo por mais força, mais
abundância; ela é o desejo por
expansão e crescimento. A
vontade de potência
manifesta-se também como
uma superação de si.”
(Woodward, em ‘Nietzscheanismo’)
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51. Para Nietzsche, uma vida plena
consiste na afirmação do devir em
sua multiplicidade, alternando
entre criação e destruição.
A transmutação dos valores
possibilita um novo ser, além do
humano, do bem e do mal e de
todas as convenções de uma
cultura decadente. Criar seus
valores significa viver no risco e na
criatividade.
Transmutação dos
valores
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52. “O que é bom? –Tudo o que eleva
o sentimento de potência,
vontade de potência, a potência
mesma no homem. O que é mau?
–Tudo o que vem da fraqueza.
O que é felicidade? –O sentimento
de que o poder cresce, que uma
resistência foi superada.”
(Nietzsche, em ‘O Anticristo’)
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53. Nietzsche influenciou diversos
autores e filósofos do século XX
em diante, entre eles: Sigmund
Freud, Hermann Hesse, Martin
Buber, Karl Jaspers, Martin
Heidegger, Jean-Paul Sartre, Emil
Cioran, Albert Camus, Gilles
Deleuze, Michel Foucault,
Jean-François Lyotard e Jacques
Derrida.
Influências de
Nietzsche
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54. “Eu tenho o meu caminho.
Você tem o seu caminho.
Portanto, quanto ao caminho
direito, o caminho correto,
e o único caminho,
isso não existe.”
(Nietzsche, em 'Assim falou Zaratustra')
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55. Referências
bibliográficas
GIACOIA JÚNIOR, Oswaldo.
Nietzsche. São Paulo: Publifolha,
2000.
GRANIER, Jean. Nietzsche. Porto
Alegre: L&PM, 2009.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia
Ciência. São Paulo: Companhia
das Letras, 2012.
NIETZSCHE, Friedrich. A
Genealogia da Moral. Petrópolis:
Vozes, 2017.
56. Referências
bibliográficas
NIETZSCHE, Friedrich. Além do
Bem e do Mal. Companhia de
Bolso, 2005.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou
Zaratustra. São Paulo: Companhia
das Letras, 2011.
NIETZSCHE, Friedrich. Ecce Homo.
Porto Alegre: L&PM, 2003.
WOODWARD, Ashley.
Nietzscheanismo. Petrópolis:
Vozes, 2017.
57. Por Bruno Carrasco Psicoterapeuta existencial e
professor, graduado em Psicologia,
licenciado em Filosofia e Pedagogia,
pós-graduado em Ensino de Filosofia,
especializado em Psicoterapia
Fenomenológico Existencial,
pós-graduando em Psicologia
Existencial Humanista e
Fenomenológica.
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58. ex-isto Ex-isto é um projeto dedicado ao
estudo e pesquisa sobre o
existencialismo e suas relações com a
psicologia, filosofia, psicoterapia,
fenomenologia, literatura e artes. Tem
como intuito oferecer conteúdos que
facilitem a compreensão sobre os
temas pesquisados.
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