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Revista Jane Austen Portugal




 Sensibilidade e Bom Senso




            Abril 2011 | Nº 4

    janeaustenpt.blogs.sapo.pt

        Conteúdo original © Jane Austen Portugal




       Conteúdo Original © Jane Austen Portugal
Sumário
         1. Sugestões Austenianas                          3
         2. Quando Conheci Jane Austen                     5
         3. Sensibilidade e Bom Senso 1981                 7
         4. Sensibilidade e Bom Senso 1995 e 2008          10
         5. Sensibilidade e Bom Senso 1995 – “Alma”        12
         6. Sensibilidade e Bom Senso 2008
              a. Expectativa e Consenso                    13
              b. Pálido                                    14
         7. Jane Austen e Eu                               16
         8. Quando Li S&S                                  18
         9. S&S em Portugal 200 Anos Depois
            Leitura Comparada                              20
         10. Contra Todas as Tormentas                     23
         11. Estoicamente Elinor                           25
         12. Marianne Dashwood                             26
         13. A Terceira Dashwood                           28
         14. Edward Ferrars                                30
         15. John Willoughby                               31
         16. Lucy Steele, A Manipuladora                   32
         17. As Irmãs Steele                               33
         18. Mrs. Jennings                                 34
         19. John Dashwood                                 35
         20. Mrs. Ferrars e o Seu Filho Robert             36
         21. Charlotte e Thomas Palmer, O Adorável Casal   37
         22. Sir John e Lady Middleton                     38
         23. A Herança em S&S                              39
         24. Mini Conto Temático                           41
         25. Lost In Jane Austen Portugal                  42
         26. Os Lugares de Jane Austen                     45
         27. Sabias Que…                                   47
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Sugestões Austenianas
                                      Por Fátima Velez de Castro


                                                           Sugestão Livro:

Truman Capote, um dos mais geniais e controversos escritores americanos de sempre, (re)inaugura o estilo “non-

ficcional novel” com este livro – A Sangue Frio (In Cold Blood, no original). Foi publicado pela primeira vez em 1966 e

trata a história de um crime horrendo que ocorreu Holcom, Kansas (EUA). A família Clutter, pais agricultores e dois filhos,

foram assassinados de forma bárbara por Richard "Dick" Hickock e Perry Smith, ex-condenados pretendiam apenas

roubar algum dinheiro e fugir para o México, com o objectivo de começar uma nova vida. Porém o

crime desenrola-se da pior forma.

Truman Capote trabalha durante seis anos nesta obra, entrevistando na prisão os assassinos

assim como outras pessoas das relações das vítimas. Como resultado, produz um impressionante

relato dos factos, baseado na intensa e profunda análise psicológica dos intervenientes. (Nota:

Leiam o livro e vejam o filme “Capote”, com a brilhante interpretação de Philip Seymour Hoffman.)

Site: http://en.wikipedia.org/wiki/In_Cold_Blood




                                                         Sugestão música:

                                     Literalmente o segundo trabalho desta cantora brasileira – Maria Rita, Segundo. Filha

                                     da cantora Elis Regina e do músico César Camargo, apenas aos 24 iniciou a sua

                                     carreira musical, com receio de ficar “na sombra da mãe”. Mas não foi isso que

                                     aconteceu, e hoje Maria Rita é uma das mais importantes intérpretes musicais de

                                     MPB. O primeiro álbum intitulou-se “Maria Rita”, tendo alcançado grande sucesso

                                     (tripla platina).

                                     É uma cantora enérgica, criativa, que interage de forma única com o público.

Exuberante sem exageros, possui uma voz potente e segura em vários registos, incrivelmente bonita no samba.

Impossível ficar indiferente a este furacão brasileiro!

Uma das minhas músicas favoritas, “Feliz”: http://www.youtube.com/watch?v=7WGIubAfu6o
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Sugestão Filme:

                                        Quem não gosta de uma boa história de amor no cinema? Este é o filme ideal para

                                        todos aqueles que gostam de romance, aventura, acção, crime e muito, muito humor

                                        num só filme. Realizado por Emir Kusturica (1998), Gato Preto, Gato Branco

                                        (Crna macka, beli macor, no original) é sobre a história de Matko, um criminoso

                                        incapaz e do seu filho Zare, cujo sonho é ser capitão de um barco de recreio

                                        (cruzeiro). Eles vivem nas margens do Danúbio e são ciganos da Europa de Leste.

                                        Dadan Carambolo, um verdadeiro gangster/vedeta, quer a todos os custos casar o

                                        jovem Zare com a sua irmã Afrodita, conhecida pela sua fealdade e baixa estatura,

                                        mas que sonha com o príncipe encantado – um jovem alto de bigode. E ele existe, é

                                        o neto mais velho de Grga Pitic, il padrino de uma complexa e divertida máfia que

opera na região. Mas Zare gosta de outra – Ida – uma voluptuosa jovem que, em conjunto com a avó, é contratada para

lhe organizar o casamento. Partindo do princípio que os avôs dos noivos morrem e são deixados no sótão com um bloco

de gelo preso ao corpo (para não “atrapalhar” a realização da cerimónia), o que é que pode correr mal? Tudo! Mas com

muito humor.

Tailer: http://www.youtube.com/watch?v=7uB8lA8mSxY



                                                      Sugestão Blog:



Imigraste, o meu blog pessoal, dedicado a todos aqueles que se interessam pelas (i)migrações e sobretudo pelo Outro.

Porque, no fundo, todos fomos, somos e seremos sempre (i)migrantes. Sítio onde, com alguma regularidade, dou a

conhecer notícias, entrevistas, eventos académicos, estatísticas, livros e outros aspectos relacionados as migrações.

Tendencialmente é um blog sobre estrangeiros que procuram Portugal para trabalhar e residir, embora o âmbito temático

acabe por se alargar à emigração portuguesa e aos

fluxos migratórios internacionais, numa perspectiva

global/regional/local.

Blog: http://imigraste.blogs.sapo.pt/
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Por Leonor, uma fã do JAPT
                                                        desde o 1º dia…




         R        ecordo-me de que era noite.
                  Numa das habituais viagens à
                  sala que antecedem o jantar,
         sento-me no sofá, perscrutando o ecrã
                                                    Um novo movimento e, do lado oposto,
                                                    um semblante enceta o seu desenho por
                                                    entre o campo verdejante. Dou conta
         do televisor em busca de algo que capte    de que é um homem de porte distinto.
         o meu interesse.                           Avança confiante, como se nada o
         Efectuando     um   breve    “zapping”,    pudesse   impedir,   imerso   nos   seus
         detenho-me perante uma imagem que          pensamentos, em jeito de reflexão. O
         se afigurava como um campo envolto         piano que em crescendo acompanha os
         na misteriosa neblina da manhã. A          seus passos e é o espelho do estado da
         câmara desloca-se e acompanha em           sua alma – é-me quase possível sentir o
         uníssono o caminhar melancólico de         bater descompassado do seu coração.
         uma jovem rapariga, a qual subitamente     Lembro-me do momento seguinte como
         faz uma pausa na ponte, fixando os olhos   uma das confissões mais profundas e
         na neblina. Sufocando um murmúrio          despojada de emoções artificiais que
         quase inaudível na garganta, parece        evocava tão-só e subtilmente o amor
         indagar a veracidade do que presencia.     sincero, sem falsas pretensões. O acto
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simbólico de tocar as mãos e levá-las até               me de correr para o computador do
         aos lábios foi, pessoalmente, melhor do                 meu irmão e vidrar-me vezes sem conta
         que qualquer beijo efusivo, expressando                 na “cena da tempestade” e outras; a
         a delicadeza e respeito que ambos                       composição de Dario Marianelli e Jean-
         possuíam e partilhavam. A fechar, o                     Yves Thibaudet eram a minha banda
         quadro encerra-se juntamente com a                      sonora na escola e da minha casa,
         coroação dos primeiros raios solares.                   rodeada por pinheiros e carvalhos ao
                                                                 longe e o chilrear dos pássaros, abria a
         Agarrada ao comando e com os olhos                      janela do meu quarto todas as manhãs
         presos no ecrã: assim permaneci alguns                  inspirando o orvalho da manhã e fruindo
         instantes, imóvel e plácida até que por                 o nascer do sol.
         fim – acordada pela racionalidade –
         apercebi-me         de    que       um   sorriso   se   Passaram cinco anos e entretanto tomei
         esboçava no meu rosto. Sorria para a                    contacto      com    outros     trabalhos   de
         televisão, sozinha na sala. Tomada de                   Austen – “Persuasão” e “Sensibilidade e
         impulso, precipitei-me com o controlo                   Bom Senso” – sendo que, quando me é
         remoto nas mãos, perseguindo apenas                     possível, assisto a séries e filmes.
         um intento: saber o nome do filme.
         Ansiosa,     foi    com    felicidade       que    o    Por último, foi através do blogue da Clara
         desvendei:         “Orgulho     e    Preconceito”.      (quando era ainda “Um Minuto de
         Uma ideia rapidamente se tornou um                      Histórias") que tive conhecimento - com
         imperativo: “Tenho de ver este filme”. E                enorme satisfação – do Jane Austen
         assim fiz.                                              Portugal, o qual visito frequentemente.


         Descobri a autora que inspirou esta                     Foi igualmente com imenso prazer que
         adaptação cinematográfica e rendi-me                    acolhi o gentil pedido endereçado pela
         à obra, a qual prontamente imprimi e                    Clara     para      descrever      a     minha
         que só consigo ler em inglês (não sei                   experiência      enquanto      leitora   desta
         justificar a razão).                                    perspicaz escritora que delicia gerações.
         Desde então, a evasão no universo de                    Neste momento, tal como há cinco anos,
         Jane Austen foi-me concedida: lembro-                   sorrio. E acrescento: muito Obrigado.
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SENSIBILIDADE E BOM SENSO 1981 | CLARA FERREIRA

                                           
          “Definitivamente posso dizer que me tornei fã deste Edward Ferrars”
                                           



I   ncentivada
    por
    comentário
                um

    de uma leitora
    do      blogue,
    decidi ver esta
                                                                            Edwards


                                                                            não sei, mas a
                                                                            timidez
                                                                                          muito
                                                                                          bem
                                                                                conseguidos!),

                                                                                        parece
                                                                            inata, e o "mau
                                                                            estar" de se ver no
    versão      de                                                          centro         das
    1981        de                                                          atenções parece
    Sensibilidade                                                                incrivelmente
    e Bom Senso.                                                            genuíno.

    Esta     versão                                                         Elinor         está
    conta      com                                                           fenomenalmente
    Irene Richard                                                                         bem
    no papel de                                                                  representada.
    Elinor e Tracey                                                         Nesta       versão,
    Childs       no                                                         Elinor       possui
    papel        de                                                         sentido de humor
    Marianne.                       engraçadíssima, aliás, a      (como também acontece
                                    actriz que interpreta Fanny   no livro), é certo que a
    O primeiro episódio está        Dashwood (Amanda Boxer)       Elinor de 08 consegue
    muito próximo da história       consegue           encarnar   também mostrar isso, já
    original. Tal como no livro,    totalmente a personagem,      Emma Thompson em 95
    sabemos da morte de Mr.         deixando     de    lado   o   deu-nos       uma       Elinor
    Dashwood pelas falas das        histerismo tanto da Fanny     demasiado distante.
    restantes       personagens.    de 95 como da de 08. A
    Uma        falha      enorme,   cena     em    que    Fanny   Nesta versão existe o
    gigantesca...      não     há   convence o marido a           verdadeiro      "adeus    a
    Margaret Dashwood. Mrs.         dispensar a renda às meias-   Norland" de Marianne, da
    Dashwood aparece como           irmãs segue rigorosamente     tão célebre frase de Elinor,
    mãe apenas de duas              o texto de Austen, se a       "It is not every one,” said
    raparigas,       Elinor     e   memória não me falha.         Elinor,   “who has     your
    Marianne.                                                     passion for dead leaves".
                                    O Edward desta versão         Esta Marianne é muito
    Um episódio muito curioso,      (Bosco       Hogan)       é   interessante, embora às
    que penso que nunca foi         encantador, muito mais o      vezes      pareça    menos
    aprofundado nas restantes       Edward      que      sempre   espontânea do que seria
    adaptações foi o da             imaginei, pela descrição do   suposto.
    porcelana     de      Mrs.      livro, do que o Edward das
    Dashwood e a inveja de          restantes       adaptações    Devo confessar que, se não
    Mrs. John Dashwood... está      (embora ache todos os         soubesse a história, não
Brandon      é        pouco
                                                                      aprofundado.

                                                                      Uma curiosidade, a actriz
                                                                      que       interpreta Mrs.
                                                                      Dashwood (Diana Fairfax)
                                                                      interpretou também Emma
                                                                      Woodhouse na versão de
                                                                      1960.

                                                                      No 2º episódio, ficamos a
                                                                      conhecer Willoughby... a
                                                                      cena      do   resgate    de
                                                                      Marianne não é muito
                                                                      intensa, comparada com a
                                                                      das     restantes    versões.
                                                                      Willoughby não é tão
                                                                      encantador       como      se
                                                                      espera, nem tão galã. No
                                                                      entanto, a paixão de
                                                                      Marianne por ele é muito
         teria percebido muito bem      O    convívio    com     os   desenvolvida,       seguindo
         se Edward e Elinor estavam     Middleton não é muito         rigorosamente      o    texto
         apaixonados. Existem duas      aprofundado,         neste    original, temos a pergunta
         cenas em que os vemos          vepisódio     conhecemos      sobre "quem é Willoughby"
         juntos no jardim, e outra em   também     Mrs.   Jennings,   feita a Sir John e a
         que parecem estar de           muito longe da imagem         indignação de Marianne
         olhares      desencontrados    que temos dela no livro ou    por ele só lhe falar dos seus
         durante      o     pequeno-    que    temos de      outras   dotes de caçador; temos
         almoço, mas nada de            versões;  e    o   Coronel    Willougby a cantar com
         substancial que nos possa      Brandon, muito aquém de       Marianne, a recitar poesia
         levar a pensar que foram       qualquer       expectativa,   com ela, a criticar Brandon,
         feitos um para o outro. O      garanto. O tema Marianne-     a oferecer-lhe o cavalo,
         adeus é distante.

         A chegada a Devonshire
         ainda      acontece   neste
         episódio. Confesso que sou
         uma grande admiradora
         na alteração feita em 2008,
         onde colocam a casa
         perto do mar, mas esta
         "cottage"     também      é
         "fofinha".

         O encontro com Sir John e
         Lady      Middlenton      é
         engraçado,            Lady
         Middleton não é como eu
         imaginava, acho que está
         muito bem retratada na
         versão de 2008, Sir Jonh, é
         Sir John, embora prefira o
         de 2008 (até porque entrou
         no Harry Potter).
8
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episódio     que    Brandon salva Marianne.
                                                       tem uma das         De     facto    a  relação
                                                       cenas       mais    Brandon-Marianne é pouco
                                                       importantes e       ou nada focada nesta
                                                       hilariantes, no     adaptação, estou ansiosav
                                                                entanto,   por saber como é que no
                                                           pareceu-me      fim os vão juntar.
                                                       mais teatral do
                                                       que            os   O último episódio foi uma
                                                       anteriores.     É   agradável             surpresa,
                                                       natural        as   embora tenha fugido um
                                                           adaptações      pouco à obra original,
                                                       desta       data    adorei a forma como
                                                       serem teatrais e    transformaram          Coronel
                                                       devemos      dar    Brandon, só com esta
         sim, temos tudo isso! Aliás,    sempre um desconto, no            adaptação é que ganhei
         todo este episódio gira em      entanto, lembro-me agora          simpatia por ele, embora
         torno de Marianne.              da cena em que Miss               de     inicio    não     tenha
                                         Steele visita Elinor depois do    gostado muito do seu
         Este é o episódio em que        serão passado em Mrs.             papel, até porque nesta
         recebemos a visita de           Ferrars e achei essa cena         adaptação, como já referi,
         Edward       Ferrars,  peço     tão crua que até me doeu!         a    relação       dele    com
         desculpa ao Hugh Grant e                                          Marianne          é     pouco
         ao Dan Stevens, mas a           Este episódio teve muitos         desenvolvida.
         interpretação de Bosco          altos e baixos. O ponto alto      Definitivamente posso dizer
         Hogan é tal e qual o            refere-se à cena do pedido        que me tornei fã deste
         Edward de Jane Austen... e      de        desculpas      de       Edward Ferrars, pura e
         o mesmo posso dizer de          Willoughby que em todas           simplesmente maravilhoso.
         Irene Richard, que nos dá a     as versões tem sido muito         Em relação a esta Elinor,
         Elinor mais próxima da Elinor   comovente (salvo a de             considero que foi uma
         de Jane Austen.                 1995 em que esta cena é           grande          interpretação,
                                         inexistente). O ponto baixo       todavia,      nestes    últimos
         Não me canso de repetir         refere-se ao facto de             episódios creio que perdeu
         que estou a adorar este         retirarem a cena em que           alguma              qualidade.
         casal - Elinor e Edward -
         parece que estou a ler
         Jane Austen e além disso,
         esta        versão       de
         Sensibilidade e Bom Senso,
         tem muitos dos diálogos
         originais. Mas estou certa
         que quem não for fã
         ardente de Jane Austen já
         não conseguiria suportar
         esta adaptação porque,
         sejamos sinceras, já lá vão
         quase 30 anos e as versões
         mais recentes são muito
         mais apelativas tanto em
         cenário como em guarda-
         roupa!

         O 5º episódio não me
         "soube" tão bem como os
9




         anteriores. Quer dizer, é um
Página
SENSIBILIDADE E BOM SENSO 1995 E 2008 | CATARINA R. P.

                                           
              A história propriamente dita, não é a mais bonita, ou a mais
           romântica da autora Jane Austen, mas sem dúvida a mais real e a
                       mais cruel para as mulheres da sua época.
                                           




H
     á que desde já                                                              mulheres da
     referir que este                                                            sua época.
     livro, da autoria
     de Jane Austen                                                            Em relação
     é      o    mais                                                          ao         filme
     autobiográfico                                                            com           um
encontrado na sua                                                                      elenco
obra. É aqui que                                                                      luxuoso,
Austen expõe um                                                                    composto
dos seus maiores                                                               por: Emma
medos… ficar sem                                                                  Thompson,
nada após a morte                                                              Kate Winslet,
do pai e viver à                                                               o     rei     da
mercê      dos   seus                                                               comédia
irmãos. Elinor é sem                                                              romântica
mais nem menos do                                                                   britânica
que a sua irmã                                                                 Hugh Grant,
Cassandra e a apaixonada Marianne tem           e o Alan Rickman, escusado será dizer que a
características em comum com a autora           parte interpretativa não é um ponto fraco
(Jane Austen). Se fizermos um exercício muito   deste filme. O mesmo se poderá dizer do
simples que é; ver o filme “Becoming Jane” e    argumento, o realizador Ang Lee (Brokeback
depois Sense & Sensibility, podemos ver as      Mountain) inteligentemente colocou uma
enormes parecenças/semelhanças entre            mulher a escrevê-lo, nada mais do que a
personagem e as pessoas em questão.             actriz principal Emma Thompson (vencedora
                                                de Óscar de melhor argumento adaptado).
A       história                                                          Nota-se         uma
propriamente                                                                     maturidade
dita, não é a                                                                deliciosamente
mais    bonita,                                                           cruel no diálogo
ou    a    mais                                                           e    um       toque
romântica da                                                              feminino,        dois
autora    Jane                                                                componentes
Austen,    mas                                                            que       parecem
sem dúvida a                                                              não de conjugar,
mais real e a                                                             conseguem aqui
mais      cruel                                                           conviver       numa
para         as                                                               extraordinária
                                                                                   harmonia,
                                                                          todavia             o
excesso         de                                                         espectaculares.
         romance leva
         a um certo                                                                  Para finalizar há
         cansaço         do                                                          que referir a
         espectador.                                                                     extraordinária
         Reconheço                                                                       interpretação
         que a maior                                                                 de          Emma
         parte de nós,                                                               Thompson         e
         mulheres, não                                                               Kate Winslet, as
         adormece                                                                    melhores       do
         durante          o                                                          filme.
         filme,         mas
         estes       filmes                                                           Em relação à
         não são só                                                                   série de 2008,
         para mulheres                                                                não      tenho
         extremamente românticas, mas sim para           grandes comentários a fazer. Considero que
         todos, inclusive homens, dotados de uma         comparar o filme de Ang Lee à produção
         insensibilidade difícil de explicar. Não se     televisiva de 2008 é no mínimo impossível. O
         pode ter sensibilidade então têm-se bom         elemento central e principal de uma pelicula
         senso!                                          é o seu argumento é com ele que se
                                                         distingue um bom e um mau filme. Como
         Em relação ao guarda-roupa, na minha            sabemos as séries televisivas têm o dom de
         opinião o calcanhar de Aquiles desta            terem um péssimo argumento, salvo algumas
         produção, poderia ser melhor mas acredito       excepções. Isto porque, este varia conforme
         que o financiamento de um realizador            as audiências e o grau de satisfação da
         estrangeiro não seja o melhor para satisfazer   cadeia televisiva. Acho que já me fiz
         esta categoria. Perderam no guarda-roupa        entender em relação à produção de 2008.
         mas ganharam na banda-sonora da autoria         Pode ter todos os ingredientes como guarda-
         de Patrick Doyle, um nome não muito             roupa, banda-sonora e até actores bastante
         conhecido mas com um trabalho bastante          razoáveis, mas sem um bom argumento não
         interessante. Os cenários são fantásticos,      se faz um bom filme.
         aliás tenho de referir que os cenários dos
         filmes de Jane Austen têm a particularidade
         de      serem    todos    maravilhosamente
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SENSIBILIDADE E BOM SENSO 1995
         “ALMA” |CÁTIA PEREIRA
                                                      
            Tratando-se de um filme com mais de quinze anos, é impressionante a
                                 actualidade da sua imagem 
                                                      




A
               alma deste filme reside em dois                   Thompson for the lead, eventually
               nomes: Emma Thompson e Ang Lee.                   decided to age Elinor's character to 27
                                                                 years so that modern audiences would
                Em primeiro lugar, foi Emma Thompson             understand how Elinor could be
                quem se dedicou e acreditou nesta                considered a spinster. Thompson adds:
                obra ao ponto de levar quase cinco               "With make-up and a good wig I might
         anos a escrever o roteiro. Na sua                       look young enough." In addition, some
         adaptação, alguns personagens ficaram de                of the supporting cast members had to
         fora, como Lady Middleton e a irmã de Lucy              be cast older as well, to balance the
         Steel; contudo, penso que isso não lhe retira           36-year old lead."
         o valor. O facto do roteiro ter o cunho de
         Emma Thompson explica - e esta é uma              Chego ao segundo nome, Ang Lee. Quem
         suposição minha - o facto de Shakespeare          imaginaria que ele, um cineasta ainda
         ser uma presença constante através da voz         novato e de origem chinesa, seria perfeito
         de Marianne Dashwood. Sabemos que Jane            para fazer um filme de época inglês? Muitos
         Austen não o faz. Mas Emma Thompson tem           deverão ter duvidado. Aliás eu li no Eras of
         um passado voltado para as produções              Elegance que, até aquela altura, ele nunca
         baseadas em obras de Shakespeare,                 teria lido nenhuma obra de Jane Austen. O
         principalmente durante o seu casamento            que demonstra, sem sombra de dúvidas, a
         com Kenneth Branagh.                              qualidade do seu trabalho; já que consegue
                                                           transmitir o estilo da nossa querida Jane.
         Ela não teria a intenção de interpretar o
         papel de Elinor. Quem a convenceu de tal          Sempre fico impressionada com a qualidade
         foi Ang Lee, o director do filme. Ele defendia    do cenário e da fotografia deste filme.
         a opinião de que ela seria perfeita para          Tratando-se de um filme com mais de quinze
         interpretar este personagem:                      anos, é impressionante a actualidade da sua
                                                           imagem. Por vezes, ao assistir esqueço-me
               "Emma Thompson, who wrote the               deste pormenor, de como já faz tanto tempo
               screenplay,     crafted     the    script   que foi filmado. E isso tem a ver com a
               intending to cast real-life sisters,        elegância que Ang Lee imprimiu à obra.
               Natasha      and     Joely    Richardson    Achei interessante descobrir que ele tenha
               (daughters of British actress Vanessa       se inspirado nos quadros do pintor holandês
               Redgrave) as Marianne and Elinor.           Johannes Vermeer        (a      característica
               However, she was later encouraged to        principal da sua obra é a forma como utiliza
               play Elinor herself by director Ang Lee.    a luz e o jogo com as sombras ) para criar e
               Thompson was reluctant to cast herself      desenvolver a fotografia deste filme.
               as Elinor, because she thought she was
12




               too old (Elinor is supposed to be 19        São dois nomes, dois estilos, duas assinaturas
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               years     old).  Lee,     who    wanted     e um excelente resultado final.
SENSIBILIDADE E BOM SENSO 2008
EXPECTATIVA E CONSENSO |CÁTIA PEREIRA
                                            
           Grande expectativa - esta é a expressão correcta para traduzir o que milhares
         de fãs de Jane Austen sentiram enquanto a mini-série não estreava   
                                            




P
    odemos                                                               Propositadamente,
    contar com                                                          não aprofundei a
    mais de uma                                                         leitura      destes
    década    de                                                        mesmos      artigos
    intervalo                                                           para           não
    entre      a                                                        condicionar       a
produção                                                                minha       própria
cinematográfica                                                         opinião. Contudo,
de Ang Lee e a                                                          este sentimento de
adaptação                                                               expectativa       é
televisiva    de                                                        latente. De igual
                                                 forma, notava-se que todos
"Sense and Sensibility" pela BBC. Destaque-se
                                                 tinham curiosidade de ver
que a última adaptação da BBC é de 1981,
                                                 como Andrew        Davies
o que gera quase trinta de anos de intervalo
                                                 teria desenvolvido o
- no que diz respeito à BBC - e, por
                                                 roteiro. O que pude
consequência, gera também um elevado
                                                 concluir    é que     as
grau de curiosidade pelo resultado final.
                                                 opiniões dividem-se e não
Portanto, a fasquia era alta.
                                                 são de maneira nenhuma
                                                 consensuais. Há os que não
Grande expectativa - esta é a expressão          gostaram, os que gostaram, os que não
correcta para traduzir o que milhares de fãs     gostaram mas apreciaram certos pontos, os
de Jane Austen sentiram enquanto a mini-         que gostaram mas desgostaram de muita
série não estreava. Eu tive a curiosidade de     coisa. Enfim, uma amálgama de opiniões.
fazer uma breve pesquisa de artigos da
época anterior à estreia e nos dias seguintes.
SENSIBILIDADE E BOM SENSO 2008
         “PÁLIDO” |CÁTIA PEREIRA

                                                        
             Aquele local ressaltaria também todo o distanciamento da vida social

                                                        




O
                    tratamento                                                      exteriores   como
                   cénico,         as                                               os interiores são
                   locações, o                                                      amiúde sombrios;
                   design,          a                                               e, algumas vezes,
                   fotografia e o                                                   até cinzentos.
                   guarda-
         roupa resultou do
         trabalho       de       três
         pessoas:            James                                                   Aqui a imagem
         Merrifield,            Paul                                                 revela            e
         Ghirardani e Michele                                                               potencializa
         Clapton.       Toda        a                                                sentimentos       e
         coordenação              da                                                 sensações;      na
         imagem         leva        a                                                medida em que a
         predominância de cores neutras, pálidas e       sua combinação substancializa o que o
         cinzentas, o que faz com que toda a             personagem visado está a pensar, a sentir ou
         fotografia de Sensibilidade e Bom Senso 2008    a exteriorizar. Pode-se dizer que o tom quase
         traduza os sentimentos de melancolia,                                       pálido     imprime
         recolhimento              e                                                 realismo        ao
         alguma           tristeza.                                                  ambiente de luto
         Sobretudo,                                                                  das Dashwood.
         melancolia.
                                                                                    Acho     que     o
                                                                                    contraste é ainda
                                                                                    mais acentuado
         Inicialmente sente-se                                                      quando          as
         alguma estranheza.                                                                Dashwood
         Esperamos         ver                                                      chegam a Barton
         campos verdejantes                                                         Cottage.      Que
         e     dias  de    sol                                                      sensação       tão
         convidativos        a                                                      desoladora senti,
         passeios e pic-nics.                                                       devo    confessar,
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         Contrariamente,                                                            quando vi a cena
         tanto os cenários                                                          da    família    a
Página
chegar no seu novo local de morada.              Achei     interessante,    na      entrevista
         Acompanhei o olhar de total desilusão de         anteriormente publicada aqui, a produtora,
         Mrs. Dashwood a olhar para cada recanto          Anne Pivcevic, dizer que esta opção de
         da húmida, vazia e descolorida casa.             colocar Barton Cottage numa zona tão
         Entendi-lhe o olhar: “então, ser viúva é isto?   diferente da concebida por Jane Austen,
         então, ser pobre é isto? então, não ser mais     teve como fundamento reforçar a ideia do
         senhora de Norland é isto? então, ser alvo de    corte ocorrido na vida anterior das mulheres
         caridade alheia é isto? Que fiz eu para viver    Dashwood. Para além da perda, da descida
         nestas condições? que fiz eu, de tão errado,     económico-social, aquele local ressaltaria
         para ver as minhas filhas descerem de nível      também todo o distanciamento da vida
         social desta maneira? que fiz eu…?”.             social.



         Por outro lado, não se pode negar que o          Não posso dizer que assistir a esta mini-série
         local atribuído à Barton Cottage é idílico e     seja como admirar uma pintura. Mas, a meu
         belíssimo. É impossível ser-lhe indiferente. O   ver, há sequências de profunda beleza em
         cenário quase épico reforça a ideia de           Sensibilidade e Bom Senso 2008, que
         melancolia, recolhimento, tristeza, luto e       enchem os olhos e traduzem uma série de
         alguma solidão.                                  mensagens.
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Querida Jane Austen,
         Como sempre, aqui estou eu para lhe           sobre o livro (pelo menos para quem
         enviar os meus pensamentos sobre as           conhece a história): o orgulho e o
         suas obras nestas singelas cartas.            preconceito     de  cada     uma     das
         Singelas, sim, que o meu talento para a       personagens (tal como muitos outros
         escrita não se compara ao seu.                defeitos que nem vale a pena
                                                       enumerar...), bem patente ao longo da
                Mas se é verdade que desejava          história, é o mote de todo o livro. Sem
         imenso voltar a escrever-lhe uma carta,       estes nossos "amigos" ali, atrevo-me a
         também é verdade que me tenho                 dizer que a curiosidade do leitor não
         deparado com diversos problemas: o            seria estimulada.
         primeiro, e talvez o mais urgente de
         todos, é a época de exames que se                   Afinal de contas, porquê "orgulho"?
         inicia e que exige imenso estudo,             Porquê "preconceito"? E quando damos
         concentração mas, acima de tudo,              por nós, estamos a tentar decifrar todas
         calma (que eu não costumo ter!); o            as palavras da sua obra.
         segundo, é o tema da carta.
                Sabe, Jane, é que ainda que um
         dos meus objectivos seja ler tudo o que             Mas há mais: O Parque de
         escreveu, ainda só li Orgulho e               Mansfield.     Novamente,   este    título
         Preconceito e O Parque de Mansfield.          reporta-se ao mote da história - ou pelo
         Como poderei, então, escrever-lhe algo        menos à zona principal onde ela se
         que vá de encontro ao livro do mês,           desenrola. Com efeito, o parque de
         Sensibilidade e Bom Senso?                    Mansfield é o background para todos os
                Devo confessar que andei, durante      momentos de aflição da nossa querida
         muito tempo, às voltas, tentando arranjar     Fanny (de quem eu lhe falei na última
         algo que encaixasse. Lembrei-me,              carta, como certamente se lembra),
         inclusive, que vi a mini-série britânica de   para os despautérios da nossa querida
         1981 mas (ironia do destino), não me          (ahem!) Mary Crawford, para a aparente
         recordo bem da sua história.                  redenção de Mr. Crawford e para tantas
                                                       outras coisas.
              Até que, no meio disto, tudo me                Ainda que a referência ao parque
         apercebi de algo: títulos.                    não dê, imediatamente, uma ideia do
                                                       tema principal envolvido (ao contrário
                                                       do que ocorre, por exemplo, em Orgulho
              "Títulos? Como assim, títulos?",         e Preconceito), a verdade é que
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         pergunta a Jane. Bem, passo a explicar:       conseguimos, automaticamente, formar
         Orgulho e Preconceito. Este título diz tudo   uma imagem de um parque e várias
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histórias com as suas personagens (que,      história e, para os menos astutos (como
         na maior parte das vezes, não                eu), que surpreendem quando se
         combinam com a verdadeira história).         termina o livro.

                                                            E os títulos são essenciais por isso
                E, com isto, chego ao meu ponto       mesmo. Mas quem refere estas obras,
         principal: Sensibilidade e Bom Senso. Ora,   refere outras: Emma, Northanger Abbey,
         tendo em conta que me lembro de              Persuasion, Lady Susan,...
         muito pouco da história, tendo a juntar
         fragmentos da mini-série com o próprio              Cada uma das suas obras tem
         título. Assim, tudo me leva a crer que       títulos que correspondem à história, que
         estamos perante personagens que são          a resumem e que a caracterizam.
         ou demasiado sensíveis (acabando por         Haverá alguém melhor do que a Jane
         sair magoadas devido à sua facilidade        para ensinar a alguns destes novos
         em se apaixonar ou ficarem ofendidas)        autores a importância de um título bem
         ou cujo bom senso lhes falta em alta         feito? Provavelmente, não.
         medida.
                                                            E, com isto, devo deixá-la, minha
                 Estarei certa? Talvez não, afinal,   cara Jane: não serve de nada continuar
         não me recordo da história. Mas é            a debater a importância dos seus títulos.
         precisamente a isto que quero chegar, e      A verdade é que todos aqueles que
         não propriamente ao título da obra:          lerem a carta se irão lembrar da primeira
         títulos bem escolhidos e sonantes fazem-     vez que olharam para um dos seus livros
         nos pensar sobre eles.                       e imaginaram uma história, muito
                                                      provavelmente,           completamente
               Porque      razão    se    chama       diferente à verdadeira, e irão rir-se.
         Sensibilidade e Bom Senso? Será que há
         alguém com demasiado bom senso e                    E não há nada melhor do que
         outra pessoa com pouca sensibilidade?        rirmos com as nossas próprias memórias e
         Será o contrário? Será que não tem nada      termos a possibilidade de voltarmos a
         que ver com isto?                            mergulhar nas histórias que amamos.


               Verdade seja dita, a Jane é mestra     Até à próxima carta,
         na arte de dar títulos dignos às suas
         obras, títulos que aguçam a curiosidade
         e a imaginação, títulos que contam,
         para os mais astutos, um pouco da
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QUANDO LI S&S|CLARA FERREIRA

                                                   
              Acredita-se que estas duas irmãs foram criadas a partir de Jane Austen e
                                      da sua irmã Cassandra

                                                   




"A       ranked     as
                        nd among
                        the
                        and

                        Elinor
                               merits



         Marianne, let it not be
                          the
                                   the
                        happiness of
                                  and

                                least
         considerable, that, though
         sisters, and living almost
         within sight of each other,
         they could live without
         disagreement        between
         themselves, or producing
         coolness    between     their
         husbands"

         Publicado em 1811, foi o
         primeiro romance de Jane
         Austen a ser publicado, sob
         o pseudónimo de " A Lady".

         Jane Austen escreveu o
         primeiro rascunho desta         personagem preferida de         tão fortemente como se
         obra em 1795, quando            sempre - Elinor Dashwood.       ama a primeira vez.
         tinha cerca de 19 anos.
         Primeiramente     chamado       À       semelhança        de    A história possui duas
         "Elinor and Marianne" e         "Persuasion" este livro é       personagens       principais:
         depois,     definitivamente     totalmente absorvente, são      Elinor     e       Marianne
         "Sense and Sensibility".        tantas as desgraças que         Dashwood (duas irmãs). O
                                         acontecem      à     família    contraste entre ambas é
         Não é o meu livro preferido     Dashwood que vivemos a          enorme. Elinor revela um
         de Jane Austen, mas é           história como se fôssemos       enorme bom senso e
         aquele que contém lá            uma das irmãs. O livro, fala-   Marianne     representa    a
         dentro     a         minha      nos da possibilidade de         emoção do seu maior
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                                         amar uma segunda vez,           esplendor. Acredita-se que
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                                                                         estas duas irmãs foram
criadas a partir de Jane        do que sente se reflecte        amor... o que não deixa de
         Austen e da sua irmã            (exageradamente)      para      ser irónico, dado que era
         Cassandra.                      fora, embora sinta tudo e       ela a "eterna romântica".
                                         de    uma forma muito
         Tudo começa quando o            profunda, acaba por se          Deixo aqui um trecho do
         pai de Elinor, Marianne e       apaixonar    por   Edward       último capítulo que explica
         Margarett morre. Toda a         Ferrars, irmão da sua           a situação de Marianne,
         sua fortuna passa para as       cunhada. Uma relação            em tudo diferente dos finais
         mãos do filho do primeiro       manifestamente impossível       a que Jane Austen nos
         casamento (meio irmão de        perante os olhos da família     habituou,    pois   o    de
         Elinor,    Marianne        e    de Edward.                      Marianne, aproxima-se mais
         Margarett). As irmãs e a sua                                    da realidade da vida e não
         mãe ficam com uma               Marianne, apaixona-se por       da felicidade eterna.
         pequena renda anual. O          Willoughby... e também nós
         irmão e a sua mulher            (leitores), a relação deles é   "Marianne Dashwood was
         acabam por vir residir para     claramente aquele "amor         born to an extraordinary
         Norland - a morada do pai,      perfeito"        em      que    fate. She was born to
         madrasta e meias-irmãs.         acreditamos fielmente. No       discover the falsehood of
                                         entanto, esta personagem        her own opinions, and to
         Mrs. Dashwood começa a          acaba           por       nos   counteract,       by      her
         procurar uma casa para          decepcionar        a   todos,   conduct, her most favourite
         poder ir viver com as suas      porque, afinal de contas,       maxims. She was born to
         filhas, um primo oferece-lhe    não era tão perfeito assim.     overcome an affection
         uma pequena casa de                                             formed so late in life as at
         campo em Barton e aí se         Há um capítulo, já no fim,      seventeen, and with no
         acabam por estabelecer.         em que Willoughby tem           sentiment superior to strong
                                         uma conversa com Elinor,        esteem and lively friendship,
         Elinor, razoável, sensata,      onde se justifica ou explica    voluntarily to give her hand
         prudente     e    com    um     as suas acções... e até eu,     to another! (...)
         enorme bom senso é o            que lhe fiquei com um
         oposto da sua irmã, que         enorme "pó" depois do que       But so it was. Instead of
         vive tudo com a emoção à        ele    fez   à    Marianne,     falling a sacrifice to an
         flor da pele, que não           consegui desculpá-lo, de        irresistible passion, (...) she
         suporta     ficar    calada     certa forma.                    found herself at nineteen
         quando julga que algo está                                      submitting        to       new
         mal, que pouco que lhe          O fim do livro é ao mesmo       attachments, entering on
         importa o que os outros         tempo fantástico e ao           new duties, placed in a
         pensam das suas acções -        mesmo tempo de um certo         new home, a wife, the
         Marianne é a eterna             desapontamento...     fiquei    mistress of a family, and the
         romântica que       apenas      muito feliz com Elinor pois     patroness of a village.
         acredita no único amor e        acabou por se casar com
         que ninguém consegue            Edward (o "amor da sua           (...) and that Marianne
         amar novamente depois           vida"), mas o destino de        found her own happiness in
         de ter encontrado o "amor       Marianne é, embora feliz,       forming his, was equally the
         da sua vida".                   um destino alternativo, pois    persuasion and delight of
                                         ela não acaba com o             each     observing   friend.
                                         "amor da sua vida", eu senti    Marianne could never love
                                         que, ao casar-se com o          by halves; and her whole
         Muito               acontece    Colonel Brandon, casou-se       heart became, in time, as
         entretanto... Elinor, que       primeiramente pela grande       much devoted to her
         pode por vezes parecer          amizade que tinham e que,       husband as it had once
         indiferente e fria, pois nada   acabou por se tornar em         been to Willoughby."
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SENSE AND SENSIBILITY EM PORTUGAL 200 ANOS
         DEPOIS – LEITURA COMPARADA |CÁTIA PEREIRA

                                                        
         Ler escritores clássicos é, muitas vezes, visto como algo pouco atractivo e
          antiquado. Acredito que a genialidade ultrapassa a barreira do tempo 
                                                        
                                                        Traduções:

              “Sensibilidade e Bom Senso” (Maria Luísa Ferreira da Costa) e “Razão e Sentimento” (Ivo Barroso)




         I
             ntrodução. Após a surpresa e a alegria                         semelhantes   aos              da    nossa
             iniciais provenientes do convite da                            contemporaneidade.
             Raquel Sallaberry do Jane Austen em
             Português para este desafio, veio a                            Gosto deste desafio que, por vezes,
             fase     de    planeamento     e     a                         designo como um desafio lusófono.
             concretização de algumas etapas do
             programa delineado. Sobre a tarefa                      Leitura Comparada. Esta primeira etapa da
             específica da Leitura Comparada                         Leitura Comparada entre “Sensibilidade e
             confesso que senti algum pânico: o                      Bom Senso” (tradução de Maria Luísa Ferreira
             que posso eu dizer sobre isto? Como                     da Costa) e “Razão e Sentimento” (tradução
             posso fazer uma apreciação sobre o                      de Ivo Barroso) foi feita do Capítulo 1 ao 22.
             resultado do trabalho de          um                    Não foi um percurso de um fôlego só. Tem
             especialista? Eu não sou tradutora.                     sido uma gradual construção e um exercício
             Estou bem longe deste ofício.                           de compreensão. É interessante confirmar
                                                                     que a língua portuguesa é multifacetada e
             Não tenho a pretensão de fazer um                       que a sua expressão nos dois países (Portugal
             estudo          aprofundado       e/ou                  e Brasil) assume particularidades assinaláveis.
             académico. Assumi a certeza de que
             a minha leitura terá de ser a de                        Optei por não demonstrar capítulo a
             alguém que ama três coisas: a língua                    capítulo    as diferenças  porque   seria
             portuguesa, a literatura e Jane Austen.                 demasiadamente longo. O que faço é
             O meu olhar será do ponto de vista do                   destacar algumas passagens que convidam
             leitor. Uma irremediável leitora.                       à reflexão.

             Ler Jane Austen, nos nossos dias, pode
             parecer um tanto deslocado. Ler
             escritores clássicos é, muitas vezes,                   Uma mesma língua: significantes diferentes,
             visto como algo pouco atractivo e                       significados iguais. Falamos a mesma língua
             antiquado.      Acredito     que     a                  mas a forma de expressão difere. A escolha
             genialidade ultrapassa a barreira do                    e o uso das palavras para traduzirem
             tempo.       Se     lapidarmos      as                  determinado significado, pelos tradutores,
             circunstâncias e o contexto histórico                   são um exemplo desta diferença. Há
20




             entendemos que os sentimentos e as                      expressões que são típicas e que, não sendo
             atitudes relatados são extremamente
Página
literais ao original, traduzem a ideia que o
         texto quer transmitir.
                                                          Opções e dúvidas. Deparo-me com algumas
         Coloco alguns exemplos deste tipo de             frases em ambas traduções que levantam-
         situação:                                        me dúvidas quanto ao resultado.




         “uma articulação imperfeita das palavras,
         um desejo voluntarioso de fazer o que            “Lembra-te, minha querida, de que ainda
         queria, muitas partidas* engraçadas e muito      não tens dezassete anos.” (Sensibilidade e
         barulho” (Sensibilidade e Bom Senso,             Bom Senso, Capítulo 3, pg. 16)
         Capítulo 1, pg. 6)
                                                          "Lembre-se, minha querida, de que você
         “uma articulação imperfeita, um persistente      ainda não tem dezesseis anos.” (Razão e
         desejo de afirmar a sua vontade, muitas          Sentimento, Capítulo 3 , pg. 16)
         artimanhas astuciosas e uma barulheira
         infernal” (Razão e Sentimento, Capítulo 1, pg.   Questiono-me o porquê da tradução
         6)                                               brasileira atribuir à Marianne uma idade
                                                          diferente do original. Será que “you are not
         *Dizer “pregar uma partida” em Portugal será     seventeen” possa implicar que Marianne não
         o equivalente a “pregar uma peça” no Brasil;     tenha especificamente 16 anos e que possa
         ou seja, o sentido é o de uma brincadeira        ter menos idade? Deirdre La Faye escreve
         inesperada.                                      que “they made their debut into society in
                                                          their late teens” (La Faye, Deirdre; “Jane
                                                          Austen – The world of her novels”, pg. 113) o
                                                          que poderia significar que uma jovem
                                                          debutaria entre os 17 e os 18 anos. Então
                                                          faria sentido pensar que com esta fala, Jane
                                                          Austen através de Mrs. Dashwood não está a
                                                          indicar a idade exacta de Marianne.


         “A sua casa ficará portanto quase
         completamente recheada* logo que tomar
         posse dela”. (Sensibilidade e Bom Senso,
         Capítulo 2 , pg.12)

         “Ela   estará     com    a  casa  quase
         completamente       montada  quando  se
         mudarem daqui.” (Razão e Sentimento,             “Margaret,     como     acompanhante   de
         Capítulo 2, pg.12)                               Marianne, com maior elegância que
                                                          precisão, acalmou Willoughby, que viera
         * A expressão “casa recheada” ou “com            cedo, na manhã seguinte à casa para saber
         recheio” é quando ela está devidamente           pessoalmente             como          ela
         mobilada. Não é incomum aqui utilizar-se o       passava.”(Sensibilidade   e   Bom   Senso,
         termo “montada”, mas é mais usual dizer-se       Capítulo 9, pg. 36)
21




         “recheada”.
Página
“O guardião de Marianne, título que                descodificação de uma mensagem. Ele está
         Margaret, com mais elegância que precisão,         diante de uma obra, que pertence a um
         atribuíra a Willoughby, apareceu na manhã          tempo histórico, a uma cultura, a um tipo de
         seguinte bem cedo à porta do chalé para            mentalidade e a uma língua específica. Para
         saber pessoalmente do estado dela.” (Razão         além disso, ainda temos que considerar que
         e Sentimento, Capítulo 9, pg. 35)                  há o escritor e a sua intencionalidade. E,
                                                            ainda temos de considerar também, que o
         Este foi o parágrafo que, ao longo destes 22       tradutor tem o seu ponto de vista de leitor e
         capítulos, levantou-me mais dúvidas. Não           que tem de abstrair-se disto. Ou não?
         vos parece que o início da frase, em ambas
         as traduções, transmita um significado             Interrogo-me, muitas vezes, se a dualidade
         totalmente diferente entre si? Quando              “tradutor/leitor” entram em conflito na
         compara ambas com o original, as minhas            actividade de tradução. Há a intenção do
         dúvidas aumentam.                                  autor da obra que, excepto ele a deixe por
                                                            escrito, nunca a alcançamos totalmente. Há
                                                            a interpretação da obra por parte do leitor.
                                                            Isto será um terreno minado para quem tem
         Em traços gerais, através destes breves            a tarefa de traduzir uma obra?
         exemplos pretendi destacar diferenças de
         expressão e as dúvidas que algumas                 Parto da ideia de que para efectuar
         passagens criaram em mim. Contudo, a               qualquer      tradução    estarão     inerentes
         aventura ainda está no início. Ainda há um         determinados processos que levam ao rigor
         longa caminho a percorrer nesta trilha do          e a objectividade para obter um resultado
         desafio do Bicentenário S&S e da Leitura           final fiel ao original. Num texto técnico, o
         Comparada entre "Sensibilidade e Bom               rigor e a objectividade parecem-me ser
         Senso" e "Razão e Sentimento". Guardo a            metas indispensáveis senão fundamentais.
         certeza de que as páginas ainda reservam           Num texto e obra de cariz literário, para além
         muitos aspectos sobre os quais repousar os         disto,     há     toda    uma      série    de
         olhos, alargar a visão e surpreender-me com        condicionalismos. Alguns condicionalismos
         alegria pelas novas descobertas. Aproprio-         foram referidos acima: tempo histórico,
         me, com civilidade, de uma frase das cartas        cultura, língua, mentalidade; mas ainda há
         de Jane Austen para afirmar...                     outros, dentre eles: o estilo de escrita do
                                                            autor da obra, a coordenação entre a
          ..."No, indeed, I am never too busy to think of   subjectividade do autor e do tradutor, e a
         S. and S.."                                        interpretação da intencionalidade do autor
                                                            pelo tradutor. Será que podemos conceber
                                                            que exista este espaço de interpretação?
                                                            Isto é, a semelhança de um jornalista, há a
                                                            necessidade de imparcialidade como
                                                            condição ética essencial para o exercício
         Não sou tradutora e estou bem longe disto.         da sua actividade; ou, pelo contrário, a
         Contudo, a dada altura e durante a leitura         parcialidade é benéfica?
         comparada, comecei a reflectir sobre a
         posição do tradutor. Neste desafio não             Estas interrogações e afirmações têm uma
         estamos a focar o olhar unicamente sobre           natureza intuitiva. Foram ilações que me
         Jane Austen, mas sobretudo sobre as opções         atravessavam a mente durante o exercício
         tomadas por cada tradutor.                         de leitura de ambas as traduções. Não
                                                            quero ter a pretensão de lançar pressupostos
         Dei por mim a pensar na dinâmica deste             sobre a técnica de tradução ou sobre o
         trabalho e surgiu-me este pensamento:              trabalho do tradutor e acredito que estas
         haverá condição mais solitária do que o            questões poderão parecer “romantização”
         tradutor no exercício do seu ofício? Não sei       da profissão. A minha partilha destina-se,
         se a minha interrogação será abusiva mas           apenas, a ser matéria de reflexão de uma
                                                            actividade que parece ficar um pouco à
22




         comecei a visualizar mentalmente o tradutor
         neste diálogo silencioso de leitura e de           sombra do anonimato.
Página
CONTRA TODAS AS TORMENTAS |CLARA FERREIRA

                                            
           Elinor tem igual porção de Sensibilidade quanto de Bom Senso              
                                            




E
    linor          Dashwood,      effectual,    possessed   a    she knew how to govern
    geralmente      associada     strength of understanding,     them: it was a knowledge
    ao lado de "Bom Senso"        and coolness of judgment,      which her mother had yet
    do título da obra, é a        which qualified her, though    to learn, and which one of
    irmã mais velha de            only nineteen, to be the       her sisters had resolved
    Sensibilidade    e    Bom     counsellor of her mother,      never to be taught."
Senso. Com apenas 19              and enabled her frequently
anos, Elinor é detentora de       to counteract, to the          Ao     longo   da    história
uma             personalidade     advantage of them all, that    habituamo-nos à aparente
terrivelmente         sensata,    eagerness of mind in Mrs.      crueza com que lida com
realista e razoável. Por tudo     Dashwood       which    must   tudo. Personagem com pés
isso,     sinto  uma      forte   generally have led to          mais assentes na terra, creio
empatia e admiração pelo          imprudence. She had an         que não existe, pelo menos
seu carácter.                     excellent      heart;    her   no universo de Jane Austen.
                                  disposition             was    Elinor julga correctamente
"Elinor, this eldest daughter     affectionate,    and     her   as acções e atitudes das
whose advice was so               feelings were strong: but      restantes     personagens,
possui   uma                                                                   não faz nada
         maturidade                                                                     disso, ela faz
         tremenda e                                                                     pior... guarda
         uma                                                                            tudo dentro
         consciência                                                                    de      si  na
         abismal.                                                                          expectativa
         Menospreza-                                                                    de que o
         se                                                                             tempo tudo
         demasiado.                                                                     cure,      mas
         Considera                                                                      ilude         o
         que os seus                                                                            próprio
         sentimentos                                                                          coração
         apenas                                                                         (que julga ser
         servem para                                                                    mais forte do
         afligir     os                                                                 que é na
         outros e por                                                                   realidade) e
         isso, cala-os                                                                     esquece-se
         e envolve-os numa redoma         Marianne, dou um passo        que se a dor não for falada
         de vidro colocando sobre si      ainda mais em falso e digo    e    partilhada       consome
         uma máscara de bem-estar         que Elinor tem igual porção   cada pedaço da alma. E o
         ou de "tudo vai correr           de Sensibilidade quanto de    choro desalmado com que
         bem". Nada parece deitá-         Bom Senso. Ninguém sofre      recebe a notícia do não
         la abaixo, nada faz com          mais ao longo da história     casamento        de     Edward
         que      fraqueje,     Elinor    do que ela, ninguém           Ferrars é precisamente a
         permanece firme contra           suporta mais tristeza. Tal    consequência de toda essa
         todas as tormentas e é           como diz, ela ama com         reserva, Elinor rebenta, mas
         nela, que todos os outros se     todas as desvantagens que     ainda bem que é de alívio
         abrigam, qual porto seguro.      isso traz sem nunca ter       de alegria... !
         Elinor   é    sinónimo    de     conhecido os benefícios -
         segurança,       sobre    ela    mais     palavra      menos
         parece que nada perfura,         palavra, esta é a ideia. De
         tudo se desintegra antes de      facto, ela não chora feita    Elinor parece-me, apesar
         poder atingi-la. No entanto,     desalmada             como    da família adorável que
         sabemos, que não é bem           Marianne, ela não caí         tem e que a ama muito,
         assim...                         numa apatia doentia como      uma           personagem
                                          Marianne, ela não grita aos   incrivelmente     solitária,
         Elinor, arrisco afirmar, sente   sete mundos a sua dor         demasiado...
         muito mais que a irmã            como Marianne... não, ela
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ESTOICAMENTE ELINOR |CLARA FERREIRA

                                                      
            A sua conduta é regular e constante e é isso que a torna tão sublime aos
                                          meus olhos          
                                                      




E
           linor Dashwood                                                                    alguma
           possui     uma                                                         importância ainda
           enorme                                                                 que     falsa    e
                                                                                  descartável.     A
                                                                                  importância     de
                                                                                  Elinor está, em
         condescendência                                                          contraponto,    no
         e paciência. Ela                                                         seu carácter forte,
         atura e suporta                                                                 inabalável,
         com a maior das                                                          determinado, na
         naturalidades qualquer carácter. Não possui      sua humildade e na sua bondade.
         a impertinência de Emma ou a ousadia de
         uma Lizzie ou mesmo o atrevimento da             Elinor não é totalmente indiferente aos
         própria irmã, Marianne... Não, em sociedade      comentários malévolos da futura sogra e
         Elinor trata todos de forma plácida,             cunhada, sabemos que a magoam, mas ela
         suportando os comentários mais atrozes e         sabe como ultrapassá-los, dar a volta por
         injustos e nunca se subjugando, mantendo         cima e por isso as trata com uma indiferença
         sempre uma "irritante" dignidade que deixa       superior e educada que me fazem regozijar
         cair por terra toda e qualquer observação        enquanto leio certas passagens. Elinor é,
         menos própria vinda de uma Mrs. Jennings         tanto em carácter como em inteligência,
         ou um comentário a roçar o insulto vindo de      superior a qualquer uma delas e por isso é
         Mrs. Ferrars ou de Fanny Dashwood.               ela quem se ri no fim. Nela não há
                                                          contradições, a sua conduta é regular e
         Ao contrário de muitas das outras heroínas       constante e é isso que a torna tão sublime
         de Austen, Elinor sabe agir em sociedade         aos meus olhos, tomando conta do lugar
         sem provocar tumultos, sem gerar atritos; a      cimeiro nas minhas preferências em relação
         Elinor é impossível apontar uma falha, todas     às heroínas de Jane Austen. Elinor é fiel a si
         as intrigas que se geram em torno dela são       própria, não age com subterfúgios, não se
         provocadas pela simples e odiosa inveja,         serve do cinismo para conquistar amizades,
         não há um defeito nela aos olhos dos outros      ela age em sociedade com naturalidade,
         e por isso, servem-se da sua falta de dinheiro   sem impulsos, porque sabe avaliar, à partida,
         para a diminuir porque só por aí conseguem       os bons e os menos bons caracteres,
         justificação - claro exemplo disso são Mrs.      respondendo a todos à altura das
         Ferrars e Fanny Dashwood que coitadas, a         circunstâncias. É de certa forma a sua
         única coisa que têm em seu abono é, de           estoicidade (aparente) que me cativa e é
         facto, a fortuna, tudo o resto é mau e sem       pela profundidade dos seus sentimentos que
         valor, daí que se agarrem tanto à sua            eu me apaixono.
25




         fortuna, a única coisa que lhes pode trazer
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MARIANNE DASHWOOD |VERA SANTOS

                                       
         Ela é também das poucas personagens que não disfarça aquilo que
                                  sente  
                                       




H
       á quem não hesite                                                   apaixonasse,
       em          apelidar                                         conhecem-se de
       Marianne de tola                                             uma forma muito
       romântica,      mas                                                   romântica,
       quem aos dezassete                                           haverá algo mais
       anos, nunca o foi                                            romântico      que
que atire a primeira pedra.                                         um homem que
Dizia, o Camilo Castelo                                             surge do meio de
Branco que o primeiro                                               nevoeiro e salva a
amor sentido por uma                                                donzela          em
mulher é ainda uma                                                  perigo?? Depois,
manifestação do amor às                                             os seus modos,
bonecas, contudo ele                                                maneira de ser e
acredita que Teresa, a sua                                          gostos      comuns
heroína em Amor de                                                  aos           dela,
Perdição, amou Simão                                                acabam          por
com mais seriedade e                                                vencer qualquer
sinceridade do que outras                                           resistência   caso
da mesma idade o teriam                                             ela ainda existisse.
feito.
                                            Infelizmente, Willoughby engana Marianne e
Eu também eu acredito que o amor de         todos os leitores quando mais tarde revela
Marianne por Willoughby está longe de ser   ser o bom sacana que é.
uma manifestação do amor às bonecas,
mas sim uma verdadeira afeição. Olhando a   Mas   se   Marianne   tem   uma   natureza
estória dos                                                                romântica,
dois de uma                                                               ela        é
forma                                                                         também
impessoal, é                                                              das poucas
quase
impossível
que ela não
se
momento
                                                                                            romântico
                                                                                        que        ela
                                                                                               própria
                                                                                        gostaria de
                                                                                        ter,    morrer
                                                                                        por     amor,
                                                                                               porque
                                                                                               aquela
                                                                                        morte seria
                                                                                        vista por ela
                                                                                        como isso.
                                                                                        Mas não é
                                                                                        um      balde
                                                                                        de       água
                                                                                        fria,     pelo
                                                                                        menos para
                                                                                        mim,      que
                                                                                        ela         se
         personagens que não disfarça aquilo que         recupere. Jane Austen já demonstrou por
         sente, seja o amor por Willoughby, seja a       diversas vezes que acredita em novas
         indiferença pelo Coronel Brandon e é aqui       oportunidades e Marianne ao viver percebe
         que a personagem se torna digna de ser          como as suas ideias eram erradas e depois
         amada, por ser absolutamente sincera, outro     como diz o Mr. Bennet, toda a rapariga
         tanto não se pode dizer de outras               precisa de um desgosto amoroso, o homem
         personagens e corajosa, muito corajosa,         na sua sabedoria, faz-nos ver que são esses
         acho que ninguém se atreveria a dizer a Mrs.    dissabores, o bater com a cabeça na
         Ferrars aquilo que ela disse.                   parede que nos fazem crescer.

         Marianne cresce ao longo do livro e no fim já   Há quem questione o amor pelo Brandon,
         não será tão romântica e terá percebido         afinal ela não era TÃO apaixonada por
         que afinal pode-se amar mais que uma vez,       Willoughby? Pessoalmente acredito que ela
         entre outras lições igualmente importantes.     ame o Coronel e que o seu amor seja
                                                         sincero, afinal já não tenho dezassete anos,
         A primeira vez que vi a adaptação de            já não sou uma tola romântica e já descobri
         1995 pensei que Marianne não iria resistir e    que se pode voltar amar, basta darmos uma
         acabaria por morrer, esse seria o grande        oportunidade ao amor....
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A TERCEIRA DASHWOOD |CLARA FERREIRA

                                                       
               Margaret na sua simplicidade e "criancice" concede-nos momentos
                                 especiais ao longo da história            
                                                       




M
                                                                                       em Margaret.
                                                                                       Não era um
                                                                                       adulto      mas
                                                                                       sim         uma
                                                                                       "criança" que
                                                                                                  podia
         argaret,        the                                                                  transmitir
         other sister, was                                                                      alguma
         a            good-                                                              "sinceridade"
         humored, well-                                                                nas         suas
         disposed girl; but                                                              observações
         as      she    had                                                            ao que se
         already imbibed                                                               passava        à
         a good deal of                                                                sua volta. "
         Marianne's                                                                    De facto, é a
         romance, without having much of her sense,        sinceridade das suas observações que
         she did not, at thirteen, bid fair to equal her   levantam o véu de muito daquilo que as
         sisters at a more advanced period of life."       irmãs pensam mas não dizem!



         Margaret é a irmã mais nova,
         uma figura engraçada e muito
         bem         conseguida         nas
         adaptações de 1995 e 2008. A
         minha colega Marina aqui no
         blogue deixou, o que passo a
         citar      de     seguida,     um
         comentário          acertadíssimo:
         "Margaret, a meu ver, existe na
         história para a tornar mais
         jovial. A seriedade e sensatez
         de     Elinor   e    o carácter
         apaixonado e impulsivo de
         Marianne (e até de sua mãe)
         tinha que ter um "ponto de
         equilíbrio". E esse ponto de
28




         equilíbrio    foi    muito   bem
         "encontrado" por Jane Austen
Página
Margaret        é
                                                                                também       uma
                                                                                espécie        de
                                                                                âncora para Mrs.
                                                                                Dashwood,       é
                                                                                Margaret      que
                                                                                está junto dela
                                                                                quando as outras
                                                                                filhas não estão,
                                                                                mantendo o seu
                                                                                papel maternal
                                                                                           activo,
                                                                                     afastando-se
                                                                                assim da viuvez
                                                                                representada por
                                                                                Mrs.     Jennings.
                                                                                Mrs. Dashwood
                                                                                ainda tem um
         Embora a descrição feita no início da obra   papel crucial a cumprir - o de educar tão
         acerca de Margaret a diminua em relação      bem ou melhor Margaret como fez com as
         às irmãs, é de notar que, também ela sofre   outras duas filhas.
         uma mudança ao longo da história. Jane
         Austen escreve que, enquanto as irmãs
         estiveram em Londres com Mrs. Jennings,
         Margaret foi alvo de um processo educativo   É    uma     personagem      aparentemente
         intensivo   por   parte   da   sua   mãe,    descartável, tanto assim é que a adaptação
         conhecimento que adquire e que mostra        de 1981 decidiu suprimi-la, no entanto,
         depois quando as irmãs regressam a Barton    Margaret na sua simplicidade e "criancice"
         em vários diálogos.                          concede-nos momentos especiais ao longo
                                                      da história. Quero também ressalvar a
                                                      interpretação de Lucy Boynton em 2008 que
                                                      nos deu uma Margaret inoportuna e doce.
29
Página
EDWARD FERRARS |LILIANA ISABEL

                                              
                  Apesar de ser um homem passivo, é um homem apaixonado               
                                              




P
              rimeiro     de                                             noivado seja uma
              tudo         o                                             forma de escape e
              Edward       é                                             revolta contra as
              uma                                                        regras ditadas pela
              personagem                                                 sua família, no que
              que eu gosto                                               diz respeito ao seu
         bastante, apesar                                                futuro   pessoal  e
         da           minha                                              monetário.
         dualidade        de
         sentimentos                                                    Apesar     de     amar
         como já vão                                                    Elinor,        Edward
         reparar        pela                                            mantém       a      sua
         minha       análise.                                           promessa             de
         No que toca a adaptações eu acho que o   casamento com Lucy, o que reflecte um
         Hugh Grant foi mesmo perfeito como       homem íntegro e com valores que pensa nos
         Edward Ferrars. Apesar                                 outros em detrimento dos
         de gostar de Edward                                    seus sentimentos. No final
         porque no fundo ele                                    talvez se terá apercebido
         consegui fazer frente a                                de que ao "abafar" os seus
         todos por amor, não                                    sentimentos por Elinor, está
         deixa de ser, na minha                                 também          a   ferir    os
         opinião um homem um                                    sentimentos da mulher que
         pouco fraco, apenas                                    ama. No entanto, mesmo no
         decidido em fazer a                                    momento           em       que
         sua mãe feliz e seguir o                               finalmente fala dos seus
         plano que ela tem                                      sentimentos a Elinor, eles são
         traçado para ele. Ao                                   escassos e deixam Elinor um
         mesmo tempo que se                                     pouco confusa à espera de
         apresenta "obediente"                                  um pedido, que não vem
         à sua mãe e irmã,                                      logo... No fundo apesar de
         comete                uma                              ser um homem passivo, é um
         "ilegalidade"     e    nas                             homem             apaixonado,
         costas destas fica noivo                               sensível     e    com     bons
         de       Lucy,     mesmo                               princípios morais e como tal,
         sabendo que a sua                                      merece       todo    o     meu
         família               está                             respeito.
30




         inteiramente        contra
Página




         esse cenário. Talvez o
JOHN WILLOUGHBY |LILIANA ISABEL

                                            
                               Nem tudo o que reluz é ouro...
                                            




Q
        uando                                                                 língua"    com
        pensamos                                                              quem         ele
        em     John                                                           passou     bons
        Willoughby                                                            momentos de
        pensamos                                                              diversão,      e
        logo     no                                                           nada mais...
ditado    português
"quando a esmola é                                                                Infelizmente
demais    o   santo                                                           Marianne não
desconfia".                                                                   teve            o
                                                                                discernimento
Não passa de um lobo              No     entanto     eu   não     suficiente   para      avaliar
mascarado de cordeiro             acredito que ele não sinta      correctamente Willoughby,
com toda a sua educação,          remorsos do que fez. Ele é      mas se pensarmos bem não
cordialidade e simpatia. Ele      daquelas pessoas que se         é fácil acreditar que um
fez com que não só                deixa envolver pelo que ela     rapaz       com        tantas
Marianne como toda a              própria faz e diz e depois é    qualidades que se vão
família     Dashwood      se      tarde demais. Também            revelar    de     tão     má
rendesse ao seu charme.           podemos consideram John         qualidade...
Promete mundos e fundos a         Willoughby     como      um
Marianne               (não       Playboy da era Regency e        Detesto   homens     como
"descaradamente"        mas       nada     mais    que    isso.   Willoughby e penso que a
implicitamente) e isso é o        Marianne       é      bonita,   Jane talvez tenha escrito
suficiente para apaixonar         determinada e inteligente.      esta personagem a pensar
Marianne que sonha com o          Trata-se de uma rapariga        nas     muitas     donzelas
seu futuro ao lado do             divertida e sem "papas na       sonhadoras que sonham
príncipe                                                                   com o príncipe
encantado.         E                                                       encantado que
depois, desaparece                                                         mais    tarde   se
e       não      dá                                                        tornará num lobo
satisfações, como                                                          mau.     Podemos
se     nem    sequer                                                       mesmo dizer que
tivesse feito parte                                                        com           John
da       vida    de                                                        Willoughby nem
Marianne e do resto                                                        tudo o que reluz é
das Dashwood.                                                              ouro...
Jane Ausetn Portugal - Abril - 2011
Jane Ausetn Portugal - Abril - 2011
Jane Ausetn Portugal - Abril - 2011
Jane Ausetn Portugal - Abril - 2011
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Jane Ausetn Portugal - Abril - 2011

  • 1. Revista Jane Austen Portugal Sensibilidade e Bom Senso Abril 2011 | Nº 4 janeaustenpt.blogs.sapo.pt Conteúdo original © Jane Austen Portugal Conteúdo Original © Jane Austen Portugal
  • 2. Sumário 1. Sugestões Austenianas 3 2. Quando Conheci Jane Austen 5 3. Sensibilidade e Bom Senso 1981 7 4. Sensibilidade e Bom Senso 1995 e 2008 10 5. Sensibilidade e Bom Senso 1995 – “Alma” 12 6. Sensibilidade e Bom Senso 2008 a. Expectativa e Consenso 13 b. Pálido 14 7. Jane Austen e Eu 16 8. Quando Li S&S 18 9. S&S em Portugal 200 Anos Depois Leitura Comparada 20 10. Contra Todas as Tormentas 23 11. Estoicamente Elinor 25 12. Marianne Dashwood 26 13. A Terceira Dashwood 28 14. Edward Ferrars 30 15. John Willoughby 31 16. Lucy Steele, A Manipuladora 32 17. As Irmãs Steele 33 18. Mrs. Jennings 34 19. John Dashwood 35 20. Mrs. Ferrars e o Seu Filho Robert 36 21. Charlotte e Thomas Palmer, O Adorável Casal 37 22. Sir John e Lady Middleton 38 23. A Herança em S&S 39 24. Mini Conto Temático 41 25. Lost In Jane Austen Portugal 42 26. Os Lugares de Jane Austen 45 27. Sabias Que… 47 2 Página
  • 3. Sugestões Austenianas Por Fátima Velez de Castro Sugestão Livro: Truman Capote, um dos mais geniais e controversos escritores americanos de sempre, (re)inaugura o estilo “non- ficcional novel” com este livro – A Sangue Frio (In Cold Blood, no original). Foi publicado pela primeira vez em 1966 e trata a história de um crime horrendo que ocorreu Holcom, Kansas (EUA). A família Clutter, pais agricultores e dois filhos, foram assassinados de forma bárbara por Richard "Dick" Hickock e Perry Smith, ex-condenados pretendiam apenas roubar algum dinheiro e fugir para o México, com o objectivo de começar uma nova vida. Porém o crime desenrola-se da pior forma. Truman Capote trabalha durante seis anos nesta obra, entrevistando na prisão os assassinos assim como outras pessoas das relações das vítimas. Como resultado, produz um impressionante relato dos factos, baseado na intensa e profunda análise psicológica dos intervenientes. (Nota: Leiam o livro e vejam o filme “Capote”, com a brilhante interpretação de Philip Seymour Hoffman.) Site: http://en.wikipedia.org/wiki/In_Cold_Blood Sugestão música: Literalmente o segundo trabalho desta cantora brasileira – Maria Rita, Segundo. Filha da cantora Elis Regina e do músico César Camargo, apenas aos 24 iniciou a sua carreira musical, com receio de ficar “na sombra da mãe”. Mas não foi isso que aconteceu, e hoje Maria Rita é uma das mais importantes intérpretes musicais de MPB. O primeiro álbum intitulou-se “Maria Rita”, tendo alcançado grande sucesso (tripla platina). É uma cantora enérgica, criativa, que interage de forma única com o público. Exuberante sem exageros, possui uma voz potente e segura em vários registos, incrivelmente bonita no samba. Impossível ficar indiferente a este furacão brasileiro! Uma das minhas músicas favoritas, “Feliz”: http://www.youtube.com/watch?v=7WGIubAfu6o 3 Página
  • 4. Sugestão Filme: Quem não gosta de uma boa história de amor no cinema? Este é o filme ideal para todos aqueles que gostam de romance, aventura, acção, crime e muito, muito humor num só filme. Realizado por Emir Kusturica (1998), Gato Preto, Gato Branco (Crna macka, beli macor, no original) é sobre a história de Matko, um criminoso incapaz e do seu filho Zare, cujo sonho é ser capitão de um barco de recreio (cruzeiro). Eles vivem nas margens do Danúbio e são ciganos da Europa de Leste. Dadan Carambolo, um verdadeiro gangster/vedeta, quer a todos os custos casar o jovem Zare com a sua irmã Afrodita, conhecida pela sua fealdade e baixa estatura, mas que sonha com o príncipe encantado – um jovem alto de bigode. E ele existe, é o neto mais velho de Grga Pitic, il padrino de uma complexa e divertida máfia que opera na região. Mas Zare gosta de outra – Ida – uma voluptuosa jovem que, em conjunto com a avó, é contratada para lhe organizar o casamento. Partindo do princípio que os avôs dos noivos morrem e são deixados no sótão com um bloco de gelo preso ao corpo (para não “atrapalhar” a realização da cerimónia), o que é que pode correr mal? Tudo! Mas com muito humor. Tailer: http://www.youtube.com/watch?v=7uB8lA8mSxY Sugestão Blog: Imigraste, o meu blog pessoal, dedicado a todos aqueles que se interessam pelas (i)migrações e sobretudo pelo Outro. Porque, no fundo, todos fomos, somos e seremos sempre (i)migrantes. Sítio onde, com alguma regularidade, dou a conhecer notícias, entrevistas, eventos académicos, estatísticas, livros e outros aspectos relacionados as migrações. Tendencialmente é um blog sobre estrangeiros que procuram Portugal para trabalhar e residir, embora o âmbito temático acabe por se alargar à emigração portuguesa e aos fluxos migratórios internacionais, numa perspectiva global/regional/local. Blog: http://imigraste.blogs.sapo.pt/ 4 Página
  • 5. Por Leonor, uma fã do JAPT desde o 1º dia… R ecordo-me de que era noite. Numa das habituais viagens à sala que antecedem o jantar, sento-me no sofá, perscrutando o ecrã Um novo movimento e, do lado oposto, um semblante enceta o seu desenho por entre o campo verdejante. Dou conta do televisor em busca de algo que capte de que é um homem de porte distinto. o meu interesse. Avança confiante, como se nada o Efectuando um breve “zapping”, pudesse impedir, imerso nos seus detenho-me perante uma imagem que pensamentos, em jeito de reflexão. O se afigurava como um campo envolto piano que em crescendo acompanha os na misteriosa neblina da manhã. A seus passos e é o espelho do estado da câmara desloca-se e acompanha em sua alma – é-me quase possível sentir o uníssono o caminhar melancólico de bater descompassado do seu coração. uma jovem rapariga, a qual subitamente Lembro-me do momento seguinte como faz uma pausa na ponte, fixando os olhos uma das confissões mais profundas e na neblina. Sufocando um murmúrio despojada de emoções artificiais que quase inaudível na garganta, parece evocava tão-só e subtilmente o amor indagar a veracidade do que presencia. sincero, sem falsas pretensões. O acto 5 Página
  • 6. simbólico de tocar as mãos e levá-las até me de correr para o computador do aos lábios foi, pessoalmente, melhor do meu irmão e vidrar-me vezes sem conta que qualquer beijo efusivo, expressando na “cena da tempestade” e outras; a a delicadeza e respeito que ambos composição de Dario Marianelli e Jean- possuíam e partilhavam. A fechar, o Yves Thibaudet eram a minha banda quadro encerra-se juntamente com a sonora na escola e da minha casa, coroação dos primeiros raios solares. rodeada por pinheiros e carvalhos ao longe e o chilrear dos pássaros, abria a Agarrada ao comando e com os olhos janela do meu quarto todas as manhãs presos no ecrã: assim permaneci alguns inspirando o orvalho da manhã e fruindo instantes, imóvel e plácida até que por o nascer do sol. fim – acordada pela racionalidade – apercebi-me de que um sorriso se Passaram cinco anos e entretanto tomei esboçava no meu rosto. Sorria para a contacto com outros trabalhos de televisão, sozinha na sala. Tomada de Austen – “Persuasão” e “Sensibilidade e impulso, precipitei-me com o controlo Bom Senso” – sendo que, quando me é remoto nas mãos, perseguindo apenas possível, assisto a séries e filmes. um intento: saber o nome do filme. Ansiosa, foi com felicidade que o Por último, foi através do blogue da Clara desvendei: “Orgulho e Preconceito”. (quando era ainda “Um Minuto de Uma ideia rapidamente se tornou um Histórias") que tive conhecimento - com imperativo: “Tenho de ver este filme”. E enorme satisfação – do Jane Austen assim fiz. Portugal, o qual visito frequentemente. Descobri a autora que inspirou esta Foi igualmente com imenso prazer que adaptação cinematográfica e rendi-me acolhi o gentil pedido endereçado pela à obra, a qual prontamente imprimi e Clara para descrever a minha que só consigo ler em inglês (não sei experiência enquanto leitora desta justificar a razão). perspicaz escritora que delicia gerações. Desde então, a evasão no universo de Neste momento, tal como há cinco anos, Jane Austen foi-me concedida: lembro- sorrio. E acrescento: muito Obrigado. 6 Página
  • 7. SENSIBILIDADE E BOM SENSO 1981 | CLARA FERREIRA  “Definitivamente posso dizer que me tornei fã deste Edward Ferrars”  I ncentivada por comentário um de uma leitora do blogue, decidi ver esta Edwards não sei, mas a timidez muito bem conseguidos!), parece inata, e o "mau estar" de se ver no versão de centro das 1981 de atenções parece Sensibilidade incrivelmente e Bom Senso. genuíno. Esta versão Elinor está conta com fenomenalmente Irene Richard bem no papel de representada. Elinor e Tracey Nesta versão, Childs no Elinor possui papel de sentido de humor Marianne. engraçadíssima, aliás, a (como também acontece actriz que interpreta Fanny no livro), é certo que a O primeiro episódio está Dashwood (Amanda Boxer) Elinor de 08 consegue muito próximo da história consegue encarnar também mostrar isso, já original. Tal como no livro, totalmente a personagem, Emma Thompson em 95 sabemos da morte de Mr. deixando de lado o deu-nos uma Elinor Dashwood pelas falas das histerismo tanto da Fanny demasiado distante. restantes personagens. de 95 como da de 08. A Uma falha enorme, cena em que Fanny Nesta versão existe o gigantesca... não há convence o marido a verdadeiro "adeus a Margaret Dashwood. Mrs. dispensar a renda às meias- Norland" de Marianne, da Dashwood aparece como irmãs segue rigorosamente tão célebre frase de Elinor, mãe apenas de duas o texto de Austen, se a "It is not every one,” said raparigas, Elinor e memória não me falha. Elinor, “who has your Marianne. passion for dead leaves". O Edward desta versão Esta Marianne é muito Um episódio muito curioso, (Bosco Hogan) é interessante, embora às que penso que nunca foi encantador, muito mais o vezes pareça menos aprofundado nas restantes Edward que sempre espontânea do que seria adaptações foi o da imaginei, pela descrição do suposto. porcelana de Mrs. livro, do que o Edward das Dashwood e a inveja de restantes adaptações Devo confessar que, se não Mrs. John Dashwood... está (embora ache todos os soubesse a história, não
  • 8. Brandon é pouco aprofundado. Uma curiosidade, a actriz que interpreta Mrs. Dashwood (Diana Fairfax) interpretou também Emma Woodhouse na versão de 1960. No 2º episódio, ficamos a conhecer Willoughby... a cena do resgate de Marianne não é muito intensa, comparada com a das restantes versões. Willoughby não é tão encantador como se espera, nem tão galã. No entanto, a paixão de Marianne por ele é muito teria percebido muito bem O convívio com os desenvolvida, seguindo se Edward e Elinor estavam Middleton não é muito rigorosamente o texto apaixonados. Existem duas aprofundado, neste original, temos a pergunta cenas em que os vemos vepisódio conhecemos sobre "quem é Willoughby" juntos no jardim, e outra em também Mrs. Jennings, feita a Sir John e a que parecem estar de muito longe da imagem indignação de Marianne olhares desencontrados que temos dela no livro ou por ele só lhe falar dos seus durante o pequeno- que temos de outras dotes de caçador; temos almoço, mas nada de versões; e o Coronel Willougby a cantar com substancial que nos possa Brandon, muito aquém de Marianne, a recitar poesia levar a pensar que foram qualquer expectativa, com ela, a criticar Brandon, feitos um para o outro. O garanto. O tema Marianne- a oferecer-lhe o cavalo, adeus é distante. A chegada a Devonshire ainda acontece neste episódio. Confesso que sou uma grande admiradora na alteração feita em 2008, onde colocam a casa perto do mar, mas esta "cottage" também é "fofinha". O encontro com Sir John e Lady Middlenton é engraçado, Lady Middleton não é como eu imaginava, acho que está muito bem retratada na versão de 2008, Sir Jonh, é Sir John, embora prefira o de 2008 (até porque entrou no Harry Potter). 8 Página
  • 9. episódio que Brandon salva Marianne. tem uma das De facto a relação cenas mais Brandon-Marianne é pouco importantes e ou nada focada nesta hilariantes, no adaptação, estou ansiosav entanto, por saber como é que no pareceu-me fim os vão juntar. mais teatral do que os O último episódio foi uma anteriores. É agradável surpresa, natural as embora tenha fugido um adaptações pouco à obra original, desta data adorei a forma como serem teatrais e transformaram Coronel devemos dar Brandon, só com esta sim, temos tudo isso! Aliás, sempre um desconto, no adaptação é que ganhei todo este episódio gira em entanto, lembro-me agora simpatia por ele, embora torno de Marianne. da cena em que Miss de inicio não tenha Steele visita Elinor depois do gostado muito do seu Este é o episódio em que serão passado em Mrs. papel, até porque nesta recebemos a visita de Ferrars e achei essa cena adaptação, como já referi, Edward Ferrars, peço tão crua que até me doeu! a relação dele com desculpa ao Hugh Grant e Marianne é pouco ao Dan Stevens, mas a Este episódio teve muitos desenvolvida. interpretação de Bosco altos e baixos. O ponto alto Definitivamente posso dizer Hogan é tal e qual o refere-se à cena do pedido que me tornei fã deste Edward de Jane Austen... e de desculpas de Edward Ferrars, pura e o mesmo posso dizer de Willoughby que em todas simplesmente maravilhoso. Irene Richard, que nos dá a as versões tem sido muito Em relação a esta Elinor, Elinor mais próxima da Elinor comovente (salvo a de considero que foi uma de Jane Austen. 1995 em que esta cena é grande interpretação, inexistente). O ponto baixo todavia, nestes últimos Não me canso de repetir refere-se ao facto de episódios creio que perdeu que estou a adorar este retirarem a cena em que alguma qualidade. casal - Elinor e Edward - parece que estou a ler Jane Austen e além disso, esta versão de Sensibilidade e Bom Senso, tem muitos dos diálogos originais. Mas estou certa que quem não for fã ardente de Jane Austen já não conseguiria suportar esta adaptação porque, sejamos sinceras, já lá vão quase 30 anos e as versões mais recentes são muito mais apelativas tanto em cenário como em guarda- roupa! O 5º episódio não me "soube" tão bem como os 9 anteriores. Quer dizer, é um Página
  • 10. SENSIBILIDADE E BOM SENSO 1995 E 2008 | CATARINA R. P.  A história propriamente dita, não é a mais bonita, ou a mais romântica da autora Jane Austen, mas sem dúvida a mais real e a mais cruel para as mulheres da sua época.  H á que desde já mulheres da referir que este sua época. livro, da autoria de Jane Austen Em relação é o mais ao filme autobiográfico com um encontrado na sua elenco obra. É aqui que luxuoso, Austen expõe um composto dos seus maiores por: Emma medos… ficar sem Thompson, nada após a morte Kate Winslet, do pai e viver à o rei da mercê dos seus comédia irmãos. Elinor é sem romântica mais nem menos do britânica que a sua irmã Hugh Grant, Cassandra e a apaixonada Marianne tem e o Alan Rickman, escusado será dizer que a características em comum com a autora parte interpretativa não é um ponto fraco (Jane Austen). Se fizermos um exercício muito deste filme. O mesmo se poderá dizer do simples que é; ver o filme “Becoming Jane” e argumento, o realizador Ang Lee (Brokeback depois Sense & Sensibility, podemos ver as Mountain) inteligentemente colocou uma enormes parecenças/semelhanças entre mulher a escrevê-lo, nada mais do que a personagem e as pessoas em questão. actriz principal Emma Thompson (vencedora de Óscar de melhor argumento adaptado). A história Nota-se uma propriamente maturidade dita, não é a deliciosamente mais bonita, cruel no diálogo ou a mais e um toque romântica da feminino, dois autora Jane componentes Austen, mas que parecem sem dúvida a não de conjugar, mais real e a conseguem aqui mais cruel conviver numa para as extraordinária harmonia, todavia o
  • 11. excesso de espectaculares. romance leva a um certo Para finalizar há cansaço do que referir a espectador. extraordinária Reconheço interpretação que a maior de Emma parte de nós, Thompson e mulheres, não Kate Winslet, as adormece melhores do durante o filme. filme, mas estes filmes Em relação à não são só série de 2008, para mulheres não tenho extremamente românticas, mas sim para grandes comentários a fazer. Considero que todos, inclusive homens, dotados de uma comparar o filme de Ang Lee à produção insensibilidade difícil de explicar. Não se televisiva de 2008 é no mínimo impossível. O pode ter sensibilidade então têm-se bom elemento central e principal de uma pelicula senso! é o seu argumento é com ele que se distingue um bom e um mau filme. Como Em relação ao guarda-roupa, na minha sabemos as séries televisivas têm o dom de opinião o calcanhar de Aquiles desta terem um péssimo argumento, salvo algumas produção, poderia ser melhor mas acredito excepções. Isto porque, este varia conforme que o financiamento de um realizador as audiências e o grau de satisfação da estrangeiro não seja o melhor para satisfazer cadeia televisiva. Acho que já me fiz esta categoria. Perderam no guarda-roupa entender em relação à produção de 2008. mas ganharam na banda-sonora da autoria Pode ter todos os ingredientes como guarda- de Patrick Doyle, um nome não muito roupa, banda-sonora e até actores bastante conhecido mas com um trabalho bastante razoáveis, mas sem um bom argumento não interessante. Os cenários são fantásticos, se faz um bom filme. aliás tenho de referir que os cenários dos filmes de Jane Austen têm a particularidade de serem todos maravilhosamente 11 Página
  • 12. SENSIBILIDADE E BOM SENSO 1995 “ALMA” |CÁTIA PEREIRA  Tratando-se de um filme com mais de quinze anos, é impressionante a actualidade da sua imagem   A alma deste filme reside em dois Thompson for the lead, eventually nomes: Emma Thompson e Ang Lee. decided to age Elinor's character to 27 years so that modern audiences would Em primeiro lugar, foi Emma Thompson understand how Elinor could be quem se dedicou e acreditou nesta considered a spinster. Thompson adds: obra ao ponto de levar quase cinco "With make-up and a good wig I might anos a escrever o roteiro. Na sua look young enough." In addition, some adaptação, alguns personagens ficaram de of the supporting cast members had to fora, como Lady Middleton e a irmã de Lucy be cast older as well, to balance the Steel; contudo, penso que isso não lhe retira 36-year old lead." o valor. O facto do roteiro ter o cunho de Emma Thompson explica - e esta é uma Chego ao segundo nome, Ang Lee. Quem suposição minha - o facto de Shakespeare imaginaria que ele, um cineasta ainda ser uma presença constante através da voz novato e de origem chinesa, seria perfeito de Marianne Dashwood. Sabemos que Jane para fazer um filme de época inglês? Muitos Austen não o faz. Mas Emma Thompson tem deverão ter duvidado. Aliás eu li no Eras of um passado voltado para as produções Elegance que, até aquela altura, ele nunca baseadas em obras de Shakespeare, teria lido nenhuma obra de Jane Austen. O principalmente durante o seu casamento que demonstra, sem sombra de dúvidas, a com Kenneth Branagh. qualidade do seu trabalho; já que consegue transmitir o estilo da nossa querida Jane. Ela não teria a intenção de interpretar o papel de Elinor. Quem a convenceu de tal Sempre fico impressionada com a qualidade foi Ang Lee, o director do filme. Ele defendia do cenário e da fotografia deste filme. a opinião de que ela seria perfeita para Tratando-se de um filme com mais de quinze interpretar este personagem: anos, é impressionante a actualidade da sua imagem. Por vezes, ao assistir esqueço-me "Emma Thompson, who wrote the deste pormenor, de como já faz tanto tempo screenplay, crafted the script que foi filmado. E isso tem a ver com a intending to cast real-life sisters, elegância que Ang Lee imprimiu à obra. Natasha and Joely Richardson Achei interessante descobrir que ele tenha (daughters of British actress Vanessa se inspirado nos quadros do pintor holandês Redgrave) as Marianne and Elinor. Johannes Vermeer (a característica However, she was later encouraged to principal da sua obra é a forma como utiliza play Elinor herself by director Ang Lee. a luz e o jogo com as sombras ) para criar e Thompson was reluctant to cast herself desenvolver a fotografia deste filme. as Elinor, because she thought she was 12 too old (Elinor is supposed to be 19 São dois nomes, dois estilos, duas assinaturas Página years old). Lee, who wanted e um excelente resultado final.
  • 13. SENSIBILIDADE E BOM SENSO 2008 EXPECTATIVA E CONSENSO |CÁTIA PEREIRA  Grande expectativa - esta é a expressão correcta para traduzir o que milhares de fãs de Jane Austen sentiram enquanto a mini-série não estreava   P odemos Propositadamente, contar com não aprofundei a mais de uma leitura destes década de mesmos artigos intervalo para não entre a condicionar a produção minha própria cinematográfica opinião. Contudo, de Ang Lee e a este sentimento de adaptação expectativa é televisiva de latente. De igual forma, notava-se que todos "Sense and Sensibility" pela BBC. Destaque-se tinham curiosidade de ver que a última adaptação da BBC é de 1981, como Andrew Davies o que gera quase trinta de anos de intervalo teria desenvolvido o - no que diz respeito à BBC - e, por roteiro. O que pude consequência, gera também um elevado concluir é que as grau de curiosidade pelo resultado final. opiniões dividem-se e não Portanto, a fasquia era alta. são de maneira nenhuma consensuais. Há os que não Grande expectativa - esta é a expressão gostaram, os que gostaram, os que não correcta para traduzir o que milhares de fãs gostaram mas apreciaram certos pontos, os de Jane Austen sentiram enquanto a mini- que gostaram mas desgostaram de muita série não estreava. Eu tive a curiosidade de coisa. Enfim, uma amálgama de opiniões. fazer uma breve pesquisa de artigos da época anterior à estreia e nos dias seguintes.
  • 14. SENSIBILIDADE E BOM SENSO 2008 “PÁLIDO” |CÁTIA PEREIRA  Aquele local ressaltaria também todo o distanciamento da vida social  O tratamento exteriores como cénico, as os interiores são locações, o amiúde sombrios; design, a e, algumas vezes, fotografia e o até cinzentos. guarda- roupa resultou do trabalho de três pessoas: James Aqui a imagem Merrifield, Paul revela e Ghirardani e Michele potencializa Clapton. Toda a sentimentos e coordenação da sensações; na imagem leva a medida em que a predominância de cores neutras, pálidas e sua combinação substancializa o que o cinzentas, o que faz com que toda a personagem visado está a pensar, a sentir ou fotografia de Sensibilidade e Bom Senso 2008 a exteriorizar. Pode-se dizer que o tom quase traduza os sentimentos de melancolia, pálido imprime recolhimento e realismo ao alguma tristeza. ambiente de luto Sobretudo, das Dashwood. melancolia. Acho que o contraste é ainda mais acentuado Inicialmente sente-se quando as alguma estranheza. Dashwood Esperamos ver chegam a Barton campos verdejantes Cottage. Que e dias de sol sensação tão convidativos a desoladora senti, passeios e pic-nics. devo confessar, 14 Contrariamente, quando vi a cena tanto os cenários da família a Página
  • 15. chegar no seu novo local de morada. Achei interessante, na entrevista Acompanhei o olhar de total desilusão de anteriormente publicada aqui, a produtora, Mrs. Dashwood a olhar para cada recanto Anne Pivcevic, dizer que esta opção de da húmida, vazia e descolorida casa. colocar Barton Cottage numa zona tão Entendi-lhe o olhar: “então, ser viúva é isto? diferente da concebida por Jane Austen, então, ser pobre é isto? então, não ser mais teve como fundamento reforçar a ideia do senhora de Norland é isto? então, ser alvo de corte ocorrido na vida anterior das mulheres caridade alheia é isto? Que fiz eu para viver Dashwood. Para além da perda, da descida nestas condições? que fiz eu, de tão errado, económico-social, aquele local ressaltaria para ver as minhas filhas descerem de nível também todo o distanciamento da vida social desta maneira? que fiz eu…?”. social. Por outro lado, não se pode negar que o Não posso dizer que assistir a esta mini-série local atribuído à Barton Cottage é idílico e seja como admirar uma pintura. Mas, a meu belíssimo. É impossível ser-lhe indiferente. O ver, há sequências de profunda beleza em cenário quase épico reforça a ideia de Sensibilidade e Bom Senso 2008, que melancolia, recolhimento, tristeza, luto e enchem os olhos e traduzem uma série de alguma solidão. mensagens. 15 Página
  • 16. Querida Jane Austen, Como sempre, aqui estou eu para lhe sobre o livro (pelo menos para quem enviar os meus pensamentos sobre as conhece a história): o orgulho e o suas obras nestas singelas cartas. preconceito de cada uma das Singelas, sim, que o meu talento para a personagens (tal como muitos outros escrita não se compara ao seu. defeitos que nem vale a pena enumerar...), bem patente ao longo da Mas se é verdade que desejava história, é o mote de todo o livro. Sem imenso voltar a escrever-lhe uma carta, estes nossos "amigos" ali, atrevo-me a também é verdade que me tenho dizer que a curiosidade do leitor não deparado com diversos problemas: o seria estimulada. primeiro, e talvez o mais urgente de todos, é a época de exames que se Afinal de contas, porquê "orgulho"? inicia e que exige imenso estudo, Porquê "preconceito"? E quando damos concentração mas, acima de tudo, por nós, estamos a tentar decifrar todas calma (que eu não costumo ter!); o as palavras da sua obra. segundo, é o tema da carta. Sabe, Jane, é que ainda que um dos meus objectivos seja ler tudo o que Mas há mais: O Parque de escreveu, ainda só li Orgulho e Mansfield. Novamente, este título Preconceito e O Parque de Mansfield. reporta-se ao mote da história - ou pelo Como poderei, então, escrever-lhe algo menos à zona principal onde ela se que vá de encontro ao livro do mês, desenrola. Com efeito, o parque de Sensibilidade e Bom Senso? Mansfield é o background para todos os Devo confessar que andei, durante momentos de aflição da nossa querida muito tempo, às voltas, tentando arranjar Fanny (de quem eu lhe falei na última algo que encaixasse. Lembrei-me, carta, como certamente se lembra), inclusive, que vi a mini-série britânica de para os despautérios da nossa querida 1981 mas (ironia do destino), não me (ahem!) Mary Crawford, para a aparente recordo bem da sua história. redenção de Mr. Crawford e para tantas outras coisas. Até que, no meio disto, tudo me Ainda que a referência ao parque apercebi de algo: títulos. não dê, imediatamente, uma ideia do tema principal envolvido (ao contrário do que ocorre, por exemplo, em Orgulho "Títulos? Como assim, títulos?", e Preconceito), a verdade é que 16 pergunta a Jane. Bem, passo a explicar: conseguimos, automaticamente, formar Orgulho e Preconceito. Este título diz tudo uma imagem de um parque e várias Página
  • 17. histórias com as suas personagens (que, história e, para os menos astutos (como na maior parte das vezes, não eu), que surpreendem quando se combinam com a verdadeira história). termina o livro. E os títulos são essenciais por isso E, com isto, chego ao meu ponto mesmo. Mas quem refere estas obras, principal: Sensibilidade e Bom Senso. Ora, refere outras: Emma, Northanger Abbey, tendo em conta que me lembro de Persuasion, Lady Susan,... muito pouco da história, tendo a juntar fragmentos da mini-série com o próprio Cada uma das suas obras tem título. Assim, tudo me leva a crer que títulos que correspondem à história, que estamos perante personagens que são a resumem e que a caracterizam. ou demasiado sensíveis (acabando por Haverá alguém melhor do que a Jane sair magoadas devido à sua facilidade para ensinar a alguns destes novos em se apaixonar ou ficarem ofendidas) autores a importância de um título bem ou cujo bom senso lhes falta em alta feito? Provavelmente, não. medida. E, com isto, devo deixá-la, minha Estarei certa? Talvez não, afinal, cara Jane: não serve de nada continuar não me recordo da história. Mas é a debater a importância dos seus títulos. precisamente a isto que quero chegar, e A verdade é que todos aqueles que não propriamente ao título da obra: lerem a carta se irão lembrar da primeira títulos bem escolhidos e sonantes fazem- vez que olharam para um dos seus livros nos pensar sobre eles. e imaginaram uma história, muito provavelmente, completamente Porque razão se chama diferente à verdadeira, e irão rir-se. Sensibilidade e Bom Senso? Será que há alguém com demasiado bom senso e E não há nada melhor do que outra pessoa com pouca sensibilidade? rirmos com as nossas próprias memórias e Será o contrário? Será que não tem nada termos a possibilidade de voltarmos a que ver com isto? mergulhar nas histórias que amamos. Verdade seja dita, a Jane é mestra Até à próxima carta, na arte de dar títulos dignos às suas obras, títulos que aguçam a curiosidade e a imaginação, títulos que contam, para os mais astutos, um pouco da 17 Página
  • 18. QUANDO LI S&S|CLARA FERREIRA  Acredita-se que estas duas irmãs foram criadas a partir de Jane Austen e da sua irmã Cassandra  "A ranked as nd among the and Elinor merits Marianne, let it not be the the happiness of and least considerable, that, though sisters, and living almost within sight of each other, they could live without disagreement between themselves, or producing coolness between their husbands" Publicado em 1811, foi o primeiro romance de Jane Austen a ser publicado, sob o pseudónimo de " A Lady". Jane Austen escreveu o primeiro rascunho desta personagem preferida de tão fortemente como se obra em 1795, quando sempre - Elinor Dashwood. ama a primeira vez. tinha cerca de 19 anos. Primeiramente chamado À semelhança de A história possui duas "Elinor and Marianne" e "Persuasion" este livro é personagens principais: depois, definitivamente totalmente absorvente, são Elinor e Marianne "Sense and Sensibility". tantas as desgraças que Dashwood (duas irmãs). O acontecem à família contraste entre ambas é Não é o meu livro preferido Dashwood que vivemos a enorme. Elinor revela um de Jane Austen, mas é história como se fôssemos enorme bom senso e aquele que contém lá uma das irmãs. O livro, fala- Marianne representa a dentro a minha nos da possibilidade de emoção do seu maior 18 amar uma segunda vez, esplendor. Acredita-se que Página estas duas irmãs foram
  • 19. criadas a partir de Jane do que sente se reflecte amor... o que não deixa de Austen e da sua irmã (exageradamente) para ser irónico, dado que era Cassandra. fora, embora sinta tudo e ela a "eterna romântica". de uma forma muito Tudo começa quando o profunda, acaba por se Deixo aqui um trecho do pai de Elinor, Marianne e apaixonar por Edward último capítulo que explica Margarett morre. Toda a Ferrars, irmão da sua a situação de Marianne, sua fortuna passa para as cunhada. Uma relação em tudo diferente dos finais mãos do filho do primeiro manifestamente impossível a que Jane Austen nos casamento (meio irmão de perante os olhos da família habituou, pois o de Elinor, Marianne e de Edward. Marianne, aproxima-se mais Margarett). As irmãs e a sua da realidade da vida e não mãe ficam com uma Marianne, apaixona-se por da felicidade eterna. pequena renda anual. O Willoughby... e também nós irmão e a sua mulher (leitores), a relação deles é "Marianne Dashwood was acabam por vir residir para claramente aquele "amor born to an extraordinary Norland - a morada do pai, perfeito" em que fate. She was born to madrasta e meias-irmãs. acreditamos fielmente. No discover the falsehood of entanto, esta personagem her own opinions, and to Mrs. Dashwood começa a acaba por nos counteract, by her procurar uma casa para decepcionar a todos, conduct, her most favourite poder ir viver com as suas porque, afinal de contas, maxims. She was born to filhas, um primo oferece-lhe não era tão perfeito assim. overcome an affection uma pequena casa de formed so late in life as at campo em Barton e aí se Há um capítulo, já no fim, seventeen, and with no acabam por estabelecer. em que Willoughby tem sentiment superior to strong uma conversa com Elinor, esteem and lively friendship, Elinor, razoável, sensata, onde se justifica ou explica voluntarily to give her hand prudente e com um as suas acções... e até eu, to another! (...) enorme bom senso é o que lhe fiquei com um oposto da sua irmã, que enorme "pó" depois do que But so it was. Instead of vive tudo com a emoção à ele fez à Marianne, falling a sacrifice to an flor da pele, que não consegui desculpá-lo, de irresistible passion, (...) she suporta ficar calada certa forma. found herself at nineteen quando julga que algo está submitting to new mal, que pouco que lhe O fim do livro é ao mesmo attachments, entering on importa o que os outros tempo fantástico e ao new duties, placed in a pensam das suas acções - mesmo tempo de um certo new home, a wife, the Marianne é a eterna desapontamento... fiquei mistress of a family, and the romântica que apenas muito feliz com Elinor pois patroness of a village. acredita no único amor e acabou por se casar com que ninguém consegue Edward (o "amor da sua (...) and that Marianne amar novamente depois vida"), mas o destino de found her own happiness in de ter encontrado o "amor Marianne é, embora feliz, forming his, was equally the da sua vida". um destino alternativo, pois persuasion and delight of ela não acaba com o each observing friend. "amor da sua vida", eu senti Marianne could never love que, ao casar-se com o by halves; and her whole Muito acontece Colonel Brandon, casou-se heart became, in time, as entretanto... Elinor, que primeiramente pela grande much devoted to her pode por vezes parecer amizade que tinham e que, husband as it had once indiferente e fria, pois nada acabou por se tornar em been to Willoughby." 19 Página
  • 20. SENSE AND SENSIBILITY EM PORTUGAL 200 ANOS DEPOIS – LEITURA COMPARADA |CÁTIA PEREIRA  Ler escritores clássicos é, muitas vezes, visto como algo pouco atractivo e antiquado. Acredito que a genialidade ultrapassa a barreira do tempo   Traduções: “Sensibilidade e Bom Senso” (Maria Luísa Ferreira da Costa) e “Razão e Sentimento” (Ivo Barroso) I ntrodução. Após a surpresa e a alegria semelhantes aos da nossa iniciais provenientes do convite da contemporaneidade. Raquel Sallaberry do Jane Austen em Português para este desafio, veio a Gosto deste desafio que, por vezes, fase de planeamento e a designo como um desafio lusófono. concretização de algumas etapas do programa delineado. Sobre a tarefa Leitura Comparada. Esta primeira etapa da específica da Leitura Comparada Leitura Comparada entre “Sensibilidade e confesso que senti algum pânico: o Bom Senso” (tradução de Maria Luísa Ferreira que posso eu dizer sobre isto? Como da Costa) e “Razão e Sentimento” (tradução posso fazer uma apreciação sobre o de Ivo Barroso) foi feita do Capítulo 1 ao 22. resultado do trabalho de um Não foi um percurso de um fôlego só. Tem especialista? Eu não sou tradutora. sido uma gradual construção e um exercício Estou bem longe deste ofício. de compreensão. É interessante confirmar que a língua portuguesa é multifacetada e Não tenho a pretensão de fazer um que a sua expressão nos dois países (Portugal estudo aprofundado e/ou e Brasil) assume particularidades assinaláveis. académico. Assumi a certeza de que a minha leitura terá de ser a de Optei por não demonstrar capítulo a alguém que ama três coisas: a língua capítulo as diferenças porque seria portuguesa, a literatura e Jane Austen. demasiadamente longo. O que faço é O meu olhar será do ponto de vista do destacar algumas passagens que convidam leitor. Uma irremediável leitora. à reflexão. Ler Jane Austen, nos nossos dias, pode parecer um tanto deslocado. Ler escritores clássicos é, muitas vezes, Uma mesma língua: significantes diferentes, visto como algo pouco atractivo e significados iguais. Falamos a mesma língua antiquado. Acredito que a mas a forma de expressão difere. A escolha genialidade ultrapassa a barreira do e o uso das palavras para traduzirem tempo. Se lapidarmos as determinado significado, pelos tradutores, circunstâncias e o contexto histórico são um exemplo desta diferença. Há 20 entendemos que os sentimentos e as expressões que são típicas e que, não sendo atitudes relatados são extremamente Página
  • 21. literais ao original, traduzem a ideia que o texto quer transmitir. Opções e dúvidas. Deparo-me com algumas Coloco alguns exemplos deste tipo de frases em ambas traduções que levantam- situação: me dúvidas quanto ao resultado. “uma articulação imperfeita das palavras, um desejo voluntarioso de fazer o que “Lembra-te, minha querida, de que ainda queria, muitas partidas* engraçadas e muito não tens dezassete anos.” (Sensibilidade e barulho” (Sensibilidade e Bom Senso, Bom Senso, Capítulo 3, pg. 16) Capítulo 1, pg. 6) "Lembre-se, minha querida, de que você “uma articulação imperfeita, um persistente ainda não tem dezesseis anos.” (Razão e desejo de afirmar a sua vontade, muitas Sentimento, Capítulo 3 , pg. 16) artimanhas astuciosas e uma barulheira infernal” (Razão e Sentimento, Capítulo 1, pg. Questiono-me o porquê da tradução 6) brasileira atribuir à Marianne uma idade diferente do original. Será que “you are not *Dizer “pregar uma partida” em Portugal será seventeen” possa implicar que Marianne não o equivalente a “pregar uma peça” no Brasil; tenha especificamente 16 anos e que possa ou seja, o sentido é o de uma brincadeira ter menos idade? Deirdre La Faye escreve inesperada. que “they made their debut into society in their late teens” (La Faye, Deirdre; “Jane Austen – The world of her novels”, pg. 113) o que poderia significar que uma jovem debutaria entre os 17 e os 18 anos. Então faria sentido pensar que com esta fala, Jane Austen através de Mrs. Dashwood não está a indicar a idade exacta de Marianne. “A sua casa ficará portanto quase completamente recheada* logo que tomar posse dela”. (Sensibilidade e Bom Senso, Capítulo 2 , pg.12) “Ela estará com a casa quase completamente montada quando se mudarem daqui.” (Razão e Sentimento, “Margaret, como acompanhante de Capítulo 2, pg.12) Marianne, com maior elegância que precisão, acalmou Willoughby, que viera * A expressão “casa recheada” ou “com cedo, na manhã seguinte à casa para saber recheio” é quando ela está devidamente pessoalmente como ela mobilada. Não é incomum aqui utilizar-se o passava.”(Sensibilidade e Bom Senso, termo “montada”, mas é mais usual dizer-se Capítulo 9, pg. 36) 21 “recheada”. Página
  • 22. “O guardião de Marianne, título que descodificação de uma mensagem. Ele está Margaret, com mais elegância que precisão, diante de uma obra, que pertence a um atribuíra a Willoughby, apareceu na manhã tempo histórico, a uma cultura, a um tipo de seguinte bem cedo à porta do chalé para mentalidade e a uma língua específica. Para saber pessoalmente do estado dela.” (Razão além disso, ainda temos que considerar que e Sentimento, Capítulo 9, pg. 35) há o escritor e a sua intencionalidade. E, ainda temos de considerar também, que o Este foi o parágrafo que, ao longo destes 22 tradutor tem o seu ponto de vista de leitor e capítulos, levantou-me mais dúvidas. Não que tem de abstrair-se disto. Ou não? vos parece que o início da frase, em ambas as traduções, transmita um significado Interrogo-me, muitas vezes, se a dualidade totalmente diferente entre si? Quando “tradutor/leitor” entram em conflito na compara ambas com o original, as minhas actividade de tradução. Há a intenção do dúvidas aumentam. autor da obra que, excepto ele a deixe por escrito, nunca a alcançamos totalmente. Há a interpretação da obra por parte do leitor. Isto será um terreno minado para quem tem Em traços gerais, através destes breves a tarefa de traduzir uma obra? exemplos pretendi destacar diferenças de expressão e as dúvidas que algumas Parto da ideia de que para efectuar passagens criaram em mim. Contudo, a qualquer tradução estarão inerentes aventura ainda está no início. Ainda há um determinados processos que levam ao rigor longa caminho a percorrer nesta trilha do e a objectividade para obter um resultado desafio do Bicentenário S&S e da Leitura final fiel ao original. Num texto técnico, o Comparada entre "Sensibilidade e Bom rigor e a objectividade parecem-me ser Senso" e "Razão e Sentimento". Guardo a metas indispensáveis senão fundamentais. certeza de que as páginas ainda reservam Num texto e obra de cariz literário, para além muitos aspectos sobre os quais repousar os disto, há toda uma série de olhos, alargar a visão e surpreender-me com condicionalismos. Alguns condicionalismos alegria pelas novas descobertas. Aproprio- foram referidos acima: tempo histórico, me, com civilidade, de uma frase das cartas cultura, língua, mentalidade; mas ainda há de Jane Austen para afirmar... outros, dentre eles: o estilo de escrita do autor da obra, a coordenação entre a ..."No, indeed, I am never too busy to think of subjectividade do autor e do tradutor, e a S. and S.." interpretação da intencionalidade do autor pelo tradutor. Será que podemos conceber que exista este espaço de interpretação? Isto é, a semelhança de um jornalista, há a necessidade de imparcialidade como condição ética essencial para o exercício Não sou tradutora e estou bem longe disto. da sua actividade; ou, pelo contrário, a Contudo, a dada altura e durante a leitura parcialidade é benéfica? comparada, comecei a reflectir sobre a posição do tradutor. Neste desafio não Estas interrogações e afirmações têm uma estamos a focar o olhar unicamente sobre natureza intuitiva. Foram ilações que me Jane Austen, mas sobretudo sobre as opções atravessavam a mente durante o exercício tomadas por cada tradutor. de leitura de ambas as traduções. Não quero ter a pretensão de lançar pressupostos Dei por mim a pensar na dinâmica deste sobre a técnica de tradução ou sobre o trabalho e surgiu-me este pensamento: trabalho do tradutor e acredito que estas haverá condição mais solitária do que o questões poderão parecer “romantização” tradutor no exercício do seu ofício? Não sei da profissão. A minha partilha destina-se, se a minha interrogação será abusiva mas apenas, a ser matéria de reflexão de uma actividade que parece ficar um pouco à 22 comecei a visualizar mentalmente o tradutor neste diálogo silencioso de leitura e de sombra do anonimato. Página
  • 23. CONTRA TODAS AS TORMENTAS |CLARA FERREIRA  Elinor tem igual porção de Sensibilidade quanto de Bom Senso   E linor Dashwood, effectual, possessed a she knew how to govern geralmente associada strength of understanding, them: it was a knowledge ao lado de "Bom Senso" and coolness of judgment, which her mother had yet do título da obra, é a which qualified her, though to learn, and which one of irmã mais velha de only nineteen, to be the her sisters had resolved Sensibilidade e Bom counsellor of her mother, never to be taught." Senso. Com apenas 19 and enabled her frequently anos, Elinor é detentora de to counteract, to the Ao longo da história uma personalidade advantage of them all, that habituamo-nos à aparente terrivelmente sensata, eagerness of mind in Mrs. crueza com que lida com realista e razoável. Por tudo Dashwood which must tudo. Personagem com pés isso, sinto uma forte generally have led to mais assentes na terra, creio empatia e admiração pelo imprudence. She had an que não existe, pelo menos seu carácter. excellent heart; her no universo de Jane Austen. disposition was Elinor julga correctamente "Elinor, this eldest daughter affectionate, and her as acções e atitudes das whose advice was so feelings were strong: but restantes personagens,
  • 24. possui uma não faz nada maturidade disso, ela faz tremenda e pior... guarda uma tudo dentro consciência de si na abismal. expectativa Menospreza- de que o se tempo tudo demasiado. cure, mas Considera ilude o que os seus próprio sentimentos coração apenas (que julga ser servem para mais forte do afligir os que é na outros e por realidade) e isso, cala-os esquece-se e envolve-os numa redoma Marianne, dou um passo que se a dor não for falada de vidro colocando sobre si ainda mais em falso e digo e partilhada consome uma máscara de bem-estar que Elinor tem igual porção cada pedaço da alma. E o ou de "tudo vai correr de Sensibilidade quanto de choro desalmado com que bem". Nada parece deitá- Bom Senso. Ninguém sofre recebe a notícia do não la abaixo, nada faz com mais ao longo da história casamento de Edward que fraqueje, Elinor do que ela, ninguém Ferrars é precisamente a permanece firme contra suporta mais tristeza. Tal consequência de toda essa todas as tormentas e é como diz, ela ama com reserva, Elinor rebenta, mas nela, que todos os outros se todas as desvantagens que ainda bem que é de alívio abrigam, qual porto seguro. isso traz sem nunca ter de alegria... ! Elinor é sinónimo de conhecido os benefícios - segurança, sobre ela mais palavra menos parece que nada perfura, palavra, esta é a ideia. De tudo se desintegra antes de facto, ela não chora feita Elinor parece-me, apesar poder atingi-la. No entanto, desalmada como da família adorável que sabemos, que não é bem Marianne, ela não caí tem e que a ama muito, assim... numa apatia doentia como uma personagem Marianne, ela não grita aos incrivelmente solitária, Elinor, arrisco afirmar, sente sete mundos a sua dor demasiado... muito mais que a irmã como Marianne... não, ela 24 Página
  • 25. ESTOICAMENTE ELINOR |CLARA FERREIRA  A sua conduta é regular e constante e é isso que a torna tão sublime aos meus olhos   E linor Dashwood alguma possui uma importância ainda enorme que falsa e descartável. A importância de Elinor está, em condescendência contraponto, no e paciência. Ela seu carácter forte, atura e suporta inabalável, com a maior das determinado, na naturalidades qualquer carácter. Não possui sua humildade e na sua bondade. a impertinência de Emma ou a ousadia de uma Lizzie ou mesmo o atrevimento da Elinor não é totalmente indiferente aos própria irmã, Marianne... Não, em sociedade comentários malévolos da futura sogra e Elinor trata todos de forma plácida, cunhada, sabemos que a magoam, mas ela suportando os comentários mais atrozes e sabe como ultrapassá-los, dar a volta por injustos e nunca se subjugando, mantendo cima e por isso as trata com uma indiferença sempre uma "irritante" dignidade que deixa superior e educada que me fazem regozijar cair por terra toda e qualquer observação enquanto leio certas passagens. Elinor é, menos própria vinda de uma Mrs. Jennings tanto em carácter como em inteligência, ou um comentário a roçar o insulto vindo de superior a qualquer uma delas e por isso é Mrs. Ferrars ou de Fanny Dashwood. ela quem se ri no fim. Nela não há contradições, a sua conduta é regular e Ao contrário de muitas das outras heroínas constante e é isso que a torna tão sublime de Austen, Elinor sabe agir em sociedade aos meus olhos, tomando conta do lugar sem provocar tumultos, sem gerar atritos; a cimeiro nas minhas preferências em relação Elinor é impossível apontar uma falha, todas às heroínas de Jane Austen. Elinor é fiel a si as intrigas que se geram em torno dela são própria, não age com subterfúgios, não se provocadas pela simples e odiosa inveja, serve do cinismo para conquistar amizades, não há um defeito nela aos olhos dos outros ela age em sociedade com naturalidade, e por isso, servem-se da sua falta de dinheiro sem impulsos, porque sabe avaliar, à partida, para a diminuir porque só por aí conseguem os bons e os menos bons caracteres, justificação - claro exemplo disso são Mrs. respondendo a todos à altura das Ferrars e Fanny Dashwood que coitadas, a circunstâncias. É de certa forma a sua única coisa que têm em seu abono é, de estoicidade (aparente) que me cativa e é facto, a fortuna, tudo o resto é mau e sem pela profundidade dos seus sentimentos que valor, daí que se agarrem tanto à sua eu me apaixono. 25 fortuna, a única coisa que lhes pode trazer Página
  • 26. MARIANNE DASHWOOD |VERA SANTOS  Ela é também das poucas personagens que não disfarça aquilo que sente   H á quem não hesite apaixonasse, em apelidar conhecem-se de Marianne de tola uma forma muito romântica, mas romântica, quem aos dezassete haverá algo mais anos, nunca o foi romântico que que atire a primeira pedra. um homem que Dizia, o Camilo Castelo surge do meio de Branco que o primeiro nevoeiro e salva a amor sentido por uma donzela em mulher é ainda uma perigo?? Depois, manifestação do amor às os seus modos, bonecas, contudo ele maneira de ser e acredita que Teresa, a sua gostos comuns heroína em Amor de aos dela, Perdição, amou Simão acabam por com mais seriedade e vencer qualquer sinceridade do que outras resistência caso da mesma idade o teriam ela ainda existisse. feito. Infelizmente, Willoughby engana Marianne e Eu também eu acredito que o amor de todos os leitores quando mais tarde revela Marianne por Willoughby está longe de ser ser o bom sacana que é. uma manifestação do amor às bonecas, mas sim uma verdadeira afeição. Olhando a Mas se Marianne tem uma natureza estória dos romântica, dois de uma ela é forma também impessoal, é das poucas quase impossível que ela não se
  • 27. momento romântico que ela própria gostaria de ter, morrer por amor, porque aquela morte seria vista por ela como isso. Mas não é um balde de água fria, pelo menos para mim, que ela se personagens que não disfarça aquilo que recupere. Jane Austen já demonstrou por sente, seja o amor por Willoughby, seja a diversas vezes que acredita em novas indiferença pelo Coronel Brandon e é aqui oportunidades e Marianne ao viver percebe que a personagem se torna digna de ser como as suas ideias eram erradas e depois amada, por ser absolutamente sincera, outro como diz o Mr. Bennet, toda a rapariga tanto não se pode dizer de outras precisa de um desgosto amoroso, o homem personagens e corajosa, muito corajosa, na sua sabedoria, faz-nos ver que são esses acho que ninguém se atreveria a dizer a Mrs. dissabores, o bater com a cabeça na Ferrars aquilo que ela disse. parede que nos fazem crescer. Marianne cresce ao longo do livro e no fim já Há quem questione o amor pelo Brandon, não será tão romântica e terá percebido afinal ela não era TÃO apaixonada por que afinal pode-se amar mais que uma vez, Willoughby? Pessoalmente acredito que ela entre outras lições igualmente importantes. ame o Coronel e que o seu amor seja sincero, afinal já não tenho dezassete anos, A primeira vez que vi a adaptação de já não sou uma tola romântica e já descobri 1995 pensei que Marianne não iria resistir e que se pode voltar amar, basta darmos uma acabaria por morrer, esse seria o grande oportunidade ao amor.... 27 Página
  • 28. A TERCEIRA DASHWOOD |CLARA FERREIRA  Margaret na sua simplicidade e "criancice" concede-nos momentos especiais ao longo da história   M em Margaret. Não era um adulto mas sim uma "criança" que podia argaret, the transmitir other sister, was alguma a good- "sinceridade" humored, well- nas suas disposed girl; but observações as she had ao que se already imbibed passava à a good deal of sua volta. " Marianne's De facto, é a romance, without having much of her sense, sinceridade das suas observações que she did not, at thirteen, bid fair to equal her levantam o véu de muito daquilo que as sisters at a more advanced period of life." irmãs pensam mas não dizem! Margaret é a irmã mais nova, uma figura engraçada e muito bem conseguida nas adaptações de 1995 e 2008. A minha colega Marina aqui no blogue deixou, o que passo a citar de seguida, um comentário acertadíssimo: "Margaret, a meu ver, existe na história para a tornar mais jovial. A seriedade e sensatez de Elinor e o carácter apaixonado e impulsivo de Marianne (e até de sua mãe) tinha que ter um "ponto de equilíbrio". E esse ponto de 28 equilíbrio foi muito bem "encontrado" por Jane Austen Página
  • 29. Margaret é também uma espécie de âncora para Mrs. Dashwood, é Margaret que está junto dela quando as outras filhas não estão, mantendo o seu papel maternal activo, afastando-se assim da viuvez representada por Mrs. Jennings. Mrs. Dashwood ainda tem um Embora a descrição feita no início da obra papel crucial a cumprir - o de educar tão acerca de Margaret a diminua em relação bem ou melhor Margaret como fez com as às irmãs, é de notar que, também ela sofre outras duas filhas. uma mudança ao longo da história. Jane Austen escreve que, enquanto as irmãs estiveram em Londres com Mrs. Jennings, Margaret foi alvo de um processo educativo É uma personagem aparentemente intensivo por parte da sua mãe, descartável, tanto assim é que a adaptação conhecimento que adquire e que mostra de 1981 decidiu suprimi-la, no entanto, depois quando as irmãs regressam a Barton Margaret na sua simplicidade e "criancice" em vários diálogos. concede-nos momentos especiais ao longo da história. Quero também ressalvar a interpretação de Lucy Boynton em 2008 que nos deu uma Margaret inoportuna e doce. 29 Página
  • 30. EDWARD FERRARS |LILIANA ISABEL  Apesar de ser um homem passivo, é um homem apaixonado   P rimeiro de noivado seja uma tudo o forma de escape e Edward é revolta contra as uma regras ditadas pela personagem sua família, no que que eu gosto diz respeito ao seu bastante, apesar futuro pessoal e da minha monetário. dualidade de sentimentos Apesar de amar como já vão Elinor, Edward reparar pela mantém a sua minha análise. promessa de No que toca a adaptações eu acho que o casamento com Lucy, o que reflecte um Hugh Grant foi mesmo perfeito como homem íntegro e com valores que pensa nos Edward Ferrars. Apesar outros em detrimento dos de gostar de Edward seus sentimentos. No final porque no fundo ele talvez se terá apercebido consegui fazer frente a de que ao "abafar" os seus todos por amor, não sentimentos por Elinor, está deixa de ser, na minha também a ferir os opinião um homem um sentimentos da mulher que pouco fraco, apenas ama. No entanto, mesmo no decidido em fazer a momento em que sua mãe feliz e seguir o finalmente fala dos seus plano que ela tem sentimentos a Elinor, eles são traçado para ele. Ao escassos e deixam Elinor um mesmo tempo que se pouco confusa à espera de apresenta "obediente" um pedido, que não vem à sua mãe e irmã, logo... No fundo apesar de comete uma ser um homem passivo, é um "ilegalidade" e nas homem apaixonado, costas destas fica noivo sensível e com bons de Lucy, mesmo princípios morais e como tal, sabendo que a sua merece todo o meu família está respeito. 30 inteiramente contra Página esse cenário. Talvez o
  • 31. JOHN WILLOUGHBY |LILIANA ISABEL  Nem tudo o que reluz é ouro...  Q uando língua" com pensamos quem ele em John passou bons Willoughby momentos de pensamos diversão, e logo no nada mais... ditado português "quando a esmola é Infelizmente demais o santo Marianne não desconfia". teve o discernimento Não passa de um lobo No entanto eu não suficiente para avaliar mascarado de cordeiro acredito que ele não sinta correctamente Willoughby, com toda a sua educação, remorsos do que fez. Ele é mas se pensarmos bem não cordialidade e simpatia. Ele daquelas pessoas que se é fácil acreditar que um fez com que não só deixa envolver pelo que ela rapaz com tantas Marianne como toda a própria faz e diz e depois é qualidades que se vão família Dashwood se tarde demais. Também revelar de tão má rendesse ao seu charme. podemos consideram John qualidade... Promete mundos e fundos a Willoughby como um Marianne (não Playboy da era Regency e Detesto homens como "descaradamente" mas nada mais que isso. Willoughby e penso que a implicitamente) e isso é o Marianne é bonita, Jane talvez tenha escrito suficiente para apaixonar determinada e inteligente. esta personagem a pensar Marianne que sonha com o Trata-se de uma rapariga nas muitas donzelas seu futuro ao lado do divertida e sem "papas na sonhadoras que sonham príncipe com o príncipe encantado. E encantado que depois, desaparece mais tarde se e não dá tornará num lobo satisfações, como mau. Podemos se nem sequer mesmo dizer que tivesse feito parte com John da vida de Willoughby nem Marianne e do resto tudo o que reluz é das Dashwood. ouro...