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Escola Secundária de Peniche

              2011/2012

                História

               12º LH1




   Testemunho sobre
viver no Estado Novo




                           Trabalho elaborado por: Sílvia Sousa
                              Professora: Ana Cristina Ferreira
Índice
Introdução                           3

Anónimo                              4

Anexos                               8

Anónima e falecido marido            11

Conclusão                            15




                                          2
Introdução
      Este trabalho tem por objetivo obter mais informação acerca de uma
época da nossa história: o Estado Novo. Pretendo fazê-lo com o acesso a
testemunhos importantes sobre esse tempo.

        Tentarei aprofundar partes importantes da história das pessoas
relacionadas com o próprio país, como momentos mais marcantes. Os temas
que irei abordar são: a infância e tentar fazer uma pequena comparação com
os tempos de hoje; a juventude e os tempos de escola; o trabalho; a vida
militar, no caso dos homens onde abordarei as guerras coloniais; o Forte de
Peniche; a censura e o 25 de Abril.

      Para isto irei entrevistar uma senhora anónima que falará também em
nome do seu falecido marido, que participou na Guerra Colonial na Guiné
Bissau e pertenceu à PIDE. Entrevistarei também outro anónimo que participou
na Guerra Colonial em Angola e trabalhou no Forte de Peniche.

       Todos sabemos que o Estado Novo foi um período bastante repressivo
da nossa história mas que apesar disso houve muitas melhorias, como por
exemplo a situação socioeconómica do pais e com estes testemunhos vamos
ver se as opiniões das pessoas que passaram por essa época controversa são
negativas, se ficaram desiludidas ou aliviadas com as mudanças após o 25 de
Abril e o que achavam que estava bem ou mal no regime.




                                                                               3
Anónimo
                              30.01.1942

Como foi a sua infância?
       Feliz, apesar de pobre. As brincadeiras eram outras, com jogos que não
implicavam gastos de dinheiro. Agora não valorizam as coisas como nós
fazíamos e eramos ensinados.



Como era a escola?
       Frequentei-a da 1ª à 4ª classe, bom aluno mas um pouco preguiçoso.
Havia respeito pela professora pela sua sabedoria, e sem violência. Desde os
primeiros dias os meus pais ensinaram-me a respeitar os professores e eles
próprios sabiam impor-se.

        Em cada ano havia um livro próprio de leitura, eram os livros únicos.
Estudávamos ciências, zoologia, história, botânica, gramática e matemática. Os
textos eram banais e tinham apenas em vista ensinar a formação de frases e
incutiam ao respeito pelos outros. Aos sábados tínhamos moral e formação
cívica.

     Só houve exames na 3ª e 4ª classe. O da 3ª foi escrito e feito na escola
e o da 4ª era na sede do concelho com prova escrita (ditado, redação e
matemática) e oral com juízes e professores.

       Depois fui para o Seminário do Patriarcado porque não tínhamos
condições monetárias e este era financiado pela Igreja. Aprofundávamos mais
as disciplinas. Não cheguei a lá estar 6 anos e segui para o campo.



Que trabalhos exerceu, para além do trabalho no campo?
      Aos 18 anos tínhamos que dar o nome para a tropa e íamos a uma
inspeção física que ou nos deixava livres ou apurados. Fiquei apurado e
quando assim era tínhamos que esperar que o exército nos chamasse.

       Em 1961, tinha eu 19 anos, abriu uma vaga de escriturário na cadeia do
Forte de Peniche. Tínhamos que fazer uma prova escrita e oral.



                                                                                 4
Em 1964 fui chamado pelo exército e ingressei em Mafra no curso de
Sargentos Milicianos. Em virtude dos resultados obtidos nos testes e do bom
comportamento passei na segunda fase para o Curso de Oficiais Milicianos.



Estudámos a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa. Fez parte de
alguma delas?
       Não, não eram obrigatórias.



Exerceu mais algum trabalho?
       Depois da vida militar regressei ao Forte de Peniche e depois concorri à
GNR.



Quais eram as suas funções em Peniche?
       Em Peniche tratava dos processos dos reclusos e pedia documentação
aos tribunais (cópias das sentenças) e ao conservatório do registo civil
(identidade dos reclusos); arquivava expediente, que era os ofícios que
chegavam e tinha que organizá-los nos processos respetivos.

        Não havia lá castigos mas sim reclusos que agiam mal
propositadamente e sabiam as consequências e queriam ser isolados para
chegar aos ouvidos da família que não podiam ser visitados. Todos os presos
eram do Partido Comunista Português, que agiam com atos violentos e
terroristas.

      Mente-se muito sobre o que acontecia no Forte de Peniche, não havia
nenhum buraco para presos, só havia a furna que estava fechada para
ninguém entrar ou sair.



E como era a vida militar?
       Tive 4 anos no exército, de 24.1.1964 a 28.1.1968. durante este período
estive em Mafra e no Ultramar, em Angola. Numa 1ª fase um Nanbuangongo
durante 17 meses e numa 2ª fase em Marimba Anguengo durante 10 meses.

       Eu comandava um pelotão de 27 homens e eramos três pelotões, o que
formava uma companhia que era mandada pelo Capitão. Executava-se o
serviço de guarnição (segurança do quartel) e operações militares (tentativas


                                                                                  5
de busca dos chamados terroristas). Do meu pelotão morreu um condutor,
sofremos vários ataques e vários foram feridos.

       A 1ª fase foi marcada pelo desejo constante que o tempo passasse. Na
2ª fase o nosso quartel ficava junto de uma Sanzala e foi muito enriquecedor
pois havia uma consideração mutua entre os militares, que podiam ser
considerados como uma potência ocupante, e os indígenas que eram boa
gente.

      Tinham uma rainha, a Rainha Isabel que mandava na Sanzala e
tínhamos que lhe pedir por exemplo para mandar pessoas irem buscar-nos
água pois não mandávamos nada.




                                                          Abastecimento de água




Eles não se sentiam ofendidos pelo que estavam a defender e combater? Ao
fim ao cabo estavam a lutar contra a independência deles.
      Não se sentiam nada ofendidos e até choraram quando vim embora.

       Aquilo em Angola estava a caminhar muito bem e na 1ª fase, por
exemplo, sabíamos que havia lá um quartel e íamos até lá apanhá-los e
trazíamo-los como prisioneiros. Mas não os tratávamos como tal e até
construímos uma Sanzala só para eles.




                                                                                  6
Isto tudo só aconteceu porque os ingleses e os americanos tinham
inveja do tanto que tínhamos e influenciaram as ideias de independência, para
posteriormente os explorarem, se assim fosse possível



Depois foi para a Guarda Nacional Republicana. O que fazia lá?
     Para a GNR havia concursos e entrei. Tivemos um estágio e depois
mediante o resultado éramos colocados nos locais onde havia vagas.

      Eu era Comandante de Secção e acabei a minha carreira como
Comandante de Companhia pela Promoção de Companhia. Antes era tenente
onde tínhamos que despachar as requisições, arranjar forças para repor a
ordem pública e tratei das reformas agrárias no Vale do Sorraia… uma
experiência social extraordinária. Rondava os postos do pelotão, esclarecíamos
dúvidas, íamos a reuniões, respondíamos a pedidos dos tribunais, etc.



E onde estava quando se deu a Revolução dos Cravos?
       O 25 de Abril deu-se quando já estava na GNR. Em Março tinha havido
uma tentativa e já estávamos à espera. Os militares estavam influenciados pelo
partido Comunista pois estes viam que o Estado Novo tinha sucesso. A PIDE
estava a par de tudo o que acontecia, pois já nos tinham informado.

       Nesse dia estava em Aljustrel e tivemos que entrar em prevenção
(sistema que obrigava a que estivéssemos a trabalhar para além do tempo de
serviço) e depois passámos a receber ordens da Junta de Salvação Nacional.




                                                                                 7
Anexos


         Lançamento dos «frescos» através
          de paraquedas do Nord. Atlas




                                            8
9
10
Anónima                                   Falecido marido
                                                 2.08.1943
17.07.1948
                                                      -
                                                 20.07.1968
Como foi a sua infância?
      Estudei até à 3ª classe e interrompi durante três anos.

        Passados esses três anos fiz a 4ª classe e a admissão ao liceu em seis
meses. Continuei a estudar no Externato D. Luís de Ataíde, mais tarde
intitulado Externato D. Lourenço, onde permaneci até ao 3º ano que
corresponde agora ao 7º.



Era normal as raparigas estudarem até tarde?
      Não, só estudava quem podia financeiramente.



Como era a escola?
        Quando andava na primária tinha que ir a pé e para o Externato de
bicicleta. Na primária éramos quatro classes, todos na mesma sala, só com
uma professora, mas não havia barulho, ninguém levantava a voz e a
professora era muito exigente. Na Lourinhã, que equivale ao ensino básico, já
cada turma tinha a sua sala e nos 2º e 5º anos tínhamos que fazer exames nos
liceus em Lisboa. O meu foi feito no Liceu Rainha Dª. Leonor.



Que tipo de coisas estudava?
       Na primária dávamos gramática e a matemática designávamos de
problemas e tínhamos aulas ao sábado de manhã para ter moral e formação
cívica. Os estudos centravam-se no português e nos problemas mas também
abordávamos superficialmente as ciências, e na geografia falávamos da de
Portugal Continental, Ilhas e Ultramar. Na história apenas estudávamos a de


                                                                                 11
Portugal. À chegada e à saída rezávamos uma oração, um Pai Nosso e uma
Avé Maria. Na parede tínhamos um crucifixo, uma fotografia de Salazar e do
Presidente da República.



O que fazia nos tempos livres durante a infância?
      Jogávamos à malha, à cabra cega, à neca…



Como era a relação entre os jovens e que tipo de liberdades tinham?
       Não tínhamos liberdades nenhumas. Ao sábado tinha que fazer
trabalhos domésticos e ao domingo íamos à missa. À tarde por vezes
podíamos ir dar um passeio que era só andar pela nossa rua para cima e para
baixo com amigas. Podíamo-nos encontrar com rapazes, mas era de fugida.



Como era o vestuário?
       Tinha um vestido ou dois para o domingo e só para a festa anual da
terra é que eventualmente comprava outro. Para a escola usávamos a bata.



Por quantos elementos era constituída a sua família?
      Morava com os mais pais e cinco irmãos mais novos. Para além de ter
que ajudar na lide domestica também tinha que ajudar a preparar as coisas
para os meus irmãos.



Como era a situação socioeconómica do país?
      Eu vivi durante a 2ª Guerra Mundial, onde a comida era racionada.
Mesmo aqueles que podiam não se alimentavam devidamente pois não havia
variedade. Havia muita gente que passava fome e muita gente da cidade que
vinha às aldeias pedir comida. Apesar de tudo isso a qualidade de vida era
muito melhor.

      Para a época vivia bem, nunca passei fome.

     Havia quem nem sapatos tivesse, tendo apenas um único par para o
domingo. Lembro-me que quando precisava de sapatos a minha mãe tirava-me



                                                                              12
a medida dos pés molhando-os e passando-os no chão e com um pau tirava a
medida para levar à Lourinhã para os sapateiros os fazerem, que eram tão
pobres que vinham entregá-los a casa.

      A minha mãe muitas vezes fazia camisas para o meu pai e bibes para
nós, apenas as roupas mais práticas. Eu tinha uma modista que me fazia a
roupa e o meu pai e os meus irmãos iam ao alfaiate.



Que trabalhos exerceu?
       Comecei a trabalhar aos 19 anos no Instituto de Odivelas (Colégio
Interno de Filhas de Oficiais) e fiquei lá durante quatro anos. Era educadora,
acompanhava as miúdas no estudo, nas camaratas e à mesa. Ganhava 1000
escudos, corresponde agora a aproximadamente 5€, mas para a época era
bom dinheiro e ainda por cima era interna, não tendo assim que pagar
alojamento nem comida.

       As minhas primeiras “férias” foram passadas no Forte de Stº. António,
em S. João do Estoril, onde era a casa de férias de Salazar, e íamos com as
raparigas cujos pais estavam na guerra e fora do país.



Como era o namoro na altura?
       Comecei a namorar aos 18 anos e ele tinha 17, e casei-me aos 25. Para
me casar tiveram que investigar se tinha antecedentes políticos (se era contra
o regime).

       Depois do casamento fomos morar para Peniche e o meu marido era
Agente da Direção Geral de Segurança, ou seja da PIDE. Começou em 1966 e
tinha o cargo de investigar as pessoas contra o regime, mas teve lá tão pouco
tempo que não chegou a investigar nada e também não era um trabalho que
lhe agradasse muito, só foi para lá porque foi o único serviço que apareceu.
Não sei explicar muito mais as funções dele, pois não estava autorizado a falar
e eu também não me interessava.

      Ele recebia 2300 escudos, que é pouco mais de 10€.

      Entretanto ele faleceu - quando eu tinha 26 anos, dois dias após o meu
aniversário e estando grávida de sete meses – e tive que procurar trabalho aqui
perto pois estava desempregada. Fui colocada no posto de Direção Geral de
Segurança em 1968 onde era escriturária. Tive lá seis anos e pouco fazia pois
não havia movimento e ganhava 1800 escudos (não chega a 10€).




                                                                                  13
Como foi a vida militar do seu falecido marido?
      Foi para a tropa como Cabo Especialista na Base Aérea 2 Ota em 1962.
A tropa era obrigatória mas ele foi aos 18 anos voluntariamente e escolheu a
Força Aérea.

       Foi para a Guiné Bissau em 1963/64 e teve lá vinte e um mês, onde
fazia a manutenção dos aviões.



E exerceu mais algum trabalho?
      No 25 de Abril fui saneada. Cheguei de manhã ao trabalho para me
apresentar e o chefe mandou-me embora e avisou-me para não lá voltar nos
próximos dias. Ele e os agentes acabaram por ser presos em Caxias. No
entanto eu não sabia de nada pois não tinha o costume de ouvir noticia e não
estava nada à espera.



Como era a repressão do regime?
       Não havia repressão, no entanto só aqueles que se mostravam contra a
ditadura é que se manifestavam e acabavam por ser presos. Não havia
liberdade de expressão porque as pessoas abusavam dessa liberdade, mas
para quem não se mostrasse contra não havia problema algum, podíamos
fazer a vida normal, alguns é que abusavam mas no entanto Salazar estava a
cumprir as leis do regime.

       No tempo de Salazar havia muito mais respeito, nada como se vê nos
dias de hoje.

        Quando se deu o 25 de Abril o sistema não era tão repressivo pois o
Sr.º Marcelo Caetano era mais a favor da democracia e foi um acto precipitado
e muita gente diz que se o mesmo tivesse continuado no poder o país teria
melhorado porque ele aos poucos estava a deixar a ditadura dando lugar a
uma democracia mais controlada.

     Depois do 25 de Abril o povo ficou demasiado entusiasmado mas o país
não estava preparado para a mudança e as pessoas começaram logo a
comportar-se de forma menos disciplinada.




                                                                                14
Conclusão
      Após a entrevista a dois cidadãos do Estado Novo apercebi-me de que
as opiniões obtidas eram similares, apesar de serem pessoas que vieram de
contextos socioeconómicos diferentes.

      Apesar do regime ser repressivo e das condições económicas não
serem as mais favoráveis as pessoas estavam satisfeitas com a atuação do
Estado e com a evolução do país. As ideias em contrário partiriam das minorias
que tentavam influenciar a população.

       Com os testemunhos obtidos apercebi-me também que a população
vivia feliz e com qualidade de vida, não económica mas social devido aos
valores incutidos e à simplicidade da vida.

     Tentei obter algumas opiniões contrárias mas visto que não encontrei
nenhuma aprofundei apenas estas duas pessoas.

       Então podemos constatar que o Estado Novo foi um período ditatorial
mas livre ao mesmo tempo, onde as pessoas se sentiam melhor que agora,
mais felizes, mais seguras e certas de que o país e a população estariam a
seguir o caminho certo, onde reinava a harmonia e educação.




                                                                                 15

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Testemunho estado novo silvia sousa

  • 1. Escola Secundária de Peniche 2011/2012 História 12º LH1 Testemunho sobre viver no Estado Novo Trabalho elaborado por: Sílvia Sousa Professora: Ana Cristina Ferreira
  • 2. Índice Introdução 3 Anónimo 4 Anexos 8 Anónima e falecido marido 11 Conclusão 15 2
  • 3. Introdução Este trabalho tem por objetivo obter mais informação acerca de uma época da nossa história: o Estado Novo. Pretendo fazê-lo com o acesso a testemunhos importantes sobre esse tempo. Tentarei aprofundar partes importantes da história das pessoas relacionadas com o próprio país, como momentos mais marcantes. Os temas que irei abordar são: a infância e tentar fazer uma pequena comparação com os tempos de hoje; a juventude e os tempos de escola; o trabalho; a vida militar, no caso dos homens onde abordarei as guerras coloniais; o Forte de Peniche; a censura e o 25 de Abril. Para isto irei entrevistar uma senhora anónima que falará também em nome do seu falecido marido, que participou na Guerra Colonial na Guiné Bissau e pertenceu à PIDE. Entrevistarei também outro anónimo que participou na Guerra Colonial em Angola e trabalhou no Forte de Peniche. Todos sabemos que o Estado Novo foi um período bastante repressivo da nossa história mas que apesar disso houve muitas melhorias, como por exemplo a situação socioeconómica do pais e com estes testemunhos vamos ver se as opiniões das pessoas que passaram por essa época controversa são negativas, se ficaram desiludidas ou aliviadas com as mudanças após o 25 de Abril e o que achavam que estava bem ou mal no regime. 3
  • 4. Anónimo 30.01.1942 Como foi a sua infância? Feliz, apesar de pobre. As brincadeiras eram outras, com jogos que não implicavam gastos de dinheiro. Agora não valorizam as coisas como nós fazíamos e eramos ensinados. Como era a escola? Frequentei-a da 1ª à 4ª classe, bom aluno mas um pouco preguiçoso. Havia respeito pela professora pela sua sabedoria, e sem violência. Desde os primeiros dias os meus pais ensinaram-me a respeitar os professores e eles próprios sabiam impor-se. Em cada ano havia um livro próprio de leitura, eram os livros únicos. Estudávamos ciências, zoologia, história, botânica, gramática e matemática. Os textos eram banais e tinham apenas em vista ensinar a formação de frases e incutiam ao respeito pelos outros. Aos sábados tínhamos moral e formação cívica. Só houve exames na 3ª e 4ª classe. O da 3ª foi escrito e feito na escola e o da 4ª era na sede do concelho com prova escrita (ditado, redação e matemática) e oral com juízes e professores. Depois fui para o Seminário do Patriarcado porque não tínhamos condições monetárias e este era financiado pela Igreja. Aprofundávamos mais as disciplinas. Não cheguei a lá estar 6 anos e segui para o campo. Que trabalhos exerceu, para além do trabalho no campo? Aos 18 anos tínhamos que dar o nome para a tropa e íamos a uma inspeção física que ou nos deixava livres ou apurados. Fiquei apurado e quando assim era tínhamos que esperar que o exército nos chamasse. Em 1961, tinha eu 19 anos, abriu uma vaga de escriturário na cadeia do Forte de Peniche. Tínhamos que fazer uma prova escrita e oral. 4
  • 5. Em 1964 fui chamado pelo exército e ingressei em Mafra no curso de Sargentos Milicianos. Em virtude dos resultados obtidos nos testes e do bom comportamento passei na segunda fase para o Curso de Oficiais Milicianos. Estudámos a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa. Fez parte de alguma delas? Não, não eram obrigatórias. Exerceu mais algum trabalho? Depois da vida militar regressei ao Forte de Peniche e depois concorri à GNR. Quais eram as suas funções em Peniche? Em Peniche tratava dos processos dos reclusos e pedia documentação aos tribunais (cópias das sentenças) e ao conservatório do registo civil (identidade dos reclusos); arquivava expediente, que era os ofícios que chegavam e tinha que organizá-los nos processos respetivos. Não havia lá castigos mas sim reclusos que agiam mal propositadamente e sabiam as consequências e queriam ser isolados para chegar aos ouvidos da família que não podiam ser visitados. Todos os presos eram do Partido Comunista Português, que agiam com atos violentos e terroristas. Mente-se muito sobre o que acontecia no Forte de Peniche, não havia nenhum buraco para presos, só havia a furna que estava fechada para ninguém entrar ou sair. E como era a vida militar? Tive 4 anos no exército, de 24.1.1964 a 28.1.1968. durante este período estive em Mafra e no Ultramar, em Angola. Numa 1ª fase um Nanbuangongo durante 17 meses e numa 2ª fase em Marimba Anguengo durante 10 meses. Eu comandava um pelotão de 27 homens e eramos três pelotões, o que formava uma companhia que era mandada pelo Capitão. Executava-se o serviço de guarnição (segurança do quartel) e operações militares (tentativas 5
  • 6. de busca dos chamados terroristas). Do meu pelotão morreu um condutor, sofremos vários ataques e vários foram feridos. A 1ª fase foi marcada pelo desejo constante que o tempo passasse. Na 2ª fase o nosso quartel ficava junto de uma Sanzala e foi muito enriquecedor pois havia uma consideração mutua entre os militares, que podiam ser considerados como uma potência ocupante, e os indígenas que eram boa gente. Tinham uma rainha, a Rainha Isabel que mandava na Sanzala e tínhamos que lhe pedir por exemplo para mandar pessoas irem buscar-nos água pois não mandávamos nada. Abastecimento de água Eles não se sentiam ofendidos pelo que estavam a defender e combater? Ao fim ao cabo estavam a lutar contra a independência deles. Não se sentiam nada ofendidos e até choraram quando vim embora. Aquilo em Angola estava a caminhar muito bem e na 1ª fase, por exemplo, sabíamos que havia lá um quartel e íamos até lá apanhá-los e trazíamo-los como prisioneiros. Mas não os tratávamos como tal e até construímos uma Sanzala só para eles. 6
  • 7. Isto tudo só aconteceu porque os ingleses e os americanos tinham inveja do tanto que tínhamos e influenciaram as ideias de independência, para posteriormente os explorarem, se assim fosse possível Depois foi para a Guarda Nacional Republicana. O que fazia lá? Para a GNR havia concursos e entrei. Tivemos um estágio e depois mediante o resultado éramos colocados nos locais onde havia vagas. Eu era Comandante de Secção e acabei a minha carreira como Comandante de Companhia pela Promoção de Companhia. Antes era tenente onde tínhamos que despachar as requisições, arranjar forças para repor a ordem pública e tratei das reformas agrárias no Vale do Sorraia… uma experiência social extraordinária. Rondava os postos do pelotão, esclarecíamos dúvidas, íamos a reuniões, respondíamos a pedidos dos tribunais, etc. E onde estava quando se deu a Revolução dos Cravos? O 25 de Abril deu-se quando já estava na GNR. Em Março tinha havido uma tentativa e já estávamos à espera. Os militares estavam influenciados pelo partido Comunista pois estes viam que o Estado Novo tinha sucesso. A PIDE estava a par de tudo o que acontecia, pois já nos tinham informado. Nesse dia estava em Aljustrel e tivemos que entrar em prevenção (sistema que obrigava a que estivéssemos a trabalhar para além do tempo de serviço) e depois passámos a receber ordens da Junta de Salvação Nacional. 7
  • 8. Anexos Lançamento dos «frescos» através de paraquedas do Nord. Atlas 8
  • 9. 9
  • 10. 10
  • 11. Anónima Falecido marido 2.08.1943 17.07.1948 - 20.07.1968 Como foi a sua infância? Estudei até à 3ª classe e interrompi durante três anos. Passados esses três anos fiz a 4ª classe e a admissão ao liceu em seis meses. Continuei a estudar no Externato D. Luís de Ataíde, mais tarde intitulado Externato D. Lourenço, onde permaneci até ao 3º ano que corresponde agora ao 7º. Era normal as raparigas estudarem até tarde? Não, só estudava quem podia financeiramente. Como era a escola? Quando andava na primária tinha que ir a pé e para o Externato de bicicleta. Na primária éramos quatro classes, todos na mesma sala, só com uma professora, mas não havia barulho, ninguém levantava a voz e a professora era muito exigente. Na Lourinhã, que equivale ao ensino básico, já cada turma tinha a sua sala e nos 2º e 5º anos tínhamos que fazer exames nos liceus em Lisboa. O meu foi feito no Liceu Rainha Dª. Leonor. Que tipo de coisas estudava? Na primária dávamos gramática e a matemática designávamos de problemas e tínhamos aulas ao sábado de manhã para ter moral e formação cívica. Os estudos centravam-se no português e nos problemas mas também abordávamos superficialmente as ciências, e na geografia falávamos da de Portugal Continental, Ilhas e Ultramar. Na história apenas estudávamos a de 11
  • 12. Portugal. À chegada e à saída rezávamos uma oração, um Pai Nosso e uma Avé Maria. Na parede tínhamos um crucifixo, uma fotografia de Salazar e do Presidente da República. O que fazia nos tempos livres durante a infância? Jogávamos à malha, à cabra cega, à neca… Como era a relação entre os jovens e que tipo de liberdades tinham? Não tínhamos liberdades nenhumas. Ao sábado tinha que fazer trabalhos domésticos e ao domingo íamos à missa. À tarde por vezes podíamos ir dar um passeio que era só andar pela nossa rua para cima e para baixo com amigas. Podíamo-nos encontrar com rapazes, mas era de fugida. Como era o vestuário? Tinha um vestido ou dois para o domingo e só para a festa anual da terra é que eventualmente comprava outro. Para a escola usávamos a bata. Por quantos elementos era constituída a sua família? Morava com os mais pais e cinco irmãos mais novos. Para além de ter que ajudar na lide domestica também tinha que ajudar a preparar as coisas para os meus irmãos. Como era a situação socioeconómica do país? Eu vivi durante a 2ª Guerra Mundial, onde a comida era racionada. Mesmo aqueles que podiam não se alimentavam devidamente pois não havia variedade. Havia muita gente que passava fome e muita gente da cidade que vinha às aldeias pedir comida. Apesar de tudo isso a qualidade de vida era muito melhor. Para a época vivia bem, nunca passei fome. Havia quem nem sapatos tivesse, tendo apenas um único par para o domingo. Lembro-me que quando precisava de sapatos a minha mãe tirava-me 12
  • 13. a medida dos pés molhando-os e passando-os no chão e com um pau tirava a medida para levar à Lourinhã para os sapateiros os fazerem, que eram tão pobres que vinham entregá-los a casa. A minha mãe muitas vezes fazia camisas para o meu pai e bibes para nós, apenas as roupas mais práticas. Eu tinha uma modista que me fazia a roupa e o meu pai e os meus irmãos iam ao alfaiate. Que trabalhos exerceu? Comecei a trabalhar aos 19 anos no Instituto de Odivelas (Colégio Interno de Filhas de Oficiais) e fiquei lá durante quatro anos. Era educadora, acompanhava as miúdas no estudo, nas camaratas e à mesa. Ganhava 1000 escudos, corresponde agora a aproximadamente 5€, mas para a época era bom dinheiro e ainda por cima era interna, não tendo assim que pagar alojamento nem comida. As minhas primeiras “férias” foram passadas no Forte de Stº. António, em S. João do Estoril, onde era a casa de férias de Salazar, e íamos com as raparigas cujos pais estavam na guerra e fora do país. Como era o namoro na altura? Comecei a namorar aos 18 anos e ele tinha 17, e casei-me aos 25. Para me casar tiveram que investigar se tinha antecedentes políticos (se era contra o regime). Depois do casamento fomos morar para Peniche e o meu marido era Agente da Direção Geral de Segurança, ou seja da PIDE. Começou em 1966 e tinha o cargo de investigar as pessoas contra o regime, mas teve lá tão pouco tempo que não chegou a investigar nada e também não era um trabalho que lhe agradasse muito, só foi para lá porque foi o único serviço que apareceu. Não sei explicar muito mais as funções dele, pois não estava autorizado a falar e eu também não me interessava. Ele recebia 2300 escudos, que é pouco mais de 10€. Entretanto ele faleceu - quando eu tinha 26 anos, dois dias após o meu aniversário e estando grávida de sete meses – e tive que procurar trabalho aqui perto pois estava desempregada. Fui colocada no posto de Direção Geral de Segurança em 1968 onde era escriturária. Tive lá seis anos e pouco fazia pois não havia movimento e ganhava 1800 escudos (não chega a 10€). 13
  • 14. Como foi a vida militar do seu falecido marido? Foi para a tropa como Cabo Especialista na Base Aérea 2 Ota em 1962. A tropa era obrigatória mas ele foi aos 18 anos voluntariamente e escolheu a Força Aérea. Foi para a Guiné Bissau em 1963/64 e teve lá vinte e um mês, onde fazia a manutenção dos aviões. E exerceu mais algum trabalho? No 25 de Abril fui saneada. Cheguei de manhã ao trabalho para me apresentar e o chefe mandou-me embora e avisou-me para não lá voltar nos próximos dias. Ele e os agentes acabaram por ser presos em Caxias. No entanto eu não sabia de nada pois não tinha o costume de ouvir noticia e não estava nada à espera. Como era a repressão do regime? Não havia repressão, no entanto só aqueles que se mostravam contra a ditadura é que se manifestavam e acabavam por ser presos. Não havia liberdade de expressão porque as pessoas abusavam dessa liberdade, mas para quem não se mostrasse contra não havia problema algum, podíamos fazer a vida normal, alguns é que abusavam mas no entanto Salazar estava a cumprir as leis do regime. No tempo de Salazar havia muito mais respeito, nada como se vê nos dias de hoje. Quando se deu o 25 de Abril o sistema não era tão repressivo pois o Sr.º Marcelo Caetano era mais a favor da democracia e foi um acto precipitado e muita gente diz que se o mesmo tivesse continuado no poder o país teria melhorado porque ele aos poucos estava a deixar a ditadura dando lugar a uma democracia mais controlada. Depois do 25 de Abril o povo ficou demasiado entusiasmado mas o país não estava preparado para a mudança e as pessoas começaram logo a comportar-se de forma menos disciplinada. 14
  • 15. Conclusão Após a entrevista a dois cidadãos do Estado Novo apercebi-me de que as opiniões obtidas eram similares, apesar de serem pessoas que vieram de contextos socioeconómicos diferentes. Apesar do regime ser repressivo e das condições económicas não serem as mais favoráveis as pessoas estavam satisfeitas com a atuação do Estado e com a evolução do país. As ideias em contrário partiriam das minorias que tentavam influenciar a população. Com os testemunhos obtidos apercebi-me também que a população vivia feliz e com qualidade de vida, não económica mas social devido aos valores incutidos e à simplicidade da vida. Tentei obter algumas opiniões contrárias mas visto que não encontrei nenhuma aprofundei apenas estas duas pessoas. Então podemos constatar que o Estado Novo foi um período ditatorial mas livre ao mesmo tempo, onde as pessoas se sentiam melhor que agora, mais felizes, mais seguras e certas de que o país e a população estariam a seguir o caminho certo, onde reinava a harmonia e educação. 15