O documento descreve o projeto TV News Archive, que arquiva e disponibiliza online mais de 1,4 milhão de programas de notícias de TV americanas para pesquisa. O arquivo permite buscas no texto e visualização de trechos, com o objetivo de explorar notícias históricas, entender contextos e avaliar a precisão das informações. O projeto busca tornar a TV contemporânea uma memória acessível através de interfaces inspiradas na web.
8. Lançada em setembro de 2012, este serviço de
biblioteca de pesquisa tem como objetivo aprimorar
as capacidades de jornalistas, acadêmicos,
professores, bibliotecários, organizações civis e outros
cidadãos engajados. Ele redireciona o close caption
para permitir aos usuários a busca, citação e
empréstimo de programas de notícias televisivos
norte-americanos. Disponível sem custo, o público
pode usar o índice de texto rastreável e clips de
streaming curto para explorar as notícias televisivas,
descobrir importantes recursos, compreender
contextos, avaliar assertividade dos fatos, engajar com
outros e compartilhar percepções. (...) A biblioteca de
pesquisa contém mais de 1.396.000 programas de
notícias coletados ao longo de mais de 4 anos de
redes e estações nacionais dos Estados Unidos em
San Francisco e Washington D.C. O arquivo é
atualizado com novas transmissões 24 horas depois de
serem exibidos. Materiais mais antigos também estão
sendo adicionados. (TV NEWS ARCHIVE, online,
acesso julho/2017).
9. [reflexões de fundo]
Audiovisualidades e Tecnocultura
Imagem-dialética
[televisão e] memória
[lugares de] memória
11. Memória em
Bergson
De um lado, temos a memória como
uma virtualidade, uma duração que
permite que pensemos as coisas mais
em função do tempo do que do espaço.
A outra tendência, coalescente a essa é
da ordem dos atuais, das materialidades
que especializam o tempo.
12. Memória [da/na] televisão (Kilpp, 2005).
“[c]onhecer os modos como a televisão
produz memória e os modos mais ou menos
discretos que ela usa para sabotar memória
é uma questão estratégica para a pesquisa
(...).”
a necessidade de reivindicar o direito a
acessar as imagens produzidas pela
televisão, na perspectiva de Derrida (1998)
quando trata do “direito de mirada”: “[o]
fato de ter acesso a estes arquivos, poder
analisar seu conteúdo, as modalidades de
seleção, interpretação, manipulação que
presidiram sua produção e circulação, tudo
isto é portanto um direito do cidadão”
(p.51).
13. Lugares de
[memória],
Pierre Nora.
“vulnerável a todos os usos e manipulações, suscetível
de longas latências e de repentinas revitalizações”(Nora,
1993).
Os lugares de memória nascem e vivem, portanto, do
sentimento de que não há memória espontânea, de que
é preciso criar arquivos. (Vieira, 2015).
Não seriam ações de comemoração, como bem lembrou
Nora (1993), mas de subjetivação do espaço.
Memórias de um grupo singular e não de um sujeito
institucionalizado, eleito como detentor de poder
corroborado pelos vestígios documentais institucionais
(Pinto, 2013).
14. Arquivar tudo?
Tendência digitalizadora (Manovich)
[N]unca se falou tanto de memória como hoje em dia, e nunca foi tão
difícil ter acesso ao nosso passado recente. Difícil negar. Poucas
palavras tornaram-se tão corriqueiras no século XXI como “memória”.
(...) [A] memória converteu-se um aspecto elementar do cotidiano.
Tornou-se um dado quantificável, uma medida e até um indicador de
status social” (Beigelmann, p.2).
15. Escavar e dissecar para produzir camadas
Ao dissecar determinadas imagens,
poderemos realizar escavações de
determinados tempos, durações,
memórias que ali se inscrevem, ou
ainda diríamos, produziremos
camadas.
Camadas são estratificáveis e
arqueologizáveis (dissecáveis,
rastreáveis, autenticáveis) e nos
permitem ver que tempos – profundos
e mais à tona coalescem, que
elementos são memoriais, enfim, o que
nelas dura de outras mídias, formas
culturais, práticas, materialidades, etc.
19. Nesta região “b” novamente a
camada da web impõe-se fortemente
através do design que convoca nossa
imagens-lembrança (Bergson, 1999) de
outros mecanismos de busca (o fundo
branco googliano, a caixa de busca
centralizada) e da possibilidade de
encontrar trechos dentre mais de 1,4
milhão catalogados com ênfase na
quantidade, justificando a ideia de um
banco de dados, uma característica
durante dos ambientes online.
20. Nos parece que o TV News
Archive se preocupa em
fazer a televisão
contemporânea norte-
americana coalescer como
memória com o arquivo de
notícias além de, também,
inserir o dna da web nas
suas lógicas operativas.
Estamos longe, portanto, da
ideia de um antiquário de
programas de televisão
voltados para notícias
(aspecto já estimulado pela
perspectiva de um arquivo de
que inicia em 2009).
21. Esta mesma interface (...) parece tentar responder a solicitação de
Kilpp (2005) por relações mais “amigáveis entre os que fazem
televisão, pesquisam ou a assistem, e para que possamos todos nos
apropriar mais rapidamente do televisivo e das éticas originais que a
tv instaura tecnicamente” e, para tanto, “todos nós deveríamos poder
desconstruir panoramas televisivos, desmontar as molduras e analisar
os quadros de experiência e significação (p. 146)”.
22. Considerações finais:
televisão e memória
Teríamos então, no construto de
memória do TV News Archive uma
potência dissecadora a ser exercida pelo
usuário? Que tipo de direito de mirada
seria esse?
23. Aparentemente não se filia às emissoras das quais arquiva seu
conteúdo e oferta ao usuário (ou ao “coletivo”) alternativas para
“adentrar” as “News”, atualizando o direito a mirada (...), permitindo
uma espécie de subjetivação do espaço.
Se constrói tentando articular-se com o “ao vivo” televisivo e das
redes sociais (coleções sobre Trump e sobre o que está “em
evidência” dão a entender isso) e está sempre sob a guarda do
Internet Archive, que pode fazer o papel de “instituição” aqui.
Considerações finais: Lugar de memória [?]
24. É o próprio “arquivo de TV” que parece, ao final, produzir sua própria
recusa em ser obsoleto, tal qual “o telejornal de ontem” que ele arquiva.
Essa recusa é tanto por tentar se mostrar contemporâneo através de
lógicas da web (formais) e da TV (editoriais), como por apresentar
maneiras de colocar o arquivo-notícia (trecho) em circulação para além
das “paredes” do próprio TV News Archive.
“É preciso manter as coisas em uso”. Brewster Kahle, fundador do Internet Archive, depoimento
para “The Internet Archive Documentary, 2014
25. Mas quem lê [assiste, cita, compartilha, favorita, coleciona] tanta notícia?
Archive Team (http://archiveteam.org/ )
“História é o nosso futuro”
“E estamos jogando no lixo nossa história”.
“Archive Team é um coletivo solto de arquivistas desonestos, programadores, escritores e loudmouths dedicados a salvar o nosso patrimônio digital. Desde 2009 esta força variante da natureza sofreu com uma onda de paradas, desligamentos, fusões e bons e velhos apagamentos (deletions) - e fizemos o nosso melhor para salvar a história antes de ser perdida para sempre. Ao longo do caminho, recebemos atenção, resistência, espaço na imprensa e discussão, mas o mais importante, nós levamos a mensagem adiante: NÃO TEM QUE SER DESSA MANEIRA. Este site pretende ser um ponto de depósito de descarga e informações para uma série de projetos de arquivamento, todos relacionados com o salvamento de sites ou de dados que estão em perigo de se perder. Além de servir como um hub para estes procedimentos, este site vai fornecer conselhos sobre como gerenciar seus próprios dados e resgatando-o da beira da destruição.”
Archive Team is a loose collective of rogue archivists, programmers, writers and loudmouths dedicated to saving our digital heritage. Since 2009 this variant force of nature has caught wind of shutdowns, shutoffs, mergers, and plain old deletions - and done our best to save the history before it's lost forever. Along the way, we've gotten attention, resistance, press and discussion, but most importantly, we've gotten the message out: IT DOESN'T HAVE TO BE THIS WAY. This website is intended to be an offloading point and information depot for a number of archiving projects, all related to saving websites or data that is in danger of being lost. Besides serving as a hub for team-based pulling down and mirroring of data, this site will provide advice on managing your own data and rescuing it from the brink of destruction. (Tradução do autor)
Desde o início da Interface Gráfica de Usuário baseada em WIMP mais de 20 anos atrás, (...)o mundo tem visto muitos GUIs irem e virem. (...)Este site pretende ser um museu on-line de interfaces gráficas, especialmente aqueles antigos, obscuros e com necessidade desesperada de preservação. Se você quer apenas olhar para trás e refrescar algumas memórias agradáveis de anos atrás, ou está interessado em ver como as GUIs evoluíram ao longo das décadas (e às vezes, é fascinante para testemunhar isso), eu espero que você curta sua estada (...).
Since the inception of the WIMP-based Graphical User Interface more than 20 years ago the world has seen many GUIs come and go.This site is meant to be an online museum of graphical interfaces, especially those old, obscure and in desperate need of preservation. Whether you want just to look back and refresh some nice memories from years ago, or are interested in seeing how the GUIs evolved throughout the decades (and it is sometimes fascinating to witness that), I hope you’ll enjoy your stay. .(Tradução do autor)
The Restart Page - Free unlimited rebooting experience from vintage operating systems (experiência gratuita de reinicialização de sistemas operacionais vintage)
http://www.therestartpage.com/
“Um tributo para os sistemas operacionais mais significativos que fizeram parte de nossas vidas geek.”
“The Internet Archive, (...) está construindo uma biblioteca digital de sites da internet e outros artefatos culturais na forma digital. Como uma biblioteca de papel, nós provemos livre acesso para pesquisadores, historiadores, acadêmicos, os sem-impresso e o público em geral.” (archive.org, online, 2014)
The Internet Archive (...) is building a digital library of Internet sites and other cultural artifacts in digital form. Like a paper library, we provide free access to researchers, historians, scholars, the print disabled, and the general public.(Tradução do autor)
Essa é uma noção importante para pensarmos que qualquer meio, imagem técnica, produto midiático, etc. É nesse sentido que podemos problematizar “um campo heterogêneo de formatos”, como é o caso do TV News Archive, e perceber nas suas interfaces e lógicas operativas, diferentes camadas de memórias dos meios televisivo e da web em tensionamento.
Anunciado desde a descrição do funcionamento do serviço na página inicial, a ideia do uso do closed caption atualiza a presença de outra camada nesta relação, a softwarização dos diversos processos de produção. As legendas ocultas tornam-se dados que podem ser apropriados para novos fins, na infraestrutura do digital, tornam-se maleáveis e adaptáveis a novos contextos/usos.